quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Andar de balanço...

Já nem lembrava mais da última vez que andei de balanço. Sim, falo daquele brinquedo de embalar para frente e para trás que tem em qualquer pracinha. Hoje não fui para o escritório trabalhar. Resolvi ficar em casa com a família curtindo as últimas horas deste ano que finda. Meu balanço pessoal é de que o ano foi bom!! Poderia ter sido melhor? Sempre poderia...

Todo ano, nos últimos anos, no último dia do ano, eu ia para o escritório, naquela falsa ilusão (as ilusões são falsas?), de que todas as coisas que eu não tinha conseguido fazer ao longo de todo o ano - seja por falta de tempo, seja por total falta de vontade – eu conseguiria fazer em suas últimas horas.

Claro que, desde algum tempo, eu já vinha me dando conta de que, num processo seletivo natural da vida, toda estas coisas que não tinham sido feitas até então, na realidade eram aquelas coisas, cuja importância (ou total falta dela), numa escala de valores de 0 a dez, deveriam estar lá pelo 2 ou 3 e, portanto, se fossem feitas no último dia do ano ou no primeiro, não faria a menor diferença.

Então, num ato sublime de coragem, e total desprendimento do sentimento de culpa, fiquei em casa. E estou me dando conta, diante de todas as coisas importantes que fiz hoje, que minha decisão não poderia ter sido melhor.

Acordamos, tomamos nosso café da manhã, ouvimos música, lemos, brincamos com os infinitos brinquedos do Pedro, almoçamos no clube, fomos na piscina, observamos as borboletas que tem nas árvores da pracinha aqui em frente de casa, jogamos bola e o principal: andamos de balanço na pracinha.

Nossa, quanta coisa legal passou pela minha cabeça naquele momento em que me vi sentado naquele balanço. Vencido o inevitável sentimento estranho de estar tomando o lugar de alguma criança, logo me dei conta que o processo complexo de se embalar ainda residia em algum lugar da minha memória espontânea. Sentar, segurar as correntes, dar o impulso para trás com as pernas e soltar o corpo. E claro, depois destas operações iniciais, pernas esticadas para frente e pernas encolhidas para trás para dar seqüência ao movimento.

Que experiência fantástica para o último dia do ano. Eu num balanço e o Pedrinho no outro. Confesso que diante da provocação do Pedro para uma corrida para ver quem ia mais alto, me vi tomado por um sentimento infantil de competição, andando e embalando cada vez mais alto, e quase esquecendo que ele tem apenas 5 aninhos e, portanto, suas perninhas curtas não permitem vôos muito altos.

O mais legal de tudo foi ir lembrando, ao longo desta divertida brincadeira, das coisas que podemos fazer andando de balanço. Lembrei do quanto era legal jogar os chinelos de dedos para o alto quando o balanço ia para frente, dos 'solavancos' quando aproximávamos as duas correntes uma da outra e largávamos bruscamente, da guerra nos balanços fazendo-os se tocar lado a lado, de como era legal andar em pé no balanço, de sacanear as meninas que andavam ao nosso lado arrastando os pés no chão e levantando a maior poeira do areão, da coceira que dava na palma das mãos de tanto segurar as correntes com as mãos suadas, do próprio cheiro das correntes desgastadas, com alguma ferrugem e já com a tinta descascada e da grande e perigosa aventura de saltar para frente com o balanço ainda em movimento!!! Quando fiz isto hoje e vi nos olhos do meu menino a expressão de espanto, além de ter me sentido “o cara”, lembrei do quanto são importantes estas brincadeiras de rua.

Me criei na rua com os amigos da rua. Os jogos de bola no campinho de grama desgastado, as peladas nas calçadas, o jogo de 'bobinho', as idas e vindas constantes na pracinha, os jogos de taco ainda com casinhas de varetas e tacos fabricados com velhos pedaços de madeiras, os jogos de bolinha de gude, as brincadeiras de 'chimpa' (jogo feito de cascalho de seixo rolado), os passeios de bicicleta pelas ruas do bairro, as matines nos cinemas Estrela, Rei e Real, as casinhas nas árvores, os carrinhos feitos com latas cheias de areia, andar de arquinho pelas calçadas, entre outros.

Certamente, minha decisão foi acertada. Minha única resolução para o próximo ano está feita. Daqui para frente, nos próximos finais de ano, podem ter a certeza de que jamais me encontrarão no escritório. Minha metáfora de passagem de ano será sempre andar de balanço. Ano vem, ano vai. Afinal, a vida e muitas de suas coisas, fatos e emoções são cíclicas. Nesta manhã quente e ensolarada de verão, remocei alguns anos. Bem, se não remocei, ao menos lembrei da importância de brincar muito e de ser criança de vez em quando. Hoje pela manhã na pracinha fizemos mais um novo amigo. O Giancarlo, que vai fazer 4 aninhos no dia 18 de janeiro próximo. Lá pelas tantas, entre as correrias e várias brincadeiras ele olhou para mim e para o Pedro e disse: vcs querem ir na minha festinha de aniversário? Muito legal isto!!! Como sempre, as crianças nos ensinando a não ter barreiras, conflitos, diferenças e defesas exageradas que inevitavelmente vamos construindo diante das várias adversidades da vida.

Jamais teria vivido estas ótimas lembranças e emoções estando no escritório.

Como escrevi no primeiro blog deste ano que termina (2 de julho de 2008), minha mesa continua cheia de pequenos papéis estranhos, coisas para revisar, alguns projetos em andamento aguardando ajustes, protocolos aguardando aprovações intermináveis, outros croquis sobre a mesa esperando conclusão e uma pequena maquetinha expedita de uma casinha hipotética, na praia ou na serra (não faz muita diferença pois ainda não tenho o terreno) que estou fazendo para mim e que eu não consigo terminar!!

Aproveito para agradecer e retribuir os vários e-mails de felicitação pela passagem do Natal e os votos de um feliz 2009. Desejo-lhes muita paz, alegria, saúde, fé em dias melhores, amigos, trabalho, grana, tolerância, coragem e muito amor nos corações.

Um super abraço aos meus amigos de fé e irmãos camaradas!!

Força e Honra
Saudação Romana

2 comentários:

Anônimo disse...

grande prb. quanto mais véio, mais sábio! esse foi um dos melhores posts teus que li. não sei se pelo momento, se pela situação, se pelo ano que terminou ou se pela espectativa do que começa. só sei que fez bem.

abração,

g

Paulo Ricardo Bregatto disse...

Querido amigo,
Espero que tudo esteja super bem contigo e que a virada de ano tenha te oportunizado aquele "momento" para as necessárias reflexões sobre o que fizemos e, principalmente, sobre o que temos que fazer!!
Um super 2009 pra vc com muita paz, alegria, saúde e amor!!
Abração do véio!!