quarta-feira, 16 de julho de 2008

Documentos de Arquitetura

Traços&Pontos de Vista

Hoje estou trazendo, como dica de leitura de férias, o livro comemorativo da passagem dos 30 anos do curso de arquitetura e urbanismo da Ulbra. Ele foi elaborado ao longo do ano de 2004 e foi lançado em 2005, ainda dentro das atividades de comemoração dos 30 anos da FauUlbra. O livro está organizado a partir da reunião de 11 artigos elaborados por professores da casa e colaboradores e expressa a linha de pensamento e investigação técnico-científica dos seus autores.

Tem artigos neste livro os seguintes autores: Antonio Amado, Marcelo Pontes, Karen Haas, Luiz Carlos Zubaran, Ghissia Hauser, Manel Taboada, Lygia Marques, Pery Bennett, Rosalia Fresteiro, Mônica Russomano e Paulo Ricardo Bregatto.

O projeto gráfico do livro foi proposto pelo meu grande amigo arquiteto e designer Gabriel Gallina e a capa tem desenhos de autoria, também, do meu grande amigo arquiteto e artista plástico Diniz Álvaro Machado.

Para melhor entendimento da proposta editorial do livro e seu conteúdo trago, a seguir, a apresentação contida nas páginas 6 a 8.



Documentos de Arquitetura
Traços&Pontos de Vista
Paulo Ricardo Bregatto (organizador)
Editora da Ulbra
240 páginas
Canoas
2005

APRESENTAÇÃO

Não posso negar que recebi com muita alegria e emoção o convite para organizar esta publicação. Um pouco mais de responsabilidade e eu não teria aceitado este convite. Mas adepto que sou aos grandes desafios me vi imediatamente envolvido nesta longa, penosa – em alguns casos – mas sempre apaixonante aventura.

O receio inicial, logo nos primeiros dias de trabalho, deu espaço ao prazer imensurável contido, literalmente, nas entre linhas deste mundo editorial. Primeiro, pelo grande desafio editorial, até então conhecido por mim somente pela paixão que tenho pela leitura – estou entre aqueles que acreditam que todo caminho para a restauração da ética humana já está traçado e descrito nos livros, basta chegar até eles, e este caminho deve ser sempre movido por um desejo e por uma escolha pessoal. E segundo, pela data tão simbólica em que nossa escola de arquitetura e urbanismo comemorou, no mês de agosto de 2004, seus 30 anos, dos quais, tenho tido o privilégio de poder acompanhar esta trajetória vitoriosa, durante longos 22 anos – 6 como aluno e 16 como professor.

Mesmo tendo plena consciência que livros técnico-científicos tem um mercado mais restrito, comparado ao mundo editorial das grandes ficções, penso que temos o dever, como curso de arquitetura e urbanismo, de divulgar nossa forma de pensar e agir.

Trinta anos não se comemoram todos os dias. E nada mais apropriado, já que estamos numa prestigiosa universidade, do que comemorar seu aniversário lançando na linha do tempo do conhecimento humano, o pensamento técnico-científico, na forma de artigos, escritos pelos professores da casa e professores convidados.

Estamos acompanhando, ao longo dos últimos anos, um aperfeiçoamento constante na atividade docente, não só pela ótica da sólida e contínua atuação profissional, que sempre caracterizou o seleto e estável corpo docente do nosso curso, mas, e principalmente, pela ótica da especialização acadêmico-docente que, somado ao conhecimento técnico-profissional de cada um, tem nos colocado num patamar de destaque.

Anos de investimento acadêmico na forma de cursos de especialização, mestrados e doutorados, principalmente sem o abandono da atuação técnico-profissional nos escritórios e nos canteiros de obras, trouxeram para o debate diário, dentro das salas de aula e dos ateliês de projeto, o necessário amadurecimento crítico tão fundamental na formulação do conhecimento.

Sabemos, é claro, que não se faz ciência somente na prancheta ou dentro do canteiro de obras, mas sem dúvidas, não podemos prescindir destes grandes laboratórios de aplicação desta ciência materializável que é a arquitetura.

A arquitetura, como sabemos, mais que um ofício, é uma filosofia de vida, pois tratando da espécie humana, dos seus espaços e do mundo que os cerca, deixa pouca coisa sobrando sem a intervenção direta e influência do arquiteto. Através de qualquer janela que olhamos, para qualquer livro que possamos ler, nas viagens que fazemos, no dia a dia do nosso lar, nos afazeres diários do nosso trabalho, nos utensílios que usamos, enfim, em tudo que nos cerca existe a influência da nossa profissão.

Por esta razão, entre outras tantas, somos uma profissão tão, e cada vez mais, viável nos dias de hoje, principalmente quando reconhecemos tantas coisas por fazer neste mundo desigual que temos que mudar e que depende muito da luta e do esforço de cada um.

