sábado, 17 de janeiro de 2015

A Relevância da Arquitetura

Paul Goldberger

Como dica de leitura apresento hoje o livro “A Relevância da Arquitetura” escrito pelo crítico de arquitetura da revista The New Yorker e professor de design e arquitetura na The New School, em Manhattan, Paul Goldberger.

Mais que simples abrigo, as construções que nos rodeiam são – ou deveriam ser – experiências estéticas e humanas, sustenta o autor. Neste livro, ele mostra como a arquitetura é capaz de transcender sua função prática para provocar “deleite, tristeza, perplexidade e reverência”, analisando exemplos tão diversos quanto anônimos, galpões de beira de estrada e casas projetadas por nomes como Frank Lloyd Wright e Mies van der Rohe ou, ainda, a igreja barroca de Sant´Ivo, em Roma, e o contemporâneo Museu Guggenheim de Bilbao, entre muitos outros.

Nos sete capítulos do livro, Goldberger discute elementos como proporção, escala, espaço, textura, materiais, formas e luz. Explica, ainda, como a literatura, o cinema e a nossa própria memória particular são capazes de afetar a maneira como nos relacionamos com a arquitetura que nos cerca – e como ela, por sua vez, contribui para a formação de nossa identidade como indivíduos e como sociedade.

Estrutura do Livro

Introdução
1 – Significado, cultura e símbolo
2 – Desafio e conforto
3 – Arquitetura como objeto
4 – Arquitetura como espaço
5 – Arquitetura como memória
6 – As construções e o tempo
7 – Os prédios e a construção do lugar
Glossário
Comentário sobre a bibliografia
Agradecimentos
Índice remissivo
Crédito das imagens

É certo dizer que não viveríamos sem a arquitetura, mas não é apenas por isso que ela é importante. O objetivo do livro é explicar para que, além de nos proteger da chuva, servem as edificações. A arquitetura pode reivindicar a condição de algo necessário às nossas vidas, um reconhecimento que não é dado à poesia nem à literatura. Mas o abrigo proporcionado pelas construções não é o motivo pelo qual a arquitetura é relevante. Se fosse tão simples assim, não haveria mais nada a dizer.

A arquitetura começa a ter importância quando ultrapassa seu papel de abrigo contra as intempéries, quando começa a dizer algo sobre o mundo, quando começa a assumir as qualidades de arte. Em outras palavras, pode-se dizer que a arquitetura é o que ocorre quando se constrói com a consciência de fazer algo que supere, ao menos um pouco, a esfera prática, se relacionando intimamente à noção de que as edificações nos provocam reações de cunho emocional, nos fazendo sentir e pensar. Elas representam idéias sociais, são afirmações políticas e são ícones culturais.

Não obstante, as edificação também constituem uma evidência do poder da memória. Impossível ignorar as fortes sensações emocionais que são evocadas quando voltamos, após muitos anos, aos cenários dos acontecimentos marcantes de nossa existência: nossa casa da infância, nossa primeira escola, a casa dos nossos avós, a casa de veraneio, a casa sonhada do paraíso, imagem idealizada onde habitam os nossos sonhos e devaneios. Queiramos ou não, a arquitetura faz parte do dia a dia de todo o mundo.

A arquitetura assume as mais diferentes formas em diversas culturas, porém a natureza de nossa experiência diante de aspectos tão fundamentais como proporção, escala, espaço, textura, materiais, formas e luz não varia tanto quanto a aparência da própria arquitetura. Neste sentido, é a busca por compreender esses aspectos básicos o que mais interessa, na visão do autor, muito mais que qualquer teoria, dogma ou tradição cultural que afirme haver apenas uma única maneira aceitável de construir.

Nas palavras de Goldberger: “Não acredito que exista algo como uma receita universal da boa arquitetura. Mesmo em épocas dotadas de uma unidade estilística muito maior que a nossa sempre houve à disposição dos arquitetos mil maneiras de construir. Fico arrebatado pela boa arquitetura de qualquer estilo e de qualquer período, e, embora o foco deste livro seja quase que exclusivamente a arquitetura ocidental, o que afirmo sobre o espaço, o símbolo e a forma – e sobre como se relacionam as construções cotidianas e aquelas especiais – se aplica à arquitetura de todas as culturas.”

A arquitetura é sempre uma reação a limites – sejam eles limites físicos, financeiros ou exigências funcionais. Enquanto for encarada como pura arte ou como uma atividade meramente prática e funcional, jamais será compreendida de fato. E esta compreensão passa necessariamente pela experiência e pela vivência da arquitetura. Não unicamente acadêmica, mas aquela que é fruto da curiosidade, da vontade de olhar, tocar e sentir suas formas. Este livro se posiciona firmemente ao lado da experiência, provocando o leitor a caminhar pelas ruas e explorar seus vários sentidos em favor da percepção direta da realidade, ao invés de apenas tentar entender os edifícios e seus vários códigos e linguagens a partir apenas da leitura de uma obra de teoria ou de história da arquitetura. A vivência, na visão do autor, deve vir em primeiro lugar. As características estilistas, nomes de obscuras partes de ornamentos clássicos ou as datas de construção de algumas obras ou nascimento dos seus autores, podem sempre ser encontrados mais tarde nos livros.

A sensação emocionante de encontrar um espaço arquitetônico ou um edifício espacial – qual foi a nossa reação, como aquilo é recebido pelo olho, se arrepia nossos cabelos ou altera a nossa respiração – só pode ser entendida por meio de nossa presença no local. Tudo provoca alguma sensação. Não apenas as obras-primas, mas tudo o que é construído no mundo. É este o objetivo maior deste livro, entender como nos sentimos diante desse universo de construções, como a arquitetura nos afeta emocionalmente, para além do intelecto. Este livro não é uma obra de história da arquitetura, nem um guia de estilos, nem um dicionário de arquitetura, embora o leitor vá reconhecer elementos de cada um dos três. Sua mensagem maior é nos encorajar a olhar, e aprender, gradativamente, a confiar no nosso olhar. Olhar para a essência, e não para o detalhe estilístico superficial. Pensar na intenção, mas não dar demasiada atenção a ela, pois em seu nome já se fez mais má do que boa arquitetura. A intenção é o começo e não um fim em si mesmo.

Fica aí, então, mais esta dica de leitura para as férias!!



A Relevância da Arquitetura
Paul Goldberger
BEI Comunicação
São Paulo
2011

Paul Goldberger é crítico de arquitetura da revista The New Yorker e professor de design e arquitetura na The New School, em Manhattan, onde vive. Recebeu, em 1984, o prêmio Pulitzer, na categoria Crítica. É autor também de Christo and Jeanne-Claude (2010), Building Up and Tearing Down: Reflections on the Age of Architecture (2009), Up From Zero: Politics, Architecture, and the Rebuilding of New York (2004), Portraits of the New Architecture (2004) e The World Trade Center Remembered (2001), entre outros. A Relevância da Arquitetura é seu primeiro título publicado no Brasil.

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