terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Inventando o Meio Ambiente

Lewis Mumford

Ainda com relação ao livro Ecologia – uma estratégia para sobrevivência, quem abre a explanação sobre o assunto apresentando seu pensamento é Lewis Mumford. Na realidade ele estudou e escreveu pouco sobre a ecologia por si mesma, mas, num sentido mais amplo, o ambiente do homem foi uma das suas maiores preocupações. Entre os ecologistas profissionais e os que se dedicam ao meio ambiente, Mumford foi sempre considerado como uma espécie de velho guru. Por esta razão e pela profunda contribuição do seu trabalho focado nos grupos humanos e na vida urbana, ficou ao seu encargo o primeiro capítulo do livro.


Sociólogo, escritor e professor norte-americano nascido em Flushing, New York, que analisou, em seus vários trabalhos, os efeitos da tecnologia e da urbanização sobre os grupos humanos ao longo da história. Estudou no City College nova-iorquino e na New School for Social Research. Colaborou em publicações culturais, e seus primeiros textos publicados, tanto em jornais quanto em livros, firmaram sua reputação como escritor interessado pelas questões urbanas.

De todos os homens de saber cujos pensamentos e trabalhos ajudaram a preparar o terreno para a revolução ambiental ele foi um dos mais notáveis. Seu nome está muito estreitamente ligado à arquitetura contemporânea, ao planejamento urbano e à história e forma das cidades. Desde o começo da década de 30 ele foi reconhecido como o crítico da tecnologia indiscriminada.

A ecologia sempre fez parte do seu modo de pensar:

“Gozo de uma imerecida reputação como promotor da ecologia, coisa que, realmente, nunca fiz. Acontece que ela sempre foi parte da minha vida e nunca um assunto à margem.Penso no complexo inteiro, em todo o meio ambiente e não em termos de alguns dos seus fragmentos. Isto é pensamento ecológico, embora não pense em ecologia quando faço isto, mas sim em qualquer outra coisa.”

De sua leitura conseguimos extrair, com muita clareza, a noção da origem do termo ecologia. No século XiX, uma crescente apreciação por tudo o que distinguia o mundo dos organismos vivos do mundo das máquinas fez com que surgisse uma nova visão de todo o processo cósmico.

Era uma visão profundamente diferente daquela oferecida pelos que alienavam de sua concepção do mundo os atributos essenciais e qualitativos da vida, suas expectativas, seus ímpetos, sua revolta, sua criatividade e sua capacidade para, em circunstâncias excepcionais, transcender às limitações físicas ou orgânicas.

O nome dado e essa ‘nova’ visão da vida só mais tarde foi consagrado como ‘ecologia’, quando, então, já começava a ser sistematicamente examinado.

Desde o século XVII, os anseios do homem para dominar a natureza e os seus semelhantes só serviram para fazer com que ele trilhasse caminhos errados. O poder sobre a natureza foi conseguido por um alto preço, uma vez que os métodos e a ideologia dependiam do fracionamento dos fenômenos naturais em parcelas controláveis e neste caminho tortuoso, o homem foi perdendo o sentido da vida como uma grande teia, que é o principal ensinamento da ecologia.

Antes de se tornar escritor e professor (1942-1985) de ciências humanas e planejamento urbano e regional em várias universidades americanas e em diversos países do mundo, Mumford tentou se tornar um autor teatral, mas malogrou devido ao fato de suas peças jamais terem sido encenadas. Anos depois, trabalhou como editor do jornal de literatura e política Dial, onde conheceu Sophie Wittenber, sua esposa.

Escreveu 29 livros, grande parte tematizando a vida urbana, da qual foi um crítico incansável, desde a estréia com The Story of Utopia (1922). Sua vida literária deslanchou depois dos seus 30 anos de idade, com obras como Technics and Civilization (1934), Culture of Cities (1938) e Men Must Act (1939), além de ter iniciado a tetralogia The Conduct of Life (1934-1951). O seu livro mais conhecido foi The City in History (1961), cuja publicação da obra lhe valeu o US National Book Award, importante premiação literária norte-americana. Também foi agraciado com a Medalha Nacional de Arte (1986), dada pelo então presidente Ronald Reagan, mas não pôde comparecer à cerimônia de entrega, ocorrida na Casa Branca.

A teoria de Mumford é que, aos poucos, o homem foi desprezando o mundo da natureza, ao sentir que seu próprio espírito já a tinha ultrapassado e que suas máquinas poderiam encarregar-se das funções essenciais. Ele nos mostra que o estudo da ecologia dos sistemas naturais é o contrabalanço para este ponto de vista arrogante. Mas ao mesmo tempo alerta que as complexidades ecológicas da existência são maiores do que o espírito humano, embora uma parte dessa riqueza seja parte integral da própria natureza do homem.

