segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O Laço e o Abraço

Maria Beatriz Marinho dos Anjos

Meu Deus! Como é engraçado!

Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo,
no vestido, em qualquer coisa onde o faço.

E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando...
devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.

Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade.

Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.

E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...

Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!

domingo, 29 de novembro de 2015

TCCII - FauPucRS

PAINEL FINAL - 2015/2

Terão início no próximo dia 30/11 (segunda-feira), às 14h, as bancas de apresentação dos Trabalhos de Conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo da FauPucRS. Entre os dias 30/11 e 04/12, nos turnos da tarde e noite, serão apresentados 28 trabalhos com os mais diversos temas nas áreas de arquitetura, paisagismo e urbanismo. As bancas são abertas ao público e ocorrerão na sala 215 do prédio 9 (FauPucRS). Em paralelo ao desenvolvimento das bancas os visitantes terão a oportunidade de ver os 28 trabalhos expostos no saguão da faculdade.
Não percam!

Cronograma das atividades:

30/11
SEGUNDA-FEIRA

14:00h - Abertura oficial
14:30h - CAROLINE MERG
15:30h - LETICIA GOULART
Orientador: Prof. Arq. José Carlos Marques

16:30h - LUCIANA CASTRO
18:00h - CRISTAL JOHN MELO
19:00h - ALEX LIN WORN
20:00h - SIMONE VELHO DOS SANTOS
Orientador: Profa. Arqa. Cassandra Coradin

Banca:
Prof. Arq. Ronaldo de Azambuja Stroher (Unisinos)
Prof. Arq. José Carlos Campos
Prof. Arq. Daniel Pitta Fischmann
Prof. Arq. Paulo Ricardo Bregatto

01/12
TERÇA-FEIRA

14:00h - GIOVANA VON SALTIEL LORENCI
15:00h - ROBERTA OLIVEIRA CEZAR
16:00h - MAURÍCIO STÜRMER
Orientador: Profa. Arqa. Maria B. Kother

17:00h - CAROLINE MOREIRA MADUELL
Orientador: Prof. Arq. Luis Carlos Macchi

18:00h - MARIANA ALMEIDA
19:00h - MARTIN RAABE
20:00h – RAQUEL RUARO
Orientador: Prof. Arq. Paulo Cesa

Banca:
Prof. Arq. Leandro Manenti (Ufrgs)
Prof. Arq. Sílvio José Jaeger Rocha
Prof. Arq. Daniel Pitta Fischmann
Prof. Arq. Paulo Ricardo Bregatto

02/12
QUARTA-FEIRA

14:00h - MARIEL NASPOLINI BASTOS
15:00h - LEANDRO STÜRMER
16:00h - RAFAEL ARMANI JARDIM
Orientador: Prof. Arq. Flávio Kiefer

18:00h - CARINA ZANCHIN
19:00h - DULCE CARLOS
20:00h - VINICIUS BONOTTO
Orientador: Profa. Arqa. Rosane Bauer

Banca:
Prof. Arq. Juliano Vasconcellos (Feevale/UniRitter)
Profa. Arqa. Leila Nesralla Mattar
Prof. Arq. Daniel Pitta Fischmann
Prof. Arq. Paulo Ricardo Bregatto

03/12
QUINTA–FEIRA

14:00h - LUIZA ZANCANARO BASLER
15:00h - PEDRO TERRA OLIVEIRA
Orientador: Profa. Arqa. Maria Dalila Bohrer

16:00h - TIEI DA SILVA
17:00h - CLAUDIA GONZALES
18:00h - KATIA FINKLER POSTAY
Orientador: Profa. Arqa. Camila Fujita

Banca:
Profa. Arqa. Heleniza Ávila Campos (Ufrgs)
Prof. Arq. Fábio Bortoli (UniRitter)
Prof. Arq. Cláudio Mainieri Ugalde
Prof. Arq. Daniel Pitta Fischmann
Prof. Arq. Paulo Ricardo Bregatto

04/12
SEXTA-FEIRA

14:00h - CHRISTINE SULZBACH
15:00h - ALESSANDRA DE O. V. CONFORTO

Orientador: Prof. Arq. Carlos Alberto Hübner
16:00h - NAIRA PARIZZI
17:00h - TAMINE SEOLINO
Orientador: Prof. Arq. Marcelo Martel

Banca:
Prof. Arq. Rodrigo Allgayer (Ulbra/UniRitter)
Prof. Arq. Luiz Alberto Sohni Aydos
Prof. Arq. Daniel Pitta Fischmann
Prof. Arq. Paulo Ricardo Bregatto

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Obras particulares no Brasil

No mês em que a ONU comemora o “outubro urbano”, o Brasil toma conhecimento de dados preocupantes em relação a obras particulares de suas cidades. Pesquisa inédita realizada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) e pelo Instituto Datafolha mostra que a maioria das reformas ou construções particulares no Brasil é feita sem a assistência de um profissional especializado, em desrespeito às leis e normas vigentes no país.

Segundo a pesquisa, realizada com 2.419 pessoas em todo o Brasil, 54% da população economicamente ativa já construiu ou reformou imóvel residencial ou comercial. Desse grupo, 85,40% fizeram o serviço por conta própria ou com pedreiros e mestres de obras, amigos e parentes. Apenas 14,60% contratou arquitetos ou engenheiros.

A pesquisa também revela que, entre aqueles que contrataram arquitetos e urbanistas para auxiliar na obra, há um índice altíssimo de satisfação: 78%. E que mesmo com essa realidade preocupante, 70% da população economicamente ativa considera a possibilidade de contratar um arquiteto e urbanista na realização de sua próxima construção ou reforma.

De modo geral, a contratação de profissionais especializados está ligada à renda e à escolaridade. Enquanto 26,2% da população economicamente ativa com nível superior construiu ou reformou com ajuda especializada, esse índice é de 9,5% – menos da metade. Apenas entre as pessoas da classe A, essa taxa pula para 55%.

A pesquisa CAU/BR-Datafolha também investigou a percepção da população em relação a uma série de outros temas como: conhecimento sobre as atividades realizadas por arquitetos e urbanistas, importância do planejamento no desenvolvimento e organização das cidades e dos espaços urbanos e conhecimento sobre as atividades do CAU. A pesquisa completa pode ser acessada em www.caubr.gov.br/pesquisa2015.

DIFERENÇAS REGIONAIS – A região Sul é a que apresentou o maior percentual de utilização de profissionais tecnicamente habilitados: 25,90%, contra 74,10% que não se valeram de seus serviços. Na região Sudeste, a relação é de 16,40% contra 83,60% – abaixo da média nacional, mas dentro da margem de erro de dois pontos percentuais.

O Nordeste está tendencialmente empatado com o Centro-Oeste. No Nordeste, só 7,120% utilizaram serviços de profissionais tecnicamente habilitados, contra 92,90% que usaram somente mestres de obras ou pedreiros. No Centro-Oeste, os percentuais são respectivamente de 10,50% e 89,50%. Na região Norte, o percentual de utilização de profissionais tecnicamente habilitados é de 10%, contra 90% não preparados.

A falta de um profissional especializado na realização de reformas ou construções particulares, alerta o CAU/BR, pode ocasionar diversos problemas na obra e para a segurança das pessoas. Além disso, a soma de construções malfeitas tem como consequência a piora dos espaços urbanos e da qualidade de vida nas cidades. “É preciso lembrar que a construção é mais um objeto na cidade que vai interagir com as demais, com impactos mútuos. Da mesma maneira que nós precisamos de mais médicos para os hospitais, precisamos também de mais arquitetos para as cidades”, afirma o presidente do CAU/BR. Haroldo Pinheiro.

A pesquisa quantitativa, feita em 177 municípios das cinco regiões brasileiras, foi seguida de outra qualitativa, em seis capitais do país (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belém e Goiânia), reunindo 12 grupos de oito pessoas cada. Nessas entrevistas, a maioria das pessoas que utilizou apenas serviços de mestres de obras ou pedreiros mostrou-se arrependida. Falta de planejamento, custos acima do orçamento original, descumprimento de prazos, desperdício de materiais e necessidade de refações de serviços foram as principais razões apontadas.

O levantamento do Datafolha indicou que a principal barreira para a contratação de serviços de arquitetos é o senso comum de que se trata de um trabalho caro. Ao serem informados de que o custo é de cerca de 10% do valor total da obra, a maioria julgou ser uma boa relação custo/benefício. “O projeto é um pequeno percentual da obra. E um projeto bem elaborado, detalhado, especificado com quantidade certa de materiais, cronogramas definidos para entrada e saída de determinado tipo de profissionais, vai ajudar a economizar na maior despesa, que é a própria construção, além da futura manutenção. E tudo isso resulta em ter um patrimônio que vale mais”, diz o presidente do CAU/BR.

MAIS DETALHES – Os dados mostraram que construir e reformar estão relacionados a sexo e idade. As chances de ter construído ou reformado aumentam entre os homens e entre as pessoas mais velhas. A reforma de imóvel residencial está mais presente entre a população economicamente ativa do Sudeste e das regiões metropolitanas.

Construir ou reformar também está ligado à escolaridade e à classe. Quanto mais privilegiado cultural e economicamente (ensino superior e classes A/B), maior a chance do brasileiro de já ter feito alguma obra particular, em especial reforma.

A solicitação de um profissional, independentemente se mestre de obra/pedreiro, engenheiro ou arquiteto/urbanista, também está diretamente relacionada à escolaridade e à classificação econômica: quanto mais privilegiadas, maior a utilização. A autoconstrução está ligada à escolaridade: mais comum entre aqueles que possuem apenas o ensino fundamental.

LEGISLAÇÃO E NORMA – Segundo a legislação brasileira, toda nova edificação deve ser registrada junto ao governo e possuir um responsável técnico, que pode ser um arquiteto ou engenheiro devidamente registrado em seu conselho profissional (CAU ou CREA).

Já no caso das reformas, entrou em vigor em 2014 a Norma de Reformas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que estabelece que toda reforma de imóvel que altere ou comprometa a segurança da edificação ou de seu entorno precisará ser submetida à análise da construtora/incorporadora e do projetista, após o prazo de garantia.

A norma NBR 16.820, recentemente atualizada, determina ainda que o proprietário ou locatário do imóvel encomende laudo técnico assinado por arquiteto ou engenheiro atestando que a reforma não afetará a segurança e estabilidade do imóvel. E o síndico ou a administradora, com base em parecer de especialista, poderão autorizar, autorizar com ressalvas ou proibir a reforma, caso entendam que ela irá colocar em risco a edificação. Entre as alterações listadas, estão à remoção ou o acréscimo de paredes, esquadrias, janelas e até mesmo revestimentos.

Embora as normas da ABNT não sejam leis, se houver algum acidente, o síndico e o morador que fez a reforma serão responsabilizados, já que a jurisprudência, ao longo do tempo, mostra que o caminho “correto” a ser seguido é o de obedecer às normas da ABNT, mesmo que as mesmas não tenham força de lei.

A NBR 16.280, recentemente atualizada, foi publicada pouco mais de dois anos após o desabamento do Edifício Liberdade, de 20 andares, e de mais dois prédios, no centro do Rio de Janeiro, em 25 de janeiro de 2012. O acidente foi provocado por reformas irregulares no Liberdade, causando a morte de 17 pessoas, além de mais cinco desaparecidos até hoje.

OUTUBRO URBANO – A ONU, por meio de seu programa Habitat, está promovendo o “Outubro Urbano”, uma série de atividades e eventos para discutir desafios e soluções para o urbanismo em todo o mundo.

As atividades começam no dia 5 de outubro, quando a ONU, comemorou o Dia Mundial do Habitat, tendo como objetivo uma reflexão sobre o estado de nossas cidades e sobre o direito à moradia adequada. Na mesma data, a União Internacional de Arquitetos (UIA) celebrou o Dia Mundial da Arquitetura.

