terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Dica de leitura

Lobão
50 anos a mil
Lobão e Cláudio Tognolli
Editora Nova Fronteira Participações S.A.
Rio de Janeiro RJ Brasil
Brochura 15 x 23 cm
596 páginas
Sempre escolho um livro para ler naquele período entre o natal e o ano novo. Considerando que nesta época do ano a maioria das pessoas, na minha área profissional, desacelera suas demandas e exigências, canalizando as suas energias para as festas de final de ano, eu aproveito esta pequena trégua para dar uma paradinha nos trabalhos do escritório e me dedico a fazer coisas que não cabem dentro do meu tempo ao longo do ano. Não viajo nesta época do ano, pois prefiro a tranqüilidade e o aconchego da casa e, principalmente, da cidade que fica super acessível considerando que a maioria das pessoas se bandeou para o litoral ou para a serra. Ver vários filmes ao longo das madrugadas, dormir até mais tarde no outro dia, caminhadas mais longas, almoços saudáveis e sem a correria do dia-a-dia, muitos banhos de piscina e algumas horas controladas de sol, passeios descontraídos nas praças do bairro, muitas brincadeiras com o meu filho Pedro e leituras que, obrigatoriamente, não sejam de arquitetura.

Isto é quase um ritual. Cabe destacar, para os leitores mais desavisados, que não existe na convicção descrita acima, nenhuma aversão às leituras referentes ao meu amado ofício. Ao contrário disto, tenho uma biblioteca de arquitetura, parte em minha casa e parte em meu escritório, que é de provocar inveja em muitas escolas de arquitetura. Apenas me permito variar, mudando drasticamente o rumo das leituras nesta época do ano.

Já estava um pouco preocupado com a chegada do final do ano e pelo fato de não ter escolhido ainda que livro ler. Tem vezes que eu compro o livro ao longo do ano já com o destino certo de abrir e ler a sua primeira página apenas no dia 26 de dezembro, que por sinal é a data de aniversário da minha saudosa amiga Maria Alzira Jobim. Então me deparo com a aquela capa, muito bem produzida, trazendo aquele olhar sisudo e penetrante do Sr. João Luiz Woerdenbag Filho, vulgo Lobão. Não tive dúvidas, entrei na livraria e arrematei o último exemplar - da própria vitrine - e de lambuja levei, também, o DVD Acústico MTV. Pedi para embrulhar para presente, em pacotes separados, e entreguei com nota fiscal da loja e tudo para a minha mãe, que sempre me pede para eu comprar o meu próprio presente de Natal depois me reembolsando do valor pago! Isto é muito divertido e sempre foi motivo de muitas risadas na hora de abrir os presentes!!

O livro é muito bom, bem escrito e muito bem produzido. São 596 páginas de muitas aventuras, altos e baixos, vários rituais de passagens, muitos combates, alegrias e tristezas, inúmeras reinvenções de si mesmo e uma descrição histórica dos fatos dos anos 70, 80 e 90, não somente musicais, digna de uma atenção especial dos historiadores.

50 anos a mil é a autobiografia dos primeiros 50 anos de vida do músico Lobão, que conta neste belo livro ilustrado a sua heróica trajetória no cenário do Rock brasileiro. Os acontecimentos mais importantes desses primeiros 50 anos de uma vida vivida em alta velocidade, com muito entusiasmo, criatividade, sede de aventura e uma capacidade ilimitada de renascimento e de reinvenção.

Lobão já foi chamado de tudo e recebeu os mais variados diagnósticos. Mas poucos sabem o que realmente ele é. Sua vida tem ares de psicodrama, sem deixar de ser cômico, surpreendente e elucidativo. Polêmicas e histórias mal contadas são passadas a limpo pelo próprio músico. Amizades com grandes nomes da MPB e do Rock nacional, encontros inesquecíveis com Nelson Gonçalves e Elza Soares, entre muitas descobertas, parcerias, drogas, prisões, brigas e muitos amores.

Em paralelo – universo paralelo – às fartas e bem escritas descrições referentes a sua trajetória artística, o texto se ancora em fatos sociais, políticos e econômicos dos conturbados anos 70, profícuos anos 80 e paranóicos anos 90, nos permitindo entender, sob a ótica do autor, várias situações nebulosas deste passado recente do Rock brasileiro, com uma transparência elucidativa e, ao mesmo tempo, desconfortável diante de tanto descortinamento de falcatruas travestidas de falsas verdades. E no meio disto tudo descobrimos uma história de amor louca, insólita, demasiadamente humana, de uma coragem singular, imprevisível e improvável, mas bem real.

