sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

O Homem Lúcido

"O homem lúcido sabe que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções, que ele nunca se entusiasma com ela, assim como não tema a morte.

O homem lúcido sabe que o viver e o morrer são o mesmo em matéria de valor, posto que a vida contém tantos sofrimentos que a sua cessação não pode ser considerada um mal.

O homem lúcido sabe que ele é o equilibrista na corda bamba da existência. Ele sabe que, por opção ou acidente, é possível cair no abismo a qualquer momento, interrompendo a sessão do circo.

Pode, também, o homem lúcido optar pela vida. Aí, então, ele esgotará todas as suas possibilidades.

Ele passeará por seu campo aberto e por suas vielas floridas. Ele saberá ver a beleza em tudo.

Ele terá amantes, amigos, ideais. Urdirá planos e os realizará. Resistirá aos infortúnios e até às doenças. E, se atingido por algum desses emissários, saberá suportá-los com coragem e com mansidão.

E morrerá, o homem lúcido, de causas naturais e em idade avançada, cercado por seus filhos e pelos seus netos que seguirão a sua magnífica aventura. pairará, então, sobre a memória do homem lúcido uma aura de bondade. Dir-se-á: aquele amou muito. Aquele fez bem às pessoas.

A justa lei máxima da natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem se iguale sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis.

O homem lúcido, que optou pela vida, com o consentimento dos Deuses, tem o poder magno de alterar esta lei. Na sua vida, os acontecimentos favoráveis serão sempre a maioria.

Porque essa é uma cortesia que a natureza faz com os homens lúcidos."

Recebi este texto da minha querida amiga e colega Cassandra Coradin, como resultado das nossas ótimas conversas e reflexões sobre a vida e sobre a profissão. O texto é uma livre tradução, parte do Tratado Sobre a Lucidez, escrito no século VI a.C, na Caldeia – parte sul e mais fértil da Mesopotâmia, entre os rios Eufrates e Tigre.