quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Steve Jobs

As verdadeiras lições de liderança

Este pequeno livreto escrito por Walter Isaacson (mesmo autor da Biografia de Steve Jobs, publicado pela Companhia das Letras em 2011) apresenta uma síntese das principais idéias de criação e gestão empresarial de Steve Jobs, um dos fundadores da Apple.

A síntese de sua história todos já conhecemos: ajudou a fundar a Apple na garagem dos pais em 1976, foi expulso da empresa em 1985, voltou para resgatá-la de uma crise criativa e de gestão que levou-a a beira da falência em 1997 e morreu em outubro de 2011, depois de transformá-la na companhia mais valiosa do mundo.

Nesta trajetória exitosa e experimental ajudou a transformar sete indústrias: computação pessoal, filmes de animação, música, telefonia móvel, tablets, lojas de varejo e publicação digital. Méritos que o elevaram ao panteão dos maiores inovadores americanos, ao lado de gigantes como Thomas Edison, Enry Ford e Walt Disney.

Muito se tem dito sobre a personalidade difícil de Steve Jobs. Mas era justamente esta personalidade forte sua principal característica na forma de fazer negócios. Agia com exagero e paixão, pouco convencionais, e com um intensidade que driblava constantemente a fronteira entre a vida pessoal e profissional. Estas características marcantes da personalidade de Jobs ficaram impressas em seus produtos mesclando petulância e impaciência ao perfeccionismo das suas criações.

Uma vez perguntado por Walter Isaacson sobre qual teria sido a sua criação mais importante, Jobs respondeu: "foi a empresa Apple, fundar uma companhia duradoura, era ao mesmo tempo mais difícil e mais importante do que criar um grande produto". As ideias apresentadas neste livreto são a síntese das chaves do seu grande sucesso.

1 – Foque

Concentre-se em poucos produtos, pois decidir o que não fazer é tão importante quanto decidir o que fazer e isso vale tanto para as empresas, quanto para os produtos. Jobs costumava levar um seleto time de seus melhores funcionários para um retiro criativo de ideias onde perguntava aos participantes: “quais as próximas dez coisas que devemos fazer?” Anotava todas as sugestões, riscava todas aquelas que pareciam as mais inadequadas até possuir uma lista com dez e anunciava riscando as sete últimas: “para nós bastam três.”

2 – Simplifique

Concentrar-se no essencial, buscando o fundamento, é o melhor exercício para a simplificação. Simplicidade é a maior sofisticação, declarava o primeiro folheto promocional da Apple. Seu interesse pela simplicidade em design foi forjado nas conferências de design a que assistiu no Aspen Institute, no final dos anos 1970, num Campus construído ao estilo Bauhaus, que ressaltava as linhas puras e o design funcional. Sempre buscou a simplicidade que vem da conquista da complexidade, e não do seu desconhecimento.

3 – Assuma a responsabilidade de ponta a ponta

Jobs soube que a melhor maneira de alcançar a simplicidade era fazer com que hardware, software e periféricos estivessem perfeitamente integrados, formando um verdadeiro ecossistema Apple. Para tal, era necessário fazer o que nenhuma outra empresa do setor fazia: assumir toda a responsabilidade de ponta a ponta pela experiência do usuário.

4 – Quando ficar para trás, pule por cima

A marca de uma empresa inovadora não é apenas apresentar ideias novas antes das concorrentes. É, também, saber dar um pulo por cima quando sente que ficou para trás. De nada adianta empenhar esforços para alcançar a concorrência. É preciso estar sempre na dianteira, prevendo qualquer movimento das empresas e do mercado, capaz de representar algum risco.

5 – Coloque os produtos à frente dos lucros

Quando Jobs e sua equipe projetaram o Macintosh original, no começo dos anos 1980, sua missão era fazer algo “absurdamente bom”, sem maximização de lucros ou decisões de bom custo-benefício. Em suas palavras: “não se preocupe com o preço, apenas especifique as funcionalidades do computador. E o mais importante, não faça concessões.” Quando a Apple entrou em um declínio lento e constante, entre os anos de 1983 a 1993 Jobs disse: “Tenho minha própria teoria sobre a razão do declínio de empresas. Começam fazendo ótimos produtos, mas então o pessoal de vendas e marketing toma conta, pois eles querem obter lucros. Quando o pessoal de vendas dirige uma empresa, o produto deixa de ter importância.”

6 – Não vire escravo de grupos de discussão

Quando Jobs levou a equipe original do Macintosh para o primeiro retiro, um dos membros da euipe lhe perguntou se podiam fazer alguma pesquisa de mercado para ver o que os consumidores queriam. Sua resposta foi não: “as pessoas não sabem o que querem até que a gente mostre a elas.” Entender profundamente o que os consumidores querem é muito diferente de viver perguntando o que desejam, requer intuição (instinto baseado na sabedoria acumulada pela experiência) e instinto para desejos ainda sem forma.

7 – Transforme a realidade

A famosa capacidade de Jobs de forçar as pessoas a fazerem o impossível era conhecida pelos colegas como seu “campo de distorção da realidade”. Nas palavras de Debi Coleman: “você fazia o impossível, porque não percebia que era impossível.” Muito tem se dito que o campo de distorção da realidade de Jobs era um eufemismo para sua tendência à intimidação e à mentira, mas seus colaboradores mais próximos admitiram se tratar de um traço de seu caráter que os levava a realizar façanhas extraordinárias, inspirando sua equipe e levando-os a mudar os rumos da história da computação, por achar que as regras normais da vida não se aplicavam a ele.