Para ele, a abordagem ecológica do desenvolvimento é fundamental. Para consegui-la temos que entender a forma como a própria vida funciona. Nenhuma parte da vida pode ser considerada separadamente. Não existe esta coisa do organismo sem o seu ambiente, da mesma forma que também não existe na Terra um ambiente sem organismo. Até mesmo os ambientes mais áridos possuem organismos. Esta interação está sempre presente, e isto é o que é a vida.

Ainda assim, apesar de todo o barulho feito por Mumford e por outros que pensavam como ele, foi somente quando o povo começou a ser diretamente afetado pela deterioração do ambiente que as coisas começaram a acontecer.

Em suas palavras:

“Quando alguém se vê apanhado em um engarrafamento numa ponte em São Francisco e percebe que está ficando com dor de cabeça e sentindo-se indisposto devido à combustão de gasolina, então já é hora de pensar. É experiência da poluição que traz um resultado. Basta provarmos a água que bebemos para saber que ela está contaminada. Existe um momento em que todo mundo sabe que é preciso combater a poluição.”

Seus estudos alertaram que a explosão demográfica irrestrita, a super exploração das invenções megatécnicas, o desordenado desperdício do consumo compulsório e a consequente deterioração do meio ambiente pela poluição generalizada, para não falar dos mais irremediáveis desperdícios dos produtos da energia atômica, tudo isto, afinal, já começava a criar uma reação necessária para uma tomada de posição e providências.

Mumford, no entanto, sempre soube que somente medidas práticas não seriam suficientes. Ele sempre preconizou a necessidade de uma renovação espiritual e humana, junto com a ação. Para ele a maior parte da mudança, aquele que realmente seria importante, teria de ser humana e não tecnológica.

“Devemos modificar os nossos hábitos de vida e nossas expectativas. Fomos educados para aceitar o desperdício como parte necessária da prosperidade econômica. Toda a propaganda é um incentivo para consumirmos mais do que precisamos ou do que devemos. Essa é a mudança que temos que fazer. Não tem nada a ver com a tecnologia. São, fundamentalmente, mudanças morais, mudanças nos hábitos de vida.”

Não deve o leitor, no entanto, presumir que ele era totalmente contrário aos avanços tecnológicos. Apenas pregava a necessidade de buscar uma espécie de tecnologia que pudesse garantir a continuação da existência indefinidamente e que fosse entrosada com a vida, e não uma apenas preocupada com o aumento da produtividade e com enormes lucros para os que estão controlando o sistema. Em seu pensamento reside fortemente a idéia de que só podemos ter um sistema equilibrado se lhe devolvermos tudo o que tiramos dele.

Ainda em suas palavras:

“Não sou contra a ciência ou a técnica, desde que elas continuem subordinadas às funções orgânicas e às necessidades do homem.”

Para ele, a combinação entre o conhecimento científico e a sensibilidade era uma das principais qualidades da maioria das pessoas que se dedicam à ecologia. O próprio Darwin, foi citado em sua obra várias vezes. Quando Darwin queria fazer alguma experiência com um bebê de colo, não a levava para o laboratório. Preferia que o bebê ficasse nos braços da mãe enquanto fazia a experiência, pois sabia que o meio ambiente natural para o bebê eram os braços da mãe e não uma mesa de laboratório. Essa é a espécie de mentalidade que está em jogo.

Morreu aos 94 anos (26/01/1990), durante a sesta, em sua residência de Amenia, Estado de Nova York, onde vivia com sua mulher, sua filha e dois netos.

3 comentários:

luciano l. basso disse...

Amigo Bregatto, descobri meio sem querer o teu blog e devagarinho vou lendo o que já publicaste, está ótimo!

Só vou deixar uma sugestão, faça textos mais curtos e divididos em partes, assim facilita a leitura dos momentos que temos menos tempo, tu podes inclusive programar a publicação do texto para a data que tu quiseres, assim podes escrever tudo de vez e programar que todos os dias saia uma parte...

Um grande abraço
Luciano.

Paulo Ricardo Bregatto disse...

Querido amigo Luciano! Que bom receber notícias tuas!! Espero que tudo esteja super bem contigo! De fato, as postagens tem se tornado muito longas - coisa que estou tentando resolver. Tua dica de fazer as postagens em partes me parece muito boa. Vou investigar o procedimento sugerido!! No mais tudo transquilo, curtindo um breve e necessário período de férias. Nosso ponto de encontro continua sendo no mesmo dia, horário e local (6 feira - 18h - NY 72). Estando em Porto Alegre, apareça por lá!!
Super abraço!!

luciano l. basso disse...

Bregatto, bom ter descoberto o teu blog e saber um pouco sobre o que o bom amigo tem feito e também sobre as peripécias do Pedrinho.

Quanto as postagens programadas basta clicar em "opções de postagem" logo abaixo do texto que estas escrevendo e ali colocar a data que tu queres que seja publicado, barbada... mas se te apertares da um toque que eu te ajudo. É um recurso bom para quando temos tempo e vontade de escrever no blog, mas não queremos publicar tudo de vez.

Opa, mesmo no verão seguem os encontros no NY? Já estou com saudades das conversas com os amigos.

Um grande abraço