quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A lógica da beleza

Certas formas capturam nosso olhar e mexem com nossos sentidos bem mais do que outras, e isso tem uma razão muito precisa e, ao mesmo tempo, encantadora como nos diz o arquiteto húngaro György Doczi no livro ‘O Poder dos Limites’ (ed. Mercuryo).

“Quando examinamos profundamente o padrão de uma flor, uma concha ou o balanço de um pêndulo, descobrimos aí a perfeição, uma ordenação incrível, que desperta em nós o maravilhoso que experimentávamos quando crianças. Algo infinitamente maior do que nós se revela e percebemos que o ilimitado emerge dos limites, dos padrões bem definidos”.

Por volta do final do século 12, o matemático italiano Leonardo Pisani, também chamado Fibonacci, depois de muitos cálculos e da observação da natureza, chegou a uma fórmula numérica provando que do retângulo perfeito derivam um quadrado e um outro retângulo perfeito, que, por sua vez, remetem a outro retângulo e a um quadrado perfeito e assim por diante.Com a repetição dessas formas geométricas – triângulos, retângulos, círculos – em proporções harmoniosas, cria-se uma série de espirais, que são a essência da vida com o nos assegura o arquiteto Roberto Pompéia, professor da Universidade de Campinas (Unicamp) e estudioso das formas geométricas na natureza.

“Não existe vida sem a espiral. Ela é a transição, a transformação. Se não houvesse o movimento espiralado, as flores não se abririam, as galáxias não existiriam”.

E ele tem razão: o embrião humano é uma espiral – e vai se virando dentro do útero num movimento espiralado até nascer, assim como um broto de samambaia. Um caracol ou um bichinho minúsculo chamado náutilo, que nasce grudado a um grão de areia no fundo do mar, vão construindo suas casinhas na medida em que crescem. A seqüência dessas câmaras é uma espiral e, portanto, tem a proporção áurea.

Outros exemplos da natureza? As formações dos cristais de rocha e de gelo, a estrela do mar, a rosa, a petúnia, o jasmim-estrela, a teia de aranha, os rabos dos cavalos marinhos, os furacões! Tudo está organizado segundo os números e as fórmulas matemáticas, dizia Pitágoras, matemático grego do século 6 a.C.

“O homem tem dentro de si, no código genético, um determinado padrão também em forma de espiral. Somando-se a ele sua cultura, seus agregados sociais, suas divergências, seu modo de entristecer-se, sua maneira de amar e de enlevar-se, você perceberá, como resultado, uma organização e uma harmonia”. Luis Barco, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

O que faz o artista na pintura, na escultura é ler a natureza em toda a sua plenitude.

“As grandes idéias são intuitivas. Depois vem um teórico, por exemplo, o matemático Fibonacci, e explica. Mas uma coisa é certa: quando uma relação é harmônica, ela agrada aos olhos. E terá sido criada – ou recriada com base na observação! – por um intelectual ou por um jardineiro”, diz o professor Luis Barco.

A mesma proporção áurea é usada pelos artistas e arquitetos desde a antigüidade. É ela que cria a harmonia entre os traços de um rosto ou entre os elementos de um quadro. Por que a Monalisa é tão atraente? Porque seus olhos, sua boca, suas mãos, seu vestido obedecem a essas regras matemáticas, dominadas com perfeição pelo pintor italiano Leonardo da Vinci (século 16). Por que ir à Grécia é tão fascinante? Por que lá estão edifícios de rara beleza construídos com base no casamento sublime das formas geométricas.

E, pensando bem, isso não vale só para as formas, mas para tudo nesta vida. Afinal, respeitar e integrar as diferenças entre as pessoas, por exemplo, cria muita harmonia. Mais um motivo para prestar atenção nessa organização maravilhosa que rodeia todos nós e perceber a beleza de cada coisa, de cada instante.

Ainda nas palavras do arquiteto Doczi:

“A proporção áurea tem o poder de criar harmonia porque une diferentes partes, de tal forma que cada uma mantém sua identidade e ao mesmo tempo se integra ao todo. Ela nos mostra que as limitações não são apenas restritivas mas também criativas”.

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