domingo, 10 de agosto de 2008

Formatura da FauUlbra

Ontem tive, mais uma vez neste ano, o privilégio de participar como paraninfo de uma turma de formandos de arquitetura e urbanismo. Desta vez foram os alunos da FauUlbra que me prestaram esta homenagem, me escolhendo para acompanhá-los neste ritual de passagem da vida acadêmica para a vida profissional. Sempre achei uma distinção acadêmica máxima a honraria de ser o professor escolhido, entre outros tantos, para proferir aos alunos as palavras finais, numa aula de despedida.

Para mim foi uma experiência muito marcante, pois passados 20 anos, tive a oportunidade de retornar ao mesmo auditório, do mesmo prédio, da mesma universidade onde estudei e tive a minha formação, para cumprir o mesmo ritual de minha formatura, só que agora na condição de padrinho. Estar sentado na mesa principal, olhando a alegria dos alunos sentados no mesmo lugar em que sentei passado tanto tempo, foi para mim uma viagem no tempo, no mesmo espaço.

É incrível como não sentimos a passagem do tempo... Parece que foi ontem a minha formatura! Na correria do dia-a-dia, envolvidos pelos afazeres e exigências diárias da vida e da profissão vamos, inevitavelmente, perdendo a noção da passagem do tempo. Então, alguns fatos vem para nos fazer refletir sobre a verdadeira importância das batalhas que travamos diariamente. O mais importante disto, talvez seja este sentimento bom de quem tem a certeza de estar fazendo o melhor que pode e tudo o que sabe.

A solenidade de formatura estava ótima. Descontraída como todas as formaturas conduzidas pelo meu bom amigo, Prof. Arq. Pery Bennett, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da Ulbra, com direito a várias quebras de protocolo, sempre a nos lembrar que não somos assim tão programáveis. Ainda bem! Após a colação de grau fiz aquele roteirinho básico de várias recepções. Sempre que posso e consigo, faço questão de ir a todos os eventos que sou convidado. A noite transcorreu muito bem e as festas estavam maravilhosas!!

Agradeço de coração, mais uma vez, o carinho e o reconhecimento dos alunos me escolhendo para tão nobre encargo!! Não conheço na vida acadêmica, maior distinção!!
Queridos, vcs estão no meu coração!!

Contem sempre comigo!!

DISCURSO DO PARANINFO

Componentes da mesa já citados,
Familiares e amigos aqui presentes nesta noite de festa,
Meus queridos colegas arquitetos e urbanistas:

Uma grande alegria sempre toma conta dos corações daqueles que recebem
esta distinção acadêmica. Comigo não poderia ser diferente. Ser o paraninfo desta turma de jovens profissionais da arquitetura e do urbanismo e, com isto, ocupar esta tribuna para proferir algumas palavras de despedida dos bancos universitários que se trocam, neste momento, pelos encargos da vida profissional, é, sem dúvidas, uma grande honraria que muito me orgulha e que levarei para sempre dentro do coração.

Minha alegria se expressa pelo carinho que tenho por esta agitada, entusiasmada e talentosa turma, onde tive o privilégio de fazer bons amigos e, também, pelo momento tão especial e simbólico, em que nossa escola de arquitetura e urbanismo - uma das pioneiras no estado - com seus 34 anos de existência, começa a colher os seus merecidos frutos, diante dos novos e difíceis desafios que propôs para si.

Sei que o convite para esta honrosa tarefa foi originado por aqueles sentimentos mútuos de simpatia e amizade, sempre tão presentes durante os anos que convivemos dentro do ateliê, não somente nesta reta final do curso, ao longo deste ano que passamos juntos preparando o trabalho de conclusão, mas, principalmente, nas divertidas disciplinas que cursamos noutras épocas, onde o giz branco, além de cumprir sua nobre função de gravar no quadro os vários assuntos da noite, tinha, também, a função de voar pela sala de aula até as cabeças daqueles alunos mais barulhentos para, então, resgatar-lhes a devida atenção, momentaneamente, perdida. Esta alegria e descontração, sempre tão presentes nas atividades do nosso ateliê, nos permitiu trilhar caminhos mais agradáveis e tranqüilos nesta longa formação universitária, tão cheia de dificuldades e exigências.

Não foram anos fáceis, eu bem sei...

