quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Centro 24 Horas - Porto Alegre

Concurso Público de 1995

Em 1995, o Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do RS, organizou o Concurso de Anteprojeto de Reurbanização da Travessa Acylino de Carvalho e entorno, visando o funcionamento em 24 horas diárias. Nascia o conceito do Centro 24 Horas de Porto Alegre. O concurso público, de âmbito nacional, foi promovido pela Sociedade de Engenharia do RS, com a participação da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. A coordenação do concurso foi feita pelo colega Arq. José Carlos Pereira da Rosa.

A releitura da Ata Final de Julgamento informa que houve 57 profissionais inscritos e 14 projetos apresentados. Era Presidente do IabRS o saudoso colega Arq. Carlos Maximiliano Fayet, grande defensor dos concursos públicos de arquitetura e urbanismo, principalmente para projetos desta envergadura e impacto na cidade.

Fizeram parte da Comissão Julgadora os seguintes componentes:

Arq. Adriana Fleck (IabRS)
Eng. Vicente Rauber (PMPA)
Arq. Marcos Branco (IabRS / Unibanco)
Arq. Carlos Rainiger de Azevedo Moura (IabRS / Proprietários)
Arq. José Guilherme Picolli (IabRS / Compahc)
Arq. Teófilo Meditsch (PMPA/SMIC)
Eng. Sérgio Gilberto Bottini (SERGS)

O programa de necessidades era composto dos seguintes itens:

Plano Diretor apresentando uma proposta para o agrupamento das atividades de comércio e serviços para o Centro 24 Horas, bem como sua distribuição espacial no complexo, inclusive a incorporação da área do Cinema Vitória, cujo pavimento térreo será reciclado para um conjunto de lojas. Fazia parte do projeto a Travessa Acylino de Carvalho e seu entorno obrigatório (complementação da quadra com as Ruas dos Andradas, Borges de Medeiros e Andrade Neves). Como entorno não obrigatório entende-se o espaço urbano adjacente ao Centro 24 Horas.

A seguir, passados 24 anos, e considerando a necessidade urgente de reforma, apresento nossa proposta classificada em primeiro lugar no concurso de 1995.



CONCEITUAÇÃO DO TEMA

A construção do centro 24 horas buscou atender aos dados programáticos fornecidos pelo edital do concurso, bem como, fazer com que possa expressar, enquanto obra realizada e construída, um marco referencial de revitalização e animação na região central da Cidade de Porto Alegre. A construção de shopping centers em zonas periféricas tem afastado as pessoas do centro da cidade, marginalizando estes espaços que outrora foram importantes pólos de comércio, cultura e integração. Desta forma, a revitalização dos centros urbanos torna-se emergente e essencial para o contínuo e saudável desenvolvimento das cidades.

A GEOMETRIA

A proposta vislumbrou um equipamento composto por espaços abertos e fechados, com diversas atividades de comércio e serviços, sanitários públicos, postos de polícia e informações turísticas, palco e arquibancadas para realizações de eventos artísticos e manifestações populares. A ideia se originou a partir da utilização de um elemento simbólico, o círculo, vindo da tradicional forma do relógio. Estes círculos, orientados através de eixos, estão em expansão nos desenhos da pavimentação dos pisos e pretendem demonstrar, com este efeito óptico, a propagação dos ideais de revitalização e recuperação dos valores históricos e culturais do centro de Porto Alegre. O círculo integra geometricamente as atividades do Centro 24 Horas e simbolicamente representa, por sua repetição de forma reverberada, esta solução se propagando pelas demais ruas e áreas da cidade.



A SEMENTE

Ainda seguindo esta mesma intenção, foram desenvolvidos outros elementos referenciais dentro do conjunto: os relógios, que atuam como marcos visuais para a identificação à distância e o logotipo do Centro 24 Horas, instalados nos pórticos de acesso à Travessa Acylino de Carvalho, cuja figura básica central é, também, um círculo luminoso. No piso da esquina democrática (cruzamento da Av. Borges de Medeiros com a Rua dos Andradas) está desenhada a Rosa dos Ventos, cuja proposta é insinuar a propagação dos ideais de revitalização estendendo-se aos quatro cantos da cidade. Sua origem é uma placa de bronze, simbolizando a SEMENTE DA REVITALIZAÇÃO. Esta placa tem um diâmetro de 30 centímetros, referenciando o Paralelo 30 que cruza a cidade de Porto Alegre.

