segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Enade 2008

O MEC (Ministério da Eduação) divulgou os dados do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) 2008, nesta quinta-feira (3 de setembro). A nota de cada faculdade é um indicador da qualidade do ensino. No país, uma em cada três graduações avaliadas teve nota ruim (conceitos 1 e 2).

O conceito Enade mede a formação do universitário em fase de concluir seu curso. Assim, o baixo desempenho é um indicador de que a formação de quem vai ingressar no mercado de trabalho deixa a desejar.

Mais de 380 mil universitários fizeram as provas do Enade 2008 nas seguintes áreas do conhecimento: matemática, letras, física, química, biologia, pedagogia, arquitetura e urbanismo, história, geografia, filosofia, computação, ciências sociais e engenharia.

Cada curso de graduação pode tirar nota de 1 a 5 (1 e 2 são considerados desempenhos insatisfatórios). Na última edição da prova foram avaliados 7.329 cursos - dos quais 4.819 obtiveram conceitos. No total de cursos, 1.752 obtiveram conceitos 1 e 2 (representando 36,4%). Entre as graduações de ponta (conceito 5), estão apenas 293, o que mostra que existem apenas seis bons cursos superiores em cada cem.

Conceito Enade

Leva em conta apenas a nota dos concluintes nos cursos de graduação, no Enade. Mostra qual curso forma profissionais mais bem preparados. O Enade é aplicado todos os anos a parte das graduações do país. Cada curso é avaliado a cada três anos. Ou seja, o exame que foi aplicado para Arquitetura e Urbanismo ocorreu em 2008, portanto ele só será repetido em 2011.

Integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), tem o objetivo de aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, suas habilidades e competências.

O Enade é realizado por amostragem e a participação no Exame constará no histórico escolar do estudante ou, quando for o caso, sua dispensa pelo MEC. O Inep/MEC constitui a amostra dos participantes a partir da inscrição, na própria instituição de ensino superior, dos alunos habilitados a fazer a prova.

O Enade é componente curricular obrigatório dos cursos de graduação, sendo o registro de participação condição indispensável para a emissão do histórico escolar, independentemente de o estudante ter sido selecionado ou não no processo de amostragem do Inep.

O objetivo do Enade é avaliar o desempenho dos estudantes com relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares dos cursos de graduação, o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias ao aprofundamento da formação geral e profissional, e o nível de atualização dos estudantes com relação à realidade brasileira e mundial, integrando o Sinaes, juntamente com a avaliação institucional e a avaliação dos cursos de graduação.

Calcula-se o conceito do curso pela média ponderada da nota padronizada dos concluintes no componente específico, da nota padronizada dos ingressantes no componente específico e da nota padronizada em formação geral (concluintes e ingressantes), possuindo estas, respectivamente, os seguintes pesos: 60%, 15% e 25%. Assim, a parte referente ao componente específico contribui com 75% da nota final do curso, enquanto que a parte de formação geral contribui com 25%. O conceito é apresentado em cinco categorias (1 a 5), sendo que 1 é o resultado mais baixo e 5 é o melhor resultado possível, na área.

Conceito IDD

O Enade não distingue se os alunos saem bem da faculdade porque já eram bons antes de entrar ou se a instituição ofereceu um ensino de qualidade. Para tentar descobrir o quanto a instituição de ensino ajudou o universitário, foi criado o IDD. O IDD tenta isolar o efeito do ingresso do aluno. Mostra o quanto a faculdade acrescenta aos estudantes.

Tem o propósito de trazer às instituições informações comparativas dos desempenhos de seus estudantes concluintes em relação aos resultados obtidos, em média, pelas demais instituições cujos perfis de seus estudantes ingressantes são semelhantes. Entende-se que essas informações são boas aproximações do que seria considerado efeito do curso.

O IDD é a diferença entre o desempenho médio do concluinte de um curso e o desempenho médio estimado para os concluintes desse mesmo curso e representa, portanto, quanto cada curso se destaca da média, podendo ficar acima ou abaixo do que seria esperado para ele baseando-se no perfil de seus estudantes.

Conceito IDD é uma transformação do IDD Índice, de forma que ele seja apresentado em cinco categorias (1 a 5) sendo que 1 é o resultado mais baixo e 5 é o melhor resultado possível no IDD Conceito.