Lembro da coragem de cada um na busca das idéias e das grandes invenções, da fragilidade dos corações diante das muitas dificuldades e, quase, intransponíveis barreiras. Lembro da tristeza imposta pelo exílio necessário do convívio social e familiar, já que não foram poucas as vezes que, por exigência dos nossos tantos e infindáveis trabalhos, nos obrigamos a ficar distantes de tudo aquilo e de todos aqueles que muito amamos...

E a vida passando, indiferente aos nossos apelos para que o tempo passasse mais devagar, nos fazendo sentir, aflitos, que aquele momento não mais voltaria e que ela não esperaria por nós... Quantas vezes, na solidão de um único ponto de luz acesso sobre a mesa de trabalho, nas madrugadas infindáveis, esta pergunta foi formulada: Será que vale a pena?

Lembro, ainda, do cansaço de cada corpo, do semblante exaurido e apreensivo de cada um nos dias de painel e apresentação dos trabalhos, dos momentos nebulosos onde as tarefas pareciam não caber dentro da linha tênue do tempo e, também, da tristeza diante de uma crítica, por vezes, mais contundente, embora necessária. Mas lembro, principalmente, e me parece que isto é que deve ser exaltado neste momento, da alegria estampada em cada rosto pelas grandes descobertas, pela superação de mais um desafio, pelo acerto diante da tão esperada solução viável, pela experiência mágica de uma invenção e pela oportunidade de estarmos ali, noite após noite, no calor dos verões que se estendiam ou nos implacáveis invernos, testando os nossos limites e fortalecendo cada vez mais as nossas convicções sobre a profissão e, através dela, participando da construção de um mundo melhor para todos.

Juntos, aprendemos muito nesta longa caminhada.

A arquitetura, sempre lhes disse isto, é, também, uma filosofia de vida, pois tratando da espécie humana, dos seus espaços e do mundo que os cerca, deixa pouca coisa sem a intervenção direta e sem a influência necessária do arquiteto. Através de qualquer janela que olhamos, nas viagens que fazemos, no dia-a-dia do nosso lar, nos móveis e equipamentos da nossa casa, nos afazeres diários do nosso trabalho, nos utensílios que usamos, no passeio pelas ruas da cidade, enfim, em tudo que nos cerca existe a influência direta da nossa profissão. A arquitetura é ciência e ofício. Ciência, na exata medida em que nos permite, a partir da pesquisa aplicada, conhecer e investigar as necessidades e demandas reais da sociedade e do mercado em que estamos inseridos. E é ofício, pois, a partir dele, participamos ativamente da vida das pessoas, seja na pequena escala habitacional da célula da família ou na escala das grandes edificações e intervenções urbanas.

Por esta razão, meus arquitetos, entre outras tantas, somos uma profissão tão, e cada vez mais, viável e fundamental nos dias de hoje, principalmente quando reconhecemos tantas coisas por fazer neste mundo desigual que temos que mudar e que depende muito das nossas atitudes e da nossa luta conjunta.

Nosso desafio não é fácil.

Nossa arquitetura, num passado recente, alcançou sucesso e expressão mundiais justamente por apresentar aspectos plásticos e técnicos originais e inovadores, caracteristicamente brasileiros. Assim como no passado, ainda hoje, as maiores expressões internacionais da arquitetura e do urbanismo, demonstram interesse por nossos feitos e vem beber em nossa fonte. Esta herança arquitetônica, que vocês recebem agora, confirma na prática, que a construção de uma identidade nacional artística e técnica é alcançado na medida em que arte e técnica atendem as demandas locais e refletem as expressões mais típicas do nosso povo.

Como arquitetos e urbanistas temos que ser incansáveis para investigar e conhecer as origens dos nossos valores artísticos e, nutridos destas origens e do avanço técnico do mundo contemporâneo, contribuir para a criação de soluções arquitetônicas originais que continuem a nos distinguir universalmente. Temos, em conseqüência disto, que fazer uma reflexão profunda sobre a influência e apropriação da produção arquitetônica internacional, que supervaloriza linguagens e referenciais desgastados e com baixíssima análise crítica dos seus resultados. Para tal, temos que ter isenção estilística para não aceitar imposições estéticas ou midiáticas, de estilos que continuem inibindo o desenvolvimento de uma cultura arquitetônica pertinente e genuinamente brasileira.

