sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Formatura - PucRS

Meus queridos colegas,

Estou escrevendo para agradecer, mais uma vez, a honrosa homenagem que vocês me prestaram, me escolhendo para ser o paraninfo da turma. Ainda estou sob os contagiantes efeitos da alegria de vocês na emocionante solenidade da formatura. Que super festa!! Parece que foi ontem que vi cada um de vocês assustados em nossa primeira aula do semestre passado, todos muito preocupados com os desafios e demandas propostas pelo TCCII. Naquele momento tudo parecia tão distante e intangível. Mas o semestre passou. Trabalhamos bastante, convergimos e divergimos nos calorosos debates nas bancas intermediárias, vislumbramos cidades, edifícios, espaços e construções melhores pela ótica dos seus tantos projetos defendidos na Banca Final com vigor, talento, convicção e competência. Fizemos, de fato, arquitetura e urbanismo, comprovando o quanto estão preparados para enfrentar o mercado de trabalho. Desejo-lhes muito sucesso nas escolhas dos próximos desafios e muita lucidez e coragem para executar cada um deles, com senso ético e muita responsabilidade. Sejam solidários, sejam bons colegas e contem sempre comigo para o que der e vier! Um beijo carinhoso!

Discurso do Paraninfo
Salão de Atos da PucRS
21/08/2015
17:00h

Componentes da mesa já citados,
Autoridades, familiares e amigos aqui presentes nesta noite de muitas alegrias e festas,
Meus queridos colegas arquitetos e urbanistas:

Foi com imensa alegria e emoção que recebi o convite para ser o paraninfo desta turma de formandos. Esta homenagem que vocês me prestam, como forma de reconhecimento pelo meu trabalho, está entre as maiores distinções acadêmicas que um professor pode receber dos seus alunos. Não é pouco o privilégio de ser trazido por vocês para fazer uso desta tribuna com a nobre missão de conduzi-los da vida acadêmica para os encargos e responsabilidades da vida profissional.

Divido a alegria deste momento com os meus colegas da Fau, principalmente àqueles com os quais divido Ateliês e que, com sua postura comprometida com a qualidade e com as demandas reais do nosso ofício, tem dado grandes contribuições ao ensino de arquitetura e urbanismo e ao reconhecimento de nossa prestigiosa Fau, como uma das melhores do Estado. Assim sendo colegas, minha alegria, emoção e responsabilidade se amplificam pela oportunidade de estar mais uma vez junto de vocês neste importante ritual de passagem para apresentar à sociedade gaúcha a 29ª turma de muito bem preparados arquitetos e urbanistas. Isto é um elo que nos unirá, além da nossa amizade, profissionalmente para sempre!

Vocês muito bem observaram, no belo texto que foi lido pela comissão de formatura quando o convite me foi feito, que esta não é a primeira vez que recebo esta homenagem. Mas devo dizer que a emoção é sempre única! Não apenas por se tratar de uma nova turma, ou pela oportunidade singular de me reciclar com a diversidade dos seus tantos projetos, ou ainda pelo prazer imensurável de me alimentar e renovar com a energia vibrante que habita o coração de todo estudante de arquitetura – com seus sonhos e desejos revolucionários – mas, principalmente, pelo impacto positivo deste convite quando associado ao momento íntimo e pessoal diante da vida, sempre dinâmica e em constante transformação.

O convite veio em boa hora! Num momento de muitas reflexões profissionais e pessoais. Num momento de fortalecimento de convicções sobre os necessários avanços na formatação do ensino superior e sobre as características que o jovem arquiteto do século XXI deve possuir.

A atividade docente é uma experiência apaixonante, mas repleta de altos e baixos. De um lado o prazer do convívio com todos vocês e a oportunidade de participar da revisão e da reconstrução ética e moral da nossa sociedade pela visão transformadora dos seus projetos. De outro, pelo enfrentamento diário das dificuldades impostas por um modelo econômico que transformou de maneira acrítica e massificada a formação universitária em mercadoria, passando por cima de questões pertinentes às reais demandas da sociedade, necessitada dos efeitos benéficos dos mais diversos saberes universitários e do ofício da arquitetura e urbanismo.

Talvez, também por esta razão, vemos as nossas cidades crescendo desordenadamente sem o adequado e criterioso planejamento e com novas edificações e espaços privados e públicos desprovidos de qualidade. Muita construção e pouca arquitetura e urbanismo. Muito temos discutido isso nos diversos ateliês de nossa escola. Portanto, como vocês podem constatar, não são poucas as vezes que, diante destas dificuldades, vamos nos perguntando se estamos agindo certo e se estamos no caminho correto.

