domingo, 17 de julho de 2016

Coordenação Modular - Economia e Gestão - Parte 5

5 – Recomendações

A Coordenação Modular é o instrumento destinado a coordenar as dimensões dos elementos produzidos na fábrica com todos os projetos de uma construção. A sua aplicação implica em uma disciplina de trabalho que é considerada indispensável para que a industrialização e racionalização do processo construtivo possam ser realizadas de forma orgânica, correta e segura. Esta metodologia implica em uma reformulação da atuação dos projetistas, nos campos distintos e integrados, do desenho industrial, do projeto arquitetônico e dos projetos complementares. Diante disto a indústria de materiais e componentes deverá revisar os seus planos de produção em função de critérios semelhantes aos adotados por outros tipos de indústrias, onde o desenvolvimento de produto merece uma ênfase especial.

No que tange a produtividade, devemos admitir que a construção civil no Brasil é essencialmente tradicional e artesanal. Este fato é consequência da mão-de-obra desqualificada e mau remunerada que representa a grande maioria dos trabalhadores da construção civil em nosso país. Em função desse quadro, há um certo alheamento de arquitetos e construtores em relação aos sistema industrializados. Assim, constata-se as razões pela qual no Brasil todos os sistemas construtivos industrializados implantados nos anos 70, a partir das regras da Coordenação Modular, não terem encontrado um campo fértil para seu desenvolvimento.

Cabe salientar que a coordenação modular é impossível se não existir um projeto integral do edifício. Nada poderá ser omitido ou deixado para estudo posterior no decorrer da execução. Observamos que, na pesquisa feita sobre alguns materiais e sistemas construtivos industrializados encontrados no mercado, as teorias ditadas pela coordenação modular e seu módulo universal M são completamente desconsideradas.

Estes materiais e sistemas construtivos são limitados a um uso específico, e só são associados a outros pelo fato de que a maior parte das construções serem executadas da forma mais tradicional conhecida. Se partirmos para a análise da técnica como são solucionadas as juntas entre diferentes materiais e sistemas, teremos um quadro ainda mais estarrecedor, pois as indústrias resolvem as juntas para encaixar as partes de seu produto, e as demais ficam por conta e solução do construtor, sem controle e diretrizes universais, durante a execução no canteiro de obras.

O processo de identificação das partes e o seu projeto devem ser objeto de uma metodologia adequada, que, partindo da análise fenomenológica das tipologias, deve decompor o organismo arquitetônico em partes, ou elementos construtivos que sejam caracterizados por três qualidades fundamentais: ser funcional e formalmente definidos, ser formal e tecnicamente componíveis e ser econômica e tecnicamente fabricáveis em série.

Como já vimos, o arquiteto deverá modificar sua técnica de projeto. Deverá compreender que o problema não é o de apenas modular todas as dimensões, mas somente aquelas que se relacionam com a utilização de elementos construtivos pré-fabricados. Assim, de acordo com o sistema construtivo o arquiteto deverá decidir quais elementos serão modulados de preferência. Desta forma poderá tirar o máximo proveito da coordenação sem cair em preciosismos ineficazes.

Uma parceria entre arquitetos, indústrias fornecedoras, mão-de-obra especializada, departamentos de pesquisa das Universidades e organismos responsáveis pela normatização e certificação, podem reverter a médio prazo, a presente situação. A busca do aperfeiçoamento já está surgindo na construção civil, através da revisão das normas técnicas do setor e de programas de qualidade, onde os escritórios de projeto e as grandes empresas construtoras buscam a qualidade total através da racionalização de materiais e técnicas e do aprimoramento da mão-de-obra com cursos de formação e atualização e melhores condições de trabalho.

A coordenação modular, como o texto comprova, jamais irá comprometer a capacidade criativa dos arquitetos. Pelo contrário, a existência dos condicionantes da coordenação modular vai resultar em obras cujos valores estéticos e plásticos estarão em harmonia perfeita com os valores econômicos.

Referências

BREGATTO, Paulo Ricardo. Coordenação modular: breve história e aspectos importantes. In: Documentos de arquitetura - traços&pontos. P202-237, Canoas: Ed.Ulbra, 2005.

FERREIRA, M.S.; BREGATTO, P.R.; KOTHER, M.B.M. Arquitetura e urbanismo: posturas, tendências e reflexões. Volume 2 - 1ª edição, Porto Alegre: Livraria do Arquiteto, 2008.

HABRAKEN, N. J. El Diseño de Soportes, Colección Arquitectura, Perspectivas, Barcelona: Ediciones Gustavo Gili S.A., 1979.

KOTHER, M.B.M.; FERREIRA, M.S.; BREGATTO, P.R. Arquitetura e urbanismo: posturas, tendências e reflexões. Volume 1 - 1ª edição, Porto Alegre: Edipucrs, 2006.

MASCARÓ, Juan L. Aspectos Macroeconómicos de la Coordinación Modular, Revista SUMMA, número 85, Argentina,1975.

NISSEN, Henrik. Construcción Industrializada y Diseño Modular, Madrid: H. Blume Ediciones, 1972.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15873 Coordenação Modular para Edificações. Rio de Janeiro, ABNT, 2010.

ROSSO, Teodoro. Teoria e Prática da Coordenação Modular, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, São Paulo, 1976.

Nenhum comentário: