terça-feira, 30 de setembro de 2008

Vanguardas Arquitetônicas e Urbanísticas

Hoje no período da noite o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Ulbra, em Canoas, tem o privilégio de receber mais uma vez o Arquiteto e Urbanista Tiago Holzmann da Silva para proferir a palestra intitulada "Vanguardas Arquitetônicas e Urbanísticas". Esta atividade é promovida pelo Atelier 1 e 2 (trabalho de conclusão de curso).

Então, anote aí:

Palestra: VANGUARDAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS
Data: 30 de setembro de 2008
Horário: 19:30h
Prédio: 14
Sala: 203

A palestra será centrada no livro:

Ciudad Hojaldre
Visiones urbanas del siglo XXI
Carlos Garcia Vázquez
Editorial Gustavo Gili, SA
Barcelona, 2004
232 páginas
Nesta obra o autor faz uma análise das cidades a partir de quatro visões: visão culturalista, visão sociológica, visão organicista e visão tecnológica. É uma ótima dica de leitura!! Vale a pena conferir!!!
Tiago Holzmann da Silva é arquiteto e urbanista, professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo do UniRitter, mestre em arquitetura pela UPC de Barcelona. Desenvolve prática privada no escritório 3C Arquitetura Ltda.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Colega João de Barro

Aqui vai mais um textinho recém descoberto entre vários e velhos recortes de papel que eu tinha guardado numa pastinha, como lembranças e registros de tempos passados. Já comentei em postagem anterior que eu costumava colar na parede ao lado da minha mesa de desenho, no meu antigo escritório da Osvaldo Aranha, alguns textos interessantes que eu ia ganhando ou recortando. Naquela época não existiam os valiosos recursos digitais que nos permitem, como temos hoje, guardar tudo o que queremos num pequeno disquinho!! Também, este papel estava amarelado, com aquelas características marquinhas, nas pontas, das fitas adesivas ressequidas ao sol!! A cópia não era da melhor qualidade, como percebo, pois ao longo deste tempo em que ficou guardada (quem sabe mais de 10 anos) foi perdendo a cor e estava quase sumindo!! Ao menos, foi resgatada ainda no tempo de ser digitalizada. Sinal dos tempos atuais!!

Autor: Antonio Eires de Mello

Desde o começo dos tempos
Vem se estudando esta arte,
Com o fim de agasalhar-se
Que o homem edificou
E construiu com três pedras,
Dua paredes e um teto,
E ali nas mãos do arquiteto
A grande ciência brotou.

Aperfeiçoaram-se as técnicas
Ergueu-se a mastaba tipo massa
Pesada, rústica e sem graça,
Dois mil anos antes de Cristo,
Surgiu depois os Hipogeus, Pirâmides
E grandes Templos
Que mostravam bem o talento
Da arquitetura do Egito.

E a arte foi se alastrando
Do Oriente ao Ocidente
E até em outros continentes,
Chegou ao longo dos anos
Descobriu-se o cimento,
A cúpula, abóboda e coluna
E esta ciência é oriunda
Dos povos Gregos e Romanos.

A arquitetura é espaço
Volume e superfície
E peço que me acreditem
Na afirmação que aqui faço
Conheço um arquiteto
Que contrói casa de argila
E serve de abrigo à família
Do colega João de Barro.

E quantas noites passamos
Debruçados sobre a mesa
Réguas, papéis manteiga,
Canson, vegetal e metro
Hidrocor, graxa e nankim,
Para fazer plástica ou desenho
Sem descuidar no empenho
Desde o partido ao projeto.

Quanta saudade me invade
Quando me ponho a traçar
A arte de projetar
E as rimas destes meus versos
Hão de cruzar mil fronteiras
Levando o canto e abrigo
Aos brancos, pretos e índios
Que habitam este universo.

Às vezes, chego a pensar
No arquiteto do céu
Pra Ele tiro o chapéu
E num momento bem profundo
Eu peço de coração
Que fiscalize minhas obras
A Ele quero dar provas
Quando eu deixar este mundo.

Antonio Eires de Mello é natural de São Martinho. Formado em Arquitetura e Urbanismo. Foi Secretário de Obras do Município de Três Passos / RS, entre 1993 e 1996.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Atelier 1 - FauUlbra

Esta semana recebi esta super foto da minha amiga Raquel e não pude deixar de publicar, por duas razões (André, Bregatto, Rafael, Narinha, Raquel e Alessandra).

Primeiro pelo alto astral desta pequena turma (pequena só no tamanho, mas com muita expressividade) de final de curso. Estão todos cursando a disciplina de TC1 / Atelier1. Tem ainda alguns colegas que por razões óbvias (lente da verdade / registro das calorias) fugiram da sala e não se deixaram fotografar!! E, em segundo lugar, para registrar nossas condições corporais, ainda esbeltas, neste estágio do semestre.

Faço isto pela brincadeira e motivado pela farra gastronômica em que, as nossas segundas-feiras, tem se tornado a partir do combinado de cada um demonstrar seus talentos culinários, trazendo para a aula, os mais variados e exóticos quitutes.

Sem dúvidas, chegaremos ao final do semestre mais inteligentes e, principalmente, mais nutridos (entenda-se: gordinhos)!!

Valeu turma!!
Vocês são realmente especiais!!
Já sabem né: neste verão tamanho "G" para os biquinis e calções de banho!!

Super abraço!!

Em tempo: quem leva o rango na próxima segunda-feira?

Avôhai

Esta letra vai para o meu amigo Gabriel Gallina, por encomenda!!
Abração gordo e até breve!!

Composição: Zé Ramalho

Um velho cruza a soleira
De botas longas, de barbas longas
De ouro o brilho do seu colar
Na laje fria onde coarava
Sua camisa e seu alforje
De caçador...

Oh! Meu velho e Invisível
Avôhai!
Oh! Meu velho e Indivisível
Avôhai!

Neblina turva e brilhante
Em meu cérebro coágulos de sol
Amanita matutina
E que transparente cortina
Ao meu redor...

E se eu disser
Que é meio sabido
Você diz que é bem pior
E pior do que planêta
Quando perde o girassol...

É o terço de brilhante
Nos dedos de minha avó
E nunca mais eu tive mêdo
Da porteira
Nem também da companheira
Que nunca dormia só...

Avôhai!
Avô e Pai
Avôhai!

O brejo cruza a poeira
De fato existe
Um tom mais leve
Na palidez desse pessoal
Pares de olhos tão profundos
Que amargam as pessoas
Que fitar...

Mas que bebem sua vida
Sua alma na altura que mandar
São os olhos, são as asas
Cabelos de Avôhai...

Na pedra de turmalina
E no terreiro da usina
Eu me criei
Voava de madrugada
E na cratera condenada
Eu me calei
Se eu calei foi de tristeza
Você cala por calar
E calado vai ficando
Só fala quando eu mandar...

Rebuscando a consciência
Com mêdo de viajar
Até o meio da cabeça do cometa
Girando na carrapeta
No jogo de improvisar
Entrecortando
Eu sigo dentro a linha reta
Eu tenho a palavra certa
Prá doutor não reclamar...

Avôhai! Avôhai!
Avôhai! Avôhai!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Apesar de você

Chico Buarque

(Crescendo) Amanhã vai ser outro día (3x)

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.

Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro.

Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar.

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria.

Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença.

E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa.
Apesar de você

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia.

Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiáÂ…Â….

O que será (A flor da terra)

Chico Buarque & Milton Nascimento

O que será que será
Que andam suspirando
Pelas alcovas?
Que andam sussurrando
Em versos e trovas?
Que andam combinando
No breu das tocas?
Que anda nas cabeças?
Anda nas bocas?
Que andam acendendo
Velas nos becos?
Estão falando alto
Pelos botecos
E gritam nos mercados
Que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza
Nem nunca terá!
O que não tem concerto
Nem nunca terá!
O que não tem tamanho...

O que será? Que Será?
Que vive nas idéias
Desses amantes
Que cantam os poetas
Mais delirantes
Que juram os profetas
Embriagados
Está na romaria
Dos mutilados
Está nas fantasias
Dos infelizes
Está no dia a dia
Das meretrizes
No plano dos bandidos
Dos desvalidos
Em todos os sentidos
Será, que será?
O que não tem decência
Nem nunca terá!
O que não tem censura
Nem nunca terá!
O que não faz sentido...

O que será? Que será?
Que todos os avisos
Não vão evitar
Porque todos os risos
Vão desafiar
Porque todos os sinos
Irão repicar
Porque todos os hinos
Irão consagrar
E todos os meninos
Vão desembestar
E todos os destinos
Irão se encontrar
E mesmo padre eterno
Que nunca foi lá
Olhando aquele inferno
Vai abençoar!
O que não tem governo
Nem nunca terá!
O que não tem vergonha
Nem nunca terá!

O que não tem juízo...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

17 de Janeiro de 2009

Meus queridos afilhados da Fau Ulbra,

Foi com muita emoção que ontem recebi o honroso convite para ser o paraninfo desta turma de jovens arquitetos!! Não acredito quer exista maior distinção acadêmica que um professor possa receber do que esta que vocês estão me proporcionando, me escolhendo para conduzí-los, neste belo e simbólico ritual de passagem, da vida acadêmica para os encargos da vida profissional!


Ontem no caminho de volta para casa, envolto na alegria e emoção do convite, me vi revisitando os fatos de um passado já distante na linha do tempo (neste final de ano completo 20 anos de formatura), quando, então, estava eu ainda concluindo minha formação e experimentando estas mesmas emoções que vocês estão vivendo, no desenvolvimento e finalização do trabalho de conclusão de curso!!

Quantas coisas por fazer e uma linha do tempo nem tão elástica e generosa assim, nos fazendo sentir, angustiados, que as tarefas pareciam não caber nos tempos disponíveis!! Lembro, em especial, e falei sobre isto na aula de ontem, da emoção que senti no dia que experimentei a toga, algumas semanas antes da formatura (que naquela época ainda acontecia, tão logo, o semestre finalizava). Mesmo sabendo que, mais cedo ou mais tarde, o tão sonhado dia da formatura chegaria, pareceu, naquele momento, que de fato, uma parcela muito importante das nossas vidas estava sendo concluída e outra começava a se abrir para cada um de nós!! Lembro de como foi importante para mim este momento!! É como se ali, a coroação de um grande sonho antigo, começasse, de fato, a se concretizar!! E se concretizou!!!

Penso que vocês devem ter experimentado um pouquinho desta emoção neste domingo que passou, na cerimônia das fotografias, já vestidos com a toga!! Portanto, meus queridos afilhados, levem no peito este orgulho de terem experimentado esta roupa e tudo o que ela significa. O dia 17 de janeiro de 2009, mesmo se tratando de uma data do ano que vem, não está assim tão distante. Podem ter a certeza que a emoção da noite da formatura é extremamente maior e mais linda do que esta que vocês sentiram no domingo passado, portanto, se dediquem ao máximo nesta reta final. Faltam um pouco mais do que 70 dias para a entrega final dos nossos trabalhos. Muitas coisa ainda temos que fazer e muitas etapas ainda temos que vencer. Mas certamente vai valer a pena!!!

