terça-feira, 31 de março de 2009

Golpe de Estado

Designa uma mudança de governo súbita, imposta por uma minoria que age com o elemento surpresa. Tem este nome de golpe porque se caracteriza por uma ruptura institucional violenta, contrariando a normalidade da lei e da ordem e submetendo o controle do Estado (poder político institucionalizado) a pessoas que não haviam sido legalmente designadas (fosse por eleição, hereditariedade ou outro processo de transição legalista).

Na teoria política, o conceito de golpe de Estado surge apenas com a modernidade, após a quebra de paradigