segunda-feira, 16 de julho de 2018

Porto dos Casais

Concurso Público de 1996

Em 1996 o Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do RS, organizou o Concurso Público de Arquitetura para o Cais Mauá de Porto Alegre, intitulado Porto dos Casais, sob coordenação dos colegas arquitetos JOSÉ CARLOS BARCELLOS CAMPOS e EDIOLANDA LIEDKE. O concurso foi promovido pela Secretaria dos Trasportes do Estado do RS, com o propósito de selecionar a melhor proposta para a revitalização do Cais Mauá de Porto Alegre, incluindo o Plano Diretor Urbanístico do Cais e o Anteprojeto dos espaços do Pórtico Central e dos Armazéns A e B.

Este concurso foi organizado em duas etapas: a primeira etapa escolheu três projetos, entre os vários encaminhados, e a segunda etapa definiu a melhor proposta entre as três previamente selecionadas. Dos 114 arquitetos que adquiriram o edital do concurso (um terço de outros estados), 39 apresentaram propostas. Todos os 39 projetos que concorreram ficaram expostos para visitação pública no antigo restaurante do DEPREC, entre os armazéns A2 e A3. Era Presidente do IabRS o saudoso colega Carlos Maximiliano Fayet, grande defensor dos concursos públicos de arquitetura e urbanismo, principalmente para trabalhos desta envergadura.

Fizeram parte da comissão julgadora os seguintes componentes:

Arqa. Magnólia Maria Pinheiro Daniel – Titular pelo Ministério dos Trasnportes
Arqa. Laïs Salengue – Titular pela Secretaria dos Transportes
Arq. Oscar Souza Trindade – Titular pela Secretaria dos Transportes
Arq. Carlos Maximiliano Fayet – Titular pelo IabRS
Arq. Francisco Pedro Bopp Simch – Titular pelo IabRS
Arq. Moacyr Moojen Marques – Titular pelo IabRS
Arq. Ronald Spieker – Titular pelo IabRS

Foram classificados na primeira etapa do concurso junto com o nosso projeto, que no concurso recebeu o número 1, os arquitetos Carlos Alberto Medeiros Morganti, com o projeto de número 10 e o arquiteto Alberto Adomilli, com o projeto de número 32. Receberam menções honrosas os arquitetos Trajano Staggliotti Silva (projeto de número 20), Flávio Kiefer (projeto de número 15), Rafael Schiaffino (projeto de número 75) e Samuel Kruchin (projeto de número 100).

A seguir apresento, depois de 22 anos, e movido pelas renovações que estamos acompanhando ao longo da orla, nossa proposta classificada em terceiro lugar no concurso de 1996.



1 - A ORIGEM / PRESSUPOSTOS BÁSICOS

Para esta segunda etapa do concurso, procuramos aprofundar e complementar a conceitução do problema para a REVITALIZAÇÃO DO CAIS MAUÁ DE PORTO ALEGRE, tentando atender a todos os dados programáticos fornecidos pela Ata de Julgamento da primeira etapa do Concurso e coletados a partir das contribuições oportunizadas pelo Debate Técnico e pelas consultas efetuadas em vários setores da Municipalidade e do Estado, bem como, fazendo com que possa expressar, enquanto obra realizada e construída, um marco referencial de resgate, preservação, revitalização e animação na cidade de Porto Alegre.

Estudando a origem e o processo de evolução urbana da cidade vemos que ela buscou as margens do Guaíba, delta de confluência de cinco rios que penetram o Estado em várias direções, por motivos militares e econômicos e, a partir disto, a simbiose "cidade-rio-cidade" se estabeleceu assim como a localização estratégica de Porto Alegre ganhou relevância. Além dos desafios propostos pelo edital, nosso projeto utiliza como pressupostos básicos:

1.1 - Retomada das visuais do Guaíba pela cidade e a conseqüente devolução do cais Mauá à população
1.2 - Resgate e revitalização dos quatro eixos históricos e representativos da origem e formação da cidade
1.3 - Ampliação e redesenho, de forma sinuosa, romântica e sensual, da orla do cais Mauá oportunizando mais espaço aberto para utilização da população criando o conceito de “Cais-Parque”
1.4 - Implantação, no “Cais-Parque”, de um conjunto de praças temáticas evidenciando os quatro elementos que tradicionalmente compõem tudo que existe na natureza, fogo, terra, água e ar
1.5 - Implantação de equipamentos especiais de cultura, comércio, turismo, lazer e serviços em cada um dos quatro eixos básicos do projeto como, mirantes, restaurante panorâmico, marinas, farol, etc.
1.6 - Ampliação e o redesenho da orla do Guaíba nas imediações da usina do gasômetro e sua conseqüente transformação em área de manifestação cultural (eixo da cultura)
1.7 - Proposição de transporte hidroviário de passageiros para fins turísticos e intermunicipais
1.8 - Relocação dos terminais de transportes coletivos de passageiros das imediações da Av. Sepúlveda para locais mais apropriados
1.9 - Revisão das bases de cálculos do sistema de contenção das cheias e consequente substituição do muro da Mauá, embasada em soluções técnicas viáveis, por um sistema natural (com apelo visual e paisagístico), permanente e definitivo que chamamos de “dique natural”

