domingo, 12 de julho de 2009

Fau Feevale

Na quinta-feira (09/07/2009) participei, como convidado externo, das bancas do trabalho final de graduação da Fau Feevale. Na ocasião analisei quatro trabalhos juntamente com os colegas da casa, Profª Ana Carolina Pellegrini, Profª Luciana Martins, Prof. Fabio Bortoli.

Os trabalhos foram os seguintes:

Instituto Desportivo e de Inclusão Social (Laura Cristina Ávila Moura)
Espaço Cultural (Luciana Ramos Hanich)
Centro de Esporte e Lazer – Sede para o PELC de Ivoti (Simone da Silva)
Abrigo para Moradores de Rua (Ana Lucia Adamy)

Minha análise final foi bastante positiva com relação ao resultado dos trabalhos, podendo destacar várias qualidades. Temas relevantes, não inventados, com foco e preocupação social clara e sem exageros, vinculados a demandas reais das comunidades ou a projetos existentes financiados por organismos federais. Outro fator de destaque é a demonstração pertinente do processo de projeto, evidenciando controle adequado ao nível de complexidade e ao grau de exigência de desenvolvimento de cada tema. Dos croquis de criação, passando pelos diagramas explicativos, pelos elementos básicos de expressão e desenhos básicos de arquitetura (implantação, plantas baixas, cortes, fachadas, perspectivas internas e externas e maquetes físicas).

As análises nos permitiram, também, fazer uma boa discussão sobre a arquitetura e algumas reflexões sobre aspectos que devem ser sempre fortalecidos ao longo da formação, nas disciplinas regulares de projeto, e, principalmente, no trabalho final de curso.

Entre estes aspectos cabe destacar a importância do domínio pleno dos fundamentos do desenho de arquitetura, muitas vezes deixados de lado, pela superficialidade do conhecimento preciso da linguagem gráfica ou pelo descaso com que são tratadas algumas plotagens finais dos trabalhos. Devemos estar sempre atentos as armadilhas que a tecnologia digital traz para as mãos, muitas vezes, pouco habilitadas dos alunos que tendem a confundir a beleza das imagens geradas a partir da tecnologia digital com a real consistência dos projetos expressos por ela.

Também, as repetições desnecessárias das imagens digitais, ocupando espaços das pranchas que devem ser preenchidos com informações realmente relevantes, devem ser questionadas e abolidas, uma vez que temos sempre que refletir sobre a eficiência da quantidade de imagens e seu real potencial de venda da idéia. Muitas vezes, torna-se fundamental delegar a apenas uma ou duas boas perspectivas (digitais ou convencionais) a responsabilidade de vender a idéia do projeto. Como sabemos bem, tudo que é demais satura e isto vale principalmente para as imagens do projeto.

Boas implantações e aproveitamentos adequados das áreas dos terrenos são qualidades que devemos destacar, também, nas análises dos trabalhos. No entanto, torna-se necessário revisar a nossa postura propositiva diante das características naturais dos terrenos minimizando alterações significativas da topografia natural, refletindo sobre a pertinência entre a solução formal adotada e a realidade natural do terreno. Penso que devemos sempre questionar se a estratégia de implantação que exige grandes alterações na topografia natural do terreno não está sendo gerada por um desejo de viabilizar uma forma para a edificação que nasceu antes da análise criteriosa das suas características naturais de níveis.

Também, uma revisão criteriosa no tratamento paisagístico das áreas abertas deve ser objeto de uma reflexão profunda em nossas escolas, buscando evitar que os desenhos de implantação tragam apenas hachuras artificiais nos pisos em detrimento de uma proposta com maior intenção, significado e sentido de lugar para os espaços abertos do projeto e para o projeto de paisagismo. Temos que ter em mente que quando não focamos no projeto do espaço aberto, os desenhos de piso e as hachuras, além de confundir a leitura, representam apenas uma abstração gráfica nas plantas baixas. Devemos, então, buscar maior sentido de lugar e hierarquização dos espaços abertos evitando que os mesmos sejam apenas resíduos formais resultantes das formas e da implantação dos edifícios. Em conseqüência direta disto temos que explorar, também, as relações funcionais diretas entre os espaços internos do pavimento térreo e as áreas abertas adjacentes, dotando-as de qualidades que oportunizem as relações de encontro e permeabilidade física e visual.