Com o reconhecimento de vocês na forma desta emocionante homenagem, posso presumir que estamos juntos trilhando um bom caminho. Um caminho que hoje finaliza e hoje recomeça.

Nossa estimada Fau, às vésperas de completar 20 anos, tem feito esforços imensuráveis para se manter fiel às suas origens e a frente da crise generalizada que o ensino universitário enfrenta em nosso país, permitindo a cada um de vocês a certeza e a segurança de que possuem uma formação diferenciada e de qualidade e, portanto, devem seguir em frente de cabeça erguida assumindo com zelo ético e rigor técnico os desafios profissionais que irão surgir no fazer diário do nosso ofício.

Fazer, de fato, arquitetura e urbanismo é, acima de tudo, construir e reconstruir a paisagem das nossas cidades em maior ou em menor escala. Sempre que projetamos e construímos um novo edifício, estamos, com isto, alterando a paisagem a nossa volta, na maior parte das vezes, por um tempo que supera a nossa própria existência. Neste sentido, saibam que os melhores resultados são aqueles que abrem mão da monumentalidade individual em nome da beleza silenciosa e coletiva, que reconhecem o valor da harmonia entre as partes e o todo, que primam pela construção da vitalidade de uma rua e de uma cidade melhor para se movimentar e viver com dignidade.

Colegas, a qualidade da arquitetura e do urbanismo não se mede pela excepcionalidade, monumentalidade e individualidade, mas pelo seu resultado coletivo, pelo valor agregado à qualidade de vida dos usuários, pelo conjunto de espaços abertos e construções, gerado pelas nossas ações éticas e conscientes. Isto não é uma tarefa fácil por tudo o que o nosso ofício significa e representa.

A arquitetura é arte, ciência e ofício. Arte na medida em que ultrapassa seu papel de abrigo, quando supera a esfera prática e começa a dizer algo sobre os aspectos culturais de uma civilização. É ciência na medida em que se vincula aos processos e métodos científicos de proposição e análise do comportamento humano e das suas necessidades mais elementares, da produção eficiente no canteiro de obras, do controle do consumo energético, dos novos materiais e técnicas construtivas de baixo impacto ambiental. E é ofício, principalmente, pois a partir das nossas ações concretas diárias, transformamos o mundo que nos cerca e vivemos dignamente com o fruto ético do nosso trabalho.

Apesar da carga teórica e de proporcionar altos níveis de prazer estético e plástico, a arquitetura e o urbanismo resultam de um equilíbrio entre a teoria e as demandas estéticas associadas às demandas funcionais, físicas, locais, culturais, técnicas e financeiras. Portanto, meus colegas, continuem lendo muito e estudando sempre, sem parar, mas sem esquecer que a arquitetura e urbanismo é um ofício e deve, portanto, expressar a validade e a viabilidade destas teorias no fazer diário da nossa profissão, na contribuição concreta dos nossos projetos e construções, na qualidade dos espaços, edificações e cidades, no assentar de cada tijolo. A teoria é capaz de formular indagações profundas, mas a arquitetura e o urbanismo não são, no fim das contas, filosofia.

Temos muito que nos preocupar, também, ética e moralmente, com o desenvolvimento sadio da nossa profissão, participando ativamente da política profissional, discutindo, fortalecendo, revisando e divulgando nas entidades de classe, institutos e conselho, os grandes temas do nosso ofício, muitas vezes, deixados de lado na concorrência imposta pela urgência e superficialidade das decisões. O mercado de trabalho atual, com inúmeras oportunidades, mas, também, com perigosas armadilhas, carece de contínua fiscalização e nova formatação, assim como, outras oportunidades de trabalho, ainda adormecidas aguardando por nós, necessitam ser lapidadas com afinco, inovação, experimentação e empreendedorismo.

Mas inovação e empreendedorismo não nascem em qualquer lugar! É preciso, para tal, que o caminho esteja pavimentado com autonomia, investimento e cultura experimental. Para acertar em cheio é preciso experimentar muito. E poder errar sem o medo da crítica. O erro é o registro das possibilidades. Ele está no cerne dos processos criativos que testamos dia a dia no ateliê de projeto e em nossos escritórios. Portanto, não tenham medo de ousar e experimentar. Não tenham medo de errar. Tenham coragem e persistência para repetir, para poderem acertar. Repetir e experimentar exige coragem e, por isso, são a base dos grandes acertos e das ideias verdadeiramente inovadoras, e isto no mercado criativo atual tem muito valor.

