quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O código do ser

Ainda não estou em férias. Ao longo do mês de janeiro as universidades promovem ciclos de atualizações pedagógicas, reuniões de balanço e análise dos resultados do semestre que passou e, principalmente, várias reuniões de planejamento para o próximo semestre. Portanto, as nossas férias estão planejadas somente para fevereiro.

Além disto, tem as atividades regulares do escritório. Mesmo que nesta época, considerando o perfil do meu cliente, as demandas sejam menores, ainda assim, tenho ficar por aqui, seja para finalizar alguns trabalhos em desenvolvimento ou para atender algum possível chamado para novos trabalhos. Geralmente, para mim - como para tantos outros colegas -, o ano produtivo começa em março.

Então, vou aproveitando este período para atualizar e concluir algumas leituras e, também, em atendimento aos pedidos dos meus alunos, fazer algumas resenhas e indicações de leitura para as férias.

Começo, então, por este livro de 1997 de James Hillman, O código do ser. Cheguei até este título movido pela curiosidade de reconhecer um pouco mais sobre aquilo que se costuma chamar de vocação ou reconhecer as razões que fazem um mesmo ensinamento assumir desdobramentos de eficiência e resultados completamente distintos nos vários alunos dentro de uma mesma sala de aula.

Não acho que o livro tenha elucidado as minhas dúvidas, mas tive uma surpresa positiva ao longo da leitura, portanto, indico para vocês!!

O código do ser
James Hillman

Cada pessoa entra neste mundo atendendo a um chamado. Reconhecer este chamado é primordial para se alcançar a realização. É o que nos revela o psicólogo junguiano James Hillman. Desafiando diversos mitos da psicologia contemporânea, Hillman expõe, com base em Platão e outros filósofos, porque não existe um ser igual a outro, nem mesmo no caso de gêmeos dotados de idêntica carga genética e criados pelos mesmos pais. O caráter e vocação de cada um, segundo o psicólogo, não se explicam apenas pela genética e o ambiente em que crescemos.

O código do ser
Uma busca do caráter e da vocação pessoal
James Hillman
Editora Objetiva Ltda.
Rio de Janeiro - 1997
356 páginas
ISBN: 8573021578


Capítulo 1
Em poucas palavras: a teoria do fruto do carvalho e a redenção da psicologia

"Há muito mais coisas numa vida humana do que permitem nossas teorias a seu respeito. Mais cedo ou mais tarde, alguma coisa parece nos chamar para um caminho específico. Essa 'coisa' pode ser lembrada como um momento marcante na infância, quando uma urgência inexplicável, um fascínio, uma estranha reviravolta dos acontecimentos teve a força de uma anunciação: isso é o que devo fazer, isso é o que preciso ter. Isso é o que sou

Este livro é sobre esse chamado.

Se não tão forte e categórico, o chamado pode ter sido mais como pequenos desvios no curso que você seguia sem saber por quê, levando-o para um ponto determinado da margem. Olhando para trás, você sente que houve um dedo do destino.

Este livro é sobre esse senso de destino."

Esta idéia já está em ‘A República de Platão’ e, ao longo dos séculos, vem recebendo denominações diferentes. Os romanos denominavam este ‘chamado’ de gênio. Os gregos usavam o termo daimon para designá-lo. Românticos como Keats, acreditavam que este ‘chamado’ vinha do coração. Os esquimós referem-se ao espírito, à alma, à alma-sopro.

O psicólogo James Hillman desenvolve nesta obra a ‘Teoria da Semente de Carvalho’ propondo que cada vida é formada por uma vocação que é a sua essência, que a leva para um determinado destino. Assim como o destino de um imenso carvalho já está escrito em sua pequena semente, do mesmo modo o ser humano traz em si as marcas do que há de desenvolver. Esta teoria oferece uma visão mais libertadora de traumas infantis e discute temas importantes como caráter, desejo, influências familiares e, acima de tudo, vocação – este mistério que adormece na essência de cada ser humano.

O Código do Ser analisa aquilo que é verdadeiramente inato no indivíduo. Hillman não considera os seres humanos vítimas de uma educação familiar ou de heranças genéticas. Também, não oferece um guia milagroso para ‘curar’ desajustes psíquicos. Em vez disto, ele assinala a importância de que cada um procure descobrir o seu daimon, aquilo que já trouxe impresso em sua individualidade, disposto a se desenvolver.

Questionando estudos da psicologia tradicional que procuram classificar os indivíduos de acordo com rígidas categorias genéticas e comportamentais, Hillman assinala a importância de se buscar o que é singular em cada indivíduo. Partindo de exemplos esclarecedores, retirados da biografia de pessoas diferentes como Gandhi, Hitler, Tom Wolfe, Josephine Baker, entre outros, Hillman instiga o leitor a buscar em seus impulsos infantis, seus sonhos e pensamentos, indícios de uma personalidade em formação.


James Hillman

Nasceu em Atlantic City New Jersey em 1926. Em 1959, tirou o seu Ph.D. na University of Zurich e ganhou o seu Diploma de Analista no C. G. Jung Institute in Zurich. Suas atividades públicas percorrem um período de 35 anos: 1960 to 1995. Depois de se graduar no Trinity College, Dublin, Irlanda, ele começou sua prática analítica em 1955.

Em 1959 ele se tornou o primeiro Director of Studies do C.G. Jung Institute, Zurich, Suiça, onde permaneceu até 1969, completando o seu doutorado summa cum laude na University no mesmo ano. Em 1960, seu primeiro livro importante foi publicado em Londres: Emotion: A Comprehensive Phenomenology of Theories and Their Meanings for Therapy (Emoção: Uma Fenomenologia Compreensiva das Teorias e seus Significados para a Terapia).

Foi um dos fundadores do Dallas Institute of Humanities and Culture, que focava o design urbano, educação pública e consciência cívica. Foi professor no Men's Retreats nos Estados Unidos, na Irlanda e Inglaterra.

Seu interesse pelas artes o levou ao ensino anual no Expressive Arts Program na Lesley College e a apresentar workshops com a coreógrafa Debra Call em "Mito e Movimento". Também tem dado palestras na Associação de Arte Terapia e escrito para revistas de arte americanas e italianas.

Apresentou suas idéias sobre alma, depressão e estética nos programas da BBC TV: Affair of the Heart, Kind of Blue e na série Architecture and Imagination. Aspectos pioneiros do trabalho de James Hillman refletem a variedade de áreas de suas investigações. O termo alma foi reintroduzido no discurso psicológico através de seu livro de 1964, Suicídio e Alma. Seguindo os passos de Nietzsche, Freud, Jung e Roscher, Hillman devolveu as psicopatologias às suas bases míticas.

Mais adiante alargou a psicoterapia baseando sua abordagem no modelo da Renascença, pelo qual ganhou a medalha da Commune em Florença, em 1981. Os fundamentos foram esboçados em suas conferências na Yale University (publicados como ReVisioning Psychology, 1975). Esses fundamentos incluem: personificação mais do que conceituação abstrata dos dominantes psíquicos; um estilo mais literário que científico; uma configuração politeista da psique mais do que um self teísta unificado; foco na psicologia da cultura e do meio ambiente mais do que exclusivamente no sujeito.

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