2 - A ORLA DO CAIS MAUÁ / O CAIS-PARQUE

Com o intuito de proporcionar, através da revitalização da área do Porto de Porto Alegre, o retorno do cais ao convívio da cidade, criando um novo e grande ponto de encontro da população junto ao Guaíba, nosso projeto propõe três transformações básicas em seu desenho. Fizemos isto valorizando e considerando a importância fundamental que esta extensa área do cais exerce no desenho do perfil desta parte antiga da cidade, que ao longo do tempo vem se constituindo em uma marca da sua identidade, definindo um limite e emoldurando a paisagem urbana.

2.1 - A primeira diz respeito a criação do CAIS-PARQUE a partir da ampliação da margem do cais, com o intuito de aumentar a área de manifestações públicas e lazer, bem como, de oferecer condições para que a população possa usufruir de uma nova e maravilhosa perspectiva da cidade, a vista do cais avançado para os armazéns. Objetivamos, também, com isto, garantir a ambiência e a visualização da usina do gasômetro, de sua chaminé e de todo o conjunto arquitetônico do PORTO DOS CASAIS vistos de uma nova perspectiva.

2.2 - A segunda, também com o objetivo de aproveitar ao máximo os recursos de beleza natural do PORTO DOS CASAIS, será a implantação dos equipamentos especiais de cultura e lazer organizados em cada um dos quatro eixos básicos estruturadores da proposta, implantados sobre o guaíba. Estes braços avançando sobre o guaíba oportunizarão, também, a visualização do PORTO DOS CASAIS a partir deste novo ângulo de visão.

2.3 - Por fim, investigando a evolução urbana de Porto Alegre, a partir da análise de mapas antigos (anteriores ao Cais Mauá), constatamos a bela sinuosidade do perfil original e autêntico de sua orla. Nosso projeto propõe, então, o resgate desta sinuosidade a partir do redesenho, também de forma sinuosa, romântica e sensual, da orla do PORTO DOS CASAIS, mantendo, referenciando e preservando, através do novo desenho de paisagismo e pavimentação, o alinhamento talhado em granito rosa do antigo Cais Mauá.



3 - OS EIXOS

Com o passar do tempo e com o crescimento, muitas vezes mal ordenado de Porto Alegre, muitos traços de sua origem urbana foram se perdendo e se descaracterizando. O projeto do Porto dos Casais, tem a responsabilidade de pensar a imagem da cidade para a virada do século, ao mesmo tempo que, resgatar, reciclar, preservar, reconstruir e revitalizar os espaços da cidade e seus traços históricos perdidos. Entre estes desafios que julgamos fundamentais, nosso projeto se preocupou primeiramente em recompor o caráter evocativo do Porto, uma vez que ele é uma presença significativa na história do desenvolvimento agro-industrial do Estado, e integrar este grande novo espaço aos importantes sítios arquitetônicos do centro da cidade. Em nosso projeto estes sítios arquitetônicos, de fundamental importância para a cidade, foram batizados de EIXOS BÁSICOS ESTRUTURADORES DA PROPOSTA, que são:

EIXO 1 - MERCADO PÚBLICO: Eixo composto pelo Paço Municipal, Mercado Público, Largo Glênio Peres, Praça XV de Novembro, Esquina Democrática e Centro 24 Horas.

EIXO 2 - AV. SEPÚLVEDA: Portão central do Cais do Porto, Armazéns "A" e "B", Conjunto de Edifícios Públicos adjacentes à Avenida Sepúlveda e a Praça General Osório (antiga Praça da Alfândega).

EIXO 3 - AV. PADRE TOMÉ: Igreja das Nossa Senhora das Dores e Conjunto de Edifícios adjacentes à Avenida Padre Tomé.