É preciso dizer que ainda não vencemos os grandes problemas de arquitetura que o nosso povo deseja, urgentemente, ver solucionados. As cidades brasileiras ainda nascem e crescem de maneira caótica e desordenada, totalmente à mercê da ganância imobiliária e dos grandes proprietários e o déficit habitacional atinge patamares alarmantes. Vemos, ainda, que as populações brasileiras, mergulhadas no analfabetismo e sem assistência médica e hospitalar, está clamando por um grande número de edifícios destinados às escolas, hospitais, entre outros.

Esta realidade nos faz acreditar que o verdadeiro ensino está alicerçado na união equilibrada entre a história, a teoria e a prática, rompendo, desta maneira, com o abismo, muitas vezes existente, entre a universidade e a comunidade, buscando atuar em uníssono com o ensino, com a pesquisa e com a extensão.

O que estamos trazendo, então, nesta publicação técnico-científica é a história profissional traçada, até agora, por alguns professores da casa e por professores convidados de outras escolas e que tem se colocado como prestativos colaboradores nesta jornada de ensino. São 11 artigos que expressam esta relação direta entre suas atividades acadêmicas e profissionais, dentro e fora da universidade. Como poderemos notar a partir da leitura criteriosa dos artigos, existe uma grande diversidade de temas e pontos de vista abordados pelos autores sobre o tema arquitetura, urbanismo e construção. Longe de estabelecer, com esta coletânea de artigos, uma ideologia ou uma única forma de pensar, acreditamos que somente na diversidade encontraremos a dimensão real dos conflitos do mundo em que vivemos. O mundo é o palco das diversidades e, portanto, a arquitetura, enquanto ciência, não poderia ficar de fora deste debate.

Certamente o leitor sentirá falta de um ou de outro artigo escrito pelos quase 30 professores do corpo docente (arquitetos e engenheiros), já que outros tantos trabalhos acadêmicos, ainda em desenvolvimento pelos nossos colegas, aguardam represados uma outra publicação. A trajetória para chegar até aqui e viabilizar esta primeira publicação, está nos ensinando as particularidades deste vasto e complexo mundo editorial. Sem dúvida, agora que experimentamos este sabor agradável, num espaço de tempo bem mais curto, outras publicações deverão ser viabilizadas fomentando cada vez mais a crítica, combustível insubstituível na formulação do conhecimento.

Preciso, por fim, externar o quanto pensei nos nossos estudantes, enquanto organizava este trabalho. Lembrar o nosso convívio sempre tão amável e proveitoso significou para mim, despertar novamente, ainda que por breves instantes, a chama de nossos calorosos e fraternais debates. Da simpatia, cordialidade e amizade que sempre está presente durante nossas atividades acadêmicas, dentro do ateliê, nas disciplinas que cursamos, nos corredores, no bar, nas assembléias e reuniões de trabalho onde buscamos novos rumos para o ensino de arquitetura ou o fortalecimento, sempre necessário, dos princípios da ética para o desenvolvimento da nossa profissão.

Tem sido anos cansativos, eu bem sei...

Lembro das mentes incansáveis na busca das ideias e das grandes invenções, da fragilidade dos corações diante das muitas, e quase intransponíveis, dificuldades, lembro da tristeza pelo exílio, muitas vezes necessário, do convívio social e familiar, já que não são poucas as vezes em que, por exigência dos nossos tantos trabalhos, retiramos os alunos dos doces convívios junto aos seus pais, filhos, companheiros e amigos.

Lembro, ainda, das limitações físicas impostas pelos corpos cansados, dos momentos nebulosos onde as tarefas pareciam não caber dentro da linha tênue do tempo. Mas lembro, principalmente, da alegria estampada em cada rosto pelas grandes descobertas, pela superação de mais um desafio, pela experiência mágica de uma invenção ou simplesmente pela oportunidade de estarmos ali, noite após noite, no calor dos verões que se estendiam ou nos implacáveis invernos, testando os nossos limites e fortalecendo cada vez mais as nossas convicções.

A todos os alunos, que possuem o desejo e a coragem infinita de transformar o mundo em que vivemos, dedico esta obra. Esperamos que esta publicação encontre solo fértil no coração daqueles que estudam os meandros da arquitetura, do urbanismo, do paisagismo, do desenho, da construção, do pensamento humano e áreas afins, pois ela foi elaborada com a alegria que somente as grandes comemorações ensejam.

Paulo Ricardo Bregatto

2 comentários:

Anônimo disse...

já que não ganhei um exemplar autografado, só assim mesmo para ler teu livro! coloca os outros capítulos aí véio! ahahah!

abração,

g

Paulo Ricardo Bregatto disse...

Cara!!

Tô com teu livro aqui no escritório esperando aquela visita sem correria ou outro compromisso qualquer. Nesta tua última vinda aqui, cheguei a separar o livro, mas como tínhamos que sair para o compromisso na Ulbra acabei esquecendo do teu presente!! Falha minha!! Fica, então, no ar o convite para outra vinda tua aqui!!

Super abraço!!