Devemos, também, estar atentos ao apelo e ao uso acrítico de uma vanguarda estética internacional que nos é imposta pela força da mídia impressa e que tende novamente a criar uma idéia engessada de uma linguagem arquitetônica universal, sem que ao menos tenhamos, sobre ela, tido uma postura crítica, contextualizada e culturalmente sólida. Portanto, penso que temos que trabalhar com maior afinco nas questões plásticas e estéticas buscando boa composição e caráter apropriados ao tema, ao programa e ao sítio, revisando sempre as nossas referências de linguagem e comprometimentos formais.

Cada vez mais temos que ter atitudes projetuais contemporâneas, empreendedoras e sustentáveis, e, portanto, não devemos exigir das novas edificações um consumo energético alto para sua construção e, principalmente, para sua constante manutenção. Portanto, devemos revisar os sistemas de aberturas nas fachadas e seu potencial de estabelecer as devidas relações com o exterior, bem como, seu potencial plástico e compositivo, bem como, devemos refletir sobre a orientação correta dos brises de acordo com a orientação solar.

Outras questões, de cunho técnico e construtivo, também, foram objeto das nossas discussões ao longo das análises dos trabalhos. Como sabemos, a região sul do país se caracteriza por uma formação plena e qualificada, onde todos os aspectos da arquitetura são contemplados. Tema e programa, terreno e sítio, composição, linguagem e caráter e construção, são áreas do saber que se encontram equilibradamente nas propostas pedagógicas dos cursos e devem, em conseqüência disto, estar contempladas nos projetos dos nossos alunos. Portanto, torna-se imprescindível a revisão criteriosa dos aspectos técnicos de cada projeto. Da modulação estrutural ao dimensionamento preliminar das estruturas e seus elementos (pilares, lajes, treliças, vigas, entre outros) para que as soluções estruturais e construtivas devam aparecer fartamente graficadas nas plantas baixas, cortes, fachadas e detalhamento técnico-construtivo. Evidenciar os materiais de revestimento gerais dos pisos, paredes e tetos (materiais, texturas e cores). Refletir sobre a necessidade e eficiência das grandes coberturas impermeabilizadas e das coberturas verdes numa análise menos de tendência e mais de contexto. Questionar a relevância dos detalhes técnicos e construtivos de acordo com a complexidade da edificação. Revisar o dimensionamento das calhas e tubos de queda pluvial. Observar as legislações específicas (Abnt, Nbrs, código de edificações, pddu, incêndio, acessibilidade universal, entre outras). Revisar criteriosamente os espaços técnicos da edificação tais como, casas de máquinas de ar condicionado, central térmica, gerador, subestação, transformador, reservatórios (inferior e superior), entre outros.

Mesmo diante de tantos assuntos, quase não sentimos o passar das horas. As discussões cordiais sempre conduzidas com seriedade e respeito, reconhecendo sempre as qualidades dos trabalhos e aqueles pontos onde cada um poderia ter crescido mais, foram características marcantes nos nossos comentários e pareceres. Cabe destacar ainda a destreza com que os alunos apresentaram verbalmente os seus trabalhos demonstrando conhecimento de causa, autonomia e comprovada autoria das propostas.

Além disto, destaco o ambiente saudável daquela escola. Um projeto pedagógico sério, centrado e maduro planejado e conduzido coletivamente com transparência por pessoas realmente interessadas na qualidade da formação dos seus alunos.

Aos amigos da Feevale, desejo muito sucesso na condução dos trabalhos e agradeço a cordial acolhida da querida Profª Ana Pellegrini e demais colegas que me fez voltar para Porto Alegre naquela noite fria e chuvosa de inverno com aquele sentimento bom de saudade, que só se torna possível sentir, quando estamos entre amigos!!

Valeu!!

Um comentário:

Unknown disse...

Querido Bregatto,
parabéns pelo texto e pelo blog! Fiquei muito feliz em verificar aqui o desdobramento de nossa tarde de trabalho. Obrigada pelas palavras tão queridas no post e ao vivo. Só que a satisfação foi toda nossa, de poder contar contigo na banca. Vamos ver se repetimos a dose daqui par a frente. Beijão! Aninha.