Ao contrário de outras épocas, onde vivíamos sob a influência direta de um único estilo arquitetônico predominante, hoje vivemos num momento atual de pluralidade estilística, o que não significa - e devemos estar atentos a isto - ausência de estilo. A diversidade de estilos, sabemos bem, é uma conseqüência natural da multiplicidade das nossas necessidades interiores. Portanto, a compreensão da psicologia do gosto pode nos ajudar a fugir de dois grandes dogmas da estética: a idéia de que existe apenas um estilo visual aceitável ou, de uma forma ainda mais implausível, que todos os estilos são igualmente válidos. Linguagens e estilos do passado, reeditados de maneira acrítica nos dias atuais, não contribuem para o fortalecimento de uma cultura arquitetônica nova, simples e original.

Embora tenhamos a tendência a acreditar que uma obra importante deva ser complicada, muitos prédios bonitos são surpreendentemente simples, e até repetitivos nas suas formas. Lembrem-se sempre disto: no exato momento em que construímos um novo edifício, estamos, com isto, alterando a paisagem a nossa volta, por vezes, por um tempo que supera a nossa própria existência. Os melhores resultados arquitetônicos são aqueles que, generosamente, abrem mão da monumental individualidade em nome da beleza coletiva. Fazer arquitetura é, acima de tudo, construir a paisagem das nossas cidades em maior ou em menor escala.

Há beleza em tudo aquilo que é mais forte do que nós e podemos, então, dizer que nada na arquitetura é feio em si mesmo, apenas está no lugar errado ou feito do tamanho errado, pois a beleza é a filha dileta do relacionamento coerente entre as partes. A boa arquitetura, além de suas partes estarem em harmonia entre si, deve harmonizar-se fundamentalmente com o ambiente onde está, deve nos falar dos valores significativos e das características de sua localidade e, principalmente, do seu tempo.

Além disto, temos que ter em mente que não devemos nos afastar do conhecimento da realidade social e econômica do país em que vivemos, onde as grandes concentrações monetárias ainda nos caracterizam como país rico de povo economicamente pobre. A crise energética internacional e o desequilíbrio mundial do meio ambiente assumem patamares preocupantes, exigindo dos arquitetos e urbanistas atitudes empreendedoras, inovadoras e sustentáveis.

Meus arquitetos, neste momento em que vocês estão prestes a saírem da nossa escola para enfrentar a vida profissional, tão cheia de dificuldades e lutas, mas ao mesmo tempo, tão rica em alegrias e estímulos pelo trabalho criador, abre-se diante de vós um futuro brilhante e feliz, principalmente para aqueles que se derem conta que o seu futuro se funde com o futuro da sociedade em que estamos todos inseridos. A alegria, a felicidade, a segurança, a paz e a beleza que, individualmente, queremos ter será sempre aquela que conseguirmos construir para todos.

Desejo a todos vocês, meus queridos arquitetos, muita coragem e leveza para construção de um futuro brilhante, cheio de realizações e conquistas estáveis. Nesta nova jornada, que hoje se inicia, é preciso aprender a ser leve. Ser leve como o pássaro, e não como a pluma. Como o pássaro altivo que segue seu extinto, livre no ar, na busca das direções a seguir, ao contrário da frágil pluma que dependerá sempre da direção de uma brisa, para poder planar, por mais leve que seja, mas que não é nunca determinada pelo seu desejo.

Que esta saudade, que a partir de agora começa a povoar os nossos corações, lhes tragam sempre a doce lembrança dos momentos felizes em que estivemos juntos e lhes tragam, também, a certeza de que esta escola sempre será de vocês e sempre estará com suas portas abertas para recebê-los com suas grandes vitórias, alegrias e novas dúvidas.

Mais uma vez muito obrigado por este convite!!! Tomarei, para sempre, esta honrosa distinção como um grande incentivo para o meu trabalho diário dentro do ateliê.

Para mim, foi um grande privilégio e uma honra imensurável conduzi-los até aqui, pois como podemos ver, mesmo com todas as dificuldades, valeu a pena!!

Muito sucesso nesta próxima jornada!
Contem sempre comigo e com esta casa!!
Muito obrigado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Homenagem mais que merecida... Afinal de contas é você quem acompanha a nossa caminhada... Obrigada pelo carinho e dedicação
Bjos

Mirelle

Paulo Ricardo Bregatto disse...

Querida Mirelle,

Ver vcs naquele palco e ter a oportunidade de entregar a cada um o tão sonhado diploma foi uma experiência que ficará marcada para sempre no meu coração!!
Conte sempre comigo!!
Super bj