Em 31 de outubro, a ONU comemora o Dia Mundial das Cidades, com o tema “Desenhados para Viver Juntos”. A ideia é promover a união e a harmonia tornando nossas cidades e vizinhanças inclusivas e com convivência. Segundo o programa Habitat, a urbanização planejada maximiza a capacidade das cidades em gerar emprego e renda, e estimular a diversidade e a coesão social entre diferentes classes sociais, culturas, etnias e religiões.

Fonte: www.caurs.org.br

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Arquitetura no século XXI

Sérgio Magalhães
Presidente do IAB

Neste 5 de outubro, comemoramos o Dia Mundial da Arquitetura, uma iniciativa da União Internacional de Arquitetos – UIA. Fundada em 1948, como representação dos arquitetos de todo o mundo, a UIA teve o IAB como um de seus 27 fundadores. Hoje, são 124 os países-membros. A entidade é consultora da ONU-UNESCO.

A Arquitetura Moderna foi um dos pilares da cultura do século XX. Agora, novas exigências se apresentam para a Arquitetura, seu papel se amplia, quando a população mundial é majoritariamente urbana.

Já não há dúvida sobre o papel do arquiteto na concepção e na condução dos processos de construção do espaço, seja o edilício, seja o urbano. São maiores nossas responsabilidades tanto no âmbito da cultura, como da lei ou no reconhecimento da sociedade. Explicitando o caráter unitário da profissão, a legislação brasileira passou a nos designar como “arquiteto e urbanista”.

O Projeto é o eixo estruturante de nossa profissão. É pelo Projeto que a pesquisa inovadora emerge para se consolidar no usufruto de todos. É no Projeto (em sua total abrangência – do objeto ao planejamento territorial) que melhor contribuímos para enfrentar as questões mais amplas do nosso tempo, como os desafios ambientais, a desigualdade social, o desenvolvimento e a própria vida social.

No Brasil que se urbanizou a passos de gigante, e que hoje tem quase 200 milhões de cidadãos urbanos, há um universo que carece da contribuição do arquiteto. Novas cidades, novos bairros; velhas cidades, velhos bairros – em todos eles o arquiteto tem papel indispensável.

Nesta geração, mesmo a população não crescendo mais (como afirmam os estudos demográficos), nosso parque habitacional crescerá, no mínimo, em 50% do existente, sobretudo para corresponder ao fenômeno sociológico da diminuição do tamanho médio da família (hoje, três pessoas ocupam um domicílio; daqui a poucos anos, serão duas pessoas por domicílio). Dos 65 milhões de domicílios de hoje, chegaremos perto de 100 milhões em pouco tempo.

Contudo, no Brasil, ainda a imensa maioria das edificações é erguida sem a nossa participação. As cidades deverão conter seu espraiamento para a universalização dos serviços públicos e qualificar-se o espaço urbano. O respeito às preexistências e o cuidado com o ambiente e o clima exigem revisão de atitude. Há um grande caminho a percorrer: uma ampla repactuação sobre a democratização do espaço brasileiro, que possa alcançar toda a cidadania, e onde o trabalho do arquiteto seja útil em todas as fases produtivas e para todas as pessoas.

É uma ação simultaneamente no âmbito da Política e da Doutrina Arquitetônica. É um esforço de todos nós, de nossas instituições profissionais e culturais. Mas, não sejamos modestos, não subestimemos o papel da arquitetura e da cultura: certamente, tal redirecionamento é um percurso indispensável para o desenvolvimento socioeconômico de nosso país e o bem-estar dos brasileiros.

Hoje, “Arquitetura, Construção e Clima” é o chamado da UIA na comemoração deste Dia Mundial da Arquitetura. Estes próximos cinco anos, em que estaremos preparando o 27º Congresso Mundial de Arquitetos, UIA 2020 RIO, uma conquista do Brasil, é tempo para ajudarmos à reflexão sobre Arquitetura, no interesse da profissão, da cultura e da sociedade.

Todos os Mundos.
Um só Mundo.
Arquitetura 21.
UIA 2020 RIO.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Sem doutorado? Então fora!

Autor: Alexandre Barros

A crise está produzindo alguns efeitos magníficos, que ninguém planejou. Belezas do capitalismo: milhões de pessoas fazendo escolhas independentes e produzindo efeitos que ninguém previu. Muitos profissionais que perdem empregos nos Estados Unidos estão virando professores. Isso mesmo. Contadores vão para as escolas ensinar, depois de muitos anos com a mão na massa. Projetistas vão para escolas e faculdades ensinar desenho industrial e por aí afora.

Se perdessem os empregos, dois meninos maluquinhos que resolveram cair na vida, em vez de virar acadêmicos, poderiam ir dar aulas. Muitas universidades receberiam Bill Gates (Microsoft) e Steven Jobs (Apple) de braços abertos. Acredito que haveria uma enorme disputa entre as melhores universidades para ver quem conseguiria levar qual.

No Brasil, como professores, bateriam com o nariz na porta.

Como nenhum dos dois tem mestrado ou doutorado, não valem nada para qualquer universidade brasileira. O Ministério da Educação não os reconhece. Um profissional fantástico sem mestrado ou doutorado é proibitivo para uma universidade brasileira. Cirurgiões que foram dos bancos da escola para as salas de operação não poderiam lecionar em faculdades. Sua experiência avançadíssima vale zero. Não passaram pelos rituais de iniciação: gastar tempo escrevendo dissertações. Estão fora. Graças ao MEC, no Brasil, vigora o "quem sabe faz e quem não sabe ensina."

Simon Schwartzman, especialista em educação superior e pós-graduada, disse numa entrevista (Veja 2059, 7 de maio de 2008): "O professor [brasileiro] participa de um congresso ou publica um artigo numa revista que ninguém lê." Em outras palavras, os professores brasileiros passam a vida fazendo imensos esforços para ter impacto zero no desenvolvimento da ciência, da tecnologia e das políticas públicas.

Parece anedota, mas não é. Criou-se um clube de amigos que publicam em revistas nas quais, não raro, o intervalo entre o término de uma pesquisa e sua publicação pode ser de até 4 anos. Só essas revistas são reconhecidas. Outras mídias (jornais, revistas, TV) de nada valem, ainda que possam ser lidas por milhões de pessoas. Isso em tempos de Internet.

Nikola Tesla (o inventor da geração de corrente alternada que move o mundo) não teria emprego em nenhuma universidade brasileira. Dificilmente conseguiriam publicar um artigo em revista Qualis (esse é o codinome das revistas que o MEC reconhece).

Na Universidade de Chicago, a maior ganhadora de prêmios Nobel (79 ao todo, 27 em Física e 25 em economia), é possível entrar sem jamais ter ido para a escola, qualquer escola. Lá, o principal critério para contratação de um professor de economia é o potencial para um prêmio Nobel. A universidade sabe que cada prêmio Nobel é um pote de mel para atrair alunos, doações e outros bons professores.

Recentemente, na feira de ciências de uma escola secundária na área de Boston, em Massachussets, um adolescente de 16 anos apresentou um trabalho da maior relevância para a saúde pública no Brasil: descobriu que o vírus da hepatite C e o vírus da dengue são primos próximos. Este atalho pode economizar muitos anos na descoberta da cura da dengue (sabendo que os vírus são primos próximos podem-se usar muitos conhecimentos já avançadíssimos sobre o vírus da hepatite C, para a dengue). O caminho até a cura da dengue ainda é longo, mas será muito mais curto do que sem a descoberta.

No Brasil, ninguém o levaria a sério porque ele não tem idade nem para poder entrar para uma faculdade, como, de resto, não levaram o Portellinha, sobre quem comentei no Estadão em "Deixem o Portellinha estudar em paz," (O Estado de São Paulo, 12 de março de 2008, pág 2). Apesar de aprovado no vestibular de direito com sete anos de idade, Portellinha foi impedido, pelo lobby da OAB e pela lei, de entrar para a universidade.

O interesse dos burocratecas do MEC está em formalidades e papelório. O currículo oficial do CNPq registra minúcias da vida de professores que me lembram o que meu amigo Lorenzo Meyer, historiador mexicano, chamava de ridiculum vitae. Qualquer atividade acadêmica exige um papel assinado por alguém atestando que aquilo é verdade. Vou além de Simon: o pouco tempo que sobra de tentar publicar artigos que não serão lidos por ninguém é consumido correndo atrás de papelório inútil.

Tomara que Bill Gates e Steven Jobs não percam seus empregos, pois poderemos continuar a curtir nossos produtos Microsoft e nossos Macs e iPhones. No Brasil, Bill Gates e Steven Jobs não teriam tempo para inventar nada. Perderiam seu tempo correndo atrás dos certificados que os legitimaria perante a burritzia nacional.

As invenções, ora, as invenções... são coisas de gringo... Aqui basta uma política industrial para dar dinheiro aos amigos do rei. Quando a lei e os oligopólios de proteção profissional impedem o progresso de alguém porque não passou pelos rituais de iniciação, fica mais fácil entender porque o Brasil não tem nenhum prêmio Nobel, em nenhum campo.

Alexandre Barros
É cientista político (PhD, University of Chicago) e diretor-gerente da Early Warning: Políticas Públicas e Risco Político (Brasília - DF), além de colaborador regular do Jornal Estado de São Paulo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Amor x Apego

Jetsuma Tenzin Palmo
Matthieu Ricard
Dzongsar Khyentse Rinpoche


“O apego é exatamente o oposto do amor. O amor diz: quero que sejas feliz. O apego diz: quero que me faças feliz. Sabe, o apego é como segurar com bastante força. Mas o amor genuíno é como segurar com muita gentileza, nutrindo, mas deixando que as coisas fluam. Não é ficar preso com força. Porém é muito difícil para as pessoas entenderem isso, porque elas pensam que quanto mais elas se agarram a alguém, mais isso demonstra que elas se importam com o outro. Qualquer tipo de relacionamento no qual imaginamos que poderemos ser preenchidos pelo outro será certamente muito complicado.”
Jetsuma Tenzin Palmo)


A paixão apegosa é o oposto de amor, surge de um egocentrismo que acarinha a si mesmo no outro, ou pior, busca construir a própria felicidade as expensas do outro. Esse tipo de sentimento só quer se apropriar das pessoas, objetos e situações que o atraem para ter controle. Considera a atração como uma característica inerente a pessoa, cujas qualidades amplia e subestima os defeitos.

A paixão romântica é o maior exemplo de cegueira. O dicionário a define como: “Um amor poderoso, exclusivo e obsessivo. Afetividade violenta que atrapalha o julgamento.” Ela é alimentada pelo exagero e pela ilusão e insiste em que as coisas sejam outras, diferentes de como realmente são. Como uma miragem, o objeto idealizado é insaciável e fundamentalmente frustrante.

A atração sexual não é patológica, mas também não é uma emoção. É a expressão normal de um desejo, como a fome e a sede. Mesmo assim faz surgir as mais poderosas emoções porque sua força deriva dos 5 sentidos: visão, tato, audição, paladar e olfato. Na ausência de liberdade interior, qualquer experiência desse tipo gera apego e cria um redemoinho. Não damos atenção, pensamos que podemos nadar ali sem problemas, mas quando o turbilhão acelera e fica mais profundo, somos sugados para dentro dele sem nenhuma esperança de resgate. Já a pessoa que consegue manter uma perfeita liberdade interior experimenta todas sensações na simplicidade do momento presente, com o deleite de uma mente livre de apegos e expectativas.

O amor verdadeiro é aquele que é livre de apegos, ser desapegado não significa amar menos e sim não estar centrado no amor por nós mesmos nos escondendo no amor que dizemos sentir pelo outro. O amor real é a alegria de compartilhar da vida daqueles que estão a nossa volta, sejam eles seus amigos, familiares, esposa ou marido.