O livro trás os fatos de forma contundente, desde as idéias musicais, possivelmente, plagiadas por outros colegas, passando pela situação ultrajante de bode expiatório no caso das prisões por porte de drogas, até a pirataria oficial descarada da indústria fonográfica brasileira, entre outros fatos agudos e boicotes que são de alarmar. Tudo isto contado com a irreverência criativa do músico e com a correta manutenção do léxico e da sintaxe peculiares e autorais de Lobão, fato muito importante para a manutenção da originalidade, fluidez e ritmo do livro.

Outra questão que eu achei genial na leitura são as páginas que reúnem, ao final de cada capítulo, uma espécie de retrospectiva jornalística trazendo as notícias que estamparam a mídia nos vários períodos da sua trajetória artística.

Li o livro todo nestes poucos dias de final de ano. Sempre gostei muito da abordagem musical original e inovadora de Lobão. Mesmo tendo aquela sensação de tê-lo na lista dos artistas preferidos, não posso deixar de relatar que não tinha a menor idéia de alguns dos fatos descritos por ele ao longo do texto. Neste sentido, a leitura prazerosa dos fatos e narrativas referentes à sua vida – que mais ou menos coincide na linha do tempo com a minha geração – andou de mãos dadas com a curiosidade de descobrir muitos fatos que permaneceram, por muito tempo, nebulosos no meu entendimento e outros tantos que eu nem imagina descobrir. Não se trata, portanto, de um resgate nostálgico de um passado longínquo, morto e enterrado, mas de uma história cheia de vida, de intensidade, de coragem, de revelações que ajudam a compreender o passado, projetando luzes criativas para o futuro.

Curti do início ao fim. A leitura valeu da primeira à última pagina. Este é um daqueles livros que você vai lendo com entusiasmo e prazer mas, ao mesmo tempo, poupando algumas páginas para retardar a angústia certeira do final da leitura. Após ler a última página fiquei naquele bom silêncio reflexivo, procurando para mim mesmo uma palavra que sintetizasse a trajetória artística do músico Lobão e após alguns minutos encontro convictamente a palavra ATITUDE.

Atitude para oferecer ao seu público fiel a segunda parte desta história com mais 50 anos de rock and roll da melhor qualidade, pois como ele mesmo profetiza ao final do livro: “...afinal de contas, o melhor ainda está por vir.”

domingo, 16 de janeiro de 2011

Formatura - FauUlbra / Canoas

Turma,

A cerimônia de formatura ocorrida ontem estava linda e emocionante. Foi contagiante vê-los com aquela alegria inconfundível estampada nos rostos, assim como foi, também, emocionante ver aquela entrada triunfal, aos sons de várias e mixadas buzinas e muitas luzes, tendo a música Tropa de Elite como trilha sonora!! É isso aí aspiras, levantem a cabeça, estufem o peito e tenham muito orgulho pois agora vocês são Arquitetos e Urbanistas!! Vocês estavam lindos!!

Lhes agradeço de coração a bela distinção acadêmica que vocês me prestaram, me escolhendo para ser professor homenageado desta turma. Levarei, em especial, esta honraria sempre guardada no coração como um incentivo para o meu trabalho diário no atelier.

A arquitetura, sempre lhes disse isto, é, também, uma filosofia de vida, pois tratando da espécie humana, dos seus espaços e do mundo que os cerca, deixa pouca coisa sem a intervenção direta e sem a influência necessária do arquiteto. A arquitetura está nas próprias origens da humanidade, sendo o produto imediato do instinto humano. A arquitetura é, portanto, ciência e ofício. Ciência, na exata medida em que nos permite, a partir da pesquisa aplicada, conhecer e investigar as necessidades e demandas reais da sociedade e do mercado em que estamos inseridos. E é ofício, pois, a partir dele, participamos ativamente da vida das pessoas, seja na pequena escala habitacional da célula da família ou na escala das grandes edificações e intervenções urbanas.

