domingo, 4 de janeiro de 2015

As Quatro Nobres Verdades

Ao iluminar-se, o Buda viu que o universo dos fenômenos funciona de acordo com a verdade da Gênese Condicionada. Quando decidiu ensinar o que tinha visto, o Buda percebeu que a Gênese Condicionada seria de difícil compreensão e poderia até gerar medo se fosse explicada de pronto. Por isso, em vez de começar pela Gênese Condicionada, o Buda ensinou primeiro as Quatro Nobres Verdades. As Quatro Nobres Verdades não diferem da verdade da Gênese Condicionada e, por certo, não a contradizem. Elas simplesmente dirigem o foco da Gênese Condicionada para a vida humana, fazendo com que esta pareça mais relevante para as pessoas e fique mais fácil de entender.

As Quatro Nobres Verdades são:

- verdade do sofrimento
- verdade da origem do sofrimento
- verdade da cessação do sofrimento
- verdade do caminho que leva à cessação do sofrimento

A palavra “sofrimento” nesse contexto é a tradução consagrada do sânscrito dukkha, cujo significado mais aproximado seria o de “insatisfação”.

Significado Profundo das Quatro Nobres Verdades

O uso da palavra “verdade” nas “Quatro Nobres Verdades” é explicada da seguinte maneira no Shastra Yogacharabhumi (Tratado sobre os Estágios da Prática da Ioga): “Da verdade do sofrimento à verdade do caminho que leva à cessação do sofrimento, não há nada que seja falso ou enganoso e, portanto, tudo isso é considerado verdadeiro”. O mesmo livro explica a palavra “nobre”, nas “Quatro Nobres Verdades” deste modo: “Somente os nobres conseguem compreender essas verdades e contemplá-las. Os ignorantes não conseguem compreendê-las ou contemplá-las. Portanto, essas verdades são chamadas Nobres Verdades”.

As Quatro Nobres Verdades estão no cerne da vida. Explicam todos os estados de consciência existentes no universo e ensinam como se libertar de todas as formas de ilusão. É necessário sabedoria para compreender as Quatro Nobres Verdades. A primeira verdade diz que a vida é cheia de sofrimento. A segunda, que o sofrimento é causado por nosso apego à ilusão. A terceira verdade diz que a iluminação, ou a total libertação do sofrimento, é possível. A última diz como alcançar a iluminação. As duas primeiras Nobres Verdades têm relação de causa e efeito entre si. A primeira é o efeito, a segunda é a causa. Igual relação existe entre a terceira e a quarta, sendo a terceira o efeito causado pela quarta.

À primeira vista, cabe perguntar por que o Buda colocou as Quatro Nobres Verdades nessa ordem? Não pareceria mais lógico que a segunda e a quarta verdades, ambas causas, viessem antes da primeira e da terceira, que são os efeitos? Ainda que em ordem diferente, as Quatro Nobres Verdades continuariam sendo compreensíveis. Contudo, a sequência escolhida pelo Buda permite que as verdades sejam ensinadas da forma mais eficaz possível.

Para a maioria das pessoas, é mais fácil entender primeiro o efeito, depois sua causa. Por isso, o Buda apresentou primeiro a verdade do sofrimento e depois explicou a causa do sofrimento. Assim que se compreendem as duas primeiras Nobres Verdades, é natural querer se libertar delas. Para ajudar-nos a entender como alcançar essa libertação, o Buda ensinou a Terceira Nobre Verdade, que é a cessação do sofrimento, e por fim a Quarta Nobre Verdade, que é o caminho para a cessação do sofrimento.

O Buda começou por descrever o problema, depois explicou sua causa. Em seguida, contou a solução do problema e ensinou como chegar à solução. Um elemento fundamental dos ensinamentos do Buda é a imensa compaixão que transparece na elaboração de explicações, feitas de modo a serem compreendidas por qualquer pessoa que realmente se empenhe. A Gênese Condicionada e as Quatro Nobres Verdades são verdades muito profundas. Aquele que as estudar longamente vai perceber quão inteligente e quão compassivo foi o Buda, ao conseguir explicá-las de forma tão clara.

A Primeira Nobre Verdade
A Primeira Nobre Verdade é a verdade do sofrimento. O Buda viu com perfeita clareza algo que as pessoas vislumbram ocasionalmente: não é possível ao ser humano conquistar total satisfação neste mundo. O sofrimento é descrito de muitas formas diferentes nos sutras budistas.

As três formas fundamentais são:

- Os dois sofrimentos: os dois sofrimentos são o interno e o externo, sendo esta a classificação mais elementar encontrada nos sutras budistas. Essa é a maneira mais básica de compreender o sofrimento. Sofrimentos internos são aqueles que geralmente consideramos parte de nós, como dor física, ansiedade, medo, ciúme, suspeita, raiva e assim por diante. Sofrimentos externos são aqueles que parecem vir de fora, incluindo vento, chuva, frio, calor, seca, animais selvagens, catástrofes naturais, guerras, crimes e assim por diante. Não é possível evitar nenhum dos dois tipos.

- Os três sofrimentos: esta é uma classificação baseada mais na qualidade do sofrimento do que em sua origem ou tipo. O primeiro dos três sofrimentos é o inerente, aquele a que estamos sujeitos pelo simples fato de estarmos vivos. O segundo é o sofrimento latente, aquele que está presente mesmo nos momentos mais felizes: coisas se quebram, pessoas morrem, tudo envelhece e se deteriora, até os melhores momentos chegam ao fim. O terceiro sofrimento é o ativo, causado por estarmos presos em um mundo de ilusão constantemente mutável. No mundo da ilusão, temos pouco ou nenhum controle sobre nossa vida. Sentimos ansiedade, medo e impotência à medida que vemos tudo se transformando de um dia para o outro.

- Os oito sofrimentos: os oito sofrimentos descrevem de modo mais detalhado o sofrimento a que estão sujeitos todos os seres e são classificados com base naquilo que os define.

São eles:

1 - Nascimento: após vários meses dentro do ventre da mãe, finalmente, sentimos a dor e o medo do nascimento. Depois disso, tudo pode acontecer. Somos como prisioneiros do corpo e do mundo onde nascemos.

2 - Envelhecimento: se formos, suficientemente, afortunados para não sermos mortos na juventude, teremos de enfrentar o processo de envelhecimento, sofrer a deterioração do corpo e da mente enquanto assistimos o desaparecimento de nossos amigos, um por um.

3 - Doença: a saúde é um prazer por ser tão contrastante com a doença. Todos, em algum momento, sofrem a dor e a humilhação da doença.

4 - Morte: mesmo que a vida seja considerada perfeita, a morte é inevitável. A morte, quando não é repentina e aterradora, é geralmente lenta e dolorosa. Somos como folhas ao vento. Ninguém sabe o dia de amanhã.

5 - Perda de um amor: às vezes, perdemos alguém que amamos, outras vezes nosso amor não é retribuído. Não existe quem não sofra por não poder estar sempre com aqueles que ama.

6 - Ser odiado: ninguém quer inimigos, entretanto é difícil evitá-los neste mundo.

7 - Desejo não realizado: nossos anseios e desejos determinam em grande medida quem somos. Limitam nossa capacidade de entender o Darma, além de nos causar infindáveis problemas. E, o que é pior, a maioria deles jamais chega a ser satisfeita, causando-nos duas vezes mais problemas.

8 - Os Cinco Skandhas: forma, sensação, percepção, atividade e consciência. Eles constituem os tijolos da existência consciente e o meio para a manifestação do sofrimento. Os Cinco Skandhas são como uma fonte ilimitada de combustível a gerar dor e sofrimento, vida após vida.

Causas fundamentais do sofrimento

- O Eu não está em perfeita harmonia com o mundo material. É necessário esforço constante para encontrarmos conforto neste mundo. O clima é sempre quente demais ou frio demais, nossas posses exigem cuidado constante, nossa casa é muito velha ou muito pequena, as ruas são muito barulhentas, os sapatos se gastam e assim por diante. O mundo material raramente se apresenta da forma como gostaríamos que fosse.

- O Eu não está em perfeita harmonia com as outras pessoas. Na maioria das vezes, não podemos estar na companhia daqueles com quem gostaríamos de estar, mas somos obrigados a suportar a presença de pessoas com as quais temos dificuldade de relacionamento. Não raro somos até mesmo forçados a conviver com pessoas que abertamente não gostam de nós.