O desejo obsessivo que costuma acompanhar o amor apaixonado deturpa a afeição, a ternura e a alegria de apreciar e compartilhar a vida com alguém. Ele é o oposto do amor altruísta. Surge de um egocentrismo doentio que acarinha a si mesmo no outro ou, ainda pior, busca construir a própria felicidade às expensas do outro. Esse tipo de desejo só quer se apropriar das pessoas, dos objetos e das situações que o atraem para ter controle. Considera a atração como uma característica inerente àquela pessoa, cujas qualidades ele amplia, enquanto subestima os defeitos.

“O desejo embeleza os objetos sobre os quais pousa as suas asas de fogo.”
(Anatole France)


O desejo obsessivo é o reflexo da intensidade e da frequência das imagens mentais que o desencadeiam. Como um disco riscado, fica se repetindo o tempo todo. É uma polarização do universo mental, uma perda de fluidez, que prejudica a liberdade interior. Alain escreveu: “Este amante desprezado, que se contorce sobre a cama em vez de dormir e que medita sobre vinganças terríveis. O que sobraria da sua ferida se ele não pensasse mais sobre o passado e sobre o futuro? Este ambicioso, ferido no coração por um fracasso, onde procurará ele sua dor, senão em um passado que ressuscita e em um futuro que inventa?”

Essas obsessões tornam-se muito dolorosas quando não são atendidas e vão ficando cada vez mais fortes quando o são. O universo da obsessão é um mundo onde a urgência se vincula à impotência. Somos pegos por uma engrenagem de tendências e pulsões que conferem à obsessão um caráter lancinante. Outra de suas características é a insatisfação fundamental que ela suscita. Ela não conhece a alegria e muito menos a plenitude ou a realização. Não poderia ser de outra maneira, já que aquele que é vítima da obsessão insiste em buscar alívio exatamente naquelas situações que são as causas do seu tormento. O dependente de drogas reforça a sua dependência, o alcoólatra bebe até chegar ao delírio, o amante desprezado olha para a foto da sua amada o dia todo. A obsessão gera um estado de sofrimento crônico e de ansiedade, aos quais se somam, por sua vez, o desejo e a repulsa, a insaciabilidade e a exaustão. Na verdade, ela é um adendo às causas do sofrimento.

Estudos indicam que diferentes regiões do cérebro e diferentes circuitos neurais estão em ação quando “queremos” alguma coisa e quando “gostamos” dela. Isso nos ajuda a compreender pelo qual, quando nos acostumamos a sentir certos desejos, tornamo-nos dependentes deles – continuamos a sentir a necessidade de satisfazê-los mesmo quando já não gostamos do sentimento que provocam. Chegamos ao ponto de desejar sem gostar, desejar sem amar. No entanto, podemos querer ser livres da obsessão, que machuca porque nos compele a desejar aquilo que não nos agrada mais. Podemos, também, amar alguma coisa ou alguém sem a necessidade de desejá-los.

“No ciúme existe mais amor-próprio do que verdadeiro amor.”
(Rochefoucauld)


“Quando pensamos em nós mesmos como possuidores de pessoas, o desejo de controlá-los e os consequentes sentimentos de traição podem ser especialmente fortes. Nós tendemos a vigia-los cuidadosamente o tempo todo para ver o que eles estão fazendo ou podem estar fazendo. Esta vigilância nascida da ansiedade cria muita tensão. Isso, por si só, é uma fonte de separação. Nós realmente criamos um abismo entre o possuidor e o possuído. Quanto mais sentimos separação entre nós e eles, mais vamos tentar controlá-los. Tornamo-nos mais preocupados com a nossa capacidade de segurarmos eles do que com apreciar o nosso contato com eles.”
(Sharon Salzberg)


Como distinguir entre o amor verdadeiro e o apego possessivo? Reconhecemos desde o princípio que a ideia de um amor desprovido de apego é relativamente estranha à sensibilidade ocidental. Ser desapegado não significa que amamos menos a pessoa, mas que não estamos centrados no amor por nós mesmos nos escondendo no amor que dizemos sentir pelo outro. O amor altruísta é a alegria de compartilhar da vida daqueles que estão à nossa volta – os nosso familiares, os nossos amigos, os nossos companheiros, a nossa esposa ou o nosso marido – e contribuir para a felicidade deles. Amamos o outro por aquilo que ele é e não através da lente distorcida do egocentrismo. Em vez de ficarmos apegados ao outro, temos que ter em mente a felicidade dele, em vez de esperar que ele nos traga alguma gratificação, podemos receber o seu amor recíproco com alegria.

E depois podemos ir ampliando e estendendo esse amor. É preciso ser capaz de amar todas as pessoas incondicionalmente. Amar um inimigo – isso é pedir demais? Esse empreendimento pode parecer impossível, mas baseia-se em uma observação muito simples: a de que todos os seres, sem exceção, querem evitar o sofrimento e conhecer a felicidade. O amor altruísta genuíno é o desejo de que isso possa se realizar. Se o amor que oferecemos depende do modo como somos tratados, nunca seremos capazes de amar o nosso inimigo. No entanto, é certamente possível ter a esperança de que ele pare de sofrer e seja feliz.

Como conciliar esse amor incondicional e imparcial com o fato de que temos na nossa existência relações preferenciais com certas pessoas? Tomemos o sol como exemplo. Ele brilha para todos, com o mesmo calor e a mesma claridade, em todas as direções. Mas há seres que, por diversas razões, se encontram mais perto dele e que, por isso, recebem mais calor. Mas em nenhum momento essa situação privilegiada é uma exclusão. Apesar das limitações inerentes a qualquer metáfora, compreendemos que é possível gerar em si mesmo uma bondade a partir da qual chegamos a olhar para todos os seres como se fossem pais, mães, irmãos, irmãs ou filhos.

É claro que temos que ser realistas – concretamente é impossível manifestar da mesma maneira a nossa afeição e o nosso amor por todos os seres vivos. É normal que os efeitos do nosso amor envolvam mais determinadas pessoas do que outras. No entanto, não há razão para que uma relação especial que temos com um amigo ou um companheiro limite o amor e a compaixão que sentimos por todas as pessoas. A essa limitação, quando surge, damos o nome de apego.

O apego é nocivo na medida em que, sem propósito algum, restringe o campo de ação do amor altruísta. É como se o sol deixasse de brilhar em todas as direções e se reduzisse a um estreito feixe de luz. O apego é fonte de sofrimento porque o amor egoísta se bate contra as barreiras que ele mesmo levantou. A verdade é que o desejo possessivo e exclusivista, a obsessão e o ciúme só têm sentido no universo fechado do apego. O amor altruísta é a mais expressão da natureza humana, quando essa natureza não é viciada, obscurecida e distorcida pelas manipulações do ego. O amor altruísta abre uma porta interior que torna inoperante o sentimento de importância de si mesmo e, portanto, também o medo desaparece. Ele nos permite dar alegremente e receber com gratidão.

Sobre os autores:

Matthieu Ricard cresceu no meio intelectual de Paris e doutorou-se em genética molecular. Aos 38 anos passou a viver nos Himalaias para tornar-se monge budista, é autor dos livros “Felicidade – A prática do Bem Estar” e “A arte da meditação”.

Jetsuma Tenzin Palmo foi educada em Londres, tornando-se budista durante a adolescência.

Dzongsar Khyentse Rinpoche nasceu no Butão em 1961 e foi reconhecido como a principal encarnação de Dzongsar Khyentse (1894-1959). Desde a primeira infância, ele estudou com alguns dos maiores mestres do seu tempo, como Dilgo Khyentse Rinpoche. É autor do livro “O que faz você ser budista?.”


http://www.budavirtual.com.br/amor-romantico-e-amor-genuino-qual-e-diferenca-entre-os-dois-que-passamos-vida-inteira-sem-nos-dar-conta/

domingo, 20 de setembro de 2015

Apego

Autora: Robina Courtin
Tradução: Luís Oliveira

Primeiro de tudo, nós achamos que o amor e o apego significam a mesma coisa. Mas o caminho budista de compreender nossas emoções diz que o apego é nossa parte necessitada, neurótica e insatisfeita que anseia por alguém lá fora, acreditando que quando chegarmos a esse alguém, nós estaremos felizes.

O amor, por outro lado, refere-se a uma parte altruísta do nosso ser – uma conexão com os outros, desejo que eles sejam felizes, e deliciar-se com o seu bem-estar. Temos esses dois, é claro, mas é difícil ver a diferença. Eles são como leite e água misturados.

“Se há alguma alegria em nosso relacionamento, é por causa do amor. Se há raiva, mágoa, inveja e todo o resto, é o resultado do apego.”

Mas é tão difícil ver isso. O apego é uma palavra tão simples, mas é multifacetada. No nível mais fundamental é aquele sentimento de carência dentro de nós. Aquela crença que de alguma forma eu não sou o suficiente, eu não tenho o suficiente, e não importa o que eu faço ou o que eu tenho, nunca é suficiente. Então, é claro, porque estamos tão convencidos que isso é verdade, nós ansiamos por alguém lá fora, e quando encontramos esse alguém que aciona os nossos bons sentimentos, nós nos apegamos na ideia de tê-los para nós, convencidos que vão preencher nossas necessidades e nos fazer verdadeiramente felizes e contentes. Nós assumimos que eles são nossa posse, quase uma extensão de quem nós somos.

“No nível mais fundamental, o apego é esse sentimento de carência dentro de nós, aquela crença que de alguma forma eu não sou o suficiente.”

Esse apego é a fonte de todas as nossas emoções infelizes. Porque ele está desesperado para conseguir o que quer, no minuto em que não consegue – o momento em que ele não liga ou se chega em casa tarde, ou se olha para outra pessoa – o pânico surge e imediatamente se transforma em raiva e, em seguida, em ciúme ou baixa autoestima, ou em qualquer um de nossos velhos hábitos que costumamos manifestar. Na verdade, a raiva é a reação quando o apego não consegue o que quer. Todos esses pressupostos estão enraizados tão profundamente dentro de nós que acreditamos totalmente nessas histórias sem questioná-las. Mas precisamos questioná-las. E a única maneira que podemos fazer isso, é conhecendo nossas próprias mentes e sentimentos: em outras palavras, é preciso aprender a ser nossos próprios terapeutas.

O fato é que o apego, a raiva, o ciúme e qualquer outra emoção aflitiva não estão gravadas em pedra. Eles são velhos hábitos, e sabemos que podemos mudá-los. O primeiro passo é ter a certeza de que, conhecendo bem nossas próprias mentes, podemos aprender a distinguir as várias emoções dentro de nós e, gradualmente, aprender a mudá-las. O primeiro desafio envolve realmente acreditar que você pode fazer isso. E isso já é algo enorme. Sem essa confiança, estamos presos e empacados.

A próxima etapa é dar um passo para trás de toda a conversa sem fim em nossas mentes. Uma maneira muito simples de fazer isso é, apenas alguns minutos todas as manhãs, antes de começarmos o nosso dia, se sentar e focar em algo. A respiração é um bom começo. Não é nada de especial, não há nenhum truque e não é algo místico. É uma técnica psicológica prática. Com determinação você pode decidir ter atenção plena na respiração, em suas narinas enquanto você inspira e expira. No momento em que sua mente divagar, traga seu foco de volta para a respiração. O objetivo não é fazer os pensamentos irem embora, mas não se envolver com eles e aprender a deixá-los ir e vir.

O resultado desta técnica é uma mente focada. Isto pode levar tempo. Mas o benefício quase imediato será que, à medida que experimentamos dar um passo para trás de todas as histórias em nossa cabeça, nós começaremos a ser objetivos sobre essas histórias e lentamente começamos a desvendar, desconstruir e, eventualmente, mudá-las. Diz-se que um dos sinais que estamos indo bem nesta prática é ter a impressão que estamos cada vez pior! Mas nós não estamos. Estamos começando a ouvir as histórias de forma mais clara, ai então é que podemos começar a mudá-las.