Conceito CPC


O CPC já é um indicador com mais variáveis. Ele leva em conta a formação dos alunos, o IDD e dados sobre o corpo docente, a infraestrutura e as práticas pedagógicas da instituição de ensino.
Veja como é sua composição:

30% - IDD (Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado), que mostra o quanto o aluno aprendeu na faculdade;
15% - nota dos ingressantes;
15% - nota dos concluintes;
20% - proporção de professores com doutorado;
5% - proporção de professores com mestrado;
5% - regime de trabalho dos professores (dedicação parcial ou integral);
5% - boa infraestrutura, de acordo com a opinião dos alunos;
5% - boa organização didático-pedagógica, segundo a opinião dos estudantes.

Resultados dos cursos gaúchos

A ordem numérica apresentada abaixo corresponde aos seguintes conceitos na ordem que segue, Enade, Idd e Cpc

Feevale – 3, 4, 4
Ipa – SC, SC, SC
PucRS – 4, 4, 4
Ucpel – 2, 2, 2
Ucs – 4, 4, 3
Ufpel – 3, 3, 3
Ufrgs – 5, 5, 5
Ufsm – 5, 4, 4
Ulbra Canoas - 2, 3, 3
Ulbra Santa Maria – 3, 4, 3
Ulbra Torres – 3, 4, 3
Unicruz – 3, 4, 3
Unifra – 4, 4, 3
Uniritter – 3, 3, 3
Unisc – 4, 4, 4
Unisinos – 3, 4, 4
Univates – 5, SC, 4
Upf – 3, 3, 3
Urcamp – 4, SC, 3
Uri – 2, 3, 3

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Sobre a vida e a profissão!!

Patrícia querida,

Recebi teu material e li atentamente teu ótimo e-mail. De fato, tenho acompanhado estas manifestações sobre a arquitetura no jornal. Não posso negar que sempre fico muito surpreso e satisfeito quando vejo alguma matéria sobre a nossa profissão!! Como sabemos, salvo a turma dos "interiores" pouco, ou quase nada, é dito e escrito sobre os vários assuntos relevantes e pertinentes ao nosso saber específico: arquitetura e urbanismo.

Por esta razão, certamente, vivemos em espaços, edificações e cidades alheias ao nosso desejo, conhecimento e necessidades. Claro que grande parte disto herdamos de um sistema falido de gestão de Estado e macroeconomia, onde outras tantas prioridades básicas para subsistência se fazem necessárias, mas é certo dizer, também, que grande parte deste problema reside na nossa total omissão em fazer valer os nossos conhecimentos específicos e, munidos deles, ocupar todos os espaços que a mídia pode nos dar e que a nossa profissão nos oportuniza!!

Mesmo sabendo que a arquitetura e o urbanismo são cada vez mais viáveis nos dias hoje, amargamos a certeza de que ainda existe muita confusão a respeito das qualidades e especificidades do nosso ofício. Assim como existe, também, um hiato muito grande entre os profissionais e a comunidade. Este hiato e esta confusão se refletem fundamentalmente na falta de uma cultura geral capaz de reconhecer o tanto quanto podemos intervir e transformar com qualidade, eficiência, inovação, empreendedorismo e sustentabilidade, o mundo que nos cerca.

Ao meu ver, a arquitetura é, também, uma filosofia de vida, pois tratando da espécie humana, dos seus espaços e do mundo que os cerca, deixa pouca coisa sem a intervenção direta e sem a influência necessária do arquiteto. A arquitetura é, portanto, ciência e ofício. Ciência, na exata medida em que nos permite, a partir da pesquisa aplicada, conhecer e investigar as necessidades e demandas reais da sociedade e do mercado em que estamos inseridos. E é ofício, pois, a partir dele, participamos ativamente da vida das pessoas, seja na pequena escala habitacional da célula da família ou na escala das grandes edificações e intervenções urbanas.

Em conseqüência disto, temos que fazer uma reflexão profunda sobre a influência e apropriação da produção arquitetônica internacional, que supervaloriza e incorpora linguagens e referenciais desgastados e com baixíssima análise crítica dos seus resultados. Para tal, temos que ter isenção estilística para não aceitar imposições estéticas ou midiáticas, de estilos que continuem inibindo o desenvolvimento de uma cultura arquitetônica pertinente e genuinamente brasileira.

