sexta-feira, 1 de maio de 2009

Plínio Marcos

Roda Viva

Meu único desejo, se você quer saber, o meu único desejo é ser irmão do homem. Seja ele negro, malabarista ou esteja repousando ainda das profundezas da guarda materna, ou vibre no pátio um canto de menina, ele com toda a jangada no fogo do crepúsculo; o soldado, ou aviador de estranha energia.

Oi menina, você ainda outro dia não brincava de boneca? E aquele que está ao seu lado, não empinava uma pipa? Olha, seu canto, seu destino, você não me queira mal, porque eu procuro me esforçar para conhecer todos os destinos.

Eu quero conhecer o desespero de um ator quando ele treme diante do público, porque esquece o texto. Eu quero conhecer a solidão daquela garotinha que é obrigada a migrar e ficar no seio da família estranha como empregada doméstica. Eu quero conhecer o desespero daquele garoto que é obrigado a sufocar os apelos vocacionais e se debruçar sobre livros de contabilidade e atender fregueses rabugentos. Eu fui tantas e tantas vezes o cantor dessas canções do Silvio Santos, o carregador amargo da amargura, o sonhador dos sonhos inúteis, o perdedor de salário miserável...

Mas agora, eu quero cantar o destino do ser humano, e, se de alguma maneira, eu arranhei seu coração nessa noite, não me queira mal. Arrebente em soluço e chora comigo. Porque eu tenho esperança, porque eu tenho fé, porque eu sou uma pessoa de teatro e, por causa disso, eu confio, confio muito, porque eu pus filhos no mundo e amo tanto quanto você, criança de hoje.

Por causa disso tudo, eu só tenho um desejo: o desejo de pertencer a você, assim como eu gostaria de pertencer a toda a humanidade.

O MELHOR DO RODA VIVA
Paulo Markun - Organizador
Página 52
Editora Conex
São Paulo / 2005

Um comentário:

Môni disse...

LINDO ISSO, NÃO?
O PLÍNIO MARCOS TINHA PAIXÃO PELA VIDA! ELE ERA VEEMENTE QDO FALAVA, ESCREVIA, ATUAVA.
BEIJOS