domingo, 1 de fevereiro de 2009

Roma

De todos os lugares que visitei em minhas viagens de estudos e férias - que para um arquiteto são sempre a mesma coisa -, sem dúvidas, a cidade que mais me fascinou (e fascina até hoje) é Roma. Tive duas vezes nesta cidade por períodos curtos que variavam entre 5 a 7 dias. Nos meus planos imaginários de viagens futuras está uma exclusivamente para lá. Suas ruas, suas edificações novas e antigas, sua história, suas pessoas, suas cores, suas diferenças, entre outras tantas coisas que, certamente, me fariam repetir tudo aquilo que diriam as pessoas que esteviram lá e gostaram da cidade como eu gostei.

Minha fixação por esta cidade vem desde antes dos estudos aprofundados que fiz sobre ela quando estudante da faculdade de arquitetura. Vem ainda dos livros de história do colégio. Lembro na minha infância de um livrinho muito especial - que eu infelizmente não sei que fim levou e que certamente o Pedro adoraria - onde páginas impressas com fotografias atuais de cenas e lugares da cidade eram sobrepostas e complementadas por uma página transparente reproduzindo a grandeza destes lugares no seu aspecto original. Lembro de passar horas folheando este livreto e imaginando a vida das pessoas daquela época.

Então, já na faculdade de arquitetura, consegui entender melhor sua história e aspectos gerais de sua arquitetura e urbanismo. Quando estive lá pela primeira vez em 2001 - minha Odisséia em Roma - senti uma emoção indescritível. Olhar e tocar aquelas edificações, andar por suas ruas alegres e coloridas, sentir o conflito harmônico da Roma Imperial a apenas 2 metros do nivel da rua da Roma atual, suas ruínas, suas edificações contemporâneas, seus diálogos indecifráveis - mesmo para quem conhece a língua, enfim, tudo aquilo que caracteriza e qualifica esta cidade fantástica e que permanece para sempre no coração de quem a ama.

Voltei em 2003 - acho que foi de lá que eu trouxe o Pedrinho na bagagem - e senti aquela angústia de querer ver tudo o que eu já tinha visto e ver mais uma porção de coisas novas, tendo quase o mesmo tempo de permanência na cidade. Nosso maior prazer nestas viagens é fazer turismo de rua. Ficamos pouquíssimo tempo dentro dos hotéis. Acordamos super cedo, tomamos nosso reforçado café da manhã e, dali mesmo, já saímos para a rua com o roteiro do dia praticamente armado - feito, em parte, antes da viagem e, em parte, durante as noites, tomando sempre um belo vinho nacional comprado no mercadinho da esquina. Retornamos para o hotel somente quando nossos pés já não cabem mais dentro dos sapatos.

Meu bom amigo Degani, tão logo soube que eu seria pai, envolto na emoção da minha alegria e conhecendo meu amor pelas viagens, me disse: Brega, te prepara para viajar somente daqui a uns 5 ou 6 anos, quando teu filhote já estiver grandinho. Revidei na hora. Nada disto, junto grana durante um ano, para no próximo sair em viagem!! Em seguida meu revide se mostrou precipitado, pois eu não tinha a menor idéia do que seria criar e se dedicar para um filho. Desde então minhas viagens tem sido mais curtinhas. O Pedrinho faz 6 aninhos em outubro deste ano e nós já começamos a achar que estamos em condições novamente de alçar vôos um pouquinho maiores. Tomara que sim. Espero não tomar nenhuma vaia quando eu colocar Roma novamente no nosso roteiro de viagem. E é claro, para querer ver novamente todas as coisas que já vi!

A origem da sociedade romana não tem uma evidência concreta. Baseia-se numa lenda, que era uma maneira antiga de explicar fatos cuja memória se perdeu em tempos muito distantes. Assim, o poeta romano Virgílio alimentou a fantasia de seu povo ao contar que Roma teria sido fundada por dois irmãos: Rômulo e Remo.

Segundo a mitologia, os romanos descendem de Enéas, um herói troiano que conseguiu escapar quando os gregos destruíram sua cidade, possivelmente no século 15 a.C. Filho de Vênus, a deusa do amor, Enéas passou por muitas aventuras até chegar à Itália, onde seu filho Ascânio fundaria Alba Longa, o núcleo da futura Roma, que seria fundada por seus descendentes Rômulo e Remo, em 753 a.C.

Rômulo e Remo eram irmãos gêmeos e, após o nascimento, foram atirados ao rio Tibre por ordem de Amúlio, usurpador do trono de Alba Longa. No entanto, conseguiram chegar às margens no sopé do monte Palatino e sobreviveram, sendo amamentados por uma loba. Criados por camponeses, ao chegar à idade adulta, depuseram o usurpador e restituíram ao trono seu avô, Númitor, de quem receberam a missão de fundar uma nova cidade na região do Lácio.

Os dois haviam sido abandonados pelo pai ao nascer e só sobreviveram por terem sido alimentados por uma loba. O fato é que os irmãos cresceram, vingaram-se do pai e receberam a missão de fundar uma cidade no local onde foram encontrados pelo animal. Essa lenda criou também a data exata do 'nascimento' de Roma: os irmãos teriam fundado a cidade em 753 a.C. O próprio nome dessa localidade derivou do nome um deles (Rômulo), que acabou matando seu irmão Remo devido a disputas políticas.

Como se pode ver, a origem de Roma foi inventada através de uma história que misturava o instinto animal - simbolizado pela loba que amamentou os irmãos -, com o nascimento de algo novo - a cidade fundada num lugar deserto -, retornando aos instintos agressivos no final -simbolizados na rivalidade entre os irmãos e no assassinato de um deles. Assim, essa origem imaginada serviu para os vários imperadores que a governaram justificarem o caráter agressivo e conquistador dessa sociedade romana.

No local escolhido, o monte Palatino, às margens do Tibre, Rômulo traçou um sulco no chão com um arado, demarcando a sua propriedade. Insatisfeito, Remo saltou essa linha sobre a terra, desafiando o irmão, que o matou. Rômulo fundou seu povoado, onde acolheu fugitivos de diversas partes da Itália. Sobre eles reinou durante muito tempo, até desaparecer misteriosamente numa tempestade e se transformar no deus Quirino, uma das principais deidades mitológicas dos romanos.

Se não temos dados concretos sobre sua fundação, podemos começar a contar a história de Roma, a partir da monarquia (753 a 509 a.C.). Nesse período, o meio de subsistência principal daquele povo era a agricultura. A sociedade romana dividia-se em quatro grupos, segundo a posição política, econômica e social de cada pessoa: havia patrícios, plebeus, clientes e escravos.

Monarquia
De 753 a.C. (data tradicional da fundação de Roma) a 509 a.C. (derrota dos Tarqüínios).

República
De 509 a.C. (proclamação da República) a 27 a.C. (Otaviano recebe o Senado o título de Augusto).

Império
De 27 a.C. a 476 d.C. (queda do Império romano do Ocidente).

A data lendária (753 a.C.) da fundação de Roma não representa o período mais antigo de ocupação do local onde a cidade surgiu. Vestígios de povoação foram encontrados e remontam à Idade do Bronze. É provável que a cidade tenha surgido de um forte erguido pelos habitantes do Lácio (latinos e sabinos) para defender-se dos etruscos, que dominavam parte da península Itálica. Roma surgiu no topo do monete Palatino e se expandiu graudalmente pelos outros seis montes vizinhos, o Esquilino, o Célio, o Quirinal, o Viminal, o Capitolino e o Aventino. Mas a cidade não parou de crescer ao longo dos séculos.

Primitivamente, a economia romana era baseada em atividades agrárias e pastoris. A propriedade de terra era a base da riqueza, o que evidencia o caráter aristocrático dessa sociedade. Os proprietários de terra eram o grupo social dominante, sendo chamados de patrícios. Através de laços familiares formavam clãs que compreendiam também os parentes pobres que prestavam serviços e eram conhecidos como clientes. Finalmente, quem não pertencesse ao clã era chamado de plebeu. Esse grupo era formado por artesãos, comerciantes, estrangeiros e pequenos proprietários de lotes pouco férteis.

Nesses primeiros tempos, os romanos levavam uma vida simples, trabalhando no campo e alimtando-se de sua própria produção. A modéstia e a disciplina eram consideradas virtudes essenciais. A família era uma instituição sagrada e seu chefe - o pater famílias - tinha poder e direitos ilimitados sobre a mulher, os filhos, os escravos e os bens. O velhos eram respeitados e serviam de exemplo à comunidade. A religião - baseada no culto aos antepassados e a uma multidão de deuses - estava presente em todos os aspectos da vida cotidiana e também tinha um caráter cívico, ou seja, estava ligada à cidade e ao Estado romano.

A palavra 'patrício' (do latim pater, pai) indicava o chefe da grande unidade familiar ou clã. Esses chefes, os patrícios, seriam descendentes dos fundadores lendários de Roma e possuíam as principais e maiores terras. Eles formavam a aristocracia, sendo que somente esse grupo tinha direitos políticos em Roma e formava, portanto, o governo.

Já os plebeus eram descendentes de populações imigrantes, vindas principalmente de outras regiões da península Itálica, ou fruto dos contatos e conquistas romanas. Dedicavam-se ao comércio e ao artesanato. Eram livres, mas não tinham direitos políticos: não podiam participar do governo e estavam proibidos de casar com patrícios.

Num outro patamar, vinham os clientes, também forasteiros, que trabalhavam diretamente para os patrícios, numa relação de proteção e submissão econômica. Assim, mantinham com os patrícios laços de clientela, que eram considerados sagrados, além de hereditários, ou seja, passados de pai para filho.

Por fim, os escravos, que inicialmente eram aqueles que não podiam pagar suas dívidas e, portanto, tinham que se sujeitar ao trabalho forçado para sobreviver. Depois, com as guerras de conquista, a prisão dos vencidos gerou novos escravos, que acabaram se tornando a maioria da população.