Robina Courtin

É professora do dharma transmitindo seus ensinamentos de forma dinâmica e franca. Desde a sua ordenação no final de 1970 tem trabalhado em tempo integral com a “Fundação pela Preservação da Tradição Mahayana” de Lama Thubten Yeshe e Lama Zopa Rinpoche. Ela atuou como diretora editorial da Wisdom Publications, editora da Mandala Magazine e diretora-executiva do Liberation Prison Project. Viaja para ensinar o dharma ao redor do mundo. Sua vida e trabalho com os presos foi destaque nos documentários Chasing Buddha e Key to Freedom. Ela é descrita como engraçada, dinâmica, carinhosa, amável e ultrajante, com sua fala frequentemente pontilhada com palavras fortes. Tudo isso, falando a mil por hora, provando que você não necessariamente tem que ser sereno e quieto para ser budista.

http://www.budavirtual.com.br/e-possivel-amar-sem-apego-robina-courtin/

domingo, 30 de agosto de 2015

Quem faz arquitetura afinal, o engenheiro ou o arquiteto?

Tiago Holzmann da Silva
28/08/2015

A confusão deliberada sobre as atribuições profissionais parece querer criar um ambiente belicoso entre categorias que historicamente atuam em conjunto e sintonia na construção de nossos edifícios e cidades. Essa confusão de versões não serve ao interesse dos profissionais arquitetos e engenheiros e não reflete a atuação complementar destes profissionais no mercado. Ao nos depararmos com informações expressas à sociedade de forma parcial e incorreta, onde ouvimos brados de representantes de categorias como se verdadeiros fossem, cabe-nos expressar nossa manifestação sobre o ofício do Arquiteto e Urbanista, da sua atribuição profissional na elaboração do projeto arquitetônico direito legal oriundo de quem realmente tem a formação, o conhecimento e a prática da disciplina.

A história referenda amplamente a posição do arquiteto como o profissional responsável pelo projeto, supervisão e execução de obras de arquitetura e, embora esta seja sua principal atividade, o campo de atuação de um arquiteto envolve ainda diversas áreas correlatas ao desenho do espaço habitado, como o urbanismo, o paisagismo e o planejamento do território. Na maior parte dos países do mundo, a legislação, a sociedade, a economia e o mercado de trabalho exigem que para atuar em áreas de arquitetura se tenha um diploma de nível superior de arquiteto.

A consolidação do profissional arquiteto no Brasil se deu efetivamente com a consolidação das escolas de arquitetura. Durante o século XIX, a maior parte dos profissionais possuía formação de engenheiro-arquiteto (figura profissional histórica, relacionada com a arquitetura eclética). Arquitetos formados no contexto das escolas de Belas-Artes eram relativamente poucos, devido à atuação isolada da Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Durante a década de 1930 a profissão passou por um primeiro momento de valorização com a criação dos Conselhos regionais de Engenharia e Arquitetura. A partir da década de 1950 consolidam-se as escolas de arquitetura e urbanismo, cujos currículos eram influenciados pela arquitetura moderna, e elas se difundiram nas décadas seguintes. Até meados da década de 1970 o arquiteto caracterizava-se essencialmente como profissional liberal, trabalhando em autonomia ou em sociedade em escritórios e ateliês. A partir deste momento houve um aumento do número de profissionais que se tornam trabalhadores assalariados, envolvidos com o contexto do milagre econômico, da burocracia estatal do Regime Militar e das grandes empresas de engenharia que foram criadas pelas novas demandas surgidas com os investimentos governamentais em infraestrutura. Nas décadas de 1980 e 90 surgiram também formas de atuação relacionadas com cooperativas de arquitetos e organizações não governamentais, assim como o aumento de empresas especializadas em arquitetura.

Hoje, a profissão de arquitetura no Brasil é regulada e fiscalizada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) e pelos conselhos regionais (CAUs), através da Lei Federal Nº 12.378/2010, legislação recente, moderna e adaptada às exigências contemporâneas do mercado de trabalho e das atribuições profissionais envolvidas. A promulgação dessa lei deu-se após um longo processo que consagrou o desejo dos arquitetos de saída do conselho múltiplo (Confea/CREAs), que reúne artificialmente várias profissões e interesses diversos e conflitantes e que já não atendia ao conjunto dos arquitetos.

Assim como a atividade profissional é regulamentada, também são os cursos superiores de Arquitetura e Urbanismo através do Ministério da Educação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, ao criar as "diretrizes curriculares", concede autonomia aos cursos para definirem o perfil do profissional que formarão em cursos que se caracterizam por uma parte das disciplinas voltadas à "simulação prática da profissão" que se dá através das disciplinas de projeto arquitetônico, uma parte à fundamentação histórico-teórica e outra às disciplinas ligadas aos aspectos tecnológicos e complementares da atividade. A legislação determina uma divisão baseada em disciplinas de fundamentação (composta por disciplinas nas áreas de estética, desenho, plástica, história, teoria, entre outras), de profissionalização (composta por disciplinas de projeto, planejamento urbano, paisagismo, instalações, construção civil, entre outras) e de o trabalho final de graduação, de natureza interdisciplinar.

Diante dos fatos e argumentos apresentados aqui sobre a história, formação acadêmica, legislação, prática profissional e reconhecimento da sociedade torna-se inadmissível aceitar que “projeto arquitetônico possa ser atribuição legal de Engenheiros Civis” como alguns CREAs têm disseminado. Deveriam, em vez de tentar confundir os profissionais e sociedade, estar buscando a atualização e qualificação da Lei Federal 5194/66, vigente há quase 50 anos, que os tem transformado em órgãos tecnocratas, pouco democráticos e ultrapassados, voltados para os interesses sua própria burocracia, não atendendo satisfatoriamente as profissões ali reunidas e a sociedade.

A defesa do projeto de arquitetura como atribuição exclusiva dos arquitetos não se trata de campanha para desconsiderar os profissionais engenheiros no seu labor e qualificação, mas uma questão de respeito aos profissionais arquitetos, à sua formação e suas reais condições do exercício responsável. Na prática, a sociedade e o mercado de trabalho reconhecem a competência de arquitetos e engenheiros e sua atuação conjunta e complementar, contradizendo estas ações obscuras que distorcem informações e fatos e impedindo o processo de evolução de nossa sociedade.

Dito isto, o IAB RS, que historicamente atua em prol dos arquitetos e da sociedade gaúcha, lembra a todos que “quem faz Arquitetura é o profissional Arquiteto e Urbanista”, e “quem faz Engenharia é o profissional Engenheiro” e isso não pode ser desdito de forma leviana, confundindo nossa sociedade que tanto anseia por projetos e obras competentes e de qualidade.


Tiago Holzmann da Silva e Ednezer Flores
Presidente e vice-presidente do IAB RS
http://www.iab-rs.org.br/web/Editoriais/Editorial.aspx?id=4514

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Formatura - PucRS

Meus queridos colegas,

Estou escrevendo para agradecer, mais uma vez, a honrosa homenagem que vocês me prestaram, me escolhendo para ser o paraninfo da turma. Ainda estou sob os contagiantes efeitos da alegria de vocês na emocionante solenidade da formatura. Que super festa!! Parece que foi ontem que vi cada um de vocês assustados em nossa primeira aula do semestre passado, todos muito preocupados com os desafios e demandas propostas pelo TCCII. Naquele momento tudo parecia tão distante e intangível. Mas o semestre passou. Trabalhamos bastante, convergimos e divergimos nos calorosos debates nas bancas intermediárias, vislumbramos cidades, edifícios, espaços e construções melhores pela ótica dos seus tantos projetos defendidos na Banca Final com vigor, talento, convicção e competência. Fizemos, de fato, arquitetura e urbanismo, comprovando o quanto estão preparados para enfrentar o mercado de trabalho. Desejo-lhes muito sucesso nas escolhas dos próximos desafios e muita lucidez e coragem para executar cada um deles, com senso ético e muita responsabilidade. Sejam solidários, sejam bons colegas e contem sempre comigo para o que der e vier! Um beijo carinhoso!

Discurso do Paraninfo
Salão de Atos da PucRS
21/08/2015
17:00h

Componentes da mesa já citados,
Autoridades, familiares e amigos aqui presentes nesta noite de muitas alegrias e festas,
Meus queridos colegas arquitetos e urbanistas:

Foi com imensa alegria e emoção que recebi o convite para ser o paraninfo desta turma de formandos. Esta homenagem que vocês me prestam, como forma de reconhecimento pelo meu trabalho, está entre as maiores distinções acadêmicas que um professor pode receber dos seus alunos. Não é pouco o privilégio de ser trazido por vocês para fazer uso desta tribuna com a nobre missão de conduzi-los da vida acadêmica para os encargos e responsabilidades da vida profissional.

Divido a alegria deste momento com os meus colegas da Fau, principalmente àqueles com os quais divido Ateliês e que, com sua postura comprometida com a qualidade e com as demandas reais do nosso ofício, tem dado grandes contribuições ao ensino de arquitetura e urbanismo e ao reconhecimento de nossa prestigiosa Fau, como uma das melhores do Estado. Assim sendo colegas, minha alegria, emoção e responsabilidade se amplificam pela oportunidade de estar mais uma vez junto de vocês neste importante ritual de passagem para apresentar à sociedade gaúcha a 29ª turma de muito bem preparados arquitetos e urbanistas. Isto é um elo que nos unirá, além da nossa amizade, profissionalmente para sempre!

Vocês muito bem observaram, no belo texto que foi lido pela comissão de formatura quando o convite me foi feito, que esta não é a primeira vez que recebo esta homenagem. Mas devo dizer que a emoção é sempre única! Não apenas por se tratar de uma nova turma, ou pela oportunidade singular de me reciclar com a diversidade dos seus tantos projetos, ou ainda pelo prazer imensurável de me alimentar e renovar com a energia vibrante que habita o coração de todo estudante de arquitetura – com seus sonhos e desejos revolucionários – mas, principalmente, pelo impacto positivo deste convite quando associado ao momento íntimo e pessoal diante da vida, sempre dinâmica e em constante transformação.

O convite veio em boa hora! Num momento de muitas reflexões profissionais e pessoais. Num momento de fortalecimento de convicções sobre os necessários avanços na formatação do ensino superior e sobre as características que o jovem arquiteto do século XXI deve possuir.

A atividade docente é uma experiência apaixonante, mas repleta de altos e baixos. De um lado o prazer do convívio com todos vocês e a oportunidade de participar da revisão e da reconstrução ética e moral da nossa sociedade pela visão transformadora dos seus projetos. De outro, pelo enfrentamento diário das dificuldades impostas por um modelo econômico que transformou de maneira acrítica e massificada a formação universitária em mercadoria, passando por cima de questões pertinentes às reais demandas da sociedade, necessitada dos efeitos benéficos dos mais diversos saberes universitários e do ofício da arquitetura e urbanismo.

Talvez, também por esta razão, vemos as nossas cidades crescendo desordenadamente sem o adequado e criterioso planejamento e com novas edificações e espaços privados e públicos desprovidos de qualidade. Muita construção e pouca arquitetura e urbanismo. Muito temos discutido isso nos diversos ateliês de nossa escola. Portanto, como vocês podem constatar, não são poucas as vezes que, diante destas dificuldades, vamos nos perguntando se estamos agindo certo e se estamos no caminho correto.

Com o reconhecimento de vocês na forma desta emocionante homenagem, posso presumir que estamos juntos trilhando um bom caminho. Um caminho que hoje finaliza e hoje recomeça.