Temos a tendência superficial de acharmos que a genialidade de uma grande ideia é fruto do instantâneo de uma única mente privilegiada. Quando fazemos isso, seja por conforto ou para explicar a nossa falta de atitude, damos as costas para o processo coletivo, contínuo e repetitivo das tantas experimentações e erros que vieram antes do acerto e que deram ao acerto o ambiente propício para sua invenção. Ser inovador, criativo e empreendedor não são o resultado de ações isoladas, instantâneas ou divinas. São o resultado de foco, fé e muito trabalho sério na busca de um objetivo.

Portanto colegas, menos crença naquilo que não depende de nós, mais atitude e coragem para tudo que está dentro e depende de nós!

Ao longo destes vários anos que convivemos juntos na Fau, em especial, e com maior intensidade, neste último semestre, convergimos e divergimos nos calorosos debates nos tantos painéis que produzimos. O diálogo coletivo, atento e respeitoso, sempre foi a nossa principal característica, assim como nosso espírito solidário de grupo e de ajuda mútua. Vivemos em um planeta digital, conectados em rede, mas nunca nos comunicamos tão pouco e nunca estivemos tão sós e isolados. Portanto, sempre que possível, evitem o isolamento, pois ele nos leva sempre às ações sem referências e em causa própria, enquanto que a arquitetura, por mais que exija alguns momentos de isolamento inventivo e reflexivo, é a ciência do coletivo. De todos, para todos. Nunca percam de vista esta qualidade. Sermos bons profissionais é nossa obrigação, assim como sermos boas pessoas e bons colegas. Sejam solidários, uns com os outros. Existe um código moral que rege as nossas ações pessoais e um código de ética que passa a reger, a partir de hoje, as nossas relações profissionais.

Somos o que sabemos, acreditamos, pensamos e propagamos, mas seremos sempre lembrados pelo que fazemos. Levem com vocês a certeza do respeito e admiração que tenho por cada um e saibam que podem continuar contando comigo sempre!

Por fim, e como última lição de casa, convoco-lhes a refletirem sobre alguns temas urgentes: sobre a necessidade de praticarmos o nosso ofício valorizando e priorizando o conteúdo e não a imagem. Sobre as armadilhas da arbitrariedade acrítica como conselheira das decisões projetuais. Sobre a necessidade de honrar a tradição sem perder o perfeito e crítico alinhamento com a vanguarda arquitetônica. Sobre a importância de valorizarem os aspectos plásticos e técnicos originalmente brasileiros. Sobre não se deixarem seduzir por ilusórias tendências e pelos superficiais apelos midiáticos e editoriais que tentam pautar a nossa profissão. Sobre o aviltamento da prática do nosso ofício mediante as concorrências desleais. Sobre a importância de atuarem continuadamente na política profissional como forma de fiscalizar e fortalecer as bases legais e éticas do nosso ofício. Sobre a necessidade de concentrarem seus focos nas demandas reais, necessidades plurais e possibilidades concretas dos seus clientes, sem abrirem mão das questões fundamentais da arquitetura e do urbanismo.

Dito isto meus queridos, resta-me apenas estender-lhes a minha mão mais uma vez e chama-los para a vida profissional. Sejam sempre bons colegas, sejam solidários, sejam bons projetistas, sejam bons construtores, sejam, de fato, arquitetos e urbanistas, pois, afinal de contas, projetamos e construímos porque acreditamos no futuro e não há nada que demonstre maior compromisso com o futuro do que o potencial proativo e transformador da nossa profissão.

De coração, muito obrigado por esta homenagem!
Para mim, foi um privilégio e uma honra imensurável caminhar com vocês até aqui!
Contem sempre comigo!

2 comentários:

Giulia Brissac Tarasconi disse...

Lindo o Discurso Prof. Bregatto!
Obrigada pelas lindas palavras.
Foi uma honra te ter como nosso paraninfo!

Paulo Ricardo Bregatto disse...

Giulia querida, a honra foi minha pela oportunidade mágica de compartilhar a alegria contagiante de vocês e daquela formatura linda. Muito sucesso daqui para frente! Conte sempre comigo!