sábado, 6 de janeiro de 2018

Formatura | FauUlbra

Auditório 220
Prédio 1 | 16h
Canoas | RS

Queridos afilhados,

Que alegria participar da solenidade da formatura de vocês hoje na Ulbra. Difícil não se contagiar pela alegria e emoção de vocês e de seus familiares. Fiquei ali na mesa vendo cada um de vocês, às vezes alegres e radiantes, às vezes pensativos e introspectivos e fiquei imaginando quantas emoções não estariam, naquele momento, povoando seus corações. A vibração com o fechamento de um ciclo importante e a conquista da formatura e, ao mesmo tempo, o compromisso de definir novos desafios e estratégias para suas conquistas. Diante do chamado do nome de cada um de vocês, corria os olhos na platéia para ver o orgulho dos seus familiares diante desta vitória. Emocionante o filme com a homenagem que prestaram aos seus pais e familiares.

No meio de toda esta emoção, me dei conta de que foi exatamente naquele auditório que eu também me formei, passados 29 anos, no dia 16 de dezembro de 1988, numa tarde quente de um verão que se aproximava. Claro que naquela época as formaturas eram bem mais simples. Nem perto da super produção da formatura de vocês. Mas a emoção é sempre a mesma. Lembro como se fosse hoje quando amanheceu o dia da minha formatura e meu primeiro pensamento foi: "a partir de hoje poderei assinar meu nome com o título de Arquiteto e Urbanista". Sempre tive muito orgulho da nossa profissão e sei que vocês também sentem. De certa forma a vida é isso mesmo. Este propagar de amor e emoções de uma geração para outra. Desejo que vocês sejam felizes e se sintam realizados com o nosso ofício. Que consigam atuar com zelo ético e rigor técnico. Que consigam formar suas famílias e criar seus filhos com dignidade e a certeza de serem bons profissionais. Desejo, também, que vocês saibam compartilhar oportunidades, ensinamentos e informações entre vocês e que nunca esqueçam que juntos somos mais fortes do que isolados. Vivemos num mundo conectado em rede digital, mas nunca estivemos tão isolados e sozinhos como atualmente. Portanto, desejo que vocês deixem de lado a cultura do individualismo para cultivar o prazer das experiências coletivas e compartilhadas. Somos todos irmãos de ofício! Nunca esqueçam disto!

Queria saber escolher a palavra certa para dizer do orgulho que sinto diante de cada turma que ajudo a formar... Então, enquanto a palavra não vem, saibam que vocês estão tatuados no meu coração e poderão sempre contar comigo para o der e vier! Um abraço apertado e um beijo carinhoso!

Discurso do Paraninfo

Componentes da mesa já citados.
Familiares e amigos aqui presentes nesta tarde de muitas alegrias e festas.
Meus queridos colegas arquitetos e urbanistas:

Foi com muita alegria que recebi o convite que vocês me fizeram para ser o paraninfo desta turma de jovens e bem preparados arquitetos e urbanistas. Conduzir vocês neste ritual de passagem, da vida acadêmica para a vida profissional, está entre as maiores distinções acadêmicas que um professor pode receber.

Caminhar com vocês ao longo do último ano da faculdade, discutindo e reformulando os rumos da nossa profissão e do ensino de arquitetura e urbanismo, a partir dos seus projetos, alicerçou a minha alegria. Seus sonhos e desejos de transformar este mundo, tão desgastado de valores éticos e morais, em nosso país temporariamente desprovido de conteúdo, fortaleceram cada vez mais a minha convicção de que é possível transformar a sociedade a partir da educação e das ações responsáveis de cada um. Nosso alegre, rigoroso e respeitoso convívio nos uniram ao redor de um objetivo comum: olhar o mundo que nos cerca pela lente da nossa profissão e da visão autoral e inovadora de cada projeto. No caso específico da turma de vocês, um mais um não são dois. São onze! Onze cabeças pensando e propondo em como as cidades, com seus edifícios e espaços públicos e privados, poderiam ser melhores a partir da viabilização dos seus projetos de diplomação.