As conquistas aos outros povos e regiões trouxeram o crescimento das atividades comerciais e das negociações em moeda. A riqueza se concentrou ainda mais nas mãos dos patrícios, que se apropriavam das novas terras. Isso tudo dividiu profundamente a sociedade romana entre ricos (aristocratas) e pobres (plebeus), além da grande massa de escravos que ia se formando. Também os membros do exército, enriquecidos pelas conquistas e saques, tornaram-se uma importante camada social.

A expansão romana iniciou-se na República (509 a 27 a.C.), por meio das lutas contra os povos vizinhos para obterem escravos (séculos. 5 a 3 a.C.). Depois disso, expandiu-se para a Grécia (séc. 3 a.C.), Cartago (cidade africana que controlava o comércio marítimo no Mediterrâneo) e Macedônia (com a conquista da Grécia, havia formado um grande império), sendo estas duas cidades conquistadas no séc. 2 a.C. Na seqüência, o Egito, a Britânia (que corresponde aproximadamente à atual Grã-Bretanha) e algumas regiões da Europa e da Ásia foram conquistados no séc. 1 d.C.

Desde sua origem, Roma fora governada por reis. Um deles foi expulso por tirania em 509 a.C. e o governo da República se estabeleceu, propondo uma nova divisão de poderes entre o Senado, os Magistrados e as Assembléias. Com as conquistas militares de novos territórios, os generais do Exército acumularam muitos poderes políticos e para deterem as revoltas dos povos dominados, resolveram concentrar o poder. Júlio César era um general que havia conquistado a Gália em 60 a.C. Depois disso, deu um golpe em Roma, atacando-a no ano de 49 a.C. e proclamando-se ditador perpétuo (ou seja, governaria com poderes ilimitados até a sua morte). Foi nesse mesmo ano que conseguiu dominar o Egito. No entanto, nem ele nem seu governo tiveram vida longa: foi assassinado pelos próprios romanos em 44 a.C.

Com a morte de Júlio César, três líderes políticos governariam juntos. Um deles, Otávio, derrotou os outros e foi o primeiro imperador romano em 31 a.C., recebendo do Senado os títulos de Princeps (primeiro cidadão), Augustus (divino) e Imperator (supremo). Passou para a história com o nome de Augusto, embora essa denominação acompanhasse todos os imperadores que o sucederam. Roma teve 16 imperadores entre os séculos 1 e 3 d.C. A partir daí, começou a desagregação do Império e o descontrole por parte de Roma dos povos dominados.

Entre os séculos 3 e 4 d.C., o imperador Dioclesiano dividiu o Império Romano numa parte ocidental e noutra oriental. Constantino, o imperador seguinte, tomou duas importantes medidas: reunificou seus domínios, tornando a capital do Império Romano Bizâncio (depois chamada de Constantinopla e, hoje, Istambul, na Turquia), localizada na parte oriental dos domínios romanos e legalizou a prática do cristianismo.

Finalmente, Teodósio, um dos últimos imperadores, tornou o cristianismo religião oficial de todo o Império e dividiu-o novamente em duas partes, sendo as capitais Roma e Constantinopla. A primeira foi dominada pelos povos germanos em 476 e marcou o fim do Império Romano do Ocidente. A segunda foi dominada em 1453 pelos turcos e marcou o fim do Império Romano do Oriente.

De resto, com o passar dos tempos, os deuses romanos foram se identificando com os deuses gregos, devido à grande influência que a Grécia - embora fosse dominada por Roma - exerceria sobre ela e sua cultura. Na verdade, a arte grega foi uma das fontes principais da arte romana. A arquitetura talvez tenha sido a única das artes de então em que os romanos produziram inovações efetivas, em particular devido ao seu pragmatismo. Se para os gregos as principais construções eram os templos, para os romanos importavam os reservatórios de água, os aquedutos, os edifícios públicos, como os tribunais, os circos e os mercados.

Para Roma, o Estado estava acima de tudo e quem estivesse a serviço da res publica (coisa pública) deveria respeitar os deuses, ser leal e corajoso e ambicionar a glória - virtudes que evidenciam o caráter guerreiro que logo se manifestou entre os romanos. A vida do cidadão era regulamentada por leis, que podiam dizer respeito aos negócios do Estado (direito público) e às relações entre famílias e particulares (direito privado). No entanto, essas noções bem como as instituições que as traduziram na prática não datam do primeiro momento da história romana, o período monárquico, mas sim do período republicano. Isso, porém, nos obriga a deixar de lado esse esboço das origens e da organização sócio-cultural de Roma para entrar em sua história política - o que requer um capítulo à parte.

Meu querido amigo Gabriel Gallina, numa conversa animada ontem durante um longo jantar entre amigos do peito, me fez uma crítica construtiva sobre o tamanho exagerado das postagens. Então, vou parando por aqui mesmo sabendo que em nosso próximo encontro vou levar outro puxão de orelhas. Numa outra postagem falo mais sobre os lugares legais para se ver em Roma e sobre a alegria de sentar nas escadarias da Scalinata di Spagna para curtir o calor do final de tarde que aquele belo pôr-do-sol sempre nos proporciona.

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