Consciente de que é para os ateliês de projeto nas universidades que convergem os saberes essenciais para a formação dos arquitetos e urbanistas, Paulo Ricardo Bregatto defendeu o ensino como vetor de desenvolvimento humano e social em contraponto à política de cortes de investimentos na educação que insiste em propagar a miséria em todos os níveis da educação. Segundo ele, a precarização do ensino está atrelada diretamente ao modelo de negócio atual da educação baseado no ensino de massa, padronização das informações e saberes, mensalidades baixas e redução dos custos com infraestrutura e professores.
O professor destaca ainda que o ensino não pode ser tratado como mercadoria, tampouco o estudante ser tratado como cliente.
Bregatto mencionou que universidades são empresas, independentemente de serem públicas ou privadas. O problema, alertou ele, é elas serem empresas mau gerenciadas. “Uma Universidade que for uma boa empresa, deve desenvolver um produto de qualidade, que tenha na sua linha de frente os melhores professores para ter a melhor capacidade de manutenção dos seus estudantes e competência para prospecção de novos.
Os professores também debateram os impactos da pandemia no ensino de Arquitetura e Urbanismo principalmente frente às desigualdades tecnológicas, sociais e financeiras e às novas tarefas delegadas aos profissionais de ensino. Atualmente o detentor do capital (gestores das IES) não precisa mais dispor da infraestrutura e dos meios de produção que foram transferidos totalmente ao professor, ponderou Bregatto.
O professor chamou atenção para o fato de que, em algumas instituições de ensino, a transposição do presencial para o online na pandemia foi natural e sem dificuldades para sua implantação, algo que deve ser analisado e questionado. “Será que a própria essência do ensino e da formação dos novos profissionais já não vinha se precarizando e encontrou solo fértil para que a mudança acontecesse?”. E ponderou que isso mostra a necessidade de ir além das questões relacionadas ao EAD/ERE, reforçando o debate sobre os currículos das escolas, a formação da nova geração de profissionais, o mundo do trabalho e principalmente a função social da profissão. “Agora, estamos afastados de nosso espaço de produção, da cidade, das bibliotecas, do canteiro de obras experimental, das saídas de campo e das visitas aos espaços reais onde sempre trabalhamos. Quem são os novos profissionais que vamos formar?”, questionou, alertando para um debate emergente sobre a formação profissional.
Bregatto destaca ainda que o ERE está impondo um reducionismo na forma de comunicação (visual, verbal, corporal, gráfica) entre o professor e os estudantes e que a massificação das aulas online e videoaulas está nos levando para uma perda da identidade das formações universitárias (formação ou Deformação?).
Para fomentar esse debate, Bregatto sugere que os sindicatos trabalhem para aglutinar o público fragmentado por força do distanciamento social. “Alunos, professores, gestores, entidades de classe, CAU e MEC, todos temos que buscar a união para furar as barreiras das dificuldades de comunicação para alinhar o discurso e aproximar os interlocutores em prol dos interesses reais da profissão. Precisamos aglutinar forças para ter tranquilidade de avaliar e planejar os rumos da formação. As IES ficam 5 anos com os estudantes e a sociedade, o mercado de trabalho, as entidades de classe e o conselho ficam 50 anos. Somente isso já seria um indicativo da necessidade de buscarmos um compartilhamento das decisões sobre os rumos da nossa formação.”
O Fórum Saergs no Mundo do Trabalho é um seminário virtual promovido pelo Sindicato dos Arquitetos no Estado do RS. A agenda tem o patrocínio do CAU/RS e apoio da FNA, IAB, Fenea e CUT.
Live promovida pelo SAERGS
03 de novembro de 2020
http://saergs.org.br/blog/2020/11/04/educar-e-ensinar-a-criar-um-mundo-nao-a-adaptar-se-a-ele/
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