A REVITALIZAÇÃO

A Travessa Acylino de Carvalho é um dos principais elementos do Centro 24 Horas a ser revitalizado, pois atualmente encontra-se em mau estado de conservação, pela poluição visual gerada pela desorganizada forma como estão dispostas as placas identificativas das lojas, pela falta de iluminação gerada pela caixa da rua estreita, pelos edifícios altos com marquises projetadas sobre a rua, entre outros problemas. A proposta prevê a retirada das marquises existentes com o intuito de trazer mais luz natural para este espaço, e a partir disto, criar elementos modulares que organizem visualmente todo o tratamento a ser dado às fachadas, aos pisos e a cobertura transparente. Para cumprir com este propósito a modulação definida, composta pelos pilares salientes nas fachadas, pelos elementos metálicos da cobertura e pela geometria dos desenhos dos pisos, levou em consideração a ideia de dividir a Travessa Acylino de Carvalho em 24 módulos referenciando assim as 24 horas do dia. A Travessa Acylino de Carvalho, junto com o Cine Shopping Vitória vai configurar parte dos espaços fechados do Centro 24 Horas, e terá seus acessos marcados pelos pórticos e pela presença do relógio, como um elemento pontual vertical de marcação visual, implantado sobre o calçamento das Ruas dos Andradas, Andrade Neves e Av. Borges de Medeiros. Estes relógios serão visualizados à distância, no percurso das ruas, e desta forma vão cumprir com o propósito de elementos de localização e identificação.



MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

A Av. Borges de Medeiros, paralela à Travessa Acylino de Carvalho, completará o conjunto do Centro 24 Horas, através de uma proposta que engloba a criação de um calçadão, um estacionamento e uma arquibancada desmontável. Este conjunto foi criado para reforçar a ideia de que o Centro 24 Horas contemplará as atividades populares e culturais já desenvolvidas na Esquina Democrática. O Palco e as Arquibancadas desmontáveis abrigarão atividades teatrais, apresentações artísticas e outros tipos de manifestações populares. Na Rua dos Andradas foram criados, como elementos estruturadores do campo visual, um conjunto de pilares, a praça dos pilares, com o intuito de anunciar o centro 24 horas ao grande fluxo de pedestres que circulam nesta rua.

EQUIPE TÉCNICA
JUNG & BREGATTO ARQUITETOS
Arq. Paulo Ricardo Bregatto
Arq. Norma Eliane Jung
Arq. Adriana Panitz Rocha - Colaboradora
Arq. Sônia Glaci Mareth - Colaboradora

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Qualidade de Ensino - Arquitetura e Urbanismo

ABEA - Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo

MANIFESTAÇÃO SOBRE A QUALIDADE DO ENSINO EM ARQUITETURA E URBANISMO

A Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA) vem se manifestar publicamente, mais uma vez, pela qualidade da educação superior no Brasil. Assistimos, ao longo desta semana, com um misto de tristeza e perplexidade, à demissão de um injustificado número de professores por parte de diferentes instituições particulares nos diversos estados do país.

A sociedade brasileira precisa ser informada sobre o que está acontecendo. Contamos também com os estudantes atingidos por tais demissões, que precisam se pronunciar combativamente. A estratégia das empresas de educação superior é cruelmente simples: substituir professores mais experientes, que, em virtude de direitos salariais adquiridos, tornaram-se mais onerosos, por professores mais jovens em início de carreira docente. Isto ocorre, justamente, em um setor em que o acúmulo de conhecimento e experiências sempre foi fator de inclusão. A qualificação docente leva tempo, demanda anos de estudos. Professores não são descartáveis.

Há talentos acadêmicos e docentes dedicadíssimos nessa situação em todo o Brasil. O governo fala em autorregulação do setor, mas o que se vê é o desmonte do sistema privado de educação pela maximização de lucros. A ascensão, neste mesmo momento, do valor das ações dos grandes grupos educacionais brasileiros na bolsa de valores é uma confirmação do sucesso financeiro desta estratégia perversa. E, por outro lado, é uma vergonha!

As demissões ocorreram na mesma semana em que o Ministério da Educação publicou a Portaria 2.117, que aumenta o percentual de conteúdos possíveis de serem ministrados a distância dos atuais 20% para 40%, diminuindo ainda mais o campo de atuação do professor universitário.

A educação superior, pública ou privada, é uma construção coletiva e um patrimônio da sociedade brasileira. Algo precisa ser feito urgentemente. É o futuro do país que está em jogo.

Brasília 14 de dezembro de 2019.
www.abea.org.br