quinta-feira, 3 de julho de 2008

Opera Prima 2008

Neste mês de maio que passou, entre os dias 06 e 10, tive a oportunidade de participar da comissão julgadora do concurso Opera Prima. Esta edição, a de número 20, reuniu os melhores trabalhos finais de graduação elaborados pelas faculdades de arquitetura e urbanismo do Brasil, ao longo do ano letivo de 2007. O julgamento dos trabalhos ocorreu na sede do Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento de São Paulo, localizado na Rua Bento Freitas, 306.

A seguir, faço um breve relato desta ótima experiência na forma de perguntas e respostas. Faço neste formato, pois estas perguntas e respostas expressam a recorrência dos diálogos que tenho desenvolvido com meus amigos e colegas no âmbito acadêmico e profissional.

Então vamos lá!

O que é o Concurso Opera Prima?

O concurso tem o propósito de premiar anualmente os melhores trabalhos finais de graduação das escolas de arquitetura e urbanismo do Brasil. Esta que passou foi a 20ª edição deste concurso lançado em 1988 e organizado pela Joy Eventos, com o apoio do Instituto de Arquitetos do Brasil e da Revista Projeto & Design, e com o patrocínio exclusivo da BRASKEM e que, desde então, vem premiando os melhores trabalhos das escolas de arquitetura e urbanismo do país.

Os dados estatísticos desta 20ª edição comprovam o sucesso e grau de aceitação deste concurso:

- 6.200 arquitetos e urbanistas formados em 2007
- 413 trabalhos enviados ao concurso
- 126 cursos de Arquitetura e Urbanismo participantes
- 126 trabalhos selecionados nas etapas regionais
- 25 classificados na etapa nacional do Concurso Ópera Prima 2008
- 5 classificados no Prêmio Projetando com PVC

Como foi a experiência de julgar o Concurso Opera Prima?

A experiência foi ótima. Primeiro porque permitiu reconhecer a situação do ensino de arquitetura e urbanismo no país. Mesmo não sendo este o objetivo principal do concurso, os 413 trabalhos finais de graduação de 2007, encaminhados pelas escolas de arquitetura e urbanismo do nosso país permitiram uma análise muito precisa da realidade da formação dos novos arquitetos, a partir dos temas apresentados e, principalmente, do grau de abordagem e desenvolvimento destes trabalhos.

Os trabalhos encaminhados expressam as diretrizes e as linhas de pesquisa que as escolas de arquitetura e urbanismo do país desenvolvem, e deixam transparecer, também, os projetos pedagógicos e as condições do ensino nas diversas regiões do Brasil, pois eles são aquilo que de melhor as escolas produziram ao longo do ano que passou.

Em segundo lugar, foi muito importante fazer parte da comissão julgadora, pois a experiência de estar lá, analisando os trabalhos e, por consequência, discutindo os rumos do ensino de arquitetura do Brasil me permitiu uma visão bastante precisa da própria profissão no panorama nacional.

Como foi constituída a comissão julgadora?

As comissões julgadoras são constituídas por arquitetos convidados diretamente pelos organizadores do evento, pelos patrocinadores ou pelos Institutos de Arquitetos do Brasil. No meu caso, a indicação para representar nosso estado partiu do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do RGS. Para total isenção crítica, nenhum componente das comissões julgadoras analisam os trabalhos da sua região de origem. Vale destacar, também, que tanto as comissões regionais, quanto a comissão nacional não tem conhecimento algum dos autores e orientadores dos trabalhos.

Neste certame as comissões julgadoras, com suas respectivas regiões para análise dos trabalhos, foram assim constituídas:

REGIÃO 1
Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina

- Arq. Antônio Carlos Campelo Costa / CE
- Arq. Gilson Paranhos / DF
- Arq. Saul Vilela Marquez / MG

REGIÃO 2
São Paulo

- Arq. João Edmundo Bohn Neto / SC
- Arq. Paulo Ricardo Bregatto / RS
- Arq. Ricardo Pereira / PR



REGIÃO 3
Rio de Janeiro e Espírito Santo

- Arq. Antônio Carlos Campelo Costa / CE
- Arq. Gilson Paranhos / DF
- Arq. Saul Vilela Marquez / MG

REGIÃO 4
Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe

- Arq. Eduardo Simões Barbosa / ES
- Arq. Fernando Alencar / RJ
- Arq. Roberto Loeb / SP

REGIÃO 5
Amazonas, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará e Tocantins

- Arq. Eduardo Simões Barbosa / ES
- Arq. Fernando Alencar / RJ
- Arq. Roberto Loeb / SP

Como é a premiação deste concurso?

Dentre os 25 projetos finalistas no concurso Opera Prima 2008, 20 trabalhos receberão Menção Honrosa, 05 trabalhos receberão o Prêmio Opera Prima, e, entre os 05 finalistas da Categoria Projetando com PVC, 02 trabalhos receberão o Prêmio Projetando com PVC, oferecidos pela Braskem ao autor e professor orientador e 03 trabalhos receberão menção honrosa.

Quando será a divulgação final dos premiados?

A divulgação dos premiados será realizada na solenidade de premiação, que acontecerá em São Paulo, em agosto de 2008 em data a ser definida pela comissão organizadora do evento.

Como foi o trabalho das comissões julgadoras?

