segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Formatura da FauPucRS

Queridos afilhados,

Estou escrevendo para vocês para agradecer, mais uma vez, a honrosa homenagem que vocês me prestaram, me escolhendo para ser o paraninfo da turma. A solenidade de formatura estava linda e vocês mais lindos ainda e radiantes de alegria pela conquista alcançada. Valeu!! Desejo-lhes muito sucesso nas escolhas dos próximos desafios e muita lucidez para executar cada um deles, com senso ético e muita responsabilidade. Contem sempre comigo para o que der e vier! Um beijo carinhoso!!

Discurso do Paraninfo
Salão de Atos
01/02/2014
20:30h

Componentes da mesa já citados,
Autoridades, familiares e amigos aqui presentes nesta noite de muitas alegrias e festas,
Meus queridos colegas arquitetos e urbanistas:

Foi com muita alegria e emoção que recebi o convite para ser o paraninfo desta turma de formandos. Não existe maior reconhecimento e distinção acadêmica que um professor possa receber do que a honrosa homenagem de participar deste momento marcante das vidas de vocês, conduzindo-os da longa vida acadêmica para os rentáveis encargos da vida profissional. Minha alegria e emoção se amplificam pela oportunidade de estar mais uma vez junto de vocês e pela responsabilidade de apresentar à sociedade a 26ª turma de arquitetos e urbanistas da FauPucRS.

Credito este convite aos sentimentos mútuos de companheirismo, respeito e amizade, que cultivamos durante os anos que convivemos juntos nesta escola, onde movidos pela curiosidade sobre o mundo que nos cerca, buscamos compreender melhor o comportamento humano diante dos mais diversos espaços pela lente analítica, propositiva e transformadora do nosso ofício.

Ainda guardo carinhosamente na lembrança a imagem de cada um de vocês no início da faculdade, quando, naquele tempo distante, vocês ainda eram muito mais provocados pelas impaciências juvenis do que pelas demandas propostas pela faculdade de arquitetura e urbanismo. Lembro-me das suas dúvidas, das conversas de bar e corredor, dos seus medos e das suas angústias diante da escolha do ofício e do futuro, como se a dúvida e a expectativa do inesperado fossem características apenas da tenra idade.

O tempo foi passando e fomos vencendo juntos a grade curricular que, em alguns momentos, parecia infinita. Nesta longa trajetória a minha maior alegria sempre foi acompanhar os seus crescimentos acadêmicos e pessoais. Até que nos encontramos novamente no finalzinho do curso, no TCC. Lembro-me da nossa primeira aula do semestre e dos olhares assustados de vocês diante dos desafios propostos e das demandas anunciadas naquele instante.

Naquele momento tudo parecia tão distante e inatingível...

Mas o semestre passou. Trabalhamos bastante, convergimos e divergimos nos calorosos debates nas bancas intermediárias, vislumbramos cidades, edifícios, espaços e construções melhores pela ótica dos seus tantos projetos defendidos na banca final com vigor, talento, convicção e competência. Fizemos arquitetura e urbanismo, de fato, comprovando o quanto estão preparados para enfrentar o mercado de trabalho.

Muito temos dito que a arquitetura passa a ter importância quando ultrapassa seu papel de simples abrigo contra as intempéries, quando se torna porta-voz de uma cultura e sociedade, quando começa a assumir as qualidades inerentes à arte. Fazer arquitetura e urbanismo é comprometer-se com quase todos os assuntos: política, sociedade, cultura, história, negócios, teoria, religião, família, educação, entre outros, pois os frutos do nosso trabalho representam ideais sociais, afirmações políticas, são ícones culturais, são evidências da própria memória.

Quem não se lembra da sua casa da infância, da sua rua, da casa dos avós, da pracinha do bairro, do edifício da primeira escola? Seja por questões emocionais ou sensoriais, seja por questões funcionais ou de uso, seja por preferências estilísticas, queiramos ou não, a arquitetura e o urbanismo fazem parte do dia a dia de todo mundo.

Fazer arquitetura e urbanismo é, acima de tudo, construir e reconstruir a paisagem das nossas cidades em maior ou em menor escala e apesar da necessária carga teórica e de proporcionar altos níveis de prazer estético, deriva seu significado de um equilíbrio entre a teoria e as demandas estéticas associadas às demandas funcionais, físicas, técnicas e financeiras.

Portanto, meus colegas, continuem lendo muito e estudando sempre, sem parar, mas sem esquecer que a arquitetura é um ofício e deve, portanto, expressar a validade e a viabilidade desta teoria no fazer diário da nossa profissão, na contribuição concreta dos nossos projetos e construções, na qualidade dos nossos espaços, edificações e cidades, no assentar de cada tijolo. A teoria é capaz de formular indagações profundas, mas a arquitetura e o urbanismo não são, no fim das contas, filosofia.

Não é fácil descobrir precisamente o motivo do sucesso de uma obra de arquitetura, independentemente do seu uso, valor ou escala. A natureza humana é muito conservadora. Sentimos-nos mais à vontade diante das coisas que já conhecemos, o que de certa forma explicaria a reprodução acrítica de modelos arquitetônicos fracassados ou de baixa eficiência estética, funcional, construtiva e ética.

Somos mais críticos com a moda, com a música, com a literatura, com o cinema e com o design. Mas somos exageradamente complacentes com a ausência da arquitetura e urbanismo em nossas vidas. Exemplo disto a reedição acrítica de estilos arquitetônicos do passado que se multiplicam e maculam as nossas cidades, como se seus inocentes usuários andassem de carruagens, vestissem as desconfortáveis roupas do século XIX e abrissem mão da higiene e dos confortos do século XXI. No entanto, vez por outra surgem inovações tão intensas que se impõem, obrigando-nos a enxergar o mundo de maneira diferente, com os olhos voltados para o futuro.

O fazer arquitetônico se relaciona à noção de que o desenho das nossas edificações e cidades nos provoca emoções e nos fazem refletir sobre o que sentimos e sobre a relação direta deste sentimento com a qualidade dos espaços que produzimos. A arquitetura, além da harmonia de suas partes, deve harmonizar-se com o ambiente onde está, deve nos falar dos valores culturais do seu povo, de sua localidade e do seu tempo. Sempre que construímos um novo edifício, estamos, com isto, alterando a paisagem a nossa volta, na maior parte das vezes por um tempo que supera a nossa própria existência.

Portanto, os melhores resultados são aqueles que abrem mão da monumental individualidade em nome da beleza coletiva e da construção de uma rua e de uma cidade melhor para se viver. A qualidade não está na excepcionalidade, na monumentalidade e na individualidade, mas sim no coletivo. No conjunto de espaços abertos e construções gerados pela ação ética e consciente dos arquitetos e urbanistas.

Temos muito que nos preocupar, também, ética e moralmente, com o desenvolvimento sadio da nossa profissão, participando ativamente da política profissional, discutindo, fortalecendo, revisando e divulgando nas entidades de classe, instituições e conselho, os grandes temas do nosso ofício, muitas vezes, deixados de lado na concorrência imposta pela urgência das decisões. O mercado de trabalho atual, com suas inúmeras oportunidades, mas, também, com suas perigosas armadilhas, carece de contínua fiscalização e nova formatação, assim como, outras tantas oportunidades de trabalho, ainda adormecidas aguardando por nós, necessitam ser lapidadas com afinco, inovação e empreendedorismo. A crise energética internacional e o desequilíbrio mundial do meio ambiente assumem patamares preocupantes, exigindo dos arquitetos e urbanistas atitudes criativas, inovadoras e verdadeiramente sustentáveis.

Por fim, convoco-lhes a refletirem criticamente sobre a necessidade urgente de praticarmos o nosso ofício valorando o conteúdo acima da imagem. Convoco-lhes a não se deixarem seduzir pelos superficiais apelos midiáticos e editoriais da profissão. Convoco-lhes a reagirem duramente contra o aviltamento da prática profissional. Convoco-lhes a atuarem na política profissional. Convoco-lhes a concentrarem seus focos nas demandas, necessidades e possibilidades dos seus clientes sem abrirem mão das questões fundamentais da arquitetura e urbanismo.

Portanto meus queridos, vão à vida. Sejam bons projetistas, sejam bons construtores, sejam, de fato, arquitetos e urbanistas, pois, afinal de contas, construímos porque acreditamos no futuro e não há nada que demonstre maior compromisso com o futuro do que a arquitetura e o urbanismo.

Um mundo de novos desafios e oportunidades os aguarda lá fora a partir desta próxima segunda-feira! Nós continuaremos aqui, acompanhando e torcendo pelas vitórias de cada um! Retornem sempre, pois esta escola sempre será de vocês!

Para mim, foi um grande privilégio e uma honra imensurável caminhar com vocês até aqui! Contem sempre comigo!
Muito obrigado!!