- O Eu não está em perfeita harmonia com o corpo. O corpo nasce, envelhece, adoece e morre. O EU tem pouco ou nenhum controle sobre esse processo.

- O Eu não está em perfeita harmonia com a mente. Nossa mente está frequentemente além do nosso controle, disparando de uma ideia para outra como um cavalo selvagem ao vento. A atividade mental iludida é a fonte de todo o nosso sofrimento.

- O Eu não está em perfeita harmonia com os seus desejos. O EU pode compreender que os desejos geram carma e sofrimento, mas isso não significa que seja capaz de controlá-los com facilidade. O autocontrole é difícil justamente porque o que queremos com mais intensidade nem sempre é o que sabemos ser o melhor para nós. Se nem mesmo tentarmos controlar nossos desejos e deixarmos que eles tomem conta de nós, o EU sofrerá ainda mais.

- O Eu não está em perfeita harmonia com as suas opiniões. Basicamente, isso significa que nossas opiniões são erradas. Quando nossas crenças não estão alinhadas com a verdade, causamos a nós próprios infindáveis problemas, pois teremos a tendência de repetir os mesmos erros muitas vezes.

- O Eu não está em perfeita harmonia com a natureza. Chuva, enchentes, secas, tempestades, maremotos e todas as outras forças da natureza não estão sob nosso controle e podem, frequentemente, nos fazer sofrer.

O Buda ensinou a verdade do sofrimento não para nos fazer desesperar, mas para nos ajudar a reconhecer com clareza as realidades da vida. Compreendendo o alcance do sofrimento e a impossibilidade de evitá-lo, devemos nos sentir inspirados a superá-lo. Reconhecer a Primeira Nobre Verdade é o primeiro passo de um processo que deve nos levar a querer compreender a Segunda Nobre Verdade.

A Segunda Nobre Verdade
A Segunda Nobre Verdade é a verdade da origem do sofrimento, que está na cobiça, na raiva e na ignorância. Os seres sencientes acorrentam-se ao penoso e ilusivo mundo dos fenômenos, por causa de seu forte apego a essas fontes de ilusão, também conhecidas como os Três Venenos (cobiça, raiva e ignorância).

A Terceira Nobre Verdade
A Terceira Nobre Verdade é a verdade da cessação do sofrimento. Cessação do sofrimento é o mesmo que nirvana, um estado que não pode ser descrito por meio de palavras. É algo que está além de cobiça, raiva, ignorância e sofrimento, além da dualidade e das distinções entre certo e errado, você e os outros, bem e mal, vida e morte.

A Quarta Nobre Verdade
A Quarta Nobre Verdade é a verdade do caminho que leva à cessação do sofrimento, aquele que nos mostra como superar as causas do sofrimento. É o caminho rumo ao nirvana. A forma mais simples de superar as causas do sofrimento é seguir o Nobre Caminho Óctuplo.

A Importância das Quatro Nobres Verdade
As Quatro Nobres Verdades foram os primeiros e também os últimos ensinamentos do Buda. Ao aproximar-se do momento de sua morte, o Buda disse aos discípulos que, se tivessem alguma dúvida quanto à validade das Quatro Nobres Verdades, deveriam se pronunciar, pois assim poderiam obter as respostas antes que fosse tarde demais. A atenção que o Buda devotou às Quatro Nobres Verdades nos 45 anos em que se dedicou a ensinar assinala a importância que atribuía a elas.

O Buda é algumas vezes chamado de “O grande médico”, uma vez que os seus ensinamentos podem nos curar do nosso apego doentio à ilusão. A melhor forma de acabar com o sofrimento é compreender bem as Quatro Nobres Verdades, porque, depois disso, será muito mais fácil entender os outros ensinamentos do Buda. A compreensão e a prática dos ensinamentos do Buda levam infalivelmente à libertação da dor e do sofrimento. O Buda é o médico e tem o remédio, só precisamos tomá-lo. As Quatro Nobres Verdades do Buda constituem a cura para o sofrimento humano.

http://www.templozulai.org.br/as-quatro-nobres-verdades1376830707.html

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