O Adão estudou as relações entre espaço e cultura com o tema da Biblioteca Pública em Capão da Canoa. A Andressa trouxe a necessária reflexão sobre os espaços adequados para o ensino e a aprendizagem com o tema do Centro Educacional Infantil em Gravataí. O Daniel estudou a influência terapêutica da qualidade dos espaços na cura de pacientes com o tema do Centro de Atenção Psicossocial em Gravataí. A Franciele trouxe a atualidade dos temas conjugados propondo a junção de funções com o tema Habitação Estudantil + Coworking em Canoas. A Franciely, atenta aos movimentos dinâmicos das populações mundiais em grandes conflitos, propôs o Centro Kurdi de Inclusão para Refugiados e Imigrantes em Porto Alegre. A Gisele estudou a viabilidade de trazer vitalidade para o tecido urbano de parte da orla de Montenegro com o tema da Villa São João – Complexo Multiatividades. Na mesma linha de ação, buscando vitalidade para o tecido urbano de Santo Antônio da Patrulha, a Kelen propôs a reflexão sobre o aproveitamento de edificações pré-existentes com novas edificações com o tema Hub Comercial Cooperar. O Matheus propôs a reflexão sobre o sagrado e seus espaços e aspectos simbólicos com o tema da Igreja Adventista da Promessa em Capão da Canoa. A Patrícia, ciente do potencial paisagístico e natural de Três Coroas, estudou a arquitetura hoteleira com o tema Nature Pousada Ecológica. A Paula estudou as relações entre espaço, cultura, inclusão social e cidade com o tema da Biblioteca Parque em Porto Alegre. E a Taís propôs a reflexão sobre a inserção de grandes volumes em tecido urbano consolidado buscando baixo impacto formal com o tema do Centro Esportivo em Imbé.

Como podemos ver, a diversidade dos temas e lugares, associados à capacidade propositiva dos seus autores, nos permitiu transitar pela experiência fascinante de conhecer soluções arquitetônicas e urbanísticas capazes de alterar positivamente a paisagem das nossas cidades, tão carentes de funcionalidade, racionalidade e beleza.

Estamos hoje concluindo um ciclo. Novos desafios se farão presentes e outras jornadas e caminhos se abrirão para cada um de vocês. Mais cedo ou mais tarde, a saudade desta escola vai chegar, mas é para frente que se olha e se anda. Neste sentido, saibam que esta casa será sempre de vocês e sempre estará com suas portas abertas para ouvir e vibrar com suas conquistas e acolher suas novas dúvidas, pois a nossa escola - que sempre será nossa - será sempre a melhor referência das origens das nossas formações.

Sinto muito orgulho por ter participado deste momento importante e por ver vocês com esta satisfação imensa em seus rostos. Deste lugar que se encontram - e que sentaram ainda aspirantes - ao término desta cerimônia, se erguerão arquitetos e urbanistas e serão, portanto, os mais dignos herdeiros das qualidades e honrosas tradições do nosso ofício. Receberão, também, a grande e contínua tarefa de fortalecer e propagar, com o fruto do trabalho, os ideais e a genuína cultura arquitetônica brasileira, sempre com ações éticas, honestas e colaborativas, tendo em vista as necessidades da sociedade.

Por esta razão, meus arquitetos, lhes proponho brevemente como última lição de casa a reflexão sobre algumas virtudes fundamentais que expressam valores morais para o exercício da nossa profissão e da nossa responsabilidade primária como cidadãos.

Para tal, escolhi as seguintes virtudes: ética, leveza, coragem e alegria.

A escolha destas virtudes não representa aqui um juízo de valor de quem escolhe umas em detrimento de outras. Apenas as escolhidas são aquelas que, neste momento em que vocês se deparam com muitas transformações no campo pessoal e profissional, tornam-se as mais urgentes e devem receber de cada um a devida atenção como forma de fortalecimento dos laços de união colaborativa entre vocês e seus ideais por vir.