EIXO 4 - USINA DO GASÔMETRO: Espaço formado pelo início da Rua dos Andradas (Corredor Cultural de Porto Alegre), Praça Brigadeiro Sampaio (antiga Praça da Harmonia), Museu do Trabalho, Usina do Gasômetro e antigo Porto do Carvão

4 - OS EQUIPAMENTOS DO PROJETO

Além da implementação dos sítios arquitetônicos, acima citados, nosso projeto propõe um conjunto de melhorias e equipamentos de animação, cultura, comércio, turismo, serviços e lazer, para o complexo do PORTO DOS CASAIS, zoneados e distribuidos em cada um dos quatro eixos. Objetivamos, com isto, oferecer condições para alojar espaços atrativos e multifuncionais nos limites de intervenção direta da área revitalizável do porto, bem como, atividades terciárias de animação permanente compatíveis com a localização comercial e de serviços. Estes usos foram determinados por estudos de viabilidade econômica, que levam em consideração os vetores de desenvolvimento econômico e de oportunidades de negócios gerados no local pela valorização imobiliária deste empreendimento.

A fim de tornar mais dinâmicas e criativas as áreas verdes do “Cais-Parque” do Porto dos Casais, foram criadas as Praças Temáticas, espaços baseados em temas pré-definidos que organizam todos os elementos que irão compor o local. As praças temáticas foram divididas em quatro grupos distribuidos ao longo do novo cais, baseados nos elementos da natureza que existem sobre a terra: FOGO, TERRA, ÁGUA e AR, e propõem-se a ser um conjunto de espaços de turismo e cultura, conjugando as atividades de diversão, lazer, descanso e distração vinculadas as atividades culturais didáticas e formativas.

Desta forma, a praça deixa de ser um elemento estático de contemplação e passa a interagir com as pessoas, a medida em que propõem reflexão sobre determinados assuntos. Os quatro elementos básicos da natureza, fogo, terra, água e ar servem como síntese da própria existência do homem, que atravéz deles viabilizam sua existência neste planeta. Numa alusão a esses elementos conceituais propomos espaços que buscam referenciar em sua composição estes aspectos simbólicos e figurativos.



5 - O PLANO DIRETOR

O Plano Diretor do PORTO DOS CASAIS, tem por objetivo adequar as futuras atividades a serem desenvolvidas no local à filosofia de resgate, reciclagem, revitalização, preservação e animação da orla portuária do antigo Cais Mauá, integrando-o ao centro da cidade de Porto Alegre e desenvolvendo uma positiva relação entre o cidadão, o seu rio e a sua cidade.

Para cumprir com este propósito, e respeitando os valores históricos de preservação deste conjunto arquitetônico, optamos pelo aproveitamento total de todo o potencial de área disponível nos pavilhões existente, criando mezaninos para o aumento significativo de áreas comercializáveis, e, com isto, tornando o empreendimento viável economicamente sem a necessidade de novas construções sobre o “Cais-Parque” (com a exceção do restaurante panorâmico sobre o Guaíba) que pudessem por em prejuízo todo o patrimônio histórico do local, bem como, do caráter evocativo do porto. O total de área que atingimos com este aproveitamento das edificações existentes é de 33.000 m2 (metros quadrados).

Analisamos a potencialidade do local e as prováveis vocações do mesmo, enquanto uma linha que limita uma muralha edificada (a cidade) e uma bela paisagem emoldurada por um reconhecido pôr-do-sol. Entendemos que esta relação do Guaíba com a Cidade deveria dar-se de forma total, através da promoção de encontros constantes e oportunos, absorvendo e incorporando os fluxos de turismo local, regional e internacional. Pensamos, também, que a associação de áreas verdes no Guaíba, dentro do conceito de “Cais-Parque” criaria um clima mais agradável atenuando a aridez habitual do centro da cidade. Utilizamos a vegetação, também, como um dos elementos a determinar o vínculo plástico-visual de interação entre a Cidade e PORTO DOS CASAIS.

O Porto dos Casais será entendido então como um grande parque (“Cais-Parque”), permitindo a continuidade dos parques já existentes nesta área da cidade, onde a população poderá desfrutar de um local com características para o comércio, turísmo, descanso, recreação e lazer. Além destes aspectos, temos neste local, a oportunidade de contar um pouco da história de nossa cidade e daqueles elementos que influenciaram no seu desenvolvimento. Enfim, pensamos o Porto dos Casais como o grande ponto de encontro do cidadão portoalegrense e de todos aqueles que vierem conhecer nossa cidade. A partir deste conceito, optamos por definir e zonear atividades afins, entre si, e que se relacionassem intimamente com o Guaíba, as quais foram divididas e inseridas dentro de sete grupos:

5.1 – ATIVIDADES CULTURAIS, DE LAZER E COMERCIAIS: PRAÇAS, PARQUES INFANTIS, PASSEIOS DE BARCO, JOGOS ELETRÔNICOS, DANCETERIAS, CINEMAS, LIVRARIAS, SHOPPING CENTER, ARTIGOS IMPORTADOS, ARTIGOS ESPORTIVOS.

5.2 – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS: TERMINAL HIDROVIÁRIO COM TRANSPORTE DE PASSAGEIROS E HOTEL 5 ESTRELAS COM ESCRITÓRIOS VIRTUAIS E CENTRO DE CONVENÇÕES.

