quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Fórum Romano

O ano foi 2001. Para ser mais exato, 12 de fevereiro de 2001. Foi a primeira vez que visitei Roma e, em especial, o Fórum Romano. Eram 14h e, enquanto esperávamos ansiosos pela chegada dos queridos amigos, Pery e Janise, vindos de Porto Alegre, corremos ao Fórum Romano para saciar uma curiosidade que, naqueles dias que antecederam a nossa chegada, estava me consumindo.


Era o nosso período de férias e tínhamos planejado ao longo do ano um roteiro a partir de Madrid, passando por Barcelona, Roma, Londres e finalizando, em grande estilo, em Paris. Nossa viagem foi muito bem organizada e planejada pela nossa querida amiga Ana Ce. Nada, absolutamente nada, deu errado. Por esta razão sempre que vamos viajar sempre vamos falar com a Ana. Sabe como é: tradição não se muda.

Os nossos amigos se juntariam ao nosso roteiro em Roma, para juntos, a partir dali, seguirmos viagem. Chegamos à Roma, vindos de Barcelona, com poucas horas de antecedência e como cada hora numa terra desconhecida vale ouro quando o tempo é curto, saímos correndo rua à fora para sentir o astral da cidade.

Ficamos hospedado no Grande Hotel Palatino, na Via Cavour, quase em frente à escadaria que dá acesso à Igreja de San Pietro in Víncoli, que contém além das correntes que aprisionaram São Pedro na Prisão Mamertina, a estátua majestosa de Moisés, de Michelangelo.

Sei que foi por minha total insistência que corremos dali, com a ansiedade de uma criança, em direção ao Coliseu, pela Via degli Annibaldi, tendo a agradável surpresa da conhecida e bela perspectiva vista dali em direção ao Coliseu.

Um pouco mais de 800 metros separam o centro do Coliseu do centro da Piazza Del Campidoglio. No entanto, neste pequeno pedaço de terra, quase 1.000 anos separam a primeira da última construção. Lembro do meu espanto diante do conhecimento do tamanho desta gleba. Nos meus pensamentos e na leitura que eu fazia dos mapas – antes do Google Earth – eu tinha a sensação de que o território fosse bem maior. Depois tomei conhecimento – o que atenuou o impacto inicial – de que o Fórum era na realidade uma sucessão de vários fóruns erguidos pelos imperadores ao longo do tempo.

Sei que a emoção que senti, em grande parte, foi motivada pela lembrança dos livros de história ainda da época da escola, em especial aquele livreto clássico – que muitos trazem de suas viagens – contendo as fotos atuais sobrepostas por lâminas transparentes mostrando o esplendor das construções em sua época áurea. Quase que diariamente, nos intervalos das aulas da escola fundamental – eu corria para a biblioteca para ficar olhando estas imagens fantásticas do passado e do presente desta gloriosa civilização.

Algum tempo depois, ao longo da faculdade de arquitetura e urbanismo, a simpatia e predileção por esta cidade foi crescendo gradativamente, na medida em que fui conhecendo um pouco mais de sua história e cultura e fui, também, por exigência disciplinar, estudando alguns dos seus edifícios importantes e exemplares.

Como sabemos, o Fórum foi o centro da vida política, comercial e judiciária da antiga cidade. As basílicas eram os prédios maiores, onde eram discutidas as questões jurídicas. Segundo o dramaturgo Plauto, esta área da cidade atraía muitos ‘advogados e litigantes, banqueiros e corretores, comerciantes, prostitutas e vadios’ esperando por uma gorjeta dos mais abastados.

À medida que crescia a população de Roma, o Fórum tornou-se muito pequeno e em 46 a.C., Júlio César construiu outro, estabelecendo um precedente seguido pelos imperadores, de Augusto a Trajano.

Nesta pequena gleba, a leste, o imperador Vespasiano ergueu o Coliseu (72 d.C.), centro de entretenimento para depois do trabalho, assim como outros tantos imperadores ergueram, para si mesmos, arcos triunfais.

Uma das vistas mais espetaculares, a oeste, podemos ter a partir da área de fundos do Campidoglio. Deste ponto de vista podemos observar o traçado da via principal com suas várias edificações.

Ainda é possível se ver as ruínas do Templo de Júlio César, que foi erguido por Augusto em sua homenagem no local de cremação de seu corpo após seu assassinato em 44. a.C. O mais surpreendente é ver que neste local, coberto por uma atual estrutura em madeira com duas águas, as pessoas ainda acendem velas e deixam flores e oferendas, como que referenciando o imperador.

Até o século 18, quando se iniciaram as escavações arqueológicas, o Arco de Sétimo Severo (203 d.C.) e as colunas do templo de Saturno (século 4 d.C.) estavam semi-enterradas. Reza a lenda que sob o arco central desta construção, no século 19, funcionava uma barbearia. É muito bonito de ver as constantes escavações e catalogações de todos os achados, marcados por singelas e visíveis pequenas etiquetas de papel.

Caminhei várias vezes neste local histórico e sagrado ao longo deste breve período que estivemos em Roma. Entre um passeio e outro, ou ainda, quando o nosso pequeno e seleto grupo de viagem se dissipava ou optava por outros roteiros, eu fugia do hotel e corria para o Fórum. Não era muito difícil saber onde eu poderia estar naqueles breves momentos de sumiço em Roma: bastava me procurar no Fórum.

De Roma fomos ainda para Londres e finalizamos o nosso passeio em Paris, onde comemoramos em grande estilo o aniversário das nossas mulheres (a Narinha e a Janise fazem aniversário no dia 26 de fevereiro). Desnecessário dizer que em todas as cidades que fomos, desde que saímos de Roma, fomos surpreendidos pelas belezas de cada lugar, mas não posso deixar de dizer que ao longo do restante da viagem Roma ficou no meu coração. Onde ainda está até hoje.

Voltamos à Roma em 2003 (acho que trouxe de lá o Pedrinho na bagagem), noutra breve e divertida viagem de férias e, é claro, voltei ao Fórum para ver se todos aqueles prédios e suas pedras soltas pelo sítio ainda estavam lá. Que bom, ainda estavam. E voltei, também, para ver se eu tornaria a sentir o que senti pela primeira vez. Então, descobri que se tratava de amor verdadeiro, pois ali estando experimentei a agradável sensação de não querer estar em nenhum outro lugar.

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