segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Formatura da Ulbra - 2010/1

Discurso do Paraninfo

Meus queridos afilhados!

Passei um ótimo final de semana lembrando da linda cerimônia de formatura de vocês. Foi com muita alegria, satisfação e orgulho que acompanhei a jornada de vocês ao longo destes dois semestres que passamos juntos. Foi contagiante olhar para todos vocês e ver a alegria de cada um, pela grande conquista da tão sonhada conclusão do curso.

Mais uma vez, muito obrigado pelo honroso convite para ser o paraninfo desta turma! Lhes deixo, no texto abaixo, o discurso para que vocês possam rever e refletir, com muita atenção, a última lição de casa.

Um super abraço e beijo carinhoso para todos vocês!!

DISCURSO DO PARANINFO

Componentes da mesa já citados.
Familiares e amigos aqui presentes nesta sexta-feira, 13, com muita sorte, alegrias e festas.
Meus queridos colegas arquitetos e urbanistas:

Desde o momento em que recebi o convite para ser o paraninfo desta turma, a alegria e a emoção tomaram conta do meu coração. Não somente pela oportunidade de estar, neste instante, junto desta turma, pela qual tenho um grande carinho e onde fiz grandes amigos, desde o tempo, já distante, em que foram meus alunos, na primeira metade do curso, mas, principalmente, pela grande e singular oportunidade de apresentar à sociedade, aqui representada por todos vocês, esta turma de novos e bem preparados arquitetos e urbanistas.

Sei que o convite para fazer uso desta tribuna foi originado por aqueles sentimentos mútuos de amizade, simpatia, companheirismo e respeito, sempre tão presentes durante o tempo passado em que convivemos nos ateliers e, principalmente, ao longo destes últimos dois semestres em que cursamos juntos o tão esperado e sonhado trabalho de conclusão de curso.

Sinto muita alegria e muito orgulho por ter participado de suas formações e por ver todos vocês com esta satisfação imensa estampada em seus rostos. Deste lugar que vocês se encontram e que sentaram ainda estudantes, ao término desta cerimônia, se erguerão arquitetos e urbanistas e serão, portanto, os mais dignos herdeiros das valiosas qualidades e honrosas tradições do nosso ofício. Mais do que isto, receberão, também, a grande e contínua tarefa de fortalecer, com o fruto do vosso trabalho, a cultura arquitetônica local e nacional e o fortalecimento dos princípios da ética para o desenvolvimento da nossa profissão, sempre com ações honestas e colaborativas, tendo em vista as necessidades do mercado de trabalho e da sociedade em que vivemos.

Por esta razão, meus arquitetos, lhes deixo como última lição de casa o desafio de estudarem e refletirem profundamente sobre algumas virtudes básicas fundamentais que expressem os nossos valores morais, não somente para o exercício da nossa profissão, mas, principalmente, da nossa condição e obrigação primária como cidadãos, perante os nossos pares e perante a sociedade.

Fazendo isto vocês estarão tentando compreender o que deveríamos fazer, ou ser, ou viver e medir, pelo menos intelectualmente, o quanto próximos ou distantes estamos de cada um dos seus significados. Os valores morais agem como um polidor da alma, um saber viver de si para consigo, uma etiqueta de vida interior, um código de nossos deveres, um cerimonial do essencial, pois bem sabemos que é praticando as ações justas que nos tornamos justos, praticando as ações moderadas que nos tornamos moderados e é praticando as ações corajosas que nos tornamos corajosos.

Para tal, escolhi as seguintes virtudes: senso ético, leveza, coragem e alegria.

A escolha destas virtudes e não de outras, não quer representar aqui algum juízo de valor de quem escolhe umas em detrimento de outras tantas, que para alguns possam ser mais importantes. Apenas, na minha visão, as escolhidas são aquelas que, neste momento, são as mais urgentes e devem, portanto, receber de cada um de vocês a devida atenção como forma de fortalecimento dos laços de união entre cada um de vocês e seus maiores ideais por vir.

Inicio pela ética, por ser a ética uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, um elemento vital na produção da realidade social. O mundo atual, perturbado por criações humanas, requer mudanças urgentes. A capacidade humana de criar o artificial parece ter transcendido a nossa habilidade de coexistir com a natureza. A crise energética internacional e o desequilíbrio mundial do meio ambiente assumem patamares preocupantes, exigindo dos novos arquitetos e urbanistas atitudes inovadoras e sustentáveis.

O mercado de trabalho, com suas inumeráveis oportunidades, mas, também, com suas perigosas armadilhas, carece urgentemente de nova formatação, assim como, outras tantas oportunidades de trabalho, ainda adormecidas aguardando por nós, necessitam ser lapidadas com afinco, inovação, empreendedorismo e ética.

Todo homem possui um senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas. Existem sempre comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e errado, do bem e do mal.


Embora relacionadas com o agir individual, essas classificações sempre têm relação com as matrizes culturais que prevalecem em determinadas sociedades e contextos históricos. Portanto, a ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros relações justas e aceitáveis e está fundamentada nas idéias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz.

Neste momento em que vocês estão prestes a sair da nossa escola para enfrentar a vida profissional, torna-se necessário reconhecer que o futuro de cada um de vocês se funde com o futuro da sociedade em que estamos todos inseridos. A alegria, a felicidade, o sucesso, a segurança e a paz que, individualmente, queremos ter será sempre aquela que conseguirmos construir para todos.

Na seqüência lhes proponho uma constante reflexão sobre a importância da leveza. Para esta nova jornada, que hoje se inicia, é preciso aprender, também, a ser leve, principalmente, diante de alguns próximos desafios que poderão parecer densos e intransponíveis como as pedras. As nossas próximas escolhas, principalmente aquelas que apreciamos e escolhemos justamente pela leveza, podem se revelar, numa análise mais aprofundada, de um peso insustentável.

É neste exato momento que temos que mudar de ponto de observação. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou para o irracional. Apenas temos que aprender a enxergar o mundo sob outra ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento, outras formas de abordagem do problema. A leveza, neste caso, está muito mais associada à precisão e à determinação dos nossos atos do que ao que é vago ou aleatório. Está muito mais associada à consciência da gravidade sem peso do que com a incapacidade de sustentação. Está mais relacionada ao reconhecimento da importância das causas do que da necessidade urgente de suportar as conseqüências.

Por esta razão é preciso saber ser leve como o pássaro. Leve como o pássaro e não como a pluma. Como o pássaro altivo que segue seu extinto, livre no ar, na busca autônoma das direções a seguir, ao contrário da frágil pluma que dependerá sempre da direção de uma brisa, para poder planar, por mais leve que seja, mas que não é nunca determinada pelo seu próprio desejo.

Como sustentação para as virtudes anteriores vem a coragem. Portanto, desejo-lhes acima de tudo muita coragem, pois a coragem nos dá a base sólida para sabermos superar todas as dificuldades que virão por conseqüência da escolha dos nossos próximos desafios.

Pois as dificuldades virão...

Desejo-lhes coragem para agüentar e durar, coragem para viver, coragem para suportar, para combater, para enfrentar, para resistir, coragem para perseverar. A coragem não se refere apenas ao futuro, ao medo ou à ameaça. Refere-se, também, ao presente, e sempre está ligada à vontade, muito mais do que à esperança. Afinal, só esperamos o que não depende de nós, só queremos o que depende de nós. É por isto que a esperança, ao meu ver, só é uma virtude para aqueles que aguardam imóveis a chegada de tudo, ao passo que a coragem é uma virtude para qualquer um. A coragem não é um saber, mas uma decisão. Não é uma opinião, mas uma atitude.

Por fim e para tornar o caminho que hoje se inicia mais doce, devemos plantar e cultivar sempre a alegria. A alegria é o estado de saúde que devemos sempre buscar, mais que a própria felicidade, pois a alegria não é um estado de espírito como se supõe ser a felicidade, mas sim uma sensação. Alegria, coisa tão incerta como o vento que sopra lá fora, que tem dias que vem, dias que não vem, que às vezes é tão forte que vira tufão, outras parece apenas brisa suave, que pode vir do sul ou do norte, do leste ou do oeste, mas que vem, queiramos ou não, na hora ou do jeito que bem entender...

Mais uma vez muito obrigado por este convite!!! Para mim, foi um grande privilégio e uma honra imensurável caminhar com vocês até aqui!!

Que esta saudade, que a partir de agora começa a povoar os nossos corações, lhes tragam sempre a doce lembrança dos momentos felizes em que estivemos juntos e lhes tragam, também, a certeza de que esta escola sempre será de vocês e sempre estará com suas portas abertas para recebê-los com suas grandes vitórias, alegrias e novas dúvidas.

Muito sucesso nesta próxima jornada!
Daqui para frente, força e honra!
Muito obrigado!!