5.3 – ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS: SEDE ADMINISTRATIVA DO GRUPO EXECUTIVO DE CONCESSÃO DAS ÁREAS DO PORTO DOS CASAIS.

5.4 – ATIVIDADES DE INTERCÂMBIO: PAVILHÃO PARA FEIRAS, LEILÕES E ATIVIDADES DIVERSAS.

5.5 – ATIVIDADES DE FORMAÇÃO: OFICINAS E SALAS PARA CURSOS DIVERSOS, CURSOS DE ATIVIDADES ESPORTIVAS COMO REMO, NATAÇÃO, JET-SKI, ETC.

5.6 – ATIVIDADES GASTRONÔMICAS: BARES, LANCHERIAS, CAFÉS, RESTAURANTES.

5.7 – ATIVIDADES DE DIFUSÃO CULTURAL: PAVILHÃO DAS NAÇÕES, MEMORIAL DO PORTO E BARCO MUSEU.

O PORTO DOS CASAIS será um local totalmente permeável, aberto e integrado com a cidade, e terá como marco hierárquico de acesso o Portão Central em conjunto com os armazéns "A" e "B". Este conjunto arquitetônico de importância histórica para a cidade será o ponto referencial do PORTO DOS CASAIS, abrigando as atividades comentadas anteriormente.

O Plano Diretor do Porto dos Casais vai pré-definir as atividades que deverão ser instaladas nos armazéns com o intuito de preservar o "mix" de oferta das atividades, bem como, a filosofia de reciclagem, revitalização, preservação, animação e reintegração deste espaço com a cidade e suas etapas de implantação.

Dada a extenção e complexidade do desafio proposto, ou seja, a Revitalização do Cais Mauá, bem como, sua predominante viabilização com verbas do setor privado, transformando-o no PORTO DOS CASAIS, pensamos que seria fundamental, a possibilidade de que o complexo pudesse ser setorizado, oferecendo assim condições para que o mesmo pudesse ser construído em etapas. O PORTO DOS CASAIS, dentro de nossa concepção, está dividido em 4 setores básicos:

- Centro Turístico e Cultural Porto dos Casais
- Investimentos Autônomos
- Eixo 4 / Cultura / Usina do Gasômetro e FOSPA
- Trensurb

6 - AS SOLUÇÕES TÉCNICAS

Nosso projeto propõe uma obra de proteção implantada passo a passo, o controle por mecanismos de manobra ou medidas de providências prévias ante o ameaço das cheias. Para tal, propomos a construção de um novo cais, em nosso projeto batizado como "CAIS-PARQUE", harmônico e sinuoso, com avanços de cerca de 30 e 60 metros no leito do Delta. Entre o cais existente e o novo propomos um aterro escavado da própria calha do Delta.

A solução apontada por nosso projeto, esta situada numa fase intermediária de níveis de proteção, que podem ser obtidos na simples alteração do relevo na zona portuária, tirando efeitos paisagísticos fantásticos. Queremos dizer com isto, que a Solução Laminar Vertical, implantada numa faixa de 1 m, entre a Avenida Mauá e os armazéns, pode ser substituída por outra solução, Solução de Relevo Horizontalizado, com base na mesma filosofia conceitual, só que trabalhada numa faixa horizontal de maiores proporções de 30 m e 60 m, entre os armazéns e o novo perfil do Cais (por este motivo, também, nossa ampliação e redesenho da orla do Cais). Estes desníveis, que fazem parte do nosso projeto paisagístico, propostos, também, com o intuito de serem uma barreira de contenção das possíveis, e improváveis cheias, ficarão imperceptíveis e dissimulados na extensão e no tratamento paisagístico de todo o parque. ESTA SOLUÇÃO SERÁ NATURAL, PERMANENTE E DEFINITIVA.

É todo um complexo de revisão capaz de coexistir, sem ferir o sistema original. Quando então o Plano Diretor proposto estiver implantado, o "Muro da Mauá" perderá sua finalidade, podendo ser retirado.



7 – EQUIPE TÉCNICA

PROJETO ARQUITETÔNICO E URBANÍSTICO
PAULO RICARDO BREGATTO
NORMA ELIANE JUNG
SONIA GLACI MARETH
ADRIANA PANITZ ROCHA

CONSULTORES
ORGEL OLIVEIRA CARVALHO - Engenheiro / Recursos Hídricos
FÚLVIO CELSO PETRACCO - Engenheiro / Recursos Hídricos e Mecânicos
ÉRICO MICHELS - Economista / Viabilidade Econômica e Transportes
SÉRGIO KAMINSKI - Engenheiro / Obras Portuárias e Super-estruturas

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