Por esta razão, meus arquitetos, entre outras tantas, somos uma profissão tão, e cada vez mais, viável e fundamental nos dias de hoje, principalmente quando reconhecemos tantas coisas por fazer neste mundo desigual que temos que mudar e que depende muito das nossas atitudes e da nossa luta conjunta.

Não foram anos fáceis, eu bem sei...

Lembro da coragem de cada um na busca das idéias e das grandes invenções, da fragilidade dos corações diante das muitas dificuldades e, quase, intransponíveis barreiras. Lembro da tristeza imposta pelo exílio necessário do convívio social e familiar, já que não foram poucas as vezes que, por exigência dos nossos tantos e infindáveis trabalhos, nos obrigamos a ficar distantes de tudo aquilo e de todos aqueles que muito amamos...

E a vida passando, indiferente aos nossos apelos para que o tempo passasse mais devagar, nos fazendo sentir, aflitos, que aquele momento não mais voltaria e que ela não esperaria por nós... Quantas vezes, na solidão de um único ponto de luz acesso sobre a mesa de trabalho, nas madrugadas infindáveis, esta pergunta foi formulada por vocês: Será que vale a pena?

Lembro, ainda, do cansaço de cada corpo, do semblante exaurido e apreensivo de cada um nos dias de painel e apresentação dos trabalhos, dos momentos nebulosos onde as tarefas pareciam não caber dentro da linha tênue do tempo e, também, da tristeza diante de uma crítica, por vezes, mais contundente, embora necessária. Mas lembro, principalmente, e me parece que isto é que deve ser exaltado neste momento, da alegria estampada em cada rosto pelas grandes descobertas, pela superação de mais um desafio, pelo acerto diante da tão esperada solução viável, pela experiência mágica de uma invenção e pela oportunidade de estarmos ali, noite após noite, no calor dos verões que se estendiam ou nos implacáveis invernos, testando os nossos limites e fortalecendo cada vez mais as nossas convicções sobre a profissão e, através dela, participando da construção de um mundo melhor para todos.

É claro que vale a pena!!

Juntos, aprendemos muito nesta longa caminhada.

O tempo passou e chegamos ao fim de mais uma longa jornada. Outros tantos desafios gerados pelas demandas profissionais deverão ser assumidos. Fiquei muito feliz por ter tido a oportunidade de conviver com vocês, nesta reta final. Guardo cada um no meu coração. Lhes desejo muita sorte e muito sucesso nesta nova fase das suas vidas. Fazendo uso de algumas palavras do belo discurso de ontem, proferidas pela querida paraninfa, Profa. Arqa. Patrícia de Freitas Nerbas, “...se nos encontramos nesta vida é por que ainda vamos nos encontrar...”. Então, fica no ar aquele gostoso desejo e a certeza de estar com vocês novamente!


Contem sempre comigo!!
Um super beijo e um super abraço, já com saudade!!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Formatura - FauPucRS

Turma,

Acabo de chegar em casa após aquela maravilhosa cerimônia da formatura de vocês. Todos puderam notar a minha alegria incontida diante da bela homenagem que vocês me prestaram, me escolhendo para ser o paraninfo desta 20ª turma da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PucRS.

Não existe homenagem mais importante do que receber esta bela distinção acadêmica. Lhes agradeço do fundo do coração a oportunidade de conduzi-los neste ritual de passagem da vida acadêmica para a realidade das demandas da vida profissional. Devo lhes dizer que esta homenagem veio em boa hora. Num momento de muitas reflexões pessoais e profissionais e trocas de direção!!

Ao longo da cerimônio pude ver, nos olhos de cada um, a alegria da superação por terem alcançado tão nobre conquista. Vocês merecem!! Lembro de cada um de vocês nas disciplinas que cursamos e gurado com muito carinho a parceria, amizade e respeito que sempre caracterizaram os nossos calorosos embates e discussões sobre a arquitetura.

Valeu!! Tomarei as belas palavras que vocês proferiram e dirigiram para mim, no discurso dos oradores, como um grande incentivo diário para as minhas atividades no atelier de projeto!! Levarei na lembrança os alegres momentos que sempre caracterizaram os nossos encontros!! Retornem sempre para nossa escola, pois ela será sempre seu maior porto seguro e aquele lugar onde vocês sempre encontrarão um ambiente propício para a comemoração das suas grandes vitórias!!

Para todos, muita paz, alegria, coragem, saúde, amigos, trabalho, grana e muito amor nos corações!! Super abraço e um beijo carinhoso do Dindo!!