O mundo atual, perturbado por criações humanas, requer mudanças urgentes. A capacidade humana de criar o artificial parece ter transcendido a nossa habilidade de coexistir com a natureza. A crise energética internacional e o desequilíbrio mundial do meio ambiente assumem patamares preocupantes, exigindo dos novos arquitetos e urbanistas atitudes inovadoras e sustentáveis. O mercado de trabalho, com suas inumeráveis oportunidades, mas, também, com suas perigosas armadilhas, carece urgentemente de nova formatação, assim como, outras tantas oportunidades de trabalho, ainda adormecidas aguardando por nós, necessitam ser lapidadas com afinco, inovação e empreendedorismo.

Nossa tarefa não é fácil!!

Passa, necessariamente pelo resgate e pelo fortalecimento da ética humana - num primeiro momento - e profissional, em seguida. Estamos mergulhados numa crise ética universal, em maior ou em menor escala, dependendo do ponto de vista em que observamos as coisas ao nosso redor!! E, portanto, torna-se difícil produzir e comercializar cultura e arquitetura quando o nosso povo, tão oprimido, tão carente dos recusros básicos para sobrevivência e tão sucateado nas suas necessidades básicas, não tem acesso ao elementar para o exercício da vida, da cidadania e para o resgate da sua dignidade humana. Enquanto não houver uma consciência coletiva de que a alegria, a felicidade, a beleza, a saúde e a segurança de cada um, dependerá das várias ações conjuntas de todos, nosso horizonte ideal estará cada vez mais individualista e distante.

Vivemos num sistema mercantil selvagem e arcaico, onde a emergente formação de novas fortunas não vem alicerçadas em bases éticas, morais, humanas e culturais. Com isto, temos a noção subdesenvolvida do revanchismo, gerando a idéia do: "agora é a minha vez", com muito mais intensidade que a noção necessária do humanitarismo.

Nesta mesma ciranda, não poderia ser diferente - encontramos o ensino superior privado e o ensino de arquitetura. Completamente desfocado das necessidades humanas, defendendo bandeiras estéticas como se fossem tribunais de estilo, sem pesquisa aplicada, num misto entre construção medíocre e frágil ciência humana e social. Aluno é cliente e ensino é mercadoria. Mercadoria, muitas vezes sem controle de qualidade, sem embalagem e com prazo de validade vencido. E os professores, perdidos entre as várias demandas e sufocados pelas más administrações e pelas péssimas condições de trabalho, tornam-se, sem sentir, os intermediários desta relação de trocas.


Vejo, também como voce, com muita preocupação o desgaste deste sistema, principalmente quando vemos no debate constante entre colegas aquela idéia de que devemos delegar vários insucessos acadêmicos e científicos à crise e a baixa qualidade do ensino secundário, à desestruturação da base familiar ou à total falta de interesse e vocação dos nossos novos alunos, entre outros motivos... Será? Mesmo reconhecendo a parcela de participação destes fatores, penso que a coisa não é bem assim... E, portanto, temos que fazer uma reflexão profunda sobre a nossa função de educadores, neste momento de crise ética e moral. Quem sabe, mais do que nunca, nossa responsabilidade docente assume um patamar de maior expressão e necessidade diante da constatação de uma sociedade adoentada e diante da nossa elevada missão de formação de profissionais solidamente éticos e capazes de alterar, com a força e qualidade do seu trabalho, a realidade como está!!

Para tal, temos que conhecer profundamente o espírito, a mente, o pensamento, os desejos, necessidades e expectativas dos nossos jovens alunos. Muita coisa mudou desde que tínhamos os mesmos 16 ou 17 anos dos nossos alunos ingressantes. Vivemos atualmente num mundo de aparentes contradições criativas, onde a liberdade gerada pelo domínio pleno e variado das informações num toque mágico de teclado nos coloca, também, diante do conhecimento das nossas carências, fragilidades e limitações. Ao contrário de outras épocas, onde a disseminação da informação levava dias ou semanas, hoje os fatos chegam aos nossos olhos e ouvidos de forma instantânea. Não tomamos apenas o conhecimento de uma nova e insana explosão nuclear, vemos o apertar dos botões e o rosto de satisfação dos novos ou velhos líderes mundiais. Nossos alunos estão ligados nesta realidade instantânea. Ao contrários de nós que tivemos que nos adaptar às mudanças, eles já nasceram dentro desta vasta cultura digital. Com todas as suas várias maravilhas mas, também, com as suas perigosas armadilhas as redes de comunicação e informação são capazes de formar e deformar a alma humana, portanto temos que usá-la em favor daquilo que queremos como educadores.

