quarta-feira, 21 de março de 2018

Curto, Médio e Longo Prazo

GaúchaZH - Opinião

Recentemente escrevi um artigo sobre a necessidade de termos capacidade de planejamento para organizarmos nossas vidas buscando equilíbrio entre trabalho e lazer. De certa forma, sem nos darmos conta, vamos lentamente consentindo trabalhar mais e viver menos, movidos por um sentimento de urgência que aceitamos como se fossemos máquinas ou engrenagens deste sistema perverso que consome o nosso tempo apenas para o trabalho. Na sequência, o texto como foi publicado no GaúchaZH Opinião.


https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/noticia/2018/03/paulo-ricardo-bregatto-curto-medio-e-longo-prazo-cjeysgeza04gm01r4koun5r0j.html

Curto, Médio e Longo Prazo

Estamos presenciando transformações no mundo atual. Reformas sociais, inovações científicas, evoluções tecnológicas, entre outras. No entanto, indicadores que medem a qualidade de vida têm apresentado dados preocupantes: as pessoas não estão felizes. Avançamos em muitos setores da vida, mas não estamos sendo eficazes em transformar estes avanços em valor agregado capaz de nos permitir uma vida tranquila. Fatores essenciais como acesso ao trabalho, saúde, educação e segurança estão distantes da população.

A velocidade de processar dados digitais e projetar cenários virtuais deveria nos alertar para a importância de não vivermos na velocidade dos computadores, como se tudo fosse urgente, mas planejar com conhecimento de causa e consequência, nossas ações de médio e longo prazo almejando acesso básico àquilo que agrega qualidade de vida à população. Vivemos um momento de produção cultural acrítica, bombardeados por muita informação, no entanto nunca produzimos tão pouco conhecimento capaz de nos tirar da zona de urgência. É o paradoxo da tecnologia digital: quanto mais geramos e acumulamos dados, menos sabemos como transformar estas informações em conhecimento. E é o conhecimento o vetor capaz de nos fazer avançar na definição de padrões de qualidade de vida.

Planejar aprendendo com nossos erros e acertos já seria um bom caminho para os nossos gestores. Não se faz o novo negando os grandes acertos ou atropelando as experiências comprovadamente eficazes. Temos visto muito desta prática na gestão do país, empresas e universidades. O jovem não é garantia de inovação, o novo não é indicador de qualidade e a tecnologia não é condição única para os avanços do conhecimento. É claro que é preciso resolver muita coisa com brevidade, mas resolver com urgência o hoje, apenas cobre superficialmente os buracos do ontem, enquanto que a sociedade necessita é de uma revisão dos seus códigos de convivência, de uma reformulação ética e moral capaz de pavimentar a sociedade do amanhã.

Temos que reinventar o nosso espírito solidário de grupo. Vivemos em um planeta digital conectados em rede, mas nunca nos comunicamos tão pouco e estivemos tão sós e isolados. Uma das qualidades que fizeram da espécie humana uma das mais bem sucedidas entre as demais foi a capacidade de agir e reagir colaborativamente com seus pares. Portanto, menos risco e tensão e mais colaboração. Menos urgência e decisões superficiais. Mais seriedade e planejamento estratégico de médio e longo prazo para a vida.

Paulo Ricardo Bregatto
Arquiteto e Urbanista

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