Valeu mesmo!! De coração, muito obrigado!! Tomarei esta homenagem como um grande incentivo para o meu trabalho diário no atelier!! Super abraço e muito sucesso nesta jornada que irá nos conduzir até o dia 17 de janeiro de 2009!!

Contem sempre comigo!!

Força e Honra
Saudação Romana

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A arquitetura estaria melhor sem as escolas?

A revista AU (Arquitetura e Urbanismo), em suas edições mensais, apresenta na seção Fato & Opinião um assunto atual para discussão e convida alguns arquitetos para emitirem suas considerações sobre o tema apresentado.

Nesta edição de setembro, número 174, o assunto apresentado foi: A arquitetura estaria melhor sem as escolas? Esta polêmica foi levantada na abertura da Oxford Conference 2008 - Reseting the Agenda for Architectural Education, realizada em julho de 2008 na Universidade de Oxford, Inglaterra, pelos arquitetos Robert Adam e Peter Buchanan. Este evento teve como objetivo redefinir a agenda de educação em arquitetura estabelecida em 1958.

Nesta direção, a editora da seção Fato & Opinião, Valentina Figueirola, convidou alguns arquitetos para emitirem suas opiniões sobre a questão. Participaram desta edição os arquitetos, Helio Piñon (professor da Escola de Arquitetura de Barcelona, crítico e arquiteto), Fernanda Marques (arquiteta titular do escritório Fernanda Marques Arquitetos Associados), Maisa Veloso (arquiteta e professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN), Fernando Lara (arquiteto, professor da Universidade de Michigan), Paulo Ricardo Bregatto (arquiteto e urbanista, diretor da Bregatto Arquitetos e professor da PucRS, Ulbra e UniRitter) e Ciro Pirondi (arquiteto e diretor da Escola da Cidade).

A materia na íntegra pode ser conferida no link: http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/174/artigo101158-1.asp

Abaixo apresento as considerações dos participantes:

A arquitetura estaria melhor sem as escolas?
Colaborou: Valentina N. Figueirola

Para os arquitetos Robert Adam e Peter Buchanan, a arquitetura estaria melhor sem as escolas de arquitetura. Adam e Buchanan alegam que as atuais instituições de ensino são incapazes de formar profissionais bem preparados para as realidades da prática. A polêmica foi colocada durante a abertura da Oxford Conference 2008 - Reseting the Agenda for Architectural Education, realizada em julho de 2008 na Universidade de Oxford, Inglaterra. O evento teve como objetivo redefinir a agenda de educação em arquitetura estabelecida em 1958. Mas a idéia dos dois foi fortemente combatida pelos presentes, como o arquiteto e crítico inglês Peter Cook e Jeremy Till, diretor da faculdade de arquitetura da universidade de Sheffield. Segundo Till, sem as escolas, "o conhecimento arquitetônico definharia esmagado pelas forças do mercado".

Diante da discussão, AU pergunta: a arquitetura estaria melhor sem as escolas de arquitetura?

Helio Piñon
Professor da Escola de Arquitetura de Barcelona, crítico e arquiteto

Se todas as escolas fechassem, a qualidade dos edifícios experimentaria uma melhora de 15%. Tal convicção supõe uma autocrítica, pois ensino projeto há 36 anos. A incompetência generalizada de quem ensina a projetar - já se conhece o aforismo: "quem sabe projeta, quem não sabe ensina" - propicia o relativismo entre os docentes, convertendo-os nos mais fiéis aliados do mercado. As escolas perdem sua hipotética incumbência crítica e seu alegado compromisso com a qualidade. A eventual melhora que provocaria o impossível fechamento das escolas não deveria nos iludir: o mundo se acostumou a viver sem arquitetura. A realidade das cidades se constrói à margem de qualquer critério arquitetônico, ainda que toda ela esteja legalizada pela assinatura de arquitetos. As monstruosidades da "arquitetura do espetáculo" são uma mostra do declínio da visualidade e a anulação da capacidade de juízo, que exigem um sistema econômico baseado no consumo desconsiderado. A arquitetura só pode sobreviver nos espaços em que o sistema não exige funcionalidade, freqüentemente de âmbito individual. O caráter praticamente privado da arquitetura autêntica não exime de levá-la a cabo com a maior qualidade: costumo repetir que quando um sistema alcançou o máximo de inutilidade é quando não existe desculpa para apontar a excelência. Explica-se um advogado ou um dentista medíocres, porque ainda serão de alguma utilidade para alguém, mas um mau poeta é, além disso, patético.

Fernanda Marques
Arquiteta titular do escritório Fernanda Marques Arquitetos Associados

Não. Com otimismo, posso entender a posição de Adam e Buchanan como uma forte provocação pela melhoria do ensino. Jamais como uma proposta séria. Além da base técnica, as boas escolas se propõem a formar profissionais capazes de dar continuidade, em seu próprio trabalho, ao conhecimento acumulado pelos que vieram antes. Extinguir as escolas seria como trabalhar para quebrar essa corrente humana de séculos. Quanto às escolas ruins, a questão é torná-las melhor. A forma de abordar o ensino da arquitetura pode e deve ser discutida, mas não faz sentido simplesmente acabar com essa carreira acadêmica que tanto ajuda a humanidade a se desenvolver.

Maisa Veloso
Arquiteta e professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN

As escolas têm papel fundamental na formação do profissional qualificado, cuja prática deve ser fundamentada pelo conhecimento, uma exigência da sociedade atual, em que é imprescindível acompanhar as constantes transformações e avanços sociais e tecnológicos. O saber-fazer de alguns ofícios pode até ser aprendido fora da escola, mas é nela que se produz o conhecimento, a reflexão crítica sobre o que se faz. A academia não deve ser submetida às lógicas de mercado, pois nela o que está em construção não é um produto, mas o aluno, futuro profissional. Reconhece-se, entretanto, que o ensino de arquitetura deve procurar se aproximar mais da materialidade construtiva e das práticas sociais que a envolvem.

Fernando Lara
Arquiteto, professor da Universidade de Michigan

Estive presente ao debate e posso dizer que foi um massacre em favor das escolas. Peter Cook lembrou muito bem que a universidade está para a formação do indivíduo assim como a democracia está para a forma de governo: ainda não existe sistema melhor apesar de todos os seus defeitos. E entre os vários defeitos eu destacaria a crise de confiança da qual sofre a disciplina da arquitetura. Ficou claro em Oxford que precisamos reestruturar nossa base do conhecimento, esgarçada por tantas teorias emprestadas de áreas nem tão afins. Perguntar quais os conteúdos fundamentais para a formação do arquiteto hoje já seria uma forma de construir pontes entre o ensino e a prática de arquitetura.

Paulo Ricardo Bregatto
Arquiteto e urbanista, diretor da Bregatto Arquitetos e professor da Puc-RS, Ulbra e UniRitter

Não. Elas oportunizam as condições para o conhecimento e experimentação dos fundamentos da arquitetura e do urbanismo como ciência e ofício. E explicitam, a partir da pesquisa, as condições para a investigação das demandas reais da sociedade e do mercado. Sem falar da certificação para o exercício profissional, elaborada a partir dos currículos dos cursos. Temos que fazer uma reflexão sobre a influência e apropriação da produção arquitetônica internacional, que supervaloriza referenciais desgastados e com baixíssima análise crítica. As escolas devem ter isenção estilística para não aceitar imposições estéticas ou midiáticas e para não propagar estilos que inibam o desenvolvimento de uma cultura arquitetônica pertinente e genuinamente brasileira.

Ciro Pirondi
Arquiteto e diretor da Escola da Cidade

Não. Essa é uma falsa questão imposta por uma equivocada visão da educação, na qual, em um primeiro tempo estanque, está a formação profissional e, num segundo, totalmente desvinculado do primeiro, está a atuação ou a produção. A educação contemporânea precisa ser multidisciplinar e contínua. Tampouco o contra-argumento sobre a força do mercado justifica a permanência das escolas. A boa ou má arquitetura continua sendo definida solitariamente pelos arquitetos, ao desenharem sobre a folha em branco. Sua qualificação não se dá pelo fato dela ser pública ou privada. No entanto, é urgente reconhecer a defasagem entre a sociedade contemporânea, seus temas, e a aprendizagem na maioria das escolas, de maneira a não abdicarmos da utopia de um necessário pensamento crítico.

Disparada

Não são as coisas como são!
Apenas as coisas como estão!!

Precisa dizer mais alguma coisa?

Composição: Geraldo Vandré
Interpretação: Jair Rodrigues

Prepare o seu coração
Pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar

Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
E a morte, o destino, tudo
Estava fora de lugar
Eu vivo pra consertar

Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Que junto comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
O dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu

Boiadeiro muito tempo
Laço firme, braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
E boiadeiro era o rei

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
Nos sonhos que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei

Então não pude seguir
Valente, lugar tenente
E dono de gado é gente
Porque gado a gente mata
Tange, ferra, engorda e marca
Mas com gente é diferente

Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto pra enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Nem por mim, nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Quem quisesse ou quem pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer mais longe que eu

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme, laço forte
De um reino que não tem rei

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Nem por mim, nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Quem quisesse ou quem pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer mais longe que eu

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme, laço forte
De um reino que não tem rei

La-ra la-ia la-ra ia,
La-ia la la-ra la ia,
La-ra la-ia la-ra ia,
La-ia la la-ra la ia...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Coordenação Modular - Parte 3

BREVE HISTÓRIA E ASPECTOS IMPORTANTES

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYMONINO, Carlo / La Vivienda Racional: Ponencias de los Congressos CIAM 1929-1930 / Editorial Gustavo Gili S.A. / Barcelona / 1976.

BIERMANN, Verônica & outros autores / Teoria da la arquitectura – Del renascimento a la actialidad / Taschen Editora / Madrid / 2003

CHING, Francis D. / Arquitectura: Forma, Espacio Y Orden / Ediciones Gustavo Gili S.A. / México / 4ª edición / 1985.

CIRIBINI, Giuseppe / A Industrialização da Construção nos Países Desenvolvidos: O Caso da Itália / Seminário Arquitetura e Industrialização / Universidade de São Paulo / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / 1ª Edição / São Paulo / 1978.

CIRIBINI, Giuseppe / Exemplo de Técnicas Industrializadas: O Caso dos Países Desenvolvidos / Seminário Arquitetura e Industrialização / Universidade de São Paulo / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / 1ª Edição / São Paulo / 1978.

CORBUSIER, Le / El Modulor / Ensayo sobre una medida armonica a la escala humana aplicable universalmente a la arquitectura y a la mecanica / Editorial Poseidon / Barcelona / 1976.

DOCZI, György / O Poder dos Limites / Harmonias e Proporções na Natureza, Arte & Arquitetura / Editora Mercuryo Ltda. / São Paulo / 1990.

HABRAKEN, N. J. / El Diseño de Soportes / Colección Arquitectura / Perspectivas / Ediciones Gustavo Gili S.A. / Barcelona / 1979.

MOORE, Charles - ALLEN, Gerald / Dimensiones de la Arquitectura - Espacio, Forma y Escala / Ediciones Gustavo Gili S.A. / Barcelona / 1978.

NEUFERT, Ernst / Arte de Projetar em Arquitetura / Editorial Gustavo Gili, S.A. / 7° Edição / Barcelona / 1981.