A primeira tarefa que tivemos pela frente foi definir os critérios de avaliação para que todas as comissões julgadoras pudessem analisar os trabalhos à luz dos mesmos conceitos. Definimos então os seguintes critérios: relevância dos temas, adequação dos programas de necessidades aos temas, pertinência entre os temas e os terrenos escolhidos para implantação dos projetos, linguagem e caráter arquitetônico das propostas, composição, contemporaneidade das soluções apresentadas, viabilidade técnica e construtiva e, por fim, meios de expressão e apresentação dos trabalhos.

Feito isto, fomos ter o primeiro contato com os trabalhos encaminhados. A comissão julgadora que eu estava participando recebeu a incumbência de analisar os 137 trabalhos oriundos das escolas de arquitetura e urbanismo do estado de São Paulo. Deste total, por determinação do regulamento, tivemos que selecionar 36 trabalhos para disponibilizar à comissão julgadora nacional. Tivemos muita dificuldade para fazer isto. Alguns trabalhos apresentavam temas teóricos instigantes, com pesquisas muito bem elaboradas, mas com soluções projetuais muito distantes da prática profissional e da realidade brasileira. Outros tantos trabalhos, com boa qualidade conceitual, não expressaram adequadamente as soluções técnicas, construtivas, estruturais e muito menos a devida preocupação para com as instalações e sistemas complementares, tão importantes para o perfeito funcionamento das edificações.

Desta primeira análise conseguimos selecionar somente 20 trabalhos onde os preceitos da profissão encontravam-se explícitos: boa conceituação do tema, adequado domínio dos problemas levantados pela pesquisa, pertinente solução formal relacionada ao tema, ao programa e ao terreno e boa capacidade de trânsito pelas demandas técnicas e construtivas. Somente após mais uma rodada de análise dos trabalhos conseguimos, então, extrair mais 16 trabalhos e, portanto, reunir os 36 melhores trabalhos da região.

O quê destacar entre os projetos apresentados?

A análise destes 137 trabalhos da região de São Paulo apontou alguns aspectos preocupantes para profunda reflexão:

- baixa relevância dos temas abordados considerando a realidade social e econômica brasileira;
- temas cujas demandas reais eram facilmente questionáveis, frágeis e, até mesmo, forçadas, fictícias e irreais;
- baixa capacidade de projeto das áreas abertas demonstrando muita dificuldade no entendimento dos valores e significados da paisagem e sua direta correlação com os espaços construídos;
- baixo domínio e demonstração dos aspectos técnicos e construtivos;
- uso pouco adequado das referências formais extraídas de maneira acrítica da produção arquitetônica internacional;
- baixa relação de pertinência entre tema, programa, forma e terreno;
- baixa diversidade e muita dificuldade na demonstração das propostas a partir de meios de expressão gráfica pouco adequados.

Com os trabalhos apresentados, que conclusão podemos tirar a respeito do ensino da Arquitetura no Brasil?

Estes aspectos apontados merecem destaque, seja por refletirem falhas no processo de orientação, que, embora criticável, é episódico, seja no processo de formação expresso pela carência dos recursos (humanos, equipamentos, bibliotecas, laboratórios, entre outros) existentes nas escolas de arquitetura e urbanismo do Brasil e, também, na fragilidade do próprio elenco de conhecimentos e áreas do saber dos graduados, o que seria mais preocupante.

Isto deve nos fazer pensar, de maneira imperiosa, sobre o momento atual da nossa profissão que nos obriga urgentemente repensar a formação do arquiteto, profissão tão importante e que não pode deixar seus fundamentos na realidade imaterial, frágil e superficial, pois sendo assim, traria grandes prejuízos para a sociedade nos próximos anos.

Podemos dizer que o discurso das faculdades de Arquitetura está afinado em todo o Brasil?

Não. A análise que fizemos, ao final da jornada de julgamento dos 413 trabalhos, é que a arquitetura e o urbanismo, enquanto ciência e ofício, não são a mesma coisa nas várias regiões do país. E isto é um grande problema que devemos reconhecer, num primeiro momento, para então, encarar e tentar resolver. Claro que as questões geográficas e culturais de cada região do Brasil sempre definirão níveis de entendimento e abordagens diferenciadas para os grandes problemas e prioridades que a população brasileira exige que sejam urgentemente solucionadas, mas o entendimento do que seja a profissão, expresso indiretamente nos projetos didáticos e pedagógicos dos cursos, deve convergir para um denominador comum de caráter nacional.

O balanço final do julgamento apontou as regiões 1, 2 e 3 como as melhores preparadas para enfrentar os grandes problemas apresentados diariamente pela sociedade brasileira para a arquitetura e o urbanismo. Trabalhos que reuniram boas conceituações do tema, adequados domínios dos problemas levantados pela pesquisa, pertinentes soluções formais relacionadas aos temas, aos programas e aos terrenos e boas capacidades de trânsito pelas demandas técnicas e construtivas, numa referência clara aos preceitos corretos da formação que define o arquiteto, também, como construtor das suas ideias.

Isto tem nos deixado, aqui no RGS, bastante entusiasmados com relação aos rumos ditados pelos projetos pedagógicos dos cursos locais, pois eles se cruzam pelos rumos ditados pelos grandes e tradicionais cursos de arquitetura e urbanismo do Brasil. Algumas correções de rota ainda têm que ser feitas, outros tantos investimentos ainda se tornam necessários, mas o caminho já está traçado. E certamente ele será vitorioso.

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