Inicio pela ética, por ser ela uma virtude vital na produção da realidade social brasileira em que estamos todos inseridos. O mundo atual, perturbado pela perigosa elasticidade interpretativa de conceitos e valores morais, requer mudanças urgentes. A capacidade humana de criar um mundo artificial, sem qualidade espacial, parece ter transcendido a nossa habilidade de coexistir com a natureza. A crise energética e o desequilíbrio do meio ambiente assumem patamares preocupantes, nos exigindo atitudes inovadoras e sustentáveis. O mercado de trabalho, com suas oportunidades e perigosas armadilhas, carece urgentemente de nova formatação, assim como, outras tantas oportunidades de trabalho, ainda adormecidas, necessitam ser lapidadas com afinco, inovação e empreendedorismo. Para tal, o fortalecimento ético da nossa categoria passa pelo nosso necessário trabalho na política profissional, revisando, fiscalizando e divulgando os princípios da ética, muitas vezes deixados de lado na concorrência imposta pela urgência das decisões. Toda pessoa possui um senso ético, uma espécie de “consciência moral”, que nos permite avaliar e julgar nossas ações para sabermos se são boas ou más, justas ou injustas. Embora relacionadas com o agir individual, a ética está relacionada ao desejo coletivo de realizar a vida com harmonia e está alicerçada nas ideias de bem e virtude enquanto valores perseguidos por todo ser humano na busca de uma existência plena e feliz, portanto, torna-se necessário reconhecer que o futuro de cada um de vocês se funde com o futuro da sociedade em que estamos todos inseridos.

Na sequência lhes proponho refletir sobre a leveza. Nesta nova jornada, que hoje se inicia, é preciso aprender a ser leve diante dos próximos desafios que poderão parecer densos e intransponíveis como as grandes montanhas. As próximas escolhas, principalmente aquelas que escolhemos justamente pela aparente leveza, poderão se revelar, numa análise madura, de um peso insustentável. Não devemos desistir! É neste exato momento que temos que mudar o nosso ponto de observação, buscando outra perspectiva para o problema. Não se trata de fuga para o mundo dos sonhos ou para o irracional. Apenas temos que aprender a enxergar as coisas sob outra ótica, outra lógica inovadora, outros meios eficazes de conhecimento, outros métodos de produção e outras formas de abordagem do problema. A leveza, neste caso, está muito mais associada à precisão e à determinação dos nossos atos. Está mais relacionada ao reconhecimento da importância das causas do que da necessidade urgente de suportar as consequências.

Como elo de união entre as virtudes anteriores vem a coragem. A coragem nos dá a base sólida para sabermos superar as dificuldades que virão como consequência das escolhas e dos próximos desafios. E as dificuldades virão! Assim sendo, desejo-lhes coragem para aguentar e durar, para viver, para suportar, para enfrentar, para combater, para chorar, para resistir, para não desistir, para perseverar. A coragem não se refere apenas ao futuro, à ameaça ou ao medo. Refere-se ao presente, e sempre está ligada à vontade, muito mais do que à esperança. Afinal, só esperamos o que não depende de nós. É por isto que a esperança só é uma virtude para aqueles que aguardam imóveis a chegada de tudo, ao passo que a coragem é uma virtude para qualquer um. A coragem não é um saber, é uma decisão. Não é uma opinião, é uma atitude!

Por fim, para adoçar o caminho, devemos plantar e cultivar sempre a alegria. A alegria é o estado de saúde que devemos sempre buscar, mais que a própria felicidade, pois a alegria não é um estado de espírito como se supõe ser a felicidade, mas uma sensação. Alegria de fazer, de construir, de atender, de estender a mão, de servir, de cooperar, de compartilhar. Alegria, coisa tão incerta como o vento que sopra lá fora, que tem dias que vem, dias que não vem, que às vezes é tão forte que vira tufão, outras parece apenas brisa suave, que pode vir do sul ou do norte, do leste ou do oeste, mas que vem, queiramos ou não, na hora ou do jeito que bem entender.

Queridos, para mim foi um grande privilégio e uma honra imensurável caminhar com vocês até aqui!
Mais uma vez muito obrigado por este convite!

Paulo Ricardo Bregatto
Canoas, 06/01/2018.

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