NISSEN, Henrik / Construcción Industrializada y Diseño Modular / H. Blume Ediciones / Rosario, 17 / Madrid-5 / 1972.

NORMAS, ABNT / Associação Brasileira de Normas Técnicas / NB-25(1969) e TB-202(1981) - Coordenação Modular da Construção / PB-1008(1983) - Bloco CERÂMICO / NB-14(1986) e PB-1269(1986) - Aço para Construção.

PROPOSED MINIMUM STANDARDS / For Permanent Low-Cost Housing and for The Improvement of Existing Substandard Areas / Ideas and Methods Exchange nº. 64 / 602.2 Housing Codes and Standards / Prepared for The Agency for International Development by the Office of Housing and Urban Development / Washington, D.C. 20.410 / May 1966.

ROSSO, Teodoro / Teoria e Prática da Coordenação Modular / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP / São Paulo / 1976.

SCHTEINGART, M. - GALIANA, V. / Dimensiones Minimas de la Vivienda de Interes Social / Centro de Informacion para la Construccion / Bouwcentrum Argentina.

WOLFF, Rainer / La Vivienda Mínima / Segunda Tirada / Editorial Gustavo Gili, S.A. / Barcelona.

VIGÑOLA / Tratado de Los Cinco Ordenes de Arquitectura / Editorial Construcciones Sudamericanas / Buenos Aires / 1955.

Coordenação Modular - Parte 2

BREVE HISTÓRIA E ASPECTOS IMPORTANTES

3 - A COORDENAÇÃO MODULAR

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Como já vimos, a aplicação do método industrial à construção, desdobra naturalmente as operações, que hoje são realizadas no canteiro, em dois tipos:

operações de fabricação (executadas nas usinas ou fábricas) e operações de montagem (executadas no canteiro).

Desta forma o arquiteto deverá modificar sua técnica de projeto, respeitando a técnica de montagem e de acordo com o postulado fundamental de que, se os elementos não se adaptarem perfeitamente ao projeto e não se integrarem reciprocamente, eles não poderão ser utilizados, pois será impossível qualquer operação de adaptação no canteiro. É evidente que, sendo a construção um processo prevalentemente aditivo, somente será possível uma certa variedade de aproveitamento de elementos acabados, desde que eles sejam dimensionados de forma a obedecer a uma relação aditiva entre todas as suas medidas.

Feitas estas considerações, podemos concluir que a natureza simplificativa e aditiva das medidas dos elementos será estabelecida em primeiro lugar pela determinação de um divisor comum a todas as dimensões. A existência de uma relação comum universal dará lugar a uma família de dimensões correlatas, as quais poderão ainda sofrer uma operação de seleção de acordo com as características dimensionais de cada elemento.

Serão assim alcançados dois objetivos: uma simplificação das dimensões para as finalidades de produção e uma aditividade das dimensões para as finalidades de projeto.

O divisor comum, a que me refiro, é justamente - como já vimos anteriormente - o módulo-objeto: a adoção de um sistema modular como base para normalização dos elementos da construção é uma condição fundamental para industrializar a construção.


A Coordenação Modular é, portanto, um método por meio do qual estabelece-se uma dependência recíproca entre produtos básicos e intermediários de série (elementos construtivos) e produtos finais (edificações) mediante uma unidade de medida comum. O edifício não é mais rigorosamente executado sob medida e o projeto é elaborado em função de dimensões normalizadas, que levam em conta os materiais e elementos disponíveis e os processos de montagem.

AS FASES DA COORDENAÇÃO MODULAR

O objetivo da padronização é a estabilização do produto ou do processo de produção: a padronização é a aplicação de normas a um ciclo de produção ou a um setor industrial completo. A coordenação modular é o meio sistemático para conseguir a integração dimensional dos elementos padronizados.

Sua aplicação implica no estudo de três princípios fundamentais: seleção, correlação e intercambialidade.

SELEÇÃO: Opera na fase de produção reduzindo a variedade ao mínimo mais eficiente

CORRELAÇÃO: Opera na fase de composição efetuando uma escolha quantitativa de valores, estabelecendo relações mútuas para facilitar a sua atitude combinatória

INTERCAMBIALIDADE: Opera na fase da montagem estabelecendo critérios e normas para os ajustes e tolerâncias

Como já vimos anteriormente, a sistematização dessas operações exige a formulação de: SISTEMA DE REFERÊNCIA, SISTEMA DE MEDIDAS, SISTEMA DE NÚMEROS PREFERENCIAS e TEORIA DOS AJUSTES E DAS TOLERÂNCIAS.

Esta orientação metodológica pode ser justificada, quer por outras experiências industriais, quer por outras experiências peculiares do processo construtivo.

A ESCOLHA DO MÓDULO

O termo módulo encerra dois conceitos distintos: o de unidade de medida e o de fator numérico. Como unidade de medida, o módulo foi usado desde a antigüidade para uma função estética. Na atualidade o módulo deve preencher finalidades técnicas, utilitárias e produtivas. Portanto o módulo é o denominador comum das grandezas existentes: é uma unidade de medida abstrata proposta como dimensão básica para o dimensionamento dos elementos construtivos produzidos industrialmente.

Como fator numérico, fixa a regra que se destina a coordenar dimensões. No caso de uma série geométrica, o módulo representa a razão da progressão. Portanto como fator numérico determina uma correlação entre os termos de uma série e os valores de uma escala de dimensões.

Como unidade de medida será a primeira medida da seqüência modular normal e intervalo dimensional básico do sistema de referência. Num projeto que utilize esse sistema de referência os elementos construtivos irão ocupar espaços de projeto que serão múltiplos da medida modular. Para a escolha da medida do módulo os técnicos da A.E.P. estabeleceram os seguintes requisitos:

- a medida do módulo básico deve ser suficientemente grande de forma a fixar uma correlação efetiva entre as dimensões modulares dos componentes e os espaços modulares do projeto.

- o módulo básico deve ser suficientemente pequeno para que seus múltiplos possam corresponder a todas as dimensões dos elementos da escala industrial e para constituir uma unidade conveniente de incremento, de uma dimensão modular para a seguinte, de forma que possam ser reduzidas ao mínimo as modificações a serem aplicadas aos elementos já existentes para adaptá-las à medida modular mais próxima assim como as variações dos espaços previstos no projeto.

- a medida do módulo básico deverá ser a maior possível para possibilitar a máxima redução da variedade atual dos produtos.

- para comodidade de uso, a medida do módulo deverá ser expressa com um número inteiro, e ter uma relação numérica simples com o sistema de medidas com o qual está aparentada.

- a medida do módulo deverá ser escolhida de comum acordo por todos os países que pretendem adotar a coordenação modular, deverá portanto, nos limites do possível ser a mesma para todos eles.

Como resultado dos trabalhos realizados em diversos países a medida do módulo básico foi fixada em 10 cm (centímetros) para o sistema métrico e 4” (polegadas) para o sistema inglês. A respeito desta escolha algumas considerações ainda devem ser feitas. Em primeiro lugar deve-se frisar que, embora aparentemente idênticas, as medidas de 10cm e 4” não foram fixadas com o intuito de estabelecer uma equivalência entre os dois sistemas de medida, pois existirá sempre uma diferença entre as medidas correspondentes.

A segunda consideração a ser feita é que a escolha de um módulo básico de 10cm não exclui a conservação de outros módulos já em uso e adotados em decorrência de exigências locais e contingentes. Isto diz respeito principalmente ao caso da Alemanha, cuja norma DIN 4172 fixou um módulo de 12,5cm por ser, esta medida, mais prática para a modulação de paredes de alvenaria de tijolos, relacionando a esta exigência a coordenação de todos os demais elementos construtivos.

Contudo se a industrialização tem por objetivo eliminar operações manuais ou de caráter artesanal, tais como, a execução de alvenaria, este módulo poderá ser abandonado em favor de outro de 10cm, também, já adotado pela Alemanha, quando deixarem de existir as condições que determinaram seu uso.

Quase todos os países associados à O.E.C.E. já estão usando o módulo de 10cm ou de 4”, o mesmo fazendo Estados Unidos, Rússia, Índia, Polônia, Japão, Iugoslávia e alguns países da América Latina, entre os quais o Brasil (NB-25 R). Se bem que sob vários aspectos o módulo de 10cm - 4” não pode ser considerado como definitivo, a sua aplicação tende a generalizar-se como conseqüência também da resolução da I.S.O. (TC-59) favorável à escolha dessas medidas.

MÓDULOS DERIVATIVOS E MEDIDAS SUBMODULARES

Módulos derivados são módulos múltiplos do módulo básico. Embora, a escolha de um módulo básico de 10cm, tenha sido adotada por uma série de razões, a prática da coordenação modular demostra que, para certos casos, módulos múltiplos do módulo básico são mais adequados às dimensões dos elementos se estes forem de formato grande, como é o caso dos painéis-parede. Portanto, para cada caso, é necessário estabelecer de acordo com o tipo de edifício e do processo de fabricação, se o módulo deve ser único (básico) ou conforme a ordem de grandeza das dimensões a serem normalizadas, isto é, se devemos ter campos de coordenação vários com múltiplos do módulo básico.

Os países do leste europeu, reunidos em Moscou em agosto de 1960, resolveram adotar para grandes elementos construtivos um módulo de 30cm. O mesmo critério foi também escolhido pela França, Bélgica e Itália. Aliás, na Conferência de Leningrado recomendou-se o uso de mega-módulos e de módulos ampliados (60M, 30M, 15M, 12M, 6M, 3M, 2M, com M = 10cm).

O módulo de 30cm pode ter um similar no módulo de 1 pé: a sua escolha deve-se principalmente ao fato que a dimensão 4 × 0,30 metros = 1,20 metros parece ser ideal para muitos materiais em folha, de aplicação mais freqüente nos grandes painéis.

Resumindo, poderíamos afirmar que, do ponto de vista teórico, não é necessário ou indispensável basear as pesquisas sobre um módulo básico. O desenvolvimento da coordenação modular mostra como foi constante a preocupação de evitar-se fórmulas rígidas que pudessem cristalizar o processo construtivo.

AS SÉRIES NUMÉRICAS

A coordenação modular, entre outros objetivos, tem, também, um de natureza simplificativa. Seria anti-econômico para uma fábrica produzir e manter em estoque, elementos de todas as dimensões com um módulo básico de intervalo: sentiu-se, portanto, a necessidade de operar uma escolha de tamanhos de acordo com sua freqüência estatística.

De um ponto de vista, estritamente teórico, uma série dessa natureza, de valores dimensionais correlatos, resulta da combinação de critérios de redução da variedade atual das dimensões dos elementos construtivos (simplificação) e da aplicação de operações relacionadoras das dimensões já escolhidas (correlação). Será, portanto, oportuno trabalhar racionalmente procurando obter uma seqüência de números correlatos de acordo com critérios matemáticos adequados, que permitam executar um processo simultâneo de simplificação e correlação.

COMO SELECIONAR OS NÚMEROS

Na pesquisa das séries numéricas deverão ser levadas em conta as seguintes considerações:

- as operações de construção tem principalmente caráter aditivo, portanto as séries escolhidas terão as propriedades de uma progressão aritmética.