Nossa estimada Fau, às vésperas de completar 20 anos, tem feito esforços imensuráveis para se manter fiel às suas origens e a frente da crise generalizada que o ensino universitário enfrenta em nosso país, permitindo a cada um de vocês a certeza e a segurança de que possuem uma formação diferenciada e de qualidade e, portanto, devem seguir em frente de cabeça erguida assumindo com zelo ético e rigor técnico os desafios profissionais que irão surgir no fazer diário do nosso ofício.

Fazer, de fato, arquitetura e urbanismo é, acima de tudo, construir e reconstruir a paisagem das nossas cidades em maior ou em menor escala. Sempre que projetamos e construímos um novo edifício, estamos, com isto, alterando a paisagem a nossa volta, na maior parte das vezes, por um tempo que supera a nossa própria existência. Neste sentido, saibam que os melhores resultados são aqueles que abrem mão da monumentalidade individual em nome da beleza silenciosa e coletiva, que reconhecem o valor da harmonia entre as partes e o todo, que primam pela construção da vitalidade de uma rua e de uma cidade melhor para se movimentar e viver com dignidade.

Colegas, a qualidade da arquitetura e do urbanismo não se mede pela excepcionalidade, monumentalidade e individualidade, mas pelo seu resultado coletivo, pelo valor agregado à qualidade de vida dos usuários, pelo conjunto de espaços abertos e construções, gerado pelas nossas ações éticas e conscientes. Isto não é uma tarefa fácil por tudo o que o nosso ofício significa e representa.

A arquitetura é arte, ciência e ofício. Arte na medida em que ultrapassa seu papel de abrigo, quando supera a esfera prática e começa a dizer algo sobre os aspectos culturais de uma civilização. É ciência na medida em que se vincula aos processos e métodos científicos de proposição e análise do comportamento humano e das suas necessidades mais elementares, da produção eficiente no canteiro de obras, do controle do consumo energético, dos novos materiais e técnicas construtivas de baixo impacto ambiental. E é ofício, principalmente, pois a partir das nossas ações concretas diárias, transformamos o mundo que nos cerca e vivemos dignamente com o fruto ético do nosso trabalho.

Apesar da carga teórica e de proporcionar altos níveis de prazer estético e plástico, a arquitetura e o urbanismo resultam de um equilíbrio entre a teoria e as demandas estéticas associadas às demandas funcionais, físicas, locais, culturais, técnicas e financeiras. Portanto, meus colegas, continuem lendo muito e estudando sempre, sem parar, mas sem esquecer que a arquitetura e urbanismo é um ofício e deve, portanto, expressar a validade e a viabilidade destas teorias no fazer diário da nossa profissão, na contribuição concreta dos nossos projetos e construções, na qualidade dos espaços, edificações e cidades, no assentar de cada tijolo. A teoria é capaz de formular indagações profundas, mas a arquitetura e o urbanismo não são, no fim das contas, filosofia.

Temos muito que nos preocupar, também, ética e moralmente, com o desenvolvimento sadio da nossa profissão, participando ativamente da política profissional, discutindo, fortalecendo, revisando e divulgando nas entidades de classe, institutos e conselho, os grandes temas do nosso ofício, muitas vezes, deixados de lado na concorrência imposta pela urgência e superficialidade das decisões. O mercado de trabalho atual, com inúmeras oportunidades, mas, também, com perigosas armadilhas, carece de contínua fiscalização e nova formatação, assim como, outras oportunidades de trabalho, ainda adormecidas aguardando por nós, necessitam ser lapidadas com afinco, inovação, experimentação e empreendedorismo.

Mas inovação e empreendedorismo não nascem em qualquer lugar! É preciso, para tal, que o caminho esteja pavimentado com autonomia, investimento e cultura experimental. Para acertar em cheio é preciso experimentar muito. E poder errar sem o medo da crítica. O erro é o registro das possibilidades. Ele está no cerne dos processos criativos que testamos dia a dia no ateliê de projeto e em nossos escritórios. Portanto, não tenham medo de ousar e experimentar. Não tenham medo de errar. Tenham coragem e persistência para repetir, para poderem acertar. Repetir e experimentar exige coragem e, por isso, são a base dos grandes acertos e das ideias verdadeiramente inovadoras, e isto no mercado criativo atual tem muito valor.

Temos a tendência superficial de acharmos que a genialidade de uma grande ideia é fruto do instantâneo de uma única mente privilegiada. Quando fazemos isso, seja por conforto ou para explicar a nossa falta de atitude, damos as costas para o processo coletivo, contínuo e repetitivo das tantas experimentações e erros que vieram antes do acerto e que deram ao acerto o ambiente propício para sua invenção. Ser inovador, criativo e empreendedor não são o resultado de ações isoladas, instantâneas ou divinas. São o resultado de foco, fé e muito trabalho sério na busca de um objetivo.

Portanto colegas, menos crença naquilo que não depende de nós, mais atitude e coragem para tudo que está dentro e depende de nós!

Ao longo destes vários anos que convivemos juntos na Fau, em especial, e com maior intensidade, neste último semestre, convergimos e divergimos nos calorosos debates nos tantos painéis que produzimos. O diálogo coletivo, atento e respeitoso, sempre foi a nossa principal característica, assim como nosso espírito solidário de grupo e de ajuda mútua. Vivemos em um planeta digital, conectados em rede, mas nunca nos comunicamos tão pouco e nunca estivemos tão sós e isolados. Portanto, sempre que possível, evitem o isolamento, pois ele nos leva sempre às ações sem referências e em causa própria, enquanto que a arquitetura, por mais que exija alguns momentos de isolamento inventivo e reflexivo, é a ciência do coletivo. De todos, para todos. Nunca percam de vista esta qualidade. Sermos bons profissionais é nossa obrigação, assim como sermos boas pessoas e bons colegas. Sejam solidários, uns com os outros. Existe um código moral que rege as nossas ações pessoais e um código de ética que passa a reger, a partir de hoje, as nossas relações profissionais.

Somos o que sabemos, acreditamos, pensamos e propagamos, mas seremos sempre lembrados pelo que fazemos. Levem com vocês a certeza do respeito e admiração que tenho por cada um e saibam que podem continuar contando comigo sempre!

Por fim, e como última lição de casa, convoco-lhes a refletirem sobre alguns temas urgentes: sobre a necessidade de praticarmos o nosso ofício valorizando e priorizando o conteúdo e não a imagem. Sobre as armadilhas da arbitrariedade acrítica como conselheira das decisões projetuais. Sobre a necessidade de honrar a tradição sem perder o perfeito e crítico alinhamento com a vanguarda arquitetônica. Sobre a importância de valorizarem os aspectos plásticos e técnicos originalmente brasileiros. Sobre não se deixarem seduzir por ilusórias tendências e pelos superficiais apelos midiáticos e editoriais que tentam pautar a nossa profissão. Sobre o aviltamento da prática do nosso ofício mediante as concorrências desleais. Sobre a importância de atuarem continuadamente na política profissional como forma de fiscalizar e fortalecer as bases legais e éticas do nosso ofício. Sobre a necessidade de concentrarem seus focos nas demandas reais, necessidades plurais e possibilidades concretas dos seus clientes, sem abrirem mão das questões fundamentais da arquitetura e do urbanismo.

Dito isto meus queridos, resta-me apenas estender-lhes a minha mão mais uma vez e chama-los para a vida profissional. Sejam sempre bons colegas, sejam solidários, sejam bons projetistas, sejam bons construtores, sejam, de fato, arquitetos e urbanistas, pois, afinal de contas, projetamos e construímos porque acreditamos no futuro e não há nada que demonstre maior compromisso com o futuro do que o potencial proativo e transformador da nossa profissão.

De coração, muito obrigado por esta homenagem!
Para mim, foi um privilégio e uma honra imensurável caminhar com vocês até aqui!
Contem sempre comigo!

sábado, 15 de agosto de 2015

Desenho Jurássico 2

O Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do RS informa que já estão abertas as inscrições para a segunda edição do curso Desenho Jurássico. O curso irá ocorrer entre os dias 12 de setembro a 04 de dezembro de 2015. As aulas acontecerão sempre aos sábados, das 9h às 12h, na Sede do IAB-RS e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PucRS. A atividade faz parte do Programa de Formação Continuada lançado em 2014 pelo Departamento de Cursos do IAB-RS e consolida a parceria entre o IAB-RS e a faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PucRS.



Confira o cronograma e a síntese da programação de conteúdos para o curso:

Cronograma:
30h – 10 encontros
12/09 e 26/09
03/10, 17/10 e 24/10
07/11, 14/11, 21/11 e 28/11
04/12

Sábados das 9h às 12h.

Conteúdos:
Desenho Colaborativo
Desenho de Observação
Desenho Híbrido
Hidrocor, Lápis de Cor e Aquarela
Desenho Técnico (Grafite em papel Manteiga)
Desenho Técnico (Nanquim em papel Vegetal)
Exposição dos trabalhos

Fiquem de olho no site do IabRS para maiores informações.
www.iabrs.org.br

domingo, 28 de junho de 2015

TCCII - FauPucRS

PAINEL FINAL

Terão início no próximo dia 06/07, às 14h, as bancas de apresentação dos Trabalhos de Conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo da FauPucRS. Entre os dias 06/07 à 09/07, nos turnos da tarde e noite, serão apresentados 29 trabalhos com os mais diversos temas nas áreas de arquitetura, paisagismo e urbanismo. As bancas são abertas ao público e ocorrerão na sala 215 do prédio 9 (FauPucRS). Em paralelo ao desenvolvimento das bancas os visitantes terão a oportunidade de ver os 29 trabalhos expostos no saguão da faculdade.
Não percam!

Cronograma das atividades:

06/07
SEGUNDA-FEIRA

14:30h - OLGA MALLMANN DORNELLES
15:30h - GIORDANA RABAIOLLI BRUM
16:30h - TATIANA LAUREANO APOLINARIO
Orientador: Profa. Arqa. Cassandra Coradin

18:00h - GUILHERME DE CASTILHOS
19:00h - TAMIRES GOMES SILVEIRA
20:00h - VITOR DOS S. VENDRUSCOLO
Orientador: Prof. Arq. Luiz Alberto Aydos

Banca:
Profa. Arqa. Merlin J. Diemer (Univates)
Profa. Arqa. Cristiana Brodt Bersano
Prof. Arq. Daniel Pitta Fischmann
Prof. Arq. Paulo Ricardo Bregatto


07/07
TERÇA-FEIRA

14:00h - ANDRE MARMI
15:00h - LENA MICHELE HOFFMANNTT ZAMBELI
16:00h - VALESCA GOULART MENEGHINI
Orientador: Prof. Arq. Paulo Cesa

18:00h - BRUNA PASTRE
19:00h - DANIELE VOTO DA SILVA
20:00h - DEBORA MALLMANN BARDEN
Orientador: Prof. Arq. Carlos Alberto Hubner

Banca:
Prof. Arq. Vilmar F. Mayer (Unisinos)
Profa. Arqa. Leila Nesralla Mattar
Prof. Arq. Daniel Pitta Fischmann
Prof. Arq. Paulo Ricardo Bregatto


08/07
QUARTA-FEIRA

14:00h - BRUNO RHODEN SINDERMANN
15:00h - MARCOS VINICIOS LEONHARDT
Orientador: Prof. Arq. Flávio Kiefer

16:00h - LUIZA MORAES BOENI
17:00h - CLAUDIA GARCIA GONZALEZ
Orientador: Prof. Arq. Luis Carlos Macchi

19:00h - SABRINA CESTARI C. DA CUNHA
20:00h - BRUNA KOHLER
21:00h - MAURICIO MIRANDA E. DA ROSA
Orientador: Prof. Arq. José Carlos Marques

Banca:
Profa. Arqa. Jamile Weizenman (Univates)
Prof. Arq. Renato Gilberto G. Menegotto
Prof. Arq. Daniel Pitta Fischmann
Prof. Arq. Paulo Ricardo Bregatto


09/07
QUINTA-FEIRA

09:00h - DOUGLAS ANDRIGHI
10:00h - PRISCILA BREYER DE OLIVEIRA
11:00h - RACHEL BERRUTTI P. DA CUNHA
Orientador: Profa. Arqa. Camila Fujita

14:00h - GIULIA BRISSAC TARASCONI
15:00h - JANAINA GHIGGI
16:00h - KATIA FINKLER POSTAY
Orientador: Profa. Arqa. Cibele Figueira

18:00h - CAMILA BARBATO RADICI
19:00h - MAIRA VELHO SARAIVA
Orientador: Profa. Arqa. Maria Dalila Bohrer

20:00h - DANIEL WEBER
21:00h - PRISCILA CARVALHO DA SILVA
Orientador: Prof. Arq. Marcelo Martel

Banca:
Profa. Arqa. Daniele Caron (Ipa)
Profa. Ana Rosa Sulzbach Cé
Prof. Arq. Daniel Pitta Fischmann
Prof. Arq. Paulo Ricardo Bregatto

terça-feira, 23 de junho de 2015

Aula de Campo

Fundação Iberê Camargo

Nos dias 23 e 24 de junho as aulas das disciplinas de Expressão e Representação III (turmas 260 e 280) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PucRS ocorrerão nas dependências da Fundação Iberê Camargo. Nosso desafio, nesta ocasião, será confeccionar croquis de observação do edifício e seus espaços externos e internos.