Isto está nos exigindo muita disposição e alta capacidade de reflexão e correções de rotas, principalmente quando teimamos em educar passivamente e autoritariamente de cima de púlpitos, iludidos diante de saberes acumulados, muitas vezes desgastados na linha do tempo das nossas parcas ou inexistêntes experiências. Ainda ensinamos verdades absolutas, num mundo veloz onde a verdade de hoje é a história do amanhã. Neste quadro ágil e veloz, saber conviver e interagir com a diversidade, com os novos desejos e anseios dos jovens e com a falta de verdades absolutas, é um caminho pedagógico que temos que investigar atenta e criteriosamente.

Talvez por esta razão, também, vemos cada vez mais o nosso aluno tão desmotivado e descrente do valor da universidade. Será que nós cremos e estamos motivados? Algumas universidades sendo compradas e vendidas independentemente das suas mais honrosas tradições científicas, outras, tentando se reerguer de gestões temerosas e irresponsáveis, numa crise ética e moral fantástica, e outras, ainda, tentando se manter competitivas financeiramente cortando e se descuidando de tudo aquilo que fortalece o saber científico, contradizendo suas vocações e seus compromissos universitários. Temos que estar atentos e fortes, observando estas transformações com alguma restrição. Velhas estruturas calcadas em concessões federais, isenções fiscais, filosofias confecionais, entre outras, todas mergulhadas em interesses mercantis e que ainda confundem saber com poder!! Somos soldados solitários numa trincheira atirando para onde os olhos apontam, mas sem saber ao certo quem são os nossos verdadeiros inimigos. Certamente, não são os alunos!!

Diante deste quadro, não é de se surpreender que a nossa profissão esteja assim tão perdida. Sabemos da necessidade de interagir com a comunidade que nos cerca. Temos os saberes específicos para isto. Sabemos, também, que esta comunidade está totalmente carente da força transformadora do nosso ofício. Mas não conseguimos superar as crises intra-ofício - envoltas em estruturas de poder, vaidades e interesses pessoais - para somarmos esforços e, com ações coletivas, darmos à socidade o retorno que ela necessita, usando os nossos mais diversos saberes.

Parece tão óbvio ler e reconhecer os fatos e compreender suas urgências e cuidados nas poucas coisas que lemos nos jornais. Ao meu ver, isto se dá, por força do conhecimento íntimo e preciso que temos sobre as grandes mazelas arquitetônicas e urbanísticas das nossas cidades. Nos falta apenas o empreendedorismo, o espírito de equipe, a transparência e a ética profissional para assumirmos uma papel de agentes questionadores e reflexivos deste processo de transformação do mundo que nos cerca.

Às vezes penso que nos falta, mas do que tudo, uma boa dose de coragem. Coragem para durar e agüentar, coragem para viver, coragem para suportar, para combater, para enfrentar, para resistir, para romper bloqueios, para perseverar. A coragem não se refere apenas ao futuro, ao medo ou à ameaça. Refere-se, também, ao presente, e sempre está ligada à vontade, muito mais do que à esperança. Afinal, só esperamos o que não depende de nós, só queremos o que depende de nós. É por isto que a esperança, ao meu ver, só é uma virtude para aqueles que aguardam imóveis a chegada de tudo, ao passo que a coragem é uma virtude para qualquer um. A coragem não é um saber, mas uma decisão. Não é uma opinião, mas uma atitude.

Reconhecendo que o teor dos assuntos aqui tratados seja denso, penso que temos que aprender a ser leves como o pássaro, e não como a pluma. Como o pássaro altivo que segue seu extinto, livre no ar, na busca das direções a seguir, ao contrário da frágil pluma que dependerá sempre da direção de uma brisa, para poder planar, por mais leve que seja, mas que não é nunca determinada pelo seu desejo e sentimento íntimo de alegria.

Teus e-mails, como sempre, me fazem pensar e refletir! Gosto de sentir esta latência e inquietude no coração das pessoas!! Acredito que estes sentimentos são os combustíveis necessários para qualquer virada de mesa!!!
Super beijo e super abraço!!
Conte sempre comigo!!

* Resposta ao e-mail enviado pela Profa. Arqa. Patrícia Nerbas (Curso de arquitetura e urbanismo da Ulbra - Canoas) no final do mês de agosto de 2009.