sábado, 18 de agosto de 2012

Formatura da FauPucRS - 2012/1

Queridos afilhados,

Acordei agora com aquele sentimento bom das lembranças de ontem, da linda cerimônia da formatura de vocês e da emoção e alegria contagiantes de cada um! A homenagem que vocês me prestaram, me escolhendo para ser o padrinho da turma, encheu meu coração de alegria e energia renovadas! Vocês estavam lindos e radiantes. E assim devem permanecer, sentindo muito orgulho no coração pela escola que estudaram, pelo curso que escolheram e pelos feitos ao longo da faculdade e, principalmente, daqui para frente, por toda a contribuição que darão para a arquitetura e para a qualificação dos espaços das nossas cidades.

Continuem lendo e estudando, sempre, mas não esqueçam que a arquitetura é um ofício e deve, portanto, expressar a validade e viabilidade da teoria no fazer diário da nossa profissão, na contribuição concreta dos nossos projetos e contruções, no assentar de cada tijolo. Nas palavras de Louis Kahn, "até mesmo um tijolo quer ser alguma coisa".

Voltei para casa ontem, depois das comemorações, com aquele sentimento bom de saudade que experimentamos apenas na presença alegre dos bons amigos e companheiros... Guardo um carinho especial por cada um de vocês! Apareçam sempre, com suas novas dúvidas e grandes conquistas, pois aquela escola sempre será de vocês!!

Mais uma vez muito obrigado pelo honroso convite! Este é um daqueles momentos que ficará gravado para sempre na minha memória e no meu coração!!
Um abraço e um beijo carinhoso!!
Contem sempre comigo!

Força e Honra
(Saudação Romana)

Discurso do Paraninfo
(Proferido em 17/08/2012 - 20:30h - Salão de Atos da PucRS)

Componentes da mesa já citados.
Familiares e amigos aqui presentes nesta noite de muitas alegrias.
Meus queridos colegas arquitetos e urbanistas:

Foi com muita alegria e emoção que recebi o honroso convite para ser o paraninfo desta turma de formandos. Não existe maior reconhecimento e distinção acadêmica que um professor possa receber do que esta homenagem para participar deste ritual de passagem, neste momento marcante das vidas de vocês, conduzindo-os dos afazeres da vida acadêmica para os encargos da vida profissional. Esta emoção se amplifica pela oportunidade de estar mais uma vez junto de vocês e, também, pela grande responsabilidade de apresentar à sociedade a 23ª turma de novos e bem preparados arquitetos e urbanistas da FauPucRS.

Credito este convite aos sentimentos mútuos de companheirismo, respeito e amizade, sempre presentes durante os anos que convivemos juntos nos ateliers que cursamos, onde, movidos pelo sentimento de curiosidade sobre o mundo a nossa volta, buscamos entender melhor o comportamento humano diante dos mais diversos espaços pela lente analítica, propositiva e transformadora do nosso ofício.

Ainda guardo carinhosamente na lembrança a imagem de cada um de vocês no início da faculdade, quando, naquele tempo distante, vocês ainda eram muito mais provocados pelas impaciências juvenis da adolescência do que pelas demandas propostas pela faculdade de arquitetura e urbanismo. Lembro das suas dúvidas, das conversas de bar e corredor, muito pertinentes a quem acaba de entrar num mundo novo, lembro dos seus medos e das suas angústias diante da escolha do ofício e do futuro, como se a dúvida e a expectativa do inesperado fossem características apenas da tenra idade.

O tempo foi passando e fomos nos encontrando numa disciplina aqui, noutra acolá, em intervalos mais ou menos regulares da grade curricular, que em alguns momentos parecia infinita. Nestes encontros, a minha maior alegria sempre foi acompanhar os seus crescimentos acadêmicos e pessoais. Até que nos encontramos novamente no finalzinho do curso no TCC. Lembro da nossa primeira aula do semestre e dos olhares assustados de vocês diante das demandas anunciadas naquele instante.

O semestre passou, trabalhamos bastante, convergimos e divergimos diante dos tantos debates nos dias de painel, vislumbramos uma cidade melhor pela ótica dos seus tantos projetos e na banca final os vi preparados, orgulhosos e seguros. Vocês são incapazes de imaginar a emoção que, nós professores, sentimos nesta hora. Naquele momento os vi maduros, adultos e profissionais. As dúvidas foram substituídas pelo dever de inovar, a dor e o cansaço foram transformados em energia para a vida, os medos serviram para balizar o caminho da ética e das virtudes, os receios deram lugar à coragem para propor e transgredir e o sonho se transformou no maior combustível na busca da realização profissional e pessoal que hoje está sendo coroada com muitos méritos.

Não foi fácil chegar até aqui... Lembro do esforço de cada um na construção das idéias, da fragilidade dos corações diante da crítica aguda no atelier, das dificuldades e, quase, intransponíveis barreiras técnicas, da tristeza diante do exílio do convívio social e familiar, já que não foram poucas as vezes em que, por exigência dos nossos tantos trabalhos, lhes obrigamos a ficar distantes de tudo e de todos aqueles que vocês tanto amam... Lembro, ainda, do cansaço de cada corpo, do semblante exaurido de cada um nos dias de apresentação dos trabalhos, dos momentos nebulosos da véspera de uma entrega onde as tarefas pareciam não caber dentro da linha tênue do tempo.

Mas, também, lembro da fibra de cada um diante dos desafios de cada projeto, da alegria estampada em cada rosto pelas grandes descobertas, pela superação de mais um desafio, pela experiência mágica de uma invenção e pela oportunidade de estarmos ali no atelier, no calor dos verões que se estendiam ou nos implacáveis invernos, testando os nossos limites e fortalecendo as nossas convicções sobre a nossa profissão.