- quanto menores forem as dimensões de um elemento tanto maior será o número de vezes que esse elemento poderá estar contido num mesmo intervalo, será, portanto, conveniente que o intervalo entre dois termos sucessivos da série aumente no sentido do aumento dos termos, propriedade esta de uma série geométrica.

- a série deverá adaptar-se ao maior número de casos, de forma que o arquiteto não encontre obstáculos à sua liberdade criadora. Portanto, os problemas de proporção deverão ser traduzidos em relação numérica simples.

- as características e os limites naturais dos materiais e de seus respectivos processos de fabricação e de transporte, deverão ser conhecidos e definidos para que as séries se adaptem perfeitamente às dimensões dos materiais: evitar-se-á, assim, que alguns setores da indústria sejam prejudicados ou excluídos.

- a função de cada elemento arquitetônico também deverá ser conhecida de forma a adaptar perfeitamente as séries às dimensões de projeto, para qualquer tipo de construção.

- o objetivo principal é econômico, portanto, as séries deverão ter características simplificativas para reduzir realmente o número de dimensões usadas.

Temos três tipos fundamentais de séries: geométricos, aritméticos e harmônicos. Os estudos e realizações neste campo são muitos e vários, antigos e recentes, ficando evidenciado que as séries geométricas tem melhor disposição para reproduzir com aderência as características numéricas dos fenômenos técnicos. Para outros fins industriais adquiriram uma certa notoriedade e tem freqüente aplicação as séries de Renard, que também no Brasil já foram fixadas em Norma (NB-71).

Os estudos e realizações de Le Corbusier com a aplicação prática da série de Fibonacci e dos princípios da simetria dinâmica também desenvolvidos por Witkover, Jay Hambidge, Ghyka demonstraram que a aplicação integral das séries harmônicas não é praticamente possível. Portanto, as pesquisas mais recentes foram orientadas para o campo da simetria estática.

Se bem que nada de conclusivo possa ainda dizer-se a respeito deste assunto, é lícito, todavia, reconhecer que os melhores trabalhos foram desenvolvidos neste campo pela Building Research Station do Reino Unido e por Ehrenkrantz em seu livro “The Modular Number Pattern”. A B.R.S. tendo em vista o fato já comprovado que uma única série, seja ela geométrica ou harmônica, não tem condições para satisfazer as exigências da indústria da construção, resolveu orientar as pesquisas no sentido de estabelecer correlações entre séries independentes.

As três adotadas foram:

série geométrica de razão 2: 1,2,4,8,12,...
série geométrica de razão 3: 1,3,9,27,81,...
série aditiva (Fibonacci): 1,2,3,5,8,13,21,34,55,89,....

As três séries foram combinadas em três sentidos obtendo-se uma série modelo cuja praticabilidade levou os onze países participaram do projeto AEP-174 a escolherem entre as demais apresentadas pela Alemanha, Itália, Grécia, Holanda e França.

É através do uso de séries numéricas adequadas que podem ser atendidos os princípios de proporção. A série modelo, porém, foi desenvolvida sobre a simetria estática, embora algumas relações possam, por aproximação, expressar relações dinâmicas. Estas falhas se, aparentemente, do ponto de vista teórico podem significar uma limitação da liberdade do arquiteto, na prática isso raramente acontece.

A esquematização estética é mais difícil hoje do que na antigüidade e, de uma certa forma, desnecessária. Os materiais de que dispomos na atualidade oferecem, à sensibilidade do arquiteto, meios de expressão mais variados dos que dispunham os antigos. De outro lado, os edifícios não podem ser vistos na sua elevação: duas dimensões iguais não tem o mesmo valor e os volumes freqüentemente utilizados em jogos de cheios e vazios, podem também alterar o valor das proporções.

Este capítulo da coordenação modular é dos mais interessantes, todavia, estamos longe de sua fase conclusiva e, por força da natureza deste estudo, não podemos entrar em maiores detalhes.

TEORIA DAS TOLERÂNCIAS E DOS AJUSTES

A aplicação do método industrial à construção, transformando a maior parte das operações do canteiro em operações de montagem de elementos construtivos pré-fabricados, obriga-nos de imediato a considerar a necessidade de estudar e estabelecer uma teoria das tolerâncias e dos ajustes. Nos processos tradicionais de construção, a ajustagem dos materiais e dos elementos é quase sempre imprescindível assim como a verificação de medidas na obra é uma prática usual e indispensável na execução de muitos elementos feitos sob encomenda.

Evidentemente num processo industrial no qual a produção deve desenvolver-se com continuidade e regularidade, independentemente da demanda e em grandes séries, as dimensões devem ser fixadas de antemão e não podem ficar dependendo das características dos pedidos. Além disso, cada elemento construtivo deve poder ser fabricado com precisão e acabamento suficientes para permitir sua utilização direta na união imediata e automática com qualquer outro elemento retirado ao acaso do estoque. Escolhas na obra e retoques não são mais admitidos.

Nestas condições já que, em analogia ao que acontece na indústria mecânica, uma fabricação perfeita ideal não é possível, é necessário que se estabeleçam as variações admissíveis das dimensões fundamentais (tolerâncias). A análise das seqüências de operações de que se compõe o processo construtivo é indispensável para pôr em evidência os possíveis erros de execução e determinar os limites de seus campos de variação.

Teremos, então, as seguintes variações: imperfeição de fabricação, imperfeição de locação, imperfeição de montagem e alterações dimensionais posteriores à montagem.

Dito isto, conclui-se que a indicação da medida de um elemento não pode mais ser feita com valores rígidos, mas através de um valor máximo - dimensão limite superior - e um mínimo - dimensão limite inferior. A diferença entre estas duas medidas chama-se tolerância e é sempre positiva, representando ao mesmo tempo o máximo de imperfeição admissível para a correta aplicação do elemento e o máximo de perfeição que pode ser conseguida sem que o custo de fabricação resulte excessivo. Pode-se, então, estabelecer algumas definições fundamentais:

- medidas modulares: valores teóricos de referências que fixam as dimensões de elementos múltiplos do módulo.

- medidas de execução ou de fabricação: medidas reais que devem ser consideradas para a produção e para fixar as tolerâncias de fabricação.

- medidas efetivas: medidas que são encontradas na verificação do elemento real e cuja validade é restrita ao elemento medido.

A medida modular representa, também, a medida normalizada do elemento modular e, portanto, indica o espaço que este ocupa no retículo modular. A ela são relacionadas em valor e posição as medidas de fabricação: a medida modular é, portanto, utilizada para fixar as linhas de referências ou linhas zero, que servem de origem aos afastamentos.

De acordo com as definições acima, para encontrar um sistema de tolerâncias e ajustes adequado, deverá ser respeitada a regra básica de que cada componente e sua junta ocupem um espaço modular. As variações dimensionais serão então entre dois limites: medida limite superior e medida limite inferior.

A tolerância está compreendida entre dois limites a saber:

- limite superior de tolerância: em função do qual um componente ocupa um espaço modular com uma junta adequada: a espessura mínima necessária para a junta define o limite para a dimensão máxima admissível do componente.

- limite inferior de tolerância: neste caso a espessura máxima admissível da junta define o limite para a dimensão mínima de componente.

Chama-se folga, a diferença entre o valor de medida efetiva do enchimento. Folga máxima é a diferença entre o valor da medida máxima do vão e o da medida mínima do enchimento. Folga mínima é a diferença entre o valor da medida mínima e o valor da máxima do enchimento. Chama-se interferência, a diferença entre o valor da medida efetiva do vão e o da medida efetiva do enchimento quando, antes de efetuar a união das duas partes, a primeira seja menor do que a segunda. A interferência dá-se raramente na indústria de construção.

Por analogia com os sistemas de tolerâncias e ajustes da indústria mecânica (fixados na norma NB-86) também neste caso poderão ser adotados dois sistemas de ajustes:

- sistema vão base (corresponde ao sistema furo base) no qual os ajustes de vários tipos são obtidos pela variação de posição da tolerância do enchimento em relação à posição constante da tolerância do vão base. A linha zero representa o limite superior da tolerância do enchimento.

- sistema enchimento base (corresponde ao sistema eixo base) no qual os ajustes são obtidos pela variação da posição da tolerância do vão em relação à posição constante da tolerância do enchimento base. A linha zero representa o limite superior da tolerância do enchimento.

De acordo com os conceitos até agora examinados e as definições estabelecidas, a variabilidade dimensional dos elementos e os processos de produção serão objeto de atenta análise com a finalidade de avaliar da maneira mais objetiva, o grau de variação de forma e dimensão. Os instrumentos desta análise são a teoria dos erros e o cálculo de probabilidades. Este capítulo da coordenação modular fica assim diretamente subordinado ao controle estatístico de qualidade objetivando realizar:

- um sistema de ajustes, isto é, um conjunto de princípios, regras, fórmulas e tabelas que permita a escolha racional de tolerância no acoplamento de elementos construtivos, para se obter economicamente uma condição pré-estabelecida,

- um sistema de tolerância, isto é, um conjunto de princípios, regras, fórmulas e tabelas que permita a escolha racional de tolerâncias para a produção econômica de elementos construtivos intercambiáveis.

No que diz respeito às especificações que definem os elementos construtivos e a unidade arquitetônica a que os mesmos integrados, se destinam, podemos distinguir três grupos de características:

- características dimensionais, relativas às dimensões e superfícies que delimitem o volume dos elementos da construção em si.

- características de forma, referentes à forma destas linhas e superfícies, assim como sua orientação recíproca.

- características de posição, relativas à posição de cada elemento em relação ao projeto e as diferentes partes da construção corretamente e harmonicamente proporcionadas.

A análise deverá abranger o estudo das juntas pois deverão ser previstos os espaços para sua execução e os limites de sua espessura. Como já vimos, as juntas podem ser de dois tipos: incorporadas ao componente e executadas “in-loco”.

E ser realizadas com três classes de materiais:

amorfos: colas, massas, plásticos, argamassas, etc.
semi-acabados: perfis metálicos, gachetas plásticas, de borracha, etc.
acabados: concreto armado, estruturas metálicas, etc.

As dimensões das juntas podem, portanto, ser fixas ou variáveis. O estudo das juntas deverá prever as variações dimensionais dos elementos conseqüentes a fenômenos físico-químicos como retração, dilatação, etc. As juntas serão situadas dentro do espaço definido como distância modular mínima, isto é, a distância mínima utilizada.

Os problemas que devem ser equacionados e resolvidos para estabelecer as normas sobre este capítulo da coordenação, são bastante complexos e exigem uma eficiente colaboração das categorias de profissionais interessados na aplicação deste método de coordenação.

Um capítulo a parte deveria, ainda, ser escrito sobre os instrumentos e aparelhos de locação e de controle das dimensões, que deverão ter características práticas e de precisão diferentes dos que atualmente são utilizados na construção e na indústria mecânica.

4 - PROBLEMAS REFERENTES AO PROJETO DE COMPONENTES MODULARES PRELIMINARES

A aplicação prática dos conceitos até agora expostos, compreende dois tipos principais de problemas a serem resolvidos: os que são próprios do campo de projeto e os que são próprios do campo da produção.

