sexta-feira, 27 de março de 2009

Aldo Leopold

Depois de algum tempo, volto ao célebre livro Ecologia: uma estratégia para a sobrevivência, de Anne Chisholm, para dar seqüência as resenhas sobre alguns teóricos citados no livro, cuja importância na discussão da ecologia ecoa, ainda e principalmente, nos dias atuais.

Já comentei noutra postagem, que a minha maior curiosidade e interesse sobre este assunto e, em especial, sobre este livro, se devem ao fato de que muita coisa tem se dito hoje em dia sobre a necessidade da construção de uma ‘nova mentalidade’ sobre as questões ambientais. Nova? Nem tão nova assim. O livro foi lançado nos EUA em 1972 e a primeira edição brasileira é de 1974. O livro que eu tenho é a segunda edição de 1981. Portanto, 37 anos nos separam de sua primeira edição. E a considerar que este livro aborda o pensamento de teóricos atuais dos séculos XIX e XX devemos concluir que a sistematização de um pensamento sustentável não deve ser tratada com a superficialidade jornalística de um fato novo.

De toda a farta produção crítica de Aldo Leopold, sem dúvidas, uma de suas obras de maior relevância é ‘Sand Country Almanac (Oxford University Press). Este volume é uma coletânea de notas de um naturalista, tendo como centro uma pequena propriedade sua num distante recanto de Wisconsin. O estilo do livro é poético, cheio de minuciosas observações. Nele, estabeleceu as linhas daquilo que chamou “a ética da conservação”, um apelo a uma nova moralidade que governe o contato do homem com a natureza.

“Nós abusamos da terra porque achamos que ela nos pertence. Quando conseguirmos ver a terra como uma comunidade à qual pertencemos, então começaremos a usá-la com amor e respeito. Não há outra forma para a terra sobreviver ao impacto do homem mecanizado, nem para colhermos dela esteticamente tudo que é capaz de produzir e de contribuir para a cultura cientificamente. O conceito básico da ecologia é o fato de a terra ser uma comunidade, mas ela também, deve ser amada e respeitada, e isso é uma extensão da ética.”

Aldo Leopold nasceu em Burlington, Iowa / EEUU, em 11 de janeiro de 1887. Formou-se em Engenharia Florestal, pela Universidade de Yale, terminou seu mestrado em 1909 e foi trabalhar no Serviço Florestal dos EUA. Em 1933 assumiu a disciplina de Manejo de Caça na Universidade de Wisconsin / EUA, onde permaneceu até a sua morte. Publicou mais de 350 artigos científicos e seu texto sobre Manejo de Caça (Conservação da Vida Selvagem) tornou-se um clássico, sendo utilizado como referência até hoje.

É considerado como a figura mais importante da conservação da vida selvagem dos EUA. Foi consultor da ONU nesta área. A sua obra mais conhecida foi, como já citei, o ‘Sand County Almanac’, onde lançou as bases para a Ética Ecológica. Infelizmente, Leopold chegou a ter contato com o livro, mas não assistiu ao seu lançamento, que só ocorreu em 1949. Morreu em 21 de abril de 1948, devido a problemas cardíacos, resultantes de seu esforço em auxiliar um vizinho a apagar um incêndio em uma fazenda em Wisconsin. É considerado como tendo sido o primeiro bioeticista, especialmente pelo seu texto 'The Land Ethic'.

Leopold representa um elo crucial entre as teorias de Mumford e Dubos (ambos já foram citados em postagens anteriores) e o movimento prático de conservação. Sua ética de conservação foi construída a partir de uma vida de trabalho em florestas e administração de selvas, combinados à paixão de um naturalista nato pela observação e apreciação das belezas da natureza. Exerceu uma profunda influência sobre as atitudes dos conservadores profissionais, e foi ele que desenvolveu o conceito de áreas selvagens dentro dos parques nacionais dos EUA e que tentou fazer com que se desse atenção aos princípios ligados à reserva de áreas para esportes, recreio e, principalmente, estudos científicos.

Em 1947 Aldo Leopold escreveu:

“Nenhuma importante mudança na ética foi jamais conseguida sem uma transformação íntima na nossa formação intelectual, nas nossas lealdades, afeições e convicções. A prova de que a conservação ainda não alcançou essas bases de conduta está no fato de a filosofia e a religião ainda não terem ouvido falar nisso. Na nossa tentativa para facilitar a conservação, nós conseguimos torná-la trivial.”

Alguns de seus pensamentos, expressos na forma de frases, extraídos do livro ‘A teia da vida’:

"A mais importante característica de um organismo é a sua auto-renovação interna conhecida como saúde."

"Ética é a diferenciação da conduta social da anti-social para o bem comum."

"As obrigações não tem sentido sem consciência, e o problema que nos defrontamos é a extensão da consciência social das pessoas para com a terra."

"A ética da terra simplesmente amplia as fronteiras da comunidade para incluir o solo, a água, as plantas e os animais, ou coletivamente: a terra. Isto parece simples: nós já não cantamos nosso amor e nossa obrigação para com a terra da liberdade e lar dos corajosos? Sim, mas quem e o que propriamente amamos? Certamente não o solo, o qual nós mandamos desordenadamente rio abaixo. Certamente não as águas, que assumimos que não tem função exceto para fazer funcionar turbinas, flutuar barcaças e limpar os esgotos. Certamente não as plantas, as quais exterminamos, comunidades inteiras, num piscar de olhos. Certamente não os animais, dos quais já extirpamos muitas da mais bonitas e maiores espécies. A ética da terra não pode, é claro, prevenir a alteração, o manejo e o uso destes 'recursos', mas afirma os seus direitos de continuarem existindo e, pelo menos em reservas, de permanecerem em seu estado natural.”

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