Discurso do Paraninfo

Componentes da mesa já citados.
Familiares e amigos aqui presentes nesta tarde quente de muitas alegrias e festas.
Meus queridos colegas arquitetos e urbanistas:

Desde o momento em que recebi o convite para ser o paraninfo, a alegria tomou conta do meu coração. Não somente pela oportunidade de estar, mais uma vez, junto desta turma pela qual tenho um grande carinho e onde fiz grandes amigos mas, principalmente, pela grande e singular oportunidade de apresentar à sociedade, nestes 14 anos de existência da nossa escola, a 20ª turma de novos e bem preparados arquitetos e urbanistas.

Sei que este honroso convite foi originado por aqueles sentimentos mútuos de companheirismo, amizade e respeito, sempre presentes durante os anos que convivemos juntos nas disciplinas que cursamos, no bar da nossa escola, nas muitas festas, nas inesquecíveis viagens de estudos, onde sempre movidos pelo sentimento de curiosidade sobre o mundo a nossa volta, buscávamos entender, pela ótica do nosso ofício, o comportamento humano diante dos mais diversos espaços, bem como, buscávamos participar sempre ativos da definição dos novos rumos para o ensino de arquitetura e o fortalecimento dos princípios da ética para o desenvolvimento da nossa profissão.

Sinto muito orgulho por ter participado de suas formações e por ver todos vocês com esta satisfação imensa estampada em seus rostos. Deste lugar que vocês se encontram - e que sentaram ainda aspirantes - ao término desta cerimônia, se erguerão arquitetos e urbanistas e serão, portanto, os mais dignos herdeiros das valiosas qualidades e honrosas tradições do nosso ofício. Mais do que isto, receberão, também, a grande e contínua tarefa de fortalecer e propagar, com o fruto do vosso trabalho, os ideais e a cultura arquitetônica local e nacional, sempre com ações honestas e colaborativas, tendo em vista as necessidades do mercado de trabalho e da sociedade em que vivemos.

Por esta razão, meus arquitetos, lhes proponho como última lição de casa o desafio de refletirem profundamente sobre algumas virtudes fundamentais que expressem valores morais, não somente para o exercício da nossa profissão, mas, principalmente, da nossa condição e obrigação primária como cidadãos, perante os nossos pares e perante a sociedade que lhes aguarda ansiosa, sedenta e carente dos resultados do vosso trabalho.

O resgate e o conhecimento dos valores morais, cada vez mais necessários, agem como um polidor da alma. Um saber viver de si para consigo, uma etiqueta de vida interior, um código de nossos deveres, pois bem sabemos que é praticando as ações justas que nos tornamos justos e é praticando as ações corajosas que nos tornamos corajosos.

Para tal, escolhi as seguintes virtudes: senso ético, leveza, coragem e alegria.

A escolha destas e não de outras, não representa aqui um juízo de valor de quem escolhe umas em detrimento de outras que para alguns possam ser mais importantes. Apenas, na minha visão, as escolhidas são aquelas que, neste momento em que vocês se deparam com muitas transformações no campo pessoal e profissional, tornam-se as mais urgentes e devem, portanto, receber de cada um de vocês a devida atenção como forma de fortalecimento dos laços de união entre cada um de vocês e seus maiores ideais por vir.

Inicio pela ética, por ser ela uma virtude vital na produção da realidade social. O mundo atual, perturbado por criações humanas, requer mudanças urgentes. A capacidade humana de criar o artificial sem qualidade parece ter transcendido a nossa habilidade de coexistir com a natureza. A crise energética internacional e o desequilíbrio mundial do meio ambiente assumem patamares preocupantes, exigindo dos novos arquitetos e urbanistas atitudes inovadoras e sustentáveis.

O mercado de trabalho, com suas inumeráveis oportunidades, mas, também, com suas perigosas armadilhas, carece urgentemente de nova formatação, assim como, outras tantas oportunidades de trabalho, ainda adormecidas aguardando por nós, necessitam ser lapidadas com afinco, inovação e empreendedorismo. Para tal, o fortalecimento ético da nossa categoria passa pelo vosso necessário trabalho na política profissional, principalmente, agora que conquistamos o tão sonhado CAU - nosso Conselho de Arquitetura e Urbanismo - revisando e divulgando os princípios da moral e da ética, muitas vezes, deixados de lado na concorrência imposta pela urgência das decisões.