Os problemas de projeto por sua vez ainda serão divididos em: problemas de caráter funcional, problemas de parte e de elemento e problemas de conjunto.

Os problemas de produção serão divididos em: problemas de dimensionamento, problemas de controle de produção e problemas de organização de trabalho. Os problemas de caráter funcional fogem ao âmbito deste estudo, pois não pertencem ao campo de coordenação modular. Os problemas de parte ou de elemento são os que se referem à produção de semi-acabados ou de elementos construtivos acabados. Os problemas de conjunto são os que se referem à produção de elementos compostos. Já vimos que o objeto de coordenação é definir uma perfeita correspondência entre os produtos industriais e as exigências arquitetônicas.

As fases dos processos de coordenação são portanto as seguintes: diferenciação e classificação dos elementos, normalização e aplicação dos critérios de coordenação modular.

CLASSIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS

A classificação dos elementos deverá obedecer aos critérios abaixo esquematizados: qualitativa, dimensional e funcional.

Qualitativa: aditividade, divisibilidade, elementos aditivos, elementos não aditivos, iguais, desiguais, comensuráveis, não comensuráveis, elementos divisíveis, elementos não divisíveis

Dimensional: materiais amorfos, materiais dimensionados ou componentes, materiais semi-acabados, materiais ou elementos acabados, simples, elementos compostos

Funcional: elementos simples, elementos complexos

QUALITATIVA

A classificação qualitativa é necessária, não somente, para fins sistemáticos mas, também, para estabelecer a atitude ou disposição que os elementos aditivos devem ter para serem coordenados com elementos não aditivos. A variedade dos aditivos depende da possibilidade de escolha numa série dimensional que ofereça flexibilidade necessária à correta utilização do material. A variedade dos não aditivos depende exclusivamente das finalidades funcionais de cada elemento.

DIMENSIONAL

A classificação dimensional é indispensável para os objetivos intrínsecos da coordenação modular porque, por seu intermédio, ficam determinados elementos a cujas dimensões é diretamente aplicado o módulo.

Quanto às subdivisões, acima esquematizadas, os materiais tem as seguintes qualidades e características: amorfos e componentes.

Os amorfos são materiais sem dimensões fixas: metais, pinturas, madeiras, colas, argamassas, pigmentos, agregados, etc. (1° estágio de produção). Os componentes são os produtos industriais fabricados como unidades independentes. Devem ter dimensões fixas pelo menos em duas direções e cuja modificação na obra é, se não impossível, pelo menos difícil.

FUNCIONAL

Passando agora ao terceiro critério de classificação, ou seja, o funcional, os elementos podem ser divididos em: simples e complexos.

Simples são os que podem satisfazer uma exigência funcional isoladamente e individualmente: uma viga, um aparelho sanitário, uma instalação elétrica, etc.

Cabe salientar que um elemento acabado composto (classificação dimensional) pode ser simples ou complexo (classificação funcional) e vice-versa. Por exemplo, um aparelho sanitário é dimensionalmente composto e funcionalmente simples. Um bloco sanitário pré-fabricado é dimensionalmente composto e funcionalmente complexo.

Analisando as características dos elementos conforme as classificações acima estabelecidas podemos concluir que os componentes são os únicos materiais fixos cujas dimensões, o módulo pode ser diretamente aplicado. De fato, os elementos funcionais de um edifício são constituídos como vimos, pela união destas unidades independentes.

SISTEMAS DE REFERÊNCIAS

O uso de reticulados regulares, constitui um dos processos de uso mais freqüente para facilitar o trabalho de elaboração do projeto. Generalizando este sistema, não somente para comodidade de desenhos mas, também, e, principalmente, para coordenar a posição e as dimensões de todos os elementos, o processo deve ser racionalizado em função de um ou mais retículos, os quais têm, portanto, dois objetivos:

- constituir um sistema de referência que permita situar os elementos em relação a linhas de referência ou a pontos fixos e definir assim sua posição recíproca.

- fornecer uma escala dimensional, de leitura imediata, para o desenho.

As dimensões do retículo podem ser diferentes, geralmente, porém, utilizam-se malhas quadradas. O retículo modular é o elo de ligação entre a produção industrial e o projeto individual. Os retículos podem ser utilizados em todos os estágios do processo construtivo, e para cada fase serão escolhidos valores preferenciais para os espaçamentos das linhas de referência:

- retículo modular: utilizado para os desenhos dos elementos e nos desenhos de união de detalhe, neste caso as linhas de referências (linhas zero) ortogonais entre si, são colocadas com intervalo de um módulo,

- retículo de projeto: utilizado para a redação do projeto geral do edifício, as linhas de referência serão espaçadas com múltiplos do módulo básico: 6, 8, 9, 10, 12, 15 módulos,

- retículo estrutural: utilizado para a locação dos pilares, vigas e outros elementos estruturais: geralmente o espaçamento é da ordem de 20 a 30 módulos,

- retículo de canteiro: utilizado para a locação do edifício na obra e para a montagem dos elementos: será baseado num espaçamento da ordem de 40 módulos embora estritamente ligado ao retículo de projeto.

O arquiteto terá, portanto, liberdade de adotar, usar e escolher o tipo de retículo de projeto. Sua habilidade consistirá em saber considerar com justo equilíbrio as necessidades de projeto e as exigências de locação dos elementos, recorrendo ao uso de mais de um retículo quando for necessário.

DESENHO DOS COMPONENTES MODULARES

O componente modular somado à junta respectiva, constitui o elemento construtivo modular que se destina a ocupar um espaço modular. Portanto, ao desenhar-se um componente modular, deverão ser consideradas as características do vão a ser ocupado, como, também, deverá ser dada ao perfil do componente uma forma que permita uni-lo sem dificuldades com outros elementos adjacentes. Assim sendo, não será necessário dar a todas as faces do componente, características modulares, mas somente aquelas que realmente irão compor-se no retículo modular.

Na prática, um elemento está em contato com um número limitado de outros elementos: uma janela está embutida na abertura de uma parede, um lavatório está engastado ou encostado numa parede, etc.

Uma vez determinado o número mínimo de faces de coordenação, os restantes perfis são desenhados para satisfazer outras exigências a serem estabelecidas pelo arquiteto ou pelo fabricante: a coordenação não terá influência direta sobre o projeto destas superfícies.

5 - TIPOS DE DESENHOS EXIGIDOS PELA COORDENAÇÃO MODULAR

Temos duas categorias de desenhos: desenhos para o projeto dos componentes e desenhos para a construção do edifício. Sendo que os desenhos para a construção do edifício, ainda podem ser subdivididos em: desenho para união de detalhe e desenho para união do projeto.

O primeiro tipo refere-se, principalmente, ao setor da produção e será desenvolvido pelo desenhista industrial, os outros dois são desenvolvidos pelo arquiteto e pelo engenheiro, ainda que os problemas comuns exijam uma cooperação ativa de todos os que trabalham na fase de criação.

Para cada elemento na fase de projeto, deverá ser lembrado que sua introdução no organismo arquitetônico poderá dar-se de quatro maneiras:

- o elemento deve ser inserido no retículo modular e não precisa ser unido com outros elementos, é suficiente que tenha medidas modulares, não apresentando problemas de juntas,

- o elemento deve ser unido a outro do mesmo tipo, deverá então ser dimensionado de forma que a junta seja a mais econômica possível,

- o elemento deve ser unido a outro de tipo diferente, de formato, dimensões e propriedades conhecidas, também neste caso o elemento deve ser dimensionado de forma a ter uma junta econômica,

- o elemento deve ser unido a outro cuja natureza ainda é desconhecida, neste caso, deve se prever a possibilidade do segundo elemento ter um afastamento modular nulo.

Em geral cada elemento construtivo é fabricado em vários formatos obtendo-se uma família ou escala de formatos. Para acabar com a desordem existente, os fabricantes terão que escolher um certo número de formatos padrão que obedeçam à normas gerais e específicas.

O desenhista industrial estabelecerá as dimensões limites para cada formato e efetuará uma seleção das dimensões da série que melhor atendam à todas as exigências: estéticas, funcionais, de produção e de ordem econômica. Uma redução do número de dimensões fabricadas pode facilitar a produção, isto porém deve ser feito aumentando a aditividade dos elementos, para não criar dificuldades ao trabalho do arquiteto.

O estudo de aditividade é muito importante, Jean Pierre Baquet, que foi arquiteto chefe do governo francês, demonstrou que combinando valores iguais a 1, 2 e 5 módulos, podem ser obtidas, por justaposição, todas as dimensões modulares. A intercambialidade também deve ser justamente considerada. O grau de intercambialidade é representado pelo número de combinações e adaptações que podem ser realizadas num determinado intervalo.

Os problemas relativos às juntas não receberam ainda soluções gerais e definitivas, pois a experiência para muitos materiais é relativamente reduzida e recente. As juntas serão realizadas com processos simples e normalizados, contudo é oportuno salientar que as soluções no campo da coordenação estão subordinadas a soluções satisfatórias no campo funcional.

Os desenhos de união de detalhes mostrarão não só as relações entre um elemento e outro, como também deverão mostrar os pormenores das relações das juntas com as linhas de referência. Os desenhos para união de projeto, representam no seu conjunto as várias uniões do edifício, colocados na posição certa e com a ajuda do retículo do projeto. Nesses desenhos as plantas são parciais, pois não é necessário representar os elementos que se repetem. Na transferência dos desenhos de detalhe para os de projeto, cabe lembrar que cada elemento está relacionado com um retículo modular próprio de referência que, realizando a combinação geral dos elementos, pode não coincidir com o retículo de outros elementos. Isto significa que podemos ter um retículo principal (ou de projeto) cujas linhas coincidam com as superfícies externas das paredes principais, outro retículo secundário para os elementos estruturais e outro para as instalações.

Estes desenhos deverão ser elaborados levando, também, em conta as seqüências dos trabalhos de canteiro, observando as várias fases de montagem, contemporâneas ou sucessivas. Portanto, deverão representar não somente as características arquitetônicas (estáticas) do edifício, mas, também, as características do processo construtivo (dinâmica) servindo de guia simples e claro às operações conclusivas deste processo.

6 - CONCLUSÕES

A coordenação modular é o instrumento destinado a coordenar as dimensões dos elementos produzidos na fábrica com os projetos arquitetônicos: a sua aplicação implica numa disciplina de trabalho que é considerada indispensável para que a industrialização e racionalização do processo construtivo possam ser realizadas de forma orgânica, correta e segura. Este capítulo pretendeu dar uma idéia geral dos aspectos mais importantes da coordenação modular dando contudo maior relevância aos industriais.

Cabe, porém, salientar que a coordenação modular é impossível se não existir um projeto integral do edifício. Nada poderá ser omitido ou deixado para estudo posterior no decorrer da execução (montagem).

A coordenação modular, como muitos acreditam, jamais irá comprometer a capacidade criativa de um arquiteto. Pelo contrário, a existência dos condicionantes da coordenação modular vai resultar em obras cujos valores estéticos e plásticos estarão em harmonia perfeita com os valores econômicos e as carências sociais. O arquiteto deverá, portanto, modificar sua técnica de projeto: a este respeito deverá compreender que o problema não é de modular todas as dimensões, mas somente aquelas que se relacionam com a utilização de elementos construtivos pré-fabricados.

