quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Enad 2008 - FauUlbra

Mesmo que não tenhamos ficado nada satisfeitos com o resultado do Enade, certamente, já esperávamos por índices assim tão baixos. Uma análise menos emocional dos fatos nos coloca diante de um diagnóstico de perdas contínuas muito graves para a nossa escola nos últimos tempos. Desde 2005, quando fomos surpreendidos com a redução do curso de 6 para 5 anos, externamos nossa extrema preocupação com os desdobrados desta redução de carga horária na linha do tempo, considerando os efeitos nefastos desta atitude na formação dos alunos. Efeitos já vislumbrados naquele nem tão distante ano e que agora mostram-se comprovados em dados nas nossas mãos.

Estes alunos que prestaram o Enade em novembro do ano passado (2008) foram aqueles que sentiram na pele a redução de carga horária e a perda de conteúdos desta transformação curricular, pois entraram com um currículo pleno e sofreram - muitos sem sentir ou entender seus efeitos - esta drástica alteração. Imaginar que esta decisão de redução de cargas horárias não traria prejuízos graves à formação do aluno e, consequentemente, à qualidade do curso era, no mínimo, não entender como se processam, na linha do tempo, as questões didático e pedagógicas num curso universitário.

Por esta razão, entre outras, naqueles idos de 2005 para 2006 nos manifestamos tão enfaticamente contrários com relação a forma como esta redução de tempo e conteúdo estava acontecendo. Principalmente, considerando que não houve nenhuma participação do corpo docente da FauUlbra. Finalizamos um semestre com um curso de 6 anos e iniciamos o outro com um curso de 5 anos (a proposta chegou a ser de 4,5 anos). A pergunta que sempre no fizemos naquele momento era: onde foram parar 2 semestres de conteúdos e de experiências acadêmicas? Perdemos um ano de conteúdos, experiências didáticas e muitas disciplinas. Não foram poucos os esforços contínuos para tentar realocar estes conteúdos nas disciplinas remanescentes.

Como se isto somente não bastasse para disparar uma grande preocupação, fomos envolvidos por um sistema pouco inteligente de compratilhamento de disciplinas com outros cursos, muitos deles sem a mínima relação de parentesco intelectual, ideológico e acadêmico com a arquitetura e o urbanismo, fato que sempre impediu uma discusão mais aprofundada sobre as questões inerentes ao nosso ofício dentro das salas de aulas.

Somente este breve diagnóstico já deveria nos colocar num estágio de alerta e atenção triplicada.

Não obstante a estes fatos, fomos tomados pela crise absurda que a nossa universidade viveu ao longo do ano que passou (2008) e parte deste ano (2009). Administração temerosa, falta de pagamentos dos salários, greves gerais, escandalos nos jornais, entre outros fatos desagradáveis, cujo efeito na comunidade foi devastador. Para grande parte dos nossos alunos, muito preocupados com a qualidade do ensino e com os rumos do curso diante da redução das cargas horárias e da crise, este fato foi determinante, não só para a desmotivação diante da prova do Enade (mesmo com todos os investimentos internos de conscientização) mas, também, principalmente, para a triste opção de troca de universidade. Justamente num momento em que a nova coordenação do curso, que iniciou seu trabalho ainda no primeiro semestre de 2006, tinha conseguido, com um trabalho heróico, resgatar muitos alunos que já estavam em processo avançado de evasão.

Infelizmente, esta sucessão de fatores negativos aconteceram justamente num momento em que o curso alçava um voo mais tranquilo de resgate da qualidade e da dignidade acadêmica, tão sucateada em outras épocas. Lembro, fundamentamental, da euforia dos professores do curso e da coordenação quando em 2007/2 fora conseguido o tão esperado estancamento da diminuição constante de alunos, num momento em que a nossa escola iniciava, então, um processo lento e gradual de crescimento.

Nossa situação hoje é diferente e bastante preocupante. Como sabemos, diante dos índices de entrada e saída dos alunos, tínhamos em 2004/2 um confortável número de 505 alunos (apenas 95 alunos menos que a nossa capacidade máxima de 600 alunos), para um número alarmante de 231 alunos matriculados em 2009/2. Um rápido cálculo nos coloca diante de uma situação altamente preocupante de possível fechamento do curso nos próximos semestres, principalmente se este número cair abaixo de 100 alunos, número definido pela universidade como sendo dos cursos em extinção.

A situação é, de fato, emergencial. E como tal, ao meu ver, deve ser tratada, exigindo da alta cúpula da universidade uma cumplicidade e a contra partida para o processo de saída desta grave crise. Temos que ter uma ação pró-ativa diante deste momento delicado, nos colocando como precursores deste processo de virada de mesa. Apenas, temos que ter o cuidado para não remarmos solitários em mares revoltos tendo aquele desagradável sentimento de que tudo o que fizermos não bastará para navegarmos para mares tranquilos.

