Turma querida, enfim, chegou o tão esperado dia da formatura. A solenidade de ontem estava linda. É sempre renovador da alma ver as novas gerações de profissionais fortalecendo as fileiras do nosso estimado ofício. Neste quesito, acredito na quantidade também: quantos mais arquitetos e urbanistas bem formados e qualificados, melhor para sociedade. Curtam muito o direito e o dever de serem os genuínos agentes destas transformações que caracterizam e viabilizam cada vez mais a nossa profissão.
Muito temos o que fazer! Muitos são os temas que precisam ser trabalhados com afinco e dedicação. Principalmente, os temas sociais capazes de diminuir a desigualdade em nosso país e devolver a dignidade da moradia, do trabalho, da saúde, da erradicação da fome, da segurança e da educação para o nosso povo carente destes direitos basilares.
Não esqueçam da "Função Social" do nosso ofício.
Foi lindo vê-los ontem radiantes com esta conquista. A primeira de muitas por vir. Que alegria caminhar com vocês nesta jornada. A caminhada está apenas começando. O longo degrau da formação acadêmica foi concluído ontem. Mas a escada tem muitos degraus! Acertem o passo e sigam sempre em frente. Busquem sempre serem "mármore polido, evitando serem pedra bruta".
Um abraço fraterno em cada um e em cada uma!
Horário: 20h
Local: Salão de Atos da PUCRS
DISCURSO DO PARANINFO
Componentes da mesa,
Familiares e amigos,
Minhas queridas e meus queridos colegas.
Ao fazerem isto fortaleceram as nossas convicções sobre os necessários
avanços na revisão e formatação do ensino superior, mais identificado com o
mundo do trabalho, com as demandas da sociedade, com as novas tecnologias, materiais
e sistemas construtivos, com a economia dos meios, com o baixo impacto de
nossas obras no meio-ambiente e na paisagem e com as qualidades que os jovens profissionais
do século XXI devem possuir.
O paraninfo é o professor que ministra a última lição e o amigo
que oferece o primeiro conselho! Então, vamos lá!
Começo exaltando o quanto crescemos como grupo e
aprendemos uns com os outros nesta jornada. Esta consciência de equipe nos deu a
coragem e a segurança para seguirmos em frente, superando os desafios, buscando
o crescimento dos seus trabalhos e o amadurecimento de suas posturas, cada vez
menos estudantes, para se tornarem cada vez mais profissionais. A evolução baseia-se
no conceito da ajuda mútua e do compartilhamento, portanto, no fazer diário do
nosso ofício, vocês devem continuar assim, se ajudando mutuamente. Seremos
sempre mais fortes como grupo.
Na sequência, convido-os a ficarem atentos às novas demandas da
sociedade, pois ela necessita muito do nosso trabalho. Ainda vemos as cidades
crescendo desordenadamente, sem o criterioso planejamento, com prioridades questionáveis,
com novas edificações e espaços públicos e privados desprovidos de qualidade
funcional, estética e técnica. Também, o nosso patrimônio natural, ambiental, histórico,
artístico e cultural, possuidor de grandes valores e belezas, agoniza pela
falta de reconhecimento e pela falta de proteção, preservação, investimentos e
capacidade de gestão.
Como consequência disto, o debate sobre a qualidade e sobre o
impacto do que produzimos deve continuar com mais vigor. Muita construção e
pouca arquitetura e urbanismo! Debatemos muito este tema ao longo do curso e temos
que continuar a debatê-lo no dia-a-dia dos seus escritórios.
Colegas, isto não é uma tarefa fácil por tudo o que o nosso ofício
significa e representa!
Lembrem-se
sempre, que a arquitetura é arte, ciência e ofício. É arte, pois a partir da
sua dimensão abstrata, ultrapassa seu papel de ser apenas abrigo utilitário, e
passa a traduzir e divulgar os aspectos culturais e estéticos da sociedade e o
espírito do seu tempo e lugar. É ciência, pois se vincula aos processos e
métodos científicos de análise do comportamento humano, das suas necessidades
mais elementares, da produção eficiente e sustentável do canteiro de obras, do
controle do consumo energético, dos novos materiais e técnicas construtivas de
baixo impacto ambiental e da reformulação e proposição dos novos espaços, palco
da vida humana. E é ofício, pois a partir das nossas ações diárias,
transformamos o mundo que nos cerca e vivemos dignamente com o fruto do nosso
trabalho inovador e empreendedor.
Conscientes disso, não devemos fazer concessões
quando o assunto é a qualidade do nosso trabalho, pois ao fazerem concessões,
lá no final da linha, comprometerão a nossa prática profissional coletiva e
fragilizarão a sociedade, ansiosa pela nossa visão transformadora de mundo.
Não esqueçam, também, que as conquistas normativas e de
regulamentação do nosso ofício são recentes. Muitos são os ataques e as
armadilhas de mercado que colocam em risco essa estabilidade. Portanto colegas,
aí vai mais um conselho: devemos nos manter unidos, alertas e vigilantes,
atuando na política profissional, participando ativamente das entidades de
classe, entendendo, praticando, formulando, divulgando e promovendo os
princípios éticos e os grandes temas do nosso ofício.
Para finalizar,
convoco-os a refletirem criticamente sobre a necessidade urgente de praticarem a
nossa profissão valorizando o conteúdo acima da imagem. A não se deixarem
seduzir pelos superficiais apelos midiáticos da profissão. A reagirem duramente
contra o aviltamento da prática profissional. A reconhecerem as diferenças
entre valor e preço dos seus trabalhos. A terem como livro de cabeceira o nosso
código de ética profissional. A concentrarem seus esforços nas demandas e necessidades
reais dos seus clientes e a nunca abrirem mão das questões fundamentais da
arquitetura e urbanismo, objeto das suas qualificadas formações.
Improviso: Ontem, na missa de formatura, ouvindo
atentamente as belas palavras proferidas pelo Paraninfo Espiritual, Prof. Paulo
Cesa, relembrando o diálogo com o Arquiteto renascentista Michelangelo
Buonarroti, quando questionado sobre como conseguia fazer obras tão belas a
partir de blocos de pedras brutas, ao que ele responde “estas formas já estavam lá, eu apenas retirei as camadas de rocha
para revelá-las, libertá-las”. Ouvi aquilo e fui para casa pensando: Quem
sou eu? Quem eu sou? Mármore lapidado ou pedra bruta? E me dei conta de que
somos tanto um, quanto outro, pois essa é a magia do livre arbítrio que, diante
das nossas decisões e, principalmente, das nossas ações nos torna mármore
polido ou pedra bruta. Eis aí mais um conselho colegas: tomem sempre as
melhores decisões, escolham sempre os melhores caminhos para que vocês possam
ter a leveza e a beleza do mármore polido.
Dito
isto meus queridos, resta-me apenas chamá-los para a vida profissional. Sejam sempre
bons colegas, sejam solidários, sejam bons projetistas, sejam bons construtores
pois, afinal de contas, projetamos e construímos porque acreditamos no futuro e
não há nada que demonstre maior compromisso com o futuro do que o potencial proativo
e transformador da nossa profissão.
Muito obrigado por esta homenagem!
Uma honra caminhar com vocês até aqui!
Paulo Ricardo BREGATTO
Salão de Atos da PUCRS
19/08/2023 – 20h
Uma honra caminhar com vocês até aqui!
Salão de Atos da PUCRS
19/08/2023 – 20h