Assim, de acordo com o sistema de construção, o arquiteto, quando do projeto, deverá decidir quais elementos serão modulados de preferência. Desta forma poderá tirar o máximo proveito da coordenação modular sem cair num trabalho excessivo e em artifícios inúteis.


Este artigo segue na próxima postagem (Coordenação Modular - Parte III)

Coordenação Modular - Parte 1

BREVE HISTÓRIA E ASPECTOS IMPORTANTES

O objetivo central deste artigo é enfocar a importância e a aplicação da Coordenação Modular nos processos de projeto e construção e revisitar os tradicionais conceitos que regram a Coordenação Modular.

Assim sendo, surge a necessidade da racionalização dos processos e materiais de construção, objetivando, através de um dimensionamento mais universalizado, preservar as características individuais e originais de cada um destes materiais. Torna-se necessário, então, estudar os conceitos de módulo e de coordenação modular objetivando primeiramente repensar, enquanto processo de projeto e construção, as moradias das populações de baixa renda que habitam as favelas e, posteriormente, com o intuito de tornar os investimentos menores e, conseqüentemente, provar que tudo isto é possível sem o sucateamento e/ou sombreamento da criatividade do Arquiteto.

A Coordenação Modular, que parte do princípio da industrialização e da repetição múltipla de um mesmo elemento, vai regular padrões de organização e adequação no projeto e racionalizar os processos da construção evitando desperdícios de materiais e gerando uma economia final significativa.

1 - INTRODUÇÃO

HOMEM, MEIO E PRODUTO

O homem vive num certo meio físico natural e a resposta do organismo humano aos estímulos do ambiente determina o comportamento do indivíduo à procura de sua sobrevivência e bem-estar. Quando o homem não consegue os bens da natureza ele mesmo os cria: produção é, portanto, o ato de criar ou aumentar a utilidade de bens destinados a satisfazer as necessidades humanas e, produtos são os efeitos desses atos.

Ao produzir, o homem age sobre o meio dando lugar a interações entre os três elementos: homem, meio e produto, que configuram um sistema antropométrico e um processo bionômico humano. O meio natural é modificado por essas interações, configurando-se assim um ambiente natural e artificial, físico e sócio-econômico.

Portanto, é papel da arquitetura definir, espacialmente, o processo bionômico humano. O atendimento das necessidades humanas atribui a cada elemento do sistema, uma ou mais funções para as quais a arquitetura caracteriza e organiza um espaço por meio de invólucros, representado pela edificação. O objeto arquitetônico é, portanto, um produto na medida em que satisfaz a algumas necessidades humanas.


Seja qual for o destino do objeto arquitetônico, teremos sempre um sistema constituído de funções, espaços e invólucros, cujas partes são evidentes, cujo comportamento é conhecido e cujas interrelações são idênticas. A forma geral do invólucro é determinada, em princípio, pelo espaço. Este não é contudo uma entidade geométrica abstrata mas um novo ambiente destinado a abrigar funções e é papel do invólucro protegê-lo das ações do meio externo, tornando-o habitável.

Prescindindo da função a que se destina, um espaço deve possuir determinadas condições de habitabilidade representadas por requisitos de segurança, higiene e conforto. O atendimento destes três requisitos transforma o espaço organizado (perceptível) em espaço qualificado (tangível), onde o objeto arquitetônico é visto como sendo a soma dos espaços organizados e qualificados. Transformar estes espaços amorfos em espaços organizados, para determinadas funções humanas, é produzir, assim como o é, transformar matéria prima bruta em edificações habitáveis.

Isto posto, configuram-se duas fases na arquitetura como produção: uma abstrata de organização e qualificação do espaço e outra concreta de realização da edificação.

COORDENAÇÃO DIMENSIONAL

No momento em que qualificamos o espaço o tornamos tangível e, de uma maneira ou de outra, o dimensionamos. O objeto arquitetônico é uma entidade concreta na qual identificamos espaços disponíveis (ambientes) e espaços ocupados (invólucros).

É, então, papel da coordenação dimensional compatibilizar dimensionalmente de forma racional e orgânica os espaços disponíveis e os espaços ocupados. A coordenação dimensional não deve ser entendida como um mero instrumento geométrico mas, também, físico e econômico. Não está apenas vinculada à composição arquitetônica mas, também, à tecnologia e à produção. Se em cada ambiente o homem realiza uma ou mais atividades, o espaço que o define deve ser o mínimo necessário e suficiente para a perfeita realização dessas atividades. Chama-se de estudo de disposição física a definição desse espaço. Se quisermos quantificar e medir esse espaço, podemos recorrer a uma unidade de medida à qual podemos chamar de módulo.

Esta unidade de medida pode ser tridimensional, bidimensional ou monodimensional desde que se destine a medir dimensões espaciais, superficiais ou lineares.

Visto que este módulo mede o espaço unitário alocado a uma atividade ele é chamado de módulo-função. Este módulo não deve ser, necessariamente, cúbico (quadrado) ou paralelepípedo (retângulo) a medida em que o espaço/atividade pode ser circunscrito por outras figuras geométricas de acordo com a necessidade formal e funcional do espaço.

É claro que as figuras geométricas que melhor se prestam para esta finalidade são aquelas que permitem medir completamente o espaço, portanto são aquelas que possuem afinidade geométrica perimetral, tais como, o quadrado, retângulo, hexágono, triângulo, ou os sólidos formados a partir da combinação geométrica entre eles. Figuras geométricas, tais como, o círculo, elipse e suas variantes não possuem afinidades geométricas a medida em que seus intervalos perimetrais não se encaixam, formando, a partir de suas associações, figuras geométricas diferentes e complexas. O envoltório desse espaço, também, deve ser geométrica e fisicamente definido. Chama-se de dimensionamento a essa definição e o espaço comprometido deve ser o mínimo e suficiente para abranger completamente o invólucro e permitir que este desempenhe todas as funções previstas.

Por analogia, também podemos, neste caso, utilizar para o dimensionamento uma unidade de medida que também chamamos “módulo”, mas a distinguimos do anterior com o atributo “forma”. Temos portanto um módulo-função e um módulo-forma. Também o módulo-forma não deve ser gerado necessariamente e exclusivamente por figuras como o quadrado e o retângulo. Entretanto, também neste caso, são preferíveis as que têm afinidade geométrica perimetral.

No ato da compatibilização estabelece-se a congruência entre os dois módulos e, tendo em vista que, a nova unidade deve ter caráter de univocidade e repetitividade decorrente das exigências de produção, resulta uma terceira categoria de módulo que chamamos de módulo-objeto. O módulo-objeto é uma figura geométrica repetitiva destinada a definir, a organizar, qualificar o espaço, otimizar o desenvolvimento de uma ou mais atividades e concretizar o objeto arquitetônico. Desde que a coordenação dimensional utilize uma unidade de medida representada por um módulo-objeto, ela passa a ser uma coordenação modular.

Na história da arquitetura o uso de módulos nos projetos pode ser encontrado em várias épocas, desde a antigüidade. O módulo dos clássicos era certamente um módulo-forma, enquanto o Modulor, de Le Corbusier, pode ser considerado um módulo-função. As séries de módulos romanos identificados pelo Prof. Tine Kurent, revelam características de módulo-objeto, mas de todas as aplicações mais antigas o Ken, módulo japonês, derivado do tatami, representa também um raro exemplo de módulo-objeto.

A partir disto, é oportuno ressaltar que a coordenação dimensional é habitualmente entendida como um instrumento de normalização das partes da edificação. No caso da coordenação modular, a norma brasileira NB-25 assim a define:

“É uma técnica que permite relacionar as medidas de projeto com as medidas modulares por meio de um retículo espacial de referência.”

É claro que ao utilizarmos uma unidade de medida para o espaço organizado (módulo-função) e outra para o invólucro (módulo-forma) estamos articulando as dimensões dos espaços parciais e as dos componentes, compatibilizando-se entre si também. A compatibilização geral se dará, entretanto, apenas se o módulo-função e o módulo-forma forem compatibilizados com o módulo-objeto.

Módulo-Função: Mede o espaço unitário alocado a uma atividade.
Módulo-Forma: Mede o invólucro de um espaço unitário alocado a uma atividade.
Módulo-Objeto: Mede a univocidade e repetitividade decorrente das exigências de produção.

INDUSTRIALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO

A coordenação dimensional tem por meta principal, sem dúvida, a industrialização da construção. É notório que o método industrial se propõe a obter com a economia de escala, a compatibilização e a otimização de qualidade, quantidade e custo. Esta meta resulta de uma racional aplicação de recursos, da eliminação dos desperdícios e do aumento de eficiência dos fatores de produção, mão-de-obra e equipamentos.

O princípio fundamental do método industrial é a continuidade física, temporal e conceitual. Física, porque decorre do perfeito desempenho do produto como um todo. Temporal, porque procede da correta cronologia dos eventos que compõem o processo de produção. Conceitual, porque resulta da unidade e coerência do pensamento e da ação dos intervenientes no processo de decisão. A continuidade é fruto da organização e da previsão e sua conseqüência é a repetição. Esta decorre da simplificação, da especialização, da divisão do trabalho e da normatização e, faculta a aplicação extensa de mecanização e de processos de automações industriais. Em síntese, é a aplicação da racionalização, isto é, da eliminação da casualidade nas decisões. Fisicamente, isto conduz às séries repetitivas e contínuas de produção.

A UTILIZAÇÃO DA COORDENAÇÃO MODULAR NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Nos anos 50, obteve consenso mundial, a idéia de pré-fabricação como produção prevalentemente industrial, de elementos construtivos adaptáveis quase acabados e, também, de partes de edifícios ou edifícios completos, em locais de produção separados do local de construção. Era a época na qual se pensava, insistentemente, nas grandes séries de produção de massa, de peças padronizadas a serem estocadas, de canteiros reduzidos a simples linhas de montagem, nos quais o trabalho em cadeia fosse alimentado pelo fluxo de materiais provenientes dos estoques existentes nas indústrias de transformação e a integração das partes fosse assegurada por medidas técnicas de coordenação dimensional com base modular. Isto obteve tanto sucesso a ponto de ser posteriormente adotada em outros setores produtivos, como por exemplo o naval e o eletrônico, que ela foi transposta acertadamente, trocando de significado e de função.

No panorama internacional, surgiram, os monstros sagrados da pré-fabricação pesada francesa e russa e entre nós algumas tentativas de pré-fabricação, sobretudo estrutural, e de instalações hidrossanitárias (os chamados blocos água). Dado o sucesso, bastante relativo, da pré-fabricação, começou-se a falar, por volta dos anos 60, de “industrialização”, ainda desta vez de maneira amadorística e fantasiosa, com vagas referências aos processos ocorridos em outros setores industriais.

Foi, porém, citada naquela época, uma definição de L. Grebler que abordava o assunto com bases mais sérias. Ela era, mais ou menos assim:

“Por método industrial pode ser assumido aquele, entre as modalidades de fabricação, que se apoia essencialmente na organização ergonômica de processos de tipo repetitivo, processos nos quais a incontrolada variabilidade dos processos de trabalho, própria da atuação artesanal, cede seu lugar a tipos de execução constante, de diferente grau de mecanização ou de automação e com utilização continua das instalações.”

Recentemente, graças a Matthys Levy aparece, enfim, o conceito de system building como operação de integração obtida a partir dos sistemas de utilização de componentes previamente definidos, sistemas que, obviamente, incluem todos os aspectos dimensionais.

O discurso da industrialização torna-se, nesse ponto, um discurso mais geral de concepção tecnológica. O que significa que, na produção industrial, tudo aquilo que é produzido por máquinas, desempenha um papel meramente instrumental, enquanto a verdadeira visão do “fazer industrial”, corresponde ao inteiro percurso de projetação com particular cuidado à fase chamada: industrialização do produto ou da sua produção.

No que se refere à construção, tem pouca importância o fato de que os produtos pertencentes a ciclos de fabricação de canteiro venham parcialmente ou totalmente da oficina ou que tratem de trabalho no local: aquilo que interessa é a predisposição sistemática das atividades executivas ligadas à coordenação ou integração de seus resultados (exceto o princípio de repetição nos sentidos acima colocados). Este relacionamento acontece, conforme já foi colocado, durante o ato de projetar. O ato de projetar, se transforma, assim, radicalmente e torna-se mais complexo em relação à prática tradicional, mas também mais preciso e unívoco e, paradoxalmente também, menos rígido e mais flexível e adaptável a circunstâncias diversas que podem intervir no tempo.

Os textos dos pioneiros da arquitetura moderna contém algumas idéias básicas que constituíram até hoje a doutrina fundamental das tecnologias de informação da produção na construção civil chamada de pré-fabricada ou industrializada. Estas idéias podem ser resumidas assim:

- as técnicas como fundamento do lirismo onde a fonte de toda a beleza arquitetônica reside na tecnologia,

- a repetição, ou seja, a série, ao nível de órgão construtivo, constitui valor arquitetônico,

- o caráter abstrato do ambiente considerado libertador em relação aos limites individuais impostos aos espirituais para afirmar sua carga objetiva,

- a falsa noção de industrialização, tema obrigatório em matéria de transformações futuras.

Em tal contexto, os construtores visualizaram o ato arquitetônico sob um perfil eminentemente técnico e tecnológico, ignorando completamente o destinatário da mesma, o usuário final e, de certo modo, também o arquiteto, obrigando a assegurar o uso das tecnologias escolhidas pelo empreendedor para conceber sua própria obra, independentemente do contexto ambiental e humano no qual seria levada a se situar e negando, então, completamente a própria essência do ato arquitetônico.

2 – BREVE HISTÓRIA DA COORDENAÇÃO MODULAR E SEUS ASPECTOS IMPORTANTES PRELIMINARES

Torna-se, então, necessário abordar e analisar a Coordenação Modular a partir de um breve histórico sobre sua origem e sua utilização e, também, dos aspectos importantes diretamente relacionados com a aplicação do método industrial à construção civil. Esta aplicação, qualquer que seja a modalidade escolhida e o método adotado, desdobra as operações, que hoje se realizam, quase que, exclusivamente, no canteiro de obras, em outras de dois tipos: operações de fabricação (executadas nas fábricas ou usinas) e operações de montagem (executadas no canteiro).

Para possibilitar a seqüência natural das operações, todo um conjunto de normas deve ser estabelecido visando padronizar os elementos construtivos e dar uma forma orgânica à técnica de projeto. O conjunto dessas normas constitui, como já vimos, a coordenação dimensional. Aplicando o conceito de módulo à coordenação dimensional obtemos a coordenação modular. O módulo, que na arquitetura, é uma unidade de medida convencional, adotada para estabelecer dimensões, proporções e ordenar a construção de elementos de um determinado organismo arquitetônico, passa a desempenhar a função de divisor comum a todas, ou algumas, dimensões dos elementos industrializados de forma a proporcionar condições para a sua atividade e elasticidade de aproveitamento.

Em outras palavras, a coordenação modular é um método por meio do qual estabelece-se uma dependência recíproca entre produtos básicos e intermediários de série (elementos construtivos) e os produtos finais (edifícios) mediante uma unidade de medida comum.

As operações de coordenação são operações de seleção, de correlação e de intercambialidade e sua sistematização exige a formulação de: um sistema de referência, um sistema de medidas, um sistema de medidas de coordenação modulares, uma teoria dos ajustes e tolerâncias e um sistema de números preferenciais.

Sistema de referência, formados por pontos, linhas e planos, aos quais devem relacionar-se as medidas e posições dos componentes da construção, e que possibilite a sua individuação unívoca no organismo arquitetônico.

Sistema modular de medidas, baseado em uma unidade de medida chamada módulo e em alguns múltiplos inteiros ou fracionários do mesmo.

Sistema de medidas de coordenação modulares comensurável com o módulo básico ou com o menor de seus sub-módulos.

Sistema de ajustes e tolerâncias, que permita definir com segurança os limites dimensionais dos elementos em função das exigências de associação ou montagem.

Sistema de números preferenciais, escolhidos de forma adequada em relação as características intrínsecas de um sistema modular e de maneira a obedecer as regras numéricas seletivas e que permitam uma seleção organizada de dimensões.

Estes, e outros aspectos práticos, são examinados, neste artigo, com o propósito de divulgar o que pode ser considerado o instrumento mais válido para a racionalização e a industrialização do processo construtivo, objetivos esses que devem ser realizados de forma orgânica, correta e segura.

O processo de evolução que a arte de construir está sofrendo deve ser definido com termos rigorosamente racionais, esclarecendo-se a relação efetiva entre arquitetura e indústria, pois, dessa definição, surgirão as condições mais favoráveis para resolver o crítico estado em que atualmente se debate a produção no setor da construção civil. É inegável o fato que o método industrial é o principal instrumento da produção, o mais coerente com nossa época, o único que pode restabelecer a organicidade do processo construtivo destruído pela intervenção de meios mecânicos, numa longa tradição artesanal. Coordenação e integração são fatores principais da realização do método industrial, procurando o máximo de produtividade através da continuidade dos processos.

A linha de montagem da indústria automobilística é o exemplo clássico dos sistemas para reduzir o custo de fabricação, mediante a aplicação de conceitos de padronização e produção em massa. Os locais de fabricação dos elementos podem ser independentes e afastados daquele em que se realiza a montagem. Neste processo, é implícita a exigência que a construção dos elementos componentes, deve ser subordinada à possibilidade de colocação e ajuste de cada um em seu lugar, com precisão e rapidez. A aplicação do método industrial implica na continuidade do trabalho e principalmente na continuidade das técnicas.

No campo da construção de edifícios, uma técnica análoga poderá ser adotada desde que se submetam os elementos a um processo de padronização que facilite a montagem das partes sem problemas de ajustagem, mesmo quando provenientes de fábricas diferentes. É portanto necessário que a produção seja limitada a um número razoável de elementos e de formatos que possam ocupar posições diferentes num mesmo ou em vários edifícios, permitindo tirar vantagem da produção em série sem reduzir a elasticidade do projeto. A realização prática destes conceitos é possível com o uso adequado do módulo.

O MÓDULO

O módulo na arquitetura é uma unidade de medida convencional, adotada para estabelecer dimensões, proporções e ordenar a construção de elementos de um determinado organismo arquitetônico. A exigência da modulação na arquitetura tem várias origens e razões justificativas: técnicas construtivas, estéticas e filosóficas.

Os etruscos foram os primeiros a adotá-la com uma certa regularidade. Na arquitetura clássica foi desenvolvido um sistema de proporções baseado no diâmetro inferior da coluna. Para a arquitetura japonesa o módulo é função das dimensões do tatami. De uma modulação clássica, de caráter quase exclusivamente estético, passamos para uma modulação de caráter prático-funcional.

Este módulo definido como módulo-medida, sofreu com o tempo uma evolução, principalmente em função da necessidade de aplicação do método industrial à construção de edifícios. O módulo atual tem, portanto, um caráter prevalentemente técnico construtivo. Este módulo é definido como módulo-objeto. O conceito do módulo é: número que depende da unidade de comprimento adotada. Qualquer que seja o seu valor ele é adotado como unitário.

O que se pretende analisar, neste artigo, é o módulo-objeto. Ver-se-á, porém, no decorrer dele, que as relações com a estética compositiva foram mantidas. Como critério geral, foram examinados os aspectos da modulação tendo em vista a aplicação específica à pré-fabricação elementar integrada, assim mesmo alguns princípios gerais e alguns critérios relativos às tolerâncias e aos ajustes, podem ser utilmente aplicados à pré-fabricação total e, embora, parcialmente, à construção-tradicional evoluída.

Cabe, aqui, registrar algumas definições:

Pré-fabricação total: um sistema de construção pelo qual unidades construtivas ou residenciais totalmente pré-fabricadas, com referência a um projeto perfeitamente estabelecido em todos os seus aspectos, são produzidas em usinas e montadas “in-loco” por intermédio de equipamentos adequados.

Pré-fabricação elementar integrada: é um sistema de construção pelo qual, elementos construtivos, padronizados no tipo e nas dimensões, são produzidos pelas usinas, para serem montados nos canteiros com equipamentos adequados.

No primeiro sistema, a produção em série tem por objeto unidades residenciais (casas ou edifícios) e a modulação é desnecessária, no segundo a produção em série tem por objeto, elementos construtivos e a modulação é indispensável sendo, aliás, o elemento metodológico básico do sistema.

BREVE HISTÓRICO SOBRE A COORDENAÇÃO MODULAR

A coordenação modular em arquitetura pode ser definida como um método ou sistema de projetar, em que os elementos construtivos estão dimensionados mediante uma unidade de medida comum, que estabelece uma relação de dependência entre estes elementos e o produto final, ou seja, o edifício. Esta unidade de medida, chamada de módulo, define as dimensões e proporções dos elementos. A ordenação e a organização destes elementos/módulos, dentro da construção, se deram de maneira diferenciada, em cada período da história da arquitetura.

Para que possamos ter uma noção da evolução dos sistemas construtivos, tendo como objetivo a compreensão do que seja a coordenação modular, consideramos os modos de produção na arquitetura divididos em três momentos distintos:

primeiro período: considerado da antigüidade até 1700, neste período é dado ênfase ao Egito, Grécia e Roma, cuja arquitetura era concebida à base da “Modulação Compositiva”

segundo período: considerado de 1700 a 1850, neste período é destacado o Palácio de Cristal, como um dos importantes marcos daquele momento. Este período se caracteriza pela “Modulação de Produção e Concepção”

terceiro período: considerado partindo de 1850 até nossos dias, e que conhecemos como “Coordenação Modular”. Neste período a produção da arquitetura se dá a partir dos propósitos da indústria da construção moderna, da necessidade da coordenação das dimensões, da normatização e da pré-fabricação das partes da construção

PRIMEIRO PERÍODO

Assim temos o primeiro período, caracterizado por uma produção arquitetônica única e, exclusivamente, centrada no homem, isto é, as construções eram erguidas basicamente através da força humana. Neste sentido temos como exemplo de um legado arquitetônico de extremo valor, as pirâmides do Egito. A construção das pirâmides envolvia sempre milhares de trabalhadores ou escravos, que carregavam as pedras por meios extremamente primitivos até o local da construção, onde eram cortadas nas dimensões corretas e a seguir erguidas até sua posição, na pirâmide.

