sábado, 15 de agosto de 2009

FauUlbra - 14 de agosto de 2009

Queridos colegas,

Ainda estou sob os efeitos da emoção contagiante e da energia positiva da formatura de ontem. Quero agradecer mais uma vez a super homenagem que vocês me prestaram, me escolhendo para ser o padrinho desta turma. Na minha opinião, não existe maior distinção que um professor possa receber do que esta.

Ontem, no caminho para casa, fiquei lembrando do ano que passamos juntos, estudando, trabalhando, discutindo, divergindo muitas vezes, convergindo outras tantas, entre outras emoções e momentos divertidos. É incrível como não sentimos o tempo passar quando estamos envolvidos com os afazeres diários e com as várias demandas do Atelier.

Mas o tempo passou e chegamos ao fim de mais uma longa jornada. Fiquei muito feliz por ter tido a oportunidade de conviver com vocês, nesta reta final. Guardo cada um no meu coração. Lhes desejo muita sorte e muito sucesso nesta nova fase das suas vidas. Não esqueçam que continuamos ligados para sempre, a partir da noite de ontem!!
Contem sempre comigo!!
Um super beijo e um super abraço, já com saudade!!

Discurso proferido na solenidade de formatura da turma de Arquitetura e Urbanismo da Ulbra, no dia 14 de agosto de 2009, às 20h, no auditório 220 do prédio 1.

Componentes da mesa já citados.
Familiares e amigos aqui presentes.
Meus queridos colegas arquitetos e urbanistas:

Foi com muita alegria e emoção que recebi esta grande distinção acadêmica que vocês agora me proporcionam, me escolhendo para proferir algumas palavras de despedida, neste momento em que vocês trocam a vida universitária pelos encargos da vida profissional, nesta honraria de ser o paraninfo desta turma de jovens profissionais da arquitetura e do urbanismo.

Minha alegria é dupla. Primeiro, pelo carinho que tenho por esta turma, onde tive o privilégio de fazer bons amigos, e segundo, pelo momento simbólico em que os novos rumos desta prestigiosa Universidade agora se alinham com os rumos já traçados pela nossa escola de arquitetura e urbanismo - uma das pioneiras no estado com seus 37 anos de existência - propondo para si novos desafios e, conseqüentemente, o resgate das suas honrosas e tradicionais qualidades acadêmicas.

Sei que este convite, para fazer uso desta tribuna, foi originado por aqueles sentimentos mútuos de simpatia, companheirismo, respeito e amizade, sempre tão presentes durante os anos que convivemos juntos nas disciplinas que cursamos, onde sempre movidos pelo sentimento de curiosidade sobre o mundo a nossa volta, buscávamos entender melhor, pela ótica do nosso ofício, o comportamento humano diante dos mais diversos espaços, assim como, buscávamos, também, participar sempre ativos da definição dos novos rumos para o ensino de arquitetura e o fortalecimento, sempre necessário, dos princípios da ética para o desenvolvimento da nossa profissão.

Deste lugar que vocês se encontram e que sentaram ainda aspirantes, daqui alguns instantes, ao término desta cerimônia, se erguerão arquitetos e urbanistas e serão, portanto, os mais dignos herdeiros das valiosas qualidades e honrosas tradições do nosso ofício e, também, da grande tarefa de fortalecer, com o fruto do vosso trabalho, a cultura local e nacional com ações colaborativas, de maneira ética e honesta, sempre tendo em vista as necessidades da sociedade em que vivemos.


A arquitetura, sempre lhes disse isto, é, também, uma filosofia de vida, pois tratando da espécie humana, dos seus espaços e do mundo que os cerca, deixa pouca coisa sem a intervenção direta e sem a influência necessária do arquiteto. A arquitetura é, portanto, ciência e ofício. Ciência, na exata medida em que nos permite, a partir da pesquisa aplicada, conhecer e investigar as necessidades e demandas reais da sociedade e do mercado em que estamos inseridos. E é ofício, pois, a partir dele, participamos ativamente da vida das pessoas, seja na pequena escala habitacional da célula da família ou na escala das grandes edificações e intervenções urbanas.

Por esta razão, meus arquitetos, entre outras tantas, somos uma profissão tão, e cada vez mais, viável e fundamental nos dias de hoje, principalmente quando reconhecemos tantas coisas por fazer neste mundo desigual que temos que mudar e que depende muito das nossas atitudes e da nossa luta conjunta.

Nossa arquitetura, num passado recente, alcançou sucesso e expressão mundiais justamente por apresentar aspectos plásticos e técnicos originais e inovadores, genuinamente brasileiros. Assim como no passado, ainda hoje, as maiores expressões mundiais da arquitetura e do urbanismo, demonstram interesse por nossos feitos e vem beber em nossa fonte.

Como arquitetos e urbanistas temos que ser incansáveis para investigar e conhecer as origens dos nossos valores artísticos e, nutridos destas origens e do avanço técnico do mundo contemporâneo, contribuir para a criação de soluções arquitetônicas originais que continuem a nos distinguir universalmente.