23/06 | Terça-Feira
Das 16:40h às 19h

24/06 | Quarta-Feira
Das 13:30h às 16h



A fundação é uma instituição privada sem fins lucrativos. Foi criada em 1995, a partir do desejo do artista e sua esposa. Sua missão é preservar o acervo, promover o estudo e a divulgação da obra do artista e estimular a interação de seu público com a arte, cultura e educação, através de programas interdisciplinares. A sede foi projetada pelo arquiteto português Álvaro Siza e o projeto recebeu o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2002. O prédio tem salas expositivas, átrio, reserva técnica, centro de documentação e pesquisa, ateliês, auditório, loja, cafeteria, estacionamento e um parque ambiental projetado pela Fundação Gaia.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Teoria x Prática

Relatório britânico diz que universidades estão falhando em preparar seus estudantes de arquitetura para a vida profissional.

As universidades britânicas estão falhando em equipar seus estudantes com as ferramentas necessárias para a prática arquitetônica, segundo o uma pesquisa realizada pelo RIBA. Dos 149 empregadores e 580 estudantes e recém-formados em arquitetura que participaram da pesquisa, a grande maioria criticou a formação arquitetônica por priorizar o "conhecimento teórico em vez da habilidade prática" e concorda que a maior parte dos graduandos não são muito bem preparados para trabalhar após saírem da universidade.



"Não consigo pensar em nenhuma outra profissão onde os recém-formados têm que esperar uma década ou mais para receberem responsabilidades significativas, pois eles não adquirem as habilidades básicas na universidade”, disse Yarema Ronish, diretor do escritório Richard Morton Architects.

De acordo com a pesquisa, 80% dos empregadores e 73% dos estudantes concordam que recém-formados carecem das habilidades práticas necessárias para a prática da arquitetura. Além disso, 79% dos empregadores e 77% dos estudantes acreditam que deveria ser dedicado mais tempo à prática durante a formação, garantindo que os jovens arquitetos estejam mais "prontos para o trabalho" quando ingressam nos escritórios.

O custo da educação e os baixos salários iniciais também foram temas de preocupação em ambos os grupos entrevistados.

"Os empregadores precisam competir com as propostas de salário oferecidas em outras áreas, caso contrário, corremos o risco de desvalorizar nossa indústria em termos de pagamento e qualidade das condições de trabalho", disse Jenny Dobson, Coordenadora de Pesquisa de Mercado do RIBA Enterprises.

Uma interessante lacuna de uma geração inteira em termos de habilidades importantes necessárias para garantir um emprego foi também destacada pela pesquisa, apenas um terço dos estudantes e recém-formados considerou o desenho à mão uma habilidade desejável, comparados com 70% dos empregadores. Por outro lado, o domínio de ferramentas 2D e 3D foi considerado importante por ambos os grupos.

E o caso do Brasil? Estariam as universidades focando demais no conhecimento teórico e deixando de lado as implicações práticas da disciplina? Ou ao contrário, não nos faltam aqui mais investidas teóricas para equilibrar o ensino da arquitetura? Essas questões certamente variam em cada instituição, mostrando panoramas bastante diversos dependendo do caso estudado.

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/761895/relatorio-britanico-diz-que-universidades-estao-falhando-em-preparar-seus-estudantes-de-arquitetura-para-a-vida-profissional

sábado, 30 de maio de 2015

Coordenação Modular e Arquitetura

No ano de 2008, o NUTAU/USP - Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de São Paulo (USP), realizou seu Sétimo Seminário Internacional, com o título "ESPAÇO SUSTENTÁVEL: INOVAÇÕES EM EDIFÍCIOS E CIDADES". Com mais de mil trabalhos científicos apresentados e discutidos nas edições anteriores, além das conferências internacionais e nacionais proferidas nessas ocasiões, o NUTAU 2008 buscou aprofundar alguns temas já levantados em duas edições anteriores voltadas ao assunto, as de 2002 e 2006. Na sequência, publico o artigo apresentado no evento.

COORDENAÇÃO MODULAR E ARQUITETURA:
Tecnologia, Inovação e Sustentabilidade


MODULAR COORDINATION AND ARCHITECTURE:
Techcology, Inovation and Sustainable Development

Paulo Ricardo Bregatto, Me.
Mario dos Santos Ferreira, Dr.
Márcio Rosa D’Ávilla, Dr.

O artigo aborda uma revisão dos conceitos correntes da arquitetura, ainda hoje adotados para execução do ambiente construído, na busca de uma condição de equilíbrio na extração, utilização e reutilização dos recursos renováveis e não-renováveis disponíveis no meio. Sabe-se hoje que a relação entre o princípio da sustentabilidade planetária e o conceito de eco-eficiência é o condicionante principal no projeto das edificações para este milênio. A arquitetura, vista neste particular como um agente de materialização de tecnologia, pode conferir ao ambiente construído um novo caráter, sob a ótica da preservação e recuperação ambiental. A ferramenta coordenação modular comparece como variável determinante na otimização dos insumos e componentes envolvidos neste cenário de sustentabilidade.

Palavras-Chaves: Teoria do Arquitetura; coordenação modular e sustentabilidade.

ABSTRACT

This paper presents a revision of the current architectural concepts, still in, looking for a balance in the extration, use and re-use of recycle and non-recycle natural resources. The relation between the principle of the sustainable development and the concept of eco-efficiency, is the main condition in design of buildings on Earth. The architecture function, seen like an agent of technology process, may assess specific characteristics to the industrial product, based upon the environment preservation point of view. The modular coordination tool may be considered as a break-even point in this sustainable canary.

Key-Words: Architecture theory, modular coordination, sustainable development

Sustentabilidade: Eco-eficiência de materiais e componentes da edificação

Sabe-se que a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas passa obrigatoriamente por mudanças nos processos industriais, nos modelos de produção hoje utilizados, os quais permitam aproximações do modelo de sustentabilidade estabelecido como adequado ao planeta.

Desenvolvimento sustentável é definido como a busca pelo atendimento das necessidades da geração atual sem comprometer o direito das futuras gerações. Esta postura passa pelo equacionamento de dois fatores: atendimento das necessidades humanas (condições essenciais de vida) e as limitações que devem ser estabelecidas para as soluções tecnológicas e a utilização dos recursos naturais renováveis e não-renováveis (ou renováveis em longo prazo). A fixação de conceitos de sustentabilidade determina que o melhor produto e o melhor processo são aqueles que forem melhores para a preservação do ambiente. Este conceito incorpora, portanto, aspectos de rentabilidade econômico-financeira, eficiência produtiva, qualidade de processo e de produto.

Ecologia, segundo Munasinghe (1993), é um problema econômico na medida em que, os ecossistemas que dependem de condições de equilíbrio de relações de trocas, envolvidos, neste caso, aspectos referentes à produção e consumo. Em nível mundial estão estabelecidos conceitos de sustentabilidade dentre os quais o melhor produto e o melhor processo são aqueles que forem melhores para o ambiente, com a consideração de fatores como rentabilidade econômico-financeira, eficiência produtiva e qualidade de processo e produto.

Segundo Lerípio (1997), a corrente da sustentabilidade entende ainda que poluição é uma forma de desperdício e ineficiência dos processos produtivos pela perda de matérias-primas e insumos, nos processos de produção. Neste cenário descrito, pode-se afirmar que a busca da qualidade ambiental no projeto da edificação passa necessariamente pela escolha de materiais e componentes, a partir do efetivo conhecimento de seu processo produtivo, do balanço energético final, seu potencial de inserção num sistema construtivo racional e otimizado, no que tange à processo construtivo, além das usuais variáveis estético-formais que configuram o ente arquitetônico.

Hoje o requisito principal de projeto reside na eco-eficiência da edificação. Eco-eficiência de um produto ou componente consiste na característica ambiental incorporada via projeto. O produto eco-eficiente apresenta requisitos especiais, que o diferencia de outros, no que se refere ao processo de fabricação, estoque, distribuição, utilização e descarte, adequado aos seus usuários e ao meio natural, no qual estes se inserem. Configura-se como o mais importante em qualquer programa de necessidades a ser concebido, com características de sustentabilidade.

Sustentabilidade na edificação versus balanço energético dos componentes: pinus, eucalipto e cerâmica.

Nas décadas de oitenta e noventa, proliferaram políticas públicas orientadas para soluções de habitação de interesse social, orientadas para a utilização de materiais dito “ecológicos” como materiais cerâmicos e madeiras de reflorestamento. No entanto, pesquisas anteriores na década de setenta, já demonstravam perdas energéticas nos processos de produção e danos ambientais significativos. Atualmente, com a incorporação dos fundamentos da sustentabilidade, as conclusões são reafirmadas por autores atuais.

As repercussões ambientais da monocultura do eucalipto e do pinus concentram-se, dentre outras, no consumo de reservas hídricas. Segundo Oliveira (2007), considerando apenas as plantações comerciais das principais espécies introduzidas plantadas no país, o eucalipto responde por mais de 2/3 (135 milhões de m3), da capacidade de produção sustentada (184 milhões de m3 anuais) enquanto que o pinus contribui com 1/3 restante (49 milhões de m3).

Afirma ainda que um dos impactos ambientais causado pelo monocultivo do eucalipto é a redução e perda da biodiversidade da flora e da fauna. A monocultura do pínus e eucalipto representam perda (extinção) de espécies nativas e alterações ambientais como a biocontaminação dos ecossistemas adjacentes por espécies invasoras como o Pínus elliottii.

Estudos à época apontavam para o alto consumo de água das plantações de eucalipto causando a redução da quantidade de água presente naturalmente na região do plantio. Alguns estudos comprovam que o Eucalipto consome pelo menos 200 litros de água por dia. Informava, ainda, que para produzir um quilo de madeira de eucalipto são necessários 350 litros de água.

Segundo Elia (2006), o pinus também avança sobre as matas nativas por conta própria. Suas sementes se propagam facilmente e germinam em qualquer lugar. No Rio Grande do Sul, a invasão aconteceu na área de restinga do Parque Nacional Lagoa do Peixe. Completa o autor afirmando que cerca de 5% do território de Santa Catarina já está coberto por plantações de pinus com tendência de aumento. Corresponde hoje a 85% das espécies cultivadas em solo catarinense.

Com relação aos produtos cerâmicos, Soares (2003) afirma que “Cada etapa do ciclo de vida do produto tem conseqüências ambientais, desde a extração da matéria-prima até a eliminação do resíduo”. De acordo com o pesquisador, as etapas do ciclo de vida da cerâmica que mais exercem influência sobre o meio ambiente são três: a extração da matéria-prima, a escolha e forma de utilização da fonte energética e a emissão dos resíduos resultantes do processo de produção.