8 – Impute

Jobs sabia que as pessoas formam sua opinião sobre um produto ou empresa com base na maneira como ele é apresentado. Uma das grandes obsessões de Jobs era o desenho das embalagens de seus produtos. Gastava muito tempo desenhando e redesenhando pessoalmente as caixas que embalariam o iPod e o iPhone, como se fossem verdadeiras caixinhas de jóias. Para ele, desempacotar um produto era um ritual que anunciava as glórias do produto.

9 – Incentive a perfeição

Na fase de desenvolvimento de quase todos os produtos que criou, Jobs, em certo ponto paralisava o processo e voltava à prancheta, sabendo que somente desta maneira o produto ficaria perfeito. Pouco antes de lançar as lojas da Apple, Jobs tomou a repentina decisão de adiar a abertura da primeira loja por alguns meses, para que seu leiaute fosse reconfigurado em torno das atividades que as pessoas poderiam querer fazer na loja e não apenas dos produtos. Seu perfeccionismo estendia-se até as partes ocultas de um produto. Queria que os chips existentes na placa de circuito no interior da máquina ficassem rigorosamente alinhados e a placa tivesse boa aparência, mesmo diante do fato das máquinas ficarem hermeticamente fechadas. Os engenheiros deveriam se sentir como artistas e após o redesenho das placas mandou que eles assinassem seus nomes para gravá-los dentro da caixa.

10 – Só admita jogadores de primeira

Jobs tinha fama de impaciente, petulante e duro com as pessoas à sua volta. Mas seu jeito de tratá-las, apesar de não ser nada louvável, vinha de sua paixão pela perfeição e do desejo de só trabalhar com os melhores profissionais. Em suas palavras: “não acho que trato ninguém com desprezo, mas se algo não preta, digo na cara. Minha tarefa é ser honesto.” Era sua maneira de prevenir que pessoas medíocres se sentissem à vontade para continuar. Não devemos esquecer que a grosseria e aspereza de Jobs vinham junto com sua capacidade de inspirar as pessoas. Ele dizia: “aprendi com os anos que, quando você tem pessoas realmente boas, não precisa tratá-las feito crianças.”

11 – Converse cara a cara

Embora fosse um cidadão do mundo digital, Jobs era adepto fervoroso de encontros ao vivo. Disse ele: “existe uma tentação em nossa era digital de pensar que as ideias podem ser desenvolvidas por e-mail e no ichat. Loucura. A criatividade vem de encontros espontâneos, de conversas aleatórias. A gente encontra alguém por acaso, pergunta o que anda fazendo, diz uau, e logo começa a borbulhar todo tipo de ideia." Esta ideia foi levada ao extremo no projeto de arquitetura dos edifícios das empresas. Foram projetados com o propósito de oportunizar os encontros e colaborações imprevistas: “se um prédio não estimula isso, você perde um monte de inovações e toda a magia que nasce com um achado feliz. Então projetamos um edifício para que as pessoas saiam de seus escritórios e encontrem no saguão central outras pessoas que não encontrariam de outra maneira.”

12 – Conheça o todo e os detalhes

A paixão de Jobs era aplicada tanto nos grandes assuntos como nos pequenos. Ao mesmo tempo em que se concentrava nos pormenores do design de algum produto, concebia as estratégias mais abrangentes.

13 – Combine humanidades com ciências

Jobs conseguiu ligar humanidades a ciências, criatividade a tecnologia, artes a engenharia, dentro de uma visão sistêmica onde o todo passou a ser mais importante que as partes. E fez isto com raro senso intuitivo de estratégia comercial. Na maioria dos lançamentos dos produtos da Apple, em sua última década de vida, Jobs terminava a apresentação com um slide simples mostrando uma placa de rua contendo a intersecção entre duas ruas: artes liberais e tecnologia.

14 – Continue faminto, continue louco

A personalidade de Jobs foi moldada por dois grandes movimentos sociais no final dos anos 1960. O primeiro, a contracultura dos Hippies e militantes pacifistas, marcada pelas drogas psicodélicas, pelo rock e pelo antiautoritarismo. O segundo, a subcultura high-tech e hacker do vale do silício, cheia de wireheads, phreakers, cyberpunks, engenheiros, nerds, aficionados e empresários de garagem. Sobrepondo-se a tudo isso, havia vários movimentos de autorrealização buscando caminhos para a iluminação pessoal – zen e hinduísmo, meditação e ioga, entre outros. Em todos os aspectos de sua vida – as mulheres com quem saiu, a reação ao diagnóstico de câncer, o jeito de administrar os negócios – seu comportamento refletiu as contradições, a confluência e, finalmente, a síntese desses diferentes elementos.

“Pense diferente: isto é para os loucos, os desajustados, os rebeldes, os encrenqueiros, os pinos redondos em buracos quadrados. E, enquanto alguns os julgam loucos, nós os julgamos gênios. Porque as pessoas que são suficientemente loucas para achar que podem mudar o mundo são aquelas que o mudam.”
(Comercial “Pense diferente” da Apple, 1997)



Steve Jobs
As verdadeiras lições de liderança
Walter Isaacson
Tradução Berilo Vargas
Portfólio Penguin
Primeira Edição
São Paulo
2014

Walter Isaacson é diretor-geral do Aspen Institute, foi presidente da CNN e editor executivo da Revista Time. É autor de Benjamin Franklin: An american life e Kissinger: A biography. A Companhia das Letras já publicou Einstein – Sua vida, seu universo e o Best-Seller Steve Jobs.

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