Em conseqüência disto, temos que fazer uma reflexão profunda sobre a influência e apropriação da produção arquitetônica internacional, que supervaloriza e incorpora linguagens e referenciais desgastados e com baixíssima análise crítica dos seus resultados. Para tal, temos que ter isenção estilística para não aceitar imposições estéticas ou midiáticas, de estilos que continuem inibindo o desenvolvimento de uma cultura arquitetônica pertinente e genuinamente brasileira.

Ao contrário de outras épocas, onde vivíamos sob a influência direta de um único estilo arquitetônico predominante, hoje vivemos num momento atual de pluralidade estilística, o que não significa ausência de estilo.


A diversidade de estilos, sabemos bem, é uma conseqüência natural da multiplicidade das nossas necessidades estéticas interiores. Portanto, a compreensão da psicologia do belo pode nos ajudar a fugir de dois grandes dogmas da estética: a idéia de que existe apenas um estilo visual aceitável ou, de uma forma ainda mais implausível, que todos os estilos são igualmente válidos. Linguagens e estilos do passado, reeditados de maneira acrítica nos dias atuais, não contribuem para o fortalecimento de uma cultura arquitetônica nova, simples e original.

Embora tenhamos a tendência a acreditar que uma obra importante deva ser complicada, muitos prédios bonitos são surpreendentemente simples, e até repetitivos nas suas formas. Lembrem-se que no momento em que construímos um novo edifício, estamos, com isto, alterando a paisagem a nossa volta, por vezes, por um tempo que supera a nossa própria existência. Os melhores resultados arquitetônicos são aqueles que, generosamente, abrem mão da monumental individualidade em nome da beleza coletiva. Fazer arquitetura é, acima de tudo, construir a paisagem das nossas cidades em maior ou em menor escala.

Há beleza em tudo aquilo que é mais forte do que nós e podemos, então, dizer que nada na arquitetura é feio em si mesmo, apenas está no lugar errado ou feito do tamanho errado, pois a beleza é a filha dileta do relacionamento coerente entre as partes. A boa arquitetura, além de suas partes estarem em harmonia entre si, deve harmonizar-se fundamentalmente com o ambiente onde está, deve nos falar dos valores significativos e das características de sua localidade e, principalmente, do seu tempo.

O mundo atual, perturbado por criações humanas, requer mudanças urgentes. A capacidade humana de criar o artificial parece ter transcendido a nossa habilidade de coexistir com a natureza. A crise energética internacional e o desequilíbrio mundial do meio ambiente assumem patamares preocupantes, exigindo dos novos arquitetos e urbanistas atitudes inovadoras e sustentáveis. O mercado de trabalho, com suas inumeráveis oportunidades, mas, também, com suas perigosas armadilhas, carece urgentemente de nova formatação, assim como, outras tantas oportunidades de trabalho, ainda adormecidas aguardando por nós, necessitam ser lapidadas com afinco, inovação e empreendedorismo.

Para tal, o fortalecimento ético da nossa categoria passa, também pelo vosso necessário trabalho na política profissional, revisando e divulgando os princípios da moral e da ética, tantas vezes, deixados de lado na concorrência imposta pela urgência das decisões.

Meus arquitetos, estas constatações do mundo como está, com muitos valores éticos e morais esquecidos, sucateados e transformados, não nos devem levar ao comodismo de quem acha que nada pode ser feito, mas a estimular cada vez mais a nossa atividade criativa e reformista.

Neste momento em que vocês estão prestes a sair da nossa escola para enfrentar a vida profissional, desejo-lhes muito sucesso, mas acima de tudo muita coragem, pois a coragem nos dá a base sólida para sabermos superar todas as dificuldades que virão. E elas virão...

Desejo-lhes, portanto, coragem para durar e agüentar, coragem para viver, coragem para suportar, para combater, para enfrentar, para resistir, para perseverar. A coragem não se refere apenas ao futuro, ao medo ou à ameaça. Refere-se, também, ao presente, e sempre está ligada à vontade, muito mais do que à esperança. Afinal, só esperamos o que não depende de nós, só queremos o que depende de nós. É por isto que a esperança, ao meu ver, só é uma virtude para aqueles que aguardam imóveis a chegada de tudo, ao passo que a coragem é uma virtude para qualquer um. A coragem não é um saber, mas uma decisão. Não é uma opinião, mas uma atitude.

Mais uma vez muito obrigado por este convite!!! Tomarei, para sempre, esta honrosa distinção como um grande incentivo para o meu trabalho diário dentro do atelier. Para mim, foi um grande privilégio e uma honra imensurável conduzi-los até aqui!!

Muito sucesso nesta próxima jornada! Tenham a certeza de que esta escola sempre será de vocês e sempre estará com suas portas abertas para recebê-los com suas grandes vitórias, alegrias e novas dúvidas.

Muito obrigado!!!

2 comentários:

Nara disse...

BREGATTO, mestre querido,sentirei saudades das aulas, dos cafés com cuca...e de todos os seus "pareceres" para melhorar nossos projetos, exigindo sempre infinita pesquisa, deixando-nos loucos...mas sempre com a melhor intenção.
Um abraço mega apertado.
Narinha

Paulo Ricardo Bregatto disse...

Narinha querida,

Sempre que a saudade bater forte venha nos visitar! Nossa escola estará sempre te esperando! Se der, passei na casa das cucas no caminho! Hehehehe!! Muito sucesso na vida profissional!!
Bj do dindo!!!