Na década de noventa, Langhanz (1991) já demonstrava preocupação com as perdas de 32% na produção de telhas cerâmicas e alertava para os custos de energia (em torno de 40%) em relação aos custos totais de produção. Sales et al (2007) afirmam que no Ceará as mais de 300 cerâmicas usam lenha como combustível acelerando o desmatamento, a níveis alarmantes, além da extração de argila, feita de maneira degradante.

Satler (2007), de sua parte, destaca o empirismo no processo de composição da mistura a ser conformada, considerado o consumo de água. O consumo energético e respectivas perdas no processo de fabricação de produtos de cerâmica vermelha, telhas e tijolos, são ainda incógnitas nas indústrias de pequeno e médio porte, segundo o autor.

O modo de produção industrial se propõe a obter, com economia de escala, a compatibilização e a otimização de qualidade, quantidade e custo. Esta meta resulta de uma racional aplicação de recursos, da eliminação dos desperdícios e do aumento de eficiência dos fatores de produção, mão-de-obra e equipamentos. A coordenação modular deve ser entendida como um instrumento físico e econômico, vinculada à composição arquitetônica, à tecnologia e à produção.

MÓDULO E COORDENAÇÃO MODULAR NA ARQUITETURA

O espaço definido para o atendimento de mais de uma atividade humana, devidamente configuradas através de estudos de arranjos físicos, com mínimo necessário e suficiente para a perfeita realização dessas atividades, pode ser quantificado e caracterizado como uma unidade de medida denominada módulo

O uso de módulos na arquitetura pode ser encontrado em várias épocas, desde a Antigüidade. O módulo dos clássicos era certamente um módulo-forma, enquanto o Modulor de Le Corbusier (1976), pode ser considerado como módulo-função. As séries de módulos, adotados pelos romanos, revelam características de módulo-objeto. Dentre as aplicações mais antigas o Ken, módulo japonês, derivado do tatami, representa também um raro exemplo de módulo-objeto. A partir disto, é oportuno ressaltar que a coordenação dimensional é habitualmente entendida como um instrumento de normalização das partes da edificação.

No caso da coordenação modular, a norma brasileira NBR-5706 (ABNT, 1977) assim a define:

“Técnica que permite relacionar as medidas de projeto com as medidas modulares por meio de um retículo espacial de referência.”

Ao serem utilizadas, simultaneamente, unidade de medida para um espaço organizado (módulo-função) e outra para o invólucro (módulo-forma), se está articulando as dimensões dos espaços parciais com as dos componentes e compatibilizando-as entre si. A compatibilização geral, entretanto, ocorrerá a partir da definição do módulo-objeto, responsável pela repetitividade exigida pela escala de produção.

A coordenação modular em arquitetura é definida como um método ou abordagem de projeto, com elementos construtivos dimensionados a partir de uma unidade de medida comum. A unidade, chamada de módulo, define as dimensões e proporções dos elementos, estabelecendo uma relações de dependência entre eles e o produto final, a edificação.

A ordenação e a organização destes elementos-módulos, dentro da construção, ocorreram de forma diferenciada, em cada período da história da arquitetura. A coordenação modular hoje, no entanto, apresenta uma série de problemas ainda não solucionados, quais sejam: adaptação dos materiais e componentes a um sistema modular único, padronização e unificação do módulo base no mercado mundial e a preparação dos profissionais para a utilização do sistema de coordenação modular.

Para que a aplicação da coordenação modular se dê de uma forma abrangente será necessária uma mudança radical das técnicas construtivas, modificação dos métodos de fabricação e um nível de projeto e detalhamento mais apurado.

O modo de produção industrial está fundamentado em princípios de continuidade física, temporal e conceitual. O princípio da continuidade física está vinculada à organização da produção, no que tange à arranjo físico e meios de produção (máquinas, ferramentas e dispositivos). O princípio da continuidade temporal depende do sincronismo de tempos de produção previstos e dimensionados de acordo com metas e capacidade instalada.

O princípio conceitual resulta da unidade e coerência entre previsão e ação dos recdursos humanos intervenientes no processo. A continuidade é fruto de organização e da previsão, decorrente da simplificação, através do estabelecimento de rotinas produtivas e da eliminação da casualidade nas decisões, eliminando erro e acidente, otimizando o trabalho.

A coordenação modular é o instrumento destinado a coordenar as dimensões dos elementos produzidos na fábrica com os projetos arquitetônicos. Sua aplicação implica numa disciplina de trabalho considerada indispensável para que a industrialização e racionalização do processo construtivo possam ser realizadas de forma orgânica, correta e segura. Cabe, porém, salientar que a coordenação modular, na construção civil, é impossível se não existir um projeto integral do edifício. Nada poderá ser omitido ou deixado para estudo posterior no decorrer da execução (montagem).

O arquiteto deve, portanto, modificar sua lógica de projeto: deverá compreender que o problema não é de modulação de espaços e sim, de dimensões que se relacionam com a utilização de elementos construtivos pré-fabricados. A coordenação modular, como muitos acreditam, jamais compromete a capacidade criativa de um arquiteto. Pelo contrário, a existência dos condicionantes da coordenação modular resulta em obras cujos valores estético-formais estarão em harmonia perfeita com os valores sócio-econômicos.

As teorias da sustentabilidade, enunciadas oficialmente pelo Banco Mundial na década de noventa, passam obrigatoriamente pela abordagem de uso racional dos recursos. Munasinghe (1993), economista ambiental do Banco Mundial, já abordava àquela época, o efeito de produção como o impacto ambiental decorrente de quantidade, qualidade e custo de produção de bens.

No caso da concepção e produção do ambiente construído, a exemplo de outros segmentos industriais, o princípio da sustentabilidade vincula-se a economia de recursos, renováveis ou não-renováveis, em todos os níveis do processo de transformação dos insumos e matéria-prima em componentes.

A coordenação modular exige dos materiais e componentes envolvidos no processo de construção do ambiente construído níveis de confiabilidade metrológica, estabilidade dimensional e normalização. Estas condições impõem, desde já o uso racional dos meios e do modo de produção, orientados para a minimização de perdas no sistema garantindo balanço energético característicos de produtos e materiais eco-eficientes.

No caso específico da arquitetura, a adoção da variável coordenação modular, estabelece laços fortes com a ótica da sustentabilidade, a partir da redução gradativa de desperdício na execução do ambiente edificado. Por certo, o caráter e a configuração física do ente arquitetônico tende a ser diametralmente opostos a maioria dos resultados arquitetônicos obtidos atualmente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ELIA, Carolina. O invasor e seus comparsas, in: O Eco. disponível em: http://arruda.rits.org.br/oeco 28.01.2006
LANGHANZ, C.L. A qualidade na indústria cerâmica vermelha do Rio Grande do Sul. In: Anais XXV Jornadas Sul-Americanas de Engenharia Estrutural. v.4, Porto Alegre, 1991.
LERIPIO, Alexandre A. Emissão Zero: um Novo Conceito de Qualidade Total. PPGEP/UFSC, Florianópolis, 1997.
MUNASINGHE, Mohan. Como os Economistas Vêem o Desenvolvimento Sustentável. In: Finanças e Desenvolvimento. pg. 16-19., v.13, n.4, FMI-Banco Mundial/FGV, dez. 1993.
OLIVEIRA, Adriano. Abaixo e à Esquerda. Disponível em: http://osverdestapes.googlepages.com 29 de Maio de 2007. Acesso em 28/03/2008.
SALES, J.C. FERREIRA, A. C.; FILHO, A F.G. Furtado; ALMEIDA, J. S. Identificação dos impactos ambientais causados pela indústria de cerâmica vermelha no Estado do Ceará. in: Anais do 51º Congresso Brasileiro de Cerâmica, 2007, Salvador - BA. 51o. Congresso Brasileiro de Cerâmica, 2007.
SATTLER, Miguel Aloysio. Habitações de baixo custo mais sustentáveis: a casa Alvorada e o Centro Experimental de tecnologias habitacionais sustentáveis/ Miguel Aloysio Sattler. — Porto Alegre: ANTAC, 2007. — (Coleção Habitare, 8.)
SOARES, Sebastião Roberto. Análise do Ciclo de Vida de Produtos Cerâmicos. Disponível em http://www.agecom.ufsc.br, 2003.
CORBUSIER, Le. El Modulor - Ensayo sobre una medida armonica a la escala humana aplicable universalmente a la arquitectura y a la mecanica. Barcelona, Editorial Poseidon, 1976.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5706 Coordenação Modular da Construção– Procedimento. Rio de Janeiro, ABNT, 1977.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

21 de Agosto de 2015

Queridos alunos do TCCII da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PucRS, foi com imensa alegria e surpresa que recebi ontem o honroso convite para ser o paraninfo da 29ª turma, na solenidade de formatura que ocorrerá dia 21 de agosto de 2015. Não existe maior distinção acadêmica que um professor possa receber que a honraria de participar deste importante ritual de passagem, conduzindo-os da vida acadêmica para a vida profissional. Isto é um elo que nos unirá profissionalmente para sempre.

Vocês muito bem observaram, no belo texto que foi lido ontem pela comissão de formatura (ver texto anexo), que não é a primeira vez que recebo esta homenagem. Mas devo dizer que a emoção é sempre única! Não apenas por se tratar de uma nova turma, ou pela oportunidade singular de me reciclar com a diversidade dos seus tantos projetos, ou ainda pelo prazer imensurável de me alimentar e renovar com a energia vibrante que habita o coração dos estudantes de arquitetura – com seus desejos revolucionários – mas, principalmente, pelo impacto positivo deste convite quando associado ao momento íntimo e pessoal diante da vida sempre dinâmica e em constante transformação.



Este convite vem em boa hora!

Num momento de muitas e contínuas reflexões profissionais e pessoais. A atividade docente é uma experiência apaixonante, mas repleta de altos e baixos. De um lado o prazer do convívio com todos vocês e a oportunidade de participar da revisão e da reconstrução ética da nossa sociedade - tão carente das nossas ações - pela visão transformadora dos seus projetos. De outro, pelo enfrentamento diário das dificuldades impostas por um mercado exageradamente capitalista que transformou de maneira acrítica e massificada a formação universitária em mercadoria, passando por cima de questões pertinentes às reais demandas da sociedade tão carente dos efeitos benéficos do ofício da arquitetura e urbanismo. Talvez, também por esta razão, vemos as nossas cidades crescendo desordenadamente sem o adequado e criterioso planejamento e com novas edificações e espaços privados e públicos desprovidos de qualidade. Muita construção e pouca arquitetura e urbanismo. Muito temos discutido isso nos diversos ateliês de nossa escola. Portanto, como vocês podem constatar, não são poucas as vezes que, diante de tantas barreiras e dificuldades, vamos nos perguntando se estamos agindo certo e, até mesmo, se estamos no caminho correto. Com o reconhecimento de vocês, com aquela emocionante homenagem de ontem, posso presumir que estamos juntos trilhando um bom caminho.


Foto: Daniel Pitta Fischmann

Por isso digo-lhes que esta homenagem vem em ótima hora!! Funcionando como um grande e fortalecedor estímulo para seguir em frente. Tenham a certeza que tomarei este convite como uma carga rápida de energia positiva para continuar participando ativamente na Universidade, no escritório e na política profissional, defendendo sempre os princípios fundamentais do nosso ofício.

De coração, muito obrigado por esta homenagem!
Um abraço carinhoso e fraterno!
Contem sempre comigo!

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Por que contratar um arquiteto?