A arquitetura é arte, ciência e ofício. Arte na medida em que ultrapassa seu papel de abrigo, quando supera a esfera prática e começa a dizer algo sobre o mundo e sobre os aspectos culturais de uma civilização. É ciência na medida em que se vincula aos processos e métodos científicos de proposição e análise do comportamento humano e das suas necessidades mais elementares, da produção eficiente no canteiro de obras, dos novos materiais e técnicas construtivas de baixo impacto ambiental. E é ofício, principalmente, pois a partir das nossas ações concretas diárias, transformamos o mundo que nos cerca e vivemos dignamente com o fruto ético do nosso trabalho.

O fazer arquitetônico se relaciona à noção de que o desenho das nossas edificações e cidades nos provoca emoções e nos fazem refletir sobre o que sentimos e sobre a relação direta deste sentimento com a qualidade dos espaços que produzimos. A arquitetura possui as mais diferentes manifestações nas diversas culturas, entretanto a natureza da nossa experiência sensorial diante de aspectos básicos como proporção, escala, textura, materiais, cor, luz e sombra, não varia tanto quanto as características estéticas desta ou daquela arquitetura.

Fazer arquitetura e urbanismo é, acima de tudo, construir e reconstruir a paisagem das nossas cidades em maior ou em menor escala. A arquitetura, além da harmonia de suas partes, deve harmonizar-se com o ambiente onde está, deve nos falar dos valores culturais do seu povo, de sua localidade e do seu tempo. Sempre que construímos um novo edifício, estamos, com isto, alterando a paisagem a nossa volta, na maior parte das vezes por um tempo que supera a nossa própria existência. Portanto, os melhores resultados serão aqueles que abrirão mão da monumental individualidade em nome da beleza coletiva e da construção de uma cidade melhor para se viver.

Somente estes motivos já bastam para reconhecer a importância do nosso ofício, pois a arquitetura faz parte do nosso dia a dia, revelando-se mesmo quando não a buscamos ou quando preferimos não tomar conhecimento dela. Ela pode ser monumental, espetacular, extravagante, de grife, vernacular, silenciosa ou anônima, basta abrirmos os olhos, tocarmos suas texturas, ouvirmos os seus sons... Ela estará ali a nos espreitar e a nos exigir algum tipo de reação e emoção diante dela. Podem ter a certeza de que isto não é pouco!! Poucas profissões, de outras tantas áreas dos mais diversos saberes, oportunizam esta magia de interagir na vida das pessoas a partir do fruto maduro, inovador, empreendedor, ético e responsável do nosso ofício.

Cabe ainda, nesta reta final, convocá-los para o exercício de refletirem sobre algumas qualidades fundamentais para o profissional do século XXI: inovar, empreender e intuir.

Inovar, não somente naquilo que caracteriza o fruto concreto do nosso trabalho (novas formas, espaços, materiais e técnicas), mas, fundamentalmente, nas relações humanas. Na forma como entendemos as necessidades dos nossos clientes e daqueles que carecem do nosso trabalho, independentemente das classes sociais.

Na forma como nos preocupamos, ética e moralmente, com o desenvolvimento sadio da nossa profissão. Na forma como nos preocupamos com os nossos irmãos de ofício, como nos preocupamos com este colega que agora está sentado ao nosso lado. Daqui para frente, as suas vidas poderão continuar sendo realmente um caminhar coletivo e colaborativo, calcado sobre a base sólida da ajuda mútua, desconstruindo a ilusória idéia de que as redes sociais digitais assumiriam este papel em nossas vidas.

Na seqüência, conclamo-os à importância do empreender, pois o nosso ofício requer coragem para analisar, refletir e questionar a qualidade dos espaços das nossas construções e cidades. Requer a coragem de transgredir algumas regras, processos e práticas ditas “comuns” e transformar, mostrando às pessoas o quanto somos, de fato, os agentes desta transformação. O quanto podemos aproximar as pessoas entorno de uma idéia, de um investimento, de uma realização. Para tal, é preciso arriscar, sair da zona de conforto e do lugar comum. Pouca arquitetura, ou quase nada, fazemos travados pelo medo de delegar, associar idéias e pessoas, arriscar, transgredir e transformar.

Neste sentido, intuir se torna necessário. Intuir, pois não serão raras as vezes em que vocês estarão diante de pessoas que, mesmo sem produzir absolutamente nada relevante, terão o poder de decidir sobre o rumo e sobre a viabilidade de uma idéia, colocando barreiras para os seus desenvolvimentos. Não esqueçam que muitos dos grandes feitos da humanidade nasceram de uma atitude visionária e pró-ativa de pessoas que tiveram a coragem de acreditar na força das idéias e foram em frente, transpuseram as barreiras, transgrediram as regras e mostraram o quanto é possível viver melhor quando abrimos mão de atitudes conservadoras que travam o crescimento e o processo evolutivo do saber e do fazer arquitetônicos.

Portanto meus queridos, vão à vida. Sejam bons projetistas, sejam bons construtores, sejam, de fato, arquitetos e urbanistas! Um mundo de novos desafios e oportunidades os aguarda lá fora a partir desta próxima segunda-feira!! Nós continuaremos aqui, acompanhando e torcendo pelas vitórias de cada um!! Retornem sempre, pois esta escola sempre será de vocês!!

Para mim, foi um grande privilégio e uma honra imensurável caminhar com vocês até aqui!!
Contem sempre comigo!
Muito obrigado!!