Podemos dizer, então, que o módulo utilizado pelos egípcios estava relacionado muito mais com as dimensões necessárias das pedras para a construção da pirâmide do que com a capacidade que os trabalhadores tinham para transportá-las.

Os gregos, por sua vez, já possuíam uma idéia mais desenvolvida sobre o módulo, que era, então, a medida reguladora das proporções de uma construção, eles tinham como objetivo alcançar a harmonia entre todos os componentes do edifício. A arquitetura clássica, podemos dizer, está concebida à base de uma modulação compositiva, onde o valor estético do edifício possuía uma importância maior do que a sua função.

Os cânones criados pelos gregos estabeleceram as relações de proporção entre os vários elementos do edifício. Assim, apesar de Siegfried Gideon situar a arquitetura grega ao lado da pré-histórica, devido às soluções técnicas extremamente primitivas (...elementos horizontais apoiados em outros verticais...) temos a arquitetura grega, no que tange seus aspectos de composição, como um todo harmônico. Esta harmonia se deu a partir da definição do módulo, que estabeleceu a relação das proporções entre os elementos e o edifício.

Uma coluna, para ser harmônica, deveria ter uma altura igual a seis vezes o seu diâmetro da base e, o entablamento, deveria ser igual a um terço da altura, ou seja, igual a dois diâmetros. Os demais elementos do edifício seriam dimensionados a partir de um módulo que corresponde à metade do diâmetro da coluna. Observamos que o diâmetro das colunas poderia variar em cada edifício, pois não era considerado em termos de uma unidade de medida absoluta, e sim de uma unidade relativa, no entanto a proporção entre o diâmetro e a altura da coluna era sempre a mesma.

É inegável a importância e o destaque das ordens clássicas: dórica, jônica e coríntia, já descritas por Vitrúvio no primeiro quarto do século I D.C. e re-codificadas por Vigñola durante o renascimento italiano e que constituíram os “cânones” da arquitetura clássica.

Os gregos, no entanto, também trataram da questão da proporção através de sistemas matemáticos. Uma destas relações é conhecida como Seção Áurea, cuja fórmula diz:

“sobre a reta AB, ergue-se a perpendicular BD, igual a metade de AB. Une-se DA fazendo centro em D, toma-se o raio DB e se traça o arco EB. Faz-se centro em A e se traça o arco EC. Teremos a divisão da reta em duas partes desiguais, estando uma em relação à outra em divina proporção, pois que CB estará para AC como AC para AB.”

Utilizando a teoria pitagórica, dos medianos, os gregos marcavam os intervalos entre os tempos musicais. Eles concebiam a música como uma geometria expressa em sons, onde os compassos funcionavam como módulos. Esta idéia dos módulos musicais nos leva aos ritmos da música que poderíamos comparar ao ritmo dos elementos arquitetônicos.

Segundo Francis D. Ching, qualquer progressão que se baseie na Seção Áurea, será ao mesmo tempo aritmética e geométrica. Na série numérica de Fibonacci - 1,1,2,3,8,13,... - cada número é igual a soma dos dois anteriores e a razão entre dois termos consecutivos aproxima-se da Seção Áurea.

Verificamos, então que os gregos foram os mentores de toda a base do que hoje se configura com a nossa geometria. Os romanos, homens essencialmente práticos, por sua vez, adotaram um sistema de medidas de base antropométrica, isto é, a partir das medidas do corpo humano. Eles conseguiram padronizar seus tijolos em dois tipos universais, o “bipetalis” e o “sesquipetalis”.

Assim, o módulo utilizado pelos romanos para garantir a proporção e a harmonia das construções, eram por exemplo: os pés, os braços, etc. Eles acreditavam que o módulo criado a partir do tamanho do homem era o mais adequado, visto que as construções abrigavam o homem e suas atividades e, como tal, o homem seria a medida para todas as coisas. Temos, como exemplo, a cidade de Emona, cuja malha modular foi definida pela medida do pé romano. Assim o comprimento da malha foi definido em 360 passos romanos e a largura em 300 passos romanos, sendo que o denominador comum seria 60 passos e os multiplicadores 5 e 6.

No Japão, durante a segunda metade da Idade Média, foi implantada a medida chamada KEN. No princípio era utilizada somente para determinar a distância entre as colunas e não tinha uma dimensão fixa, no entanto no decorrer do tempo o KEN se tornou uma medida absoluta. A dimensão de uma habitação japonesa era determinada pelo número de Tatamis, que tinha uma modulação fixa de 1 por 2. Isto permitia um grande número de possibilidades quanto a forma de distribuir os Tatamis. O KEN, segundo Ching, não foi unicamente uma medida para a construção de habitações, mas tornou-se o módulo estético que regeu a composição, a estrutura, os materiais e o espaço da arquitetura japonesa.

De um trabalho de Yoshida (1935), ficamos sabendo que no Japão, as primeiras normas destinadas a unificar tipos construtivos e dimensões, datam de 1657, época em que ocorrera o segundo grande incêndio de Tóquio. Estas normas diziam respeito ao Tatami, usado em todos os locais internos, que, por isso, eram dimensionados de forma a poderem receber, no piso, um número inteiro de elementos. De uma modulação clássica, de caráter quase exclusivamente estético, passamos a uma modulação de caráter prático-funcional.

SEGUNDO PERÍODO

O segundo período, de 1700 a 1850, se caracteriza por uma produção arquitetônica centrada não mais no homem, mas sim na máquina. O surgimento da máquina à vapor possibilitou o desenvolvimento de equipamentos que transformaram os materiais, do seu estado bruto, em peças pré-fabricadas, principalmente em ferro e aço. Surge, assim, um novo conceito dentro da produção arquitetônica, o conceito da produção industrial, com a produção de elementos construtivos em maiores quantidades, em tamanhos e formas padronizadas, que aceleram o ritmo da construção e evitam as perdas de materiais.

Neste contexto surge a modulação de produção e concepção, que está diretamente relacionada com a produção de determinados materiais, no sentido de que, o tipo de material utilizado leva a uma concepção projetual específica. O Palácio de Cristal, de Joseph Paxton, é um grande exemplo deste período. Foi projetado em 1851 para ser a sede da exposição universal em Londres, como um marco do início do que hoje se considera construção pré-fabricada. A estrutura do palácio foi construída a partir de perfis de ferro pré-fabricados que possuíam 7 m de comprimento, distância esta que delimitou o espaço entre cada pilar de ferro.

O palácio foi construído em cerca de dez meses e teve grande repercussão, devido aos aspectos de sua produção totalmente pré-fabricada e com um resultado estético inovador para a época em termos de prédios industriais.

TERCEIRO PERÍODO

O terceiro período, de 1850 até os nossos dias é caracterizado pela idéia de coordenação modular propriamente dita. Em 1930, o americano Alfred Farewell Bemis, publicou o livro “The Evolving House” onde apresentava uma técnica de coordenação conhecida como “método modular cúbico”, esta foi a primeira pesquisa sobre a possibilidade de utilizar a modulação na construção civil.

Neste livro, Bemis propõe que, as partes que constituem a edificação seriam produzidas em série e, propõe a utilização de um módulo cúbico, que ocupe o edifício nas três dimensões. Esses estudos foram continuados pelo Instituto Americano dos Arquitetos e pelo Conselho Nacional dos Produtores e aproveitados pela American Standard Association (A.S.A.) que em 1946 publicou “A 62 Guide for Modular Coordination”.

Na mesma época, a Ordem dos Arquitetos da França criou um “Bureau de Normalisation”, que em 1942 apresentou à A.F.N.O.R. (Associação Francesa de Normalização) um projeto sobre coordenação modular, que mais tarde foi transformado em norma. Também, neste período, Le Corbusier desenvolve um sistema de proporções, o Modulor, a partir das dimensões do corpo humano.

Ele considerava os meios de medida dos gregos, egípcios e romanos como algo infinitamente rico e sutil, pois formavam parte das matemáticas do corpo humano, ágil, elegante, sólido, fonte da harmonia que nos move, a beleza. Por este motivo o modulor está embasado na Seção Áurea, na Série de Fibonacci e nas proporções do corpo humano. O modulor não era uma simples série numérica, era um sistema de medidas que permitiria manter a escala humana em todas as partes.

O principal trabalho de Le Corbusier, empregando o modulor, foi sua “Unité d'habitation” em Marselha, construída entre 1946 e 1952.

Em 1941, Gropius e Wachsmann desenvolveram um sistema de painéis de madeira através da aplicação de uma retícula modular de 3 pés e 4 polegadas, mediante o uso de uma junta universal, desde então, o estudo e a aplicação da coordenação modular assumiu um caráter universal e passou a ser conduzido em nível de cooperação internacional.

Na Inglaterra, o estudo destes problemas foi enfrentado durante a guerra pela “British Standard Institution” que através de seu “Building Divisional Council” criou em 1947 uma comissão especial. Esta comissão em 1951 publicou o relatório “Britisch Standard 1708 Modular Coordination” e mais tarde o “British Standard 2900”.

A Alemanha, após os trabalhos de Gropius, desenvolveu intensa atividade normativa no campo da Coordenação Modular, especialmente por iniciativa do arquiteto Ernest Neufert, datando de 1951 a primeira norma dimensional, a DIN 4172 (Massourdung in Hochbau) que estabeleceu uma tabela de números normalizados para construção. Também outros países como, Itália, Suécia, Bélgica, publicaram, logo após a guerra, normas de construção.

Ernest Neufert, na Alemanha do pós-guerra, pressionada pelos problemas bélicos e prevendo problemas de reconstrução, concebe um sistema de coordenação octamétrica, em seu “Bavordnungsiehre”, baseado no módulo de 12,5 centímetros.

No Brasil, em 1950, a ABNT elaborou a NB-25R, recomendada para “Modulação das Construções”, que foi reformulada em 1969. Segundo a NB-25/69, defini-se a coordenação modular como sendo o reticulado modular de referência que deve ser empregado em cada uma das três etapas da construção: no projeto, no projeto e fabricação de seus componentes e como guia para colocação no local da construção.

Os trabalhos de unificação neste campo, inicialmente de caráter individual para cada país, passaram a ser parcialmente coordenados em 1949 pela I.S.O. (International Standard Organisation) quando começou a fazer-se sentir necessidade de uma cooperação mais íntima com o objetivo de estabelecer uma padronização de caráter internacional. Esta cooperação desenvolveu-se especialmente pela ação exercida pela A.E.P. (Agence Europeenne da Produtivité) órgão da O.E.C.E. (Organisation Europeenne de Cooperation Economique).

A coordenação modular hoje, no entanto, traz consigo uma série de problemas ainda não resolvidos como, a escolha do módulo, suas dimensões, a adaptação dos materiais a um sistema modular único, a padronização e unificação do módulo base no mercado mundial e a preparação dos profissionais para a utilização do sistema de coordenação modular.

Portanto, para que a aplicação da coordenação modular se dê de uma forma abrangente será necessária uma mudança radical das técnicas construtivas, modificação dos métodos de fabricação e um nível de projeto e detalhamento mais apurado.

Este artigo segue na próxima postagem (Coordenação Modular - Parte II)