Vilanova Artigas

Carta ao cliente

Confesso que não me assustei muito ao ler sua carta contando o resultado da conferência para autorização de um projeto para o São Lucas. Estas coisas acontecem sempre porque, por falta de costume, quem constrói, nem sempre avalia o plano de como deveria fazê-lo. Se eu insisto em aconselhá-lo mais uma vez para que consiga um arquiteto para dirigir os trabalhos de seu hospital, não é somente porque desejo muito trabalhar para um hospital modelo, mas porque, e principalmente porque, não posso crer que uma obra, da importância da sua, possa nascer sem estudo prévio. É prática brasileira fazer as coisas sem plano inicial perfeitamente elaborado; quando se pergunta sobre como ficarão estes e aqueles pormenores, a resposta é sempre a mesma: "Ah! Isso depois, na hora, veremos".



Assim fazem-se as casas, os prédios, as cidades; nesse empirismo vive a lavoura, a indústria e o próprio governo. O planejamento, mercadoria altamente valorizada em todo mundo para qualquer realização, não encontrará entre nós o ambiente propício enquanto nós moços não nos capacitarmos da sua necessidade imprescindível. Poderia continuar conversando com você sobre a grande vantagem de planejar com antecedência, até amanhã, sem esgotar todos os argumentos e provavelmente terminaria por dizer que é até demonstração de patriotismo e inteligência. Mas com isso não convenceríamos ninguém; talvez muito mais vantajoso seria confinar a discussão entre os limites das vantagens particulares, individuais de aplicar o método.

Então vejamos. A pergunta é sempre a mesma: ”Que vantagem poderíamos ter em gastar CR$ 65.000,00 em um projeto somente? O projeto não é o prédio; muito pelo contrário, somente uma despesa a mais! Contratando a construção o projeto viria de graça, feito pelo próprio construtor e nós economizaríamos 5% sobre o valor do prédio. Com esses 5%, no caso de querermos gastá-lo, até poderíamos melhorar algumas condições do edifício; enriquecer alguns materiais, etc.” Garanto que os argumentos acima lhe foram expostos mais de uma vez. São os que sempre vejo empregados em ocasiões dessas e nunca mudam. São também os mais fáceis de rebater e os menos inteligentes.

Senão, vejamos: "O projeto sempre custa alguma coisa". O construtor que o fizer terá, sem dúvida, que empregar engenheiros e desenhistas para isso. Terá de empregar gente para calcular concreto, para calcular aquecimento, eletricidade, etc. O construtor cobrará essa despesa do proprietário através da comissão para a construção. Tanto isso é verdade que, se você apresentar aos construtores um projeto completamente pronto, ele cobrará percentagem menor para a construção porque dirá, "não terei despesas no escritório". Suponhamos que a taxa de honorários para a construção seja de 10 a 12%, inclusive o projeto. Se você der o projeto, encontrará quem lhe faça por 6 ou 8%. Daí você conclui que o projeto que você pagou ao arquiteto 5%, já representa nessa ocasião somente 1% ou 2% a mais do que o preço geralmente previsto.

Mas eu desejo provar que o plano geral, feito com antecedência, é economia e não despesa. Então vamos continuar. Ninguém pode negar, nenhum construtor, nenhum cliente, que o projeto feito pelo técnico, contém em si uma previsão maior dos diversos detalhes do que o projeto rabiscado pelo construtor e verificado pelo proprietário. Faça uma experiência. Tome um plano que esteja em início de construção e pergunte a quem o dirige: "Por onde passam os canos de aquecimento? Por onde passam os canos de esgoto? O senhor vai fazer antes isso ou aquilo?" Garanto que não sabem.

Responderão: "Provavelmente passarão por aqui ou ali, farei isto ou aquilo antes". Se na ocasião de executar um serviço, verificar-se um contratempo qualquer, um cano que não pode passar porque tem uma porta, um esgoto vai ficar aparecendo no andar de baixo; o construtor resolve em função do problema, no momento. Ele dá voltas com o cano ou faz um forro falso para esconder o esgoto que iria aparecer em baixo. Entretanto se isso tivesse sido previsto, não precisaria de forro falso ou qualquer outra coisa. No papel, teria sido procurada e encontrada a solução mais econômica, para o caso, a mais bonita.

Consulte um construtor experimentado ou alguém que já tenha construído e todos serão unânimes em contar-lhe pequenas calamidades que apareceram. Eu já ouvi diversas vezes, por exemplo: "Quando colocamos as fundações no terreno nós vimos que o quarto ficaria enterrado. Então levantamos as fundações mais cinquenta centímetros para dar certo. Por isso deu uma escada na entrada e ficou com um porão, etc". Se você calcular quanto mais caro ficou a imprevisão, você verá a vantagem de ter um projeto estudado. O arquiteto teria dado uma disposição diferente nos cômodos de maneira que o tal quarto não ficasse enterrado, sem ter que aumentar as fundações e assim economizaria o dinheiro com o qual se faria pagar.

Se o proprietário não ganhasse nada, ainda teria para si uma solução melhor e um motivo para valorizar seu imóvel. O construtor, por exemplo, não projetaria as instalações elétricas. Ele chamaria um instalador "prático" e o homem disporia a coisa à sua vontade. Usaria os canos que ele quisesse e os fios que achasse melhores. Bem curioso, não é? Poucos entendem disso e ninguém iria fiscalizar o homem. Acontece, porém que os fios, quando são fios demais em relação à corrente que transportam, dão muitas perdas, e essas se traduzem em despesa mensal maior de energia para você durante os 50 ou 100 anos de funcionamento do hospital; assim você pagaria 100 vezes um bom projeto de distribuição de eletricidade. Estou apenas repetindo casos cotidianos.

Do funcionamento do hospital ainda mais, o construtor provavelmente não entende e nem terá tempo suficiente para estudar. Ele não é especializado em hospitais porque isto é Brasil e depois não estudam porque não é o seu "métier". Ora, assim sendo, ele vai confiar em você. Você conhece hospitais já feitos e em funcionamento, como hospitais, não como construções. Os seus preconceitos, a respeito, o construtor repetirá com o dinheiro de seu bolso. As soluções que, para alguns casos que você viu, são soluções econômicas poderão constituir soluções caríssimas, no seu caso. Rematando, sua casa de saúde não teria o melhor aspecto porque faltou um artista.

Arquitetura é construção e arte. Arte. Arte não tem livro de regulamento que ensine. Nasce dentro de cada um e desenvolve-se como conjunto de experiências. Procure um homem que possa dar à sua casa de saúde, além das características de um hospital eficiente pelo perfeito planejamento das diversas sessões, um valor artístico indiscutível. O valor artístico é um valor perene, enorme, inestimável. É um valor sem preço e sem desgaste. Pelo contrário, aumenta com os anos à proporção que os homens se educam para reconhecê-lo. O valor artístico subsiste até nas ruínas. Os anos correm e desgastam o material, enquanto valorizam o espiritual.

Com a consciência limpa termino minha proposta. Está em suas mãos a responsabilidade de decidir entre os caminhos. De um lado eu me coloco, não só, mas como representante dos arquitetos brasileiros, defendendo a economia, a ordem e acima de tudo, o futuro. De outro lado, me coloca contra o empirismo, a reação, a imprevisão. Qualquer solução que você venha a dar não mudará as relações entre nós, nem sua opinião futura sobre o que acabo de escrever. Se o prédio for bom, bem projetado, bem planejado, por um bom arquiteto, você gostará, todos gostarão; se ele não prestar, se custar muito, se não funcionar, ser for feio ou sem personalidade, sem valor artístico, sem plano nenhum, o resultado será o mesmo. Em todos os dois casos você adquirirá experiência e acabará por trabalhar sempre do meu lado e com os meus argumentos. Nós venceremos sempre como eu queria demonstrar.

Pague pois o que eu pedi. É pouco em relação às vantagens futuras. Ou não pague, e as vantagens serão as mesmas, para a sociedade evidentemente, não para você.
Com um abraço afetuoso do amigo certo,

Vilanova Artigas
São Paulo, julho de 1945

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Um projeto de cidade para as pessoas

Tiago Holzmann da Silva é arquiteto e urbanista e presidente do IAB RS.

Cidade para Pessoas é o título de um excelente livro do arquiteto dinamarques Jan Gehl, seguidor dos ensinamentos da jornalista Jane Jakobs que, nos anos 60, já denunciava a desumanização das grandes cidades. Ambos apontam para algumas das propostas que foram implantadas pela nossa convidada Janette Sadik-Khan nas suas experiências exitosas para começar a transformar Nova York em uma cidade para pessoas, como Gehl já havia feito com Copenhague.

Cidade para Pessoas também é o jargão do momento. Assim como a tal sustentabilidade, Cidade para Pessoas virou frase feita e entrou na moda, correndo o risco de perder seu sentido revolucionário original. Repetida com insistência em diversos ambientes, Cidade para Pessoas já virou discurso de político oportunista e está servindo de maquiagem moderninha para as mesmas ações equivocadas de sempre.

Cidade para Pessoas mesmo, não é discurso, é atitude.

Para começar, Cidade para Pessoas exige que estas, as pessoas, sejam mais ouvidas e consultadas sobre o rumo de suas cidades, com um processo de participação democrático e acessível a todos. Para que esta participação seja efetiva os gestores públicos – prefeitos, vereadores, administradores – tem que abdicar da parcialidade e das tradicionais facilidades aos seus financiadores de campanha e buscarem atuar como mediadores e conciliadores dos naturais conflitos entre os diversos grupos de pessoas que legitimamente têm interesses na cidade.

Cidade para Pessoas exige que abandonemos o automóvel como centro das decisões de planejamento e único beneficiário dos projetos urbanos. Cidade para Pessoas exige que tenhamos capacidade de compreender que asfalto, viadutos, automóveis particulares... devem deixar de ser os protagonistas das cidades. Precisamos entender, por exemplo, que a inauguração de um viaduto estaiado de dois andares que já nasce engarrafado é uma insensatez, um desperdício, uma vergonha, e não uma obra para o futuro da cidade.

Os novos protagonistas da Cidade para Pessoas são as calçadas largas e bem pavimentadas e iluminadas, é o transporte coletivo de qualidade e as ciclovias, é o comércio de rua nos bairros, são as praças e parques e espaços de convivência, é a preservação da paisagem e do patrimônio e, claro, as pessoas. Os moradores têm que ser os novos protagonistas da cidade. Esta nova Cidade para Pessoas exige planejamento de longo prazo e projetos de qualidade que devem enfrentar a cultura do improviso, do jeitinho e a ansiedade dos gestores públicos e privados pela inauguração do inacabado que faz uma obra sem projeto, apresasada e mal executada.

Cidade para Pessoas exige um projeto, um Projeto de Cidade. Esta foi a contribuição do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio Grande do Sul – IAB RS, que recentemente publicou um decálogo, os “10 pontos para um projeto de cidade”, síntese das discussões históricas dos arquitetos e do acúmulo dos seus princípios e propostas para a cidade, que incorpora e amplia os conceitos citados. Ou seja, Cidade para Pessoas não é uma novidade para os arquitetos e recebemos estas experiências exitosas com um enorme cartaz de “eu já sabia”.

Já tivemos a oportunidade de assistir no Fronteiras do Pensamento a Manuel Castells, Zygmunt Bauman, Alain de Botton, Gro Harlem Brundtland, Marshall Berman, Enrique Peñalosa, e agora, em 2015, ouviremos Saskia Sassen e Richard Sennett, todos grandes pensadores da cidade contemporânea. Conhecemos bem esta gente toda, são nossos gurus. Asssitiremos também a Janette Sadik-Khan com atenção, para entender melhor seus ensinamentos e aprender com sua boa experiência de Nova York. E também vamos torcer para encontrar por lá, entre os ouvintes, nossos gestores públicos e investidores privados, esperando que estes também estejam atentos ao que a conferencista tem a dizer e comecem a compreender melhor e, principalmente, a praticar a Cidade para Pessoas - ou vamos precisar desenhar para que eles entendam