Todo homem possui um senso ético, uma espécie de "consciência moral", que nos permite, constantemente, avaliar e julgar nossas ações para sabermos se são boas ou más, justas ou injustas. Por mais flexíveis que sejamos, sempre vão existir comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e errado.

Embora relacionadas com o agir individual, a ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo, com os outros, relações justas e aceitáveis e está alicerçada nas idéias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência coletiva plena e feliz.

Neste momento em que vocês estão prestes a sair da nossa escola para enfrentar a vida profissional, torna-se necessário reconhecer que o futuro de cada um de vocês se funde com o futuro da sociedade em que estamos todos inseridos. A paz, a alegria, a felicidade, o sucesso e a segurança que, individualmente, queremos ter será sempre aquela que conseguirmos construir para todos.

Na seqüência lhes proponho uma reflexão sobre a importância da leveza. Nesta nova jornada, que hoje se inicia, é preciso aprender a ser leve diante dos próximos desafios que poderão parecer densos e intransponíveis como as pedras. As próximas escolhas, principalmente aquelas que apreciamos e escolhemos justamente pela aparente leveza, poderão se revelar, numa análise aprofundada e madura, de um peso insustentável.

É neste exato momento que temos que mudar de ponto de observação. Não se trata, absolutamente, de fuga para o mundo dos sonhos ou para o irracional. Apenas temos que aprender a enxergar as coisas sob outra ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento e outras formas de abordagem do problema. A leveza, neste caso, está muito mais associada à precisão e à determinação dos nossos atos, do que ao que é vago ou aleatório. Está mais relacionada ao reconhecimento da importância das causas do que da necessidade urgente de suportar as conseqüências.

Por esta razão é preciso saber ser leve como o pássaro. Leve como o pássaro e não como a pluma. Como o pássaro altivo que segue seu extinto, livre no ar, na busca autônoma das direções a seguir, ao contrário da frágil pluma que dependerá sempre da direção de uma brisa, para poder planar, por mais leve que seja, mas que não é nunca determinada pelo seu próprio desejo.

Como sustentação para as virtudes anteriores vem a coragem. Portanto, desejo-lhes acima de tudo muita coragem, pois a coragem nos dá a base sólida para sabermos superar todas as dificuldades que virão por conseqüência das escolhas e dos próximos desafios.

Pois as dificuldades virão...

Assim sendo, desejo-lhes coragem para agüentar e durar, coragem para viver, coragem para suportar, para combater, para enfrentar, para chorar, para resistir, coragem para perseverar. A coragem não se refere apenas ao futuro, ao medo ou à ameaça. Refere-se, também, ao presente, e sempre está ligada à vontade, muito mais do que à esperança. Afinal, só esperamos o que não depende de nós, só queremos o que depende de nós. É por isto que a esperança, a meu ver, só é uma virtude para aqueles que aguardam imóveis a chegada de tudo, ao passo que a coragem é uma virtude para qualquer um. A coragem não é um saber, mas uma decisão. Não é uma opinião, mas uma atitude.

Por fim, e para tornar o caminho que hoje se inicia mais doce, devemos plantar e cultivar sempre a alegria. A alegria é o estado de saúde que devemos sempre buscar, mais que a própria felicidade, pois a alegria não é um estado de espírito como se supõe ser a felicidade, mas sim uma sensação. Alegria, coisa tão incerta como o vento que sopra lá fora, que tem dias que vem, dias que não vem, que às vezes é tão forte que vira tufão, outras parece apenas brisa suave, que pode vir do sul ou do norte, do leste ou do oeste, mas que vem, queiramos ou não, na hora ou do jeito que bem entender...

Mais uma vez muito obrigado por este convite!
Para mim, foi um grande privilégio e uma honra imensurável caminhar com vocês até aqui!!

Que esta saudade, que a partir de agora começa a povoar os nossos corações, lhes tragam sempre a doce lembrança dos momentos felizes em que estivemos juntos e lhes tragam, também, a certeza de que esta escola sempre será de vocês e sempre estará com suas portas abertas para recebê-los com suas grandes vitórias, muitas alegrias e novas dúvidas.

Muito sucesso nesta próxima jornada!
Daqui para frente, força e honra!
Muito obrigado!!