Para tal temos que compreender que esta crise não reside somente nas nossas ações docentes, mas num conjunto de ações que deverão envolver diretamente a universidade e seus novos e bem intencionados comandantes. Até onde podiamos ir, remando contra a maré, penso que já fomos. Neste sentido penso que a crise vem em boa hora, pois será ela, ao meu ver, o trampolim necessário para que possamos sensibilizar a administração geral da universidade de que alguns investimentos devem ser feitos em nosso curso. O que listo a seguir, de forma completamente desordenada e sem compromisso com uma linha de prioridades, é o que eu penso que temos que formatar com certa urgência, para iniciarmos um processo de discussão com a reitoria.

Ainda acredito muito naquele projeto de curso expesso naquela planilha que tratava especificamente da sequência de projetos (documento apresentado no seminário interno de dezembro de 2005). Neste momento penso que podemos propor sua ampliação para abranger todas as disciplinas do curso, com o propósito de termos um mapa fiel da situação atual das disciplinas, para então, iniciarmos um processo de revisão de conteúdos e planejamentos para o futuro.


Antes disto, talvez, seja fundamental resgatar a discusão com relação a formação das características específicas do nosso curso. Quem são os nossos alunos? Que tipo de formação queremos e podemos lhes dar? Qual o perfil do arquiteto que queremos formar? Qual será o diferencial que a FauUlbra apresentará ao mercado?

Diante destas definições elementares penso que temos que retomar a discussão e confecção de um documento que torne compreensível o que queremos e onde queremos chegar! Este documento, revisado, reescrito, reinventado deve ser o nosso Projeto Pedagógico de Curso, tão importante, ao meu ver, como documento agregador das discussões do curso, sem o qual, continuaremos ineficientemente fazendo pequenas cirurgias estéticas corretivas num corpo agonizante.

Pouco nos adianta intervir nas disciplinas sem que tenhamos uma filosofia de ensino nos movendo em alguma direção. Também, acho importante a proposição de um passeio pelas disciplinas (passeio real ou virtual) para que possamos ter a visão precisa do curso como está.

Em consequencia disto, e somente assim, temos que revisar cada disciplina a partir dos seus conteúdos, objetivos de formação, exercícios e bibliografia. Me preocupo muito também, pois não acredito neste sistema, com o compartilhamento de algumas disciplinas, principalmente considerando que o conteúdo delas não devem estar distanciados da sua aplicação direta e, portanto, reunir alunos com o mesmo interese e com a mesma formação torna-se fundamental.

Novos investimentos em bibliografias atuais, equipamentos, softwares atualizados, laboratórios, são ações que devem ser efetivamente tomadas. Fico pensando que temos que achar também uma saída para a manutenção dos pré e co-requisitos. Fica muito difícil armar algumas estratégias pedagógicas sequenciais diante do fato de que o nosso aluno transita pelas disciplinas sem muita ordenação e com muita liberdade de escolha.

Temos também que revisar e ou propor um novo marketing de prospecção de alunos. Seria bem legal ter um dado estatístico nos mostrando quantos dos nossos alunos são oriundos da rede de ensino fundamental das escolas da Ulbra. Ou, pelo menos, ter o dado de quantos alunos que cursam o Técnico em Edificações do Colégio Cristo Redentor (Ulbra) se matriculam no nosso curso de Arquitetura e Urbanismo.

Para tanto, sinto que torna-se novamente importante resgatar a idéia de um banco de horas (se é que dá para chamar assim) passível de remunerar os professores que estarão participando efetivamente deste processo de revisão curricular nos vários estágios sistêmicos e complementares em que esta revisão geral estiver ocorrendo. Nosso estágio de crise não nos permite mais conduzir o planejamento do curso movidos fragilmente somente com aquilo que o professor pode nos disponibilizar de tempo extra-classe não remunerado ou somente nos períodos de recesso escolar. Temos tentado operar desta maneira e nossos resultados tem sido pouco expressivos. Para auxiliar bastante neste processo de revisão geral do curso temos que pensar numa coordenação acadêmica que paralelamente ao diretor do curso possa operar estas alterações juntamente com os professores das disciplinas e com os alunos.

Cheguei a pensar em listar outros tantos assuntos referentes especificamente ao trabalho final de curso (Atelier 1 e 2), mas no final achei que outros tantos assuntos devem ser revistos antes que tenhamos a preocupação pontual sobre uma ou outra disciplina. Embora devo registrar aqui a minha preocupação para com os rumos dos TC´s diante dos últimos fatos do semestre.

Sei que os assuntos parecem absurdos quando listados assim sem um mínimo de critério, planejamento ou prioridades, mas optei em listar os assuntos de acordo como eles apareceram nesta minha reflexão sobre a situação atual da nossa escola.

2 comentários:

Unknown disse...

Tô acompanhando esta triste situação... parte do que escreveu, comentamos na discussão que surgiu no final da minha palestra... força pra vocês aí! Continuo a disposição para ações pró-fau-Ulbra. abração, Ígor Freitas

Guizf disse...

é uma pena tudo isso estar acontecendo Bregatto, torço muito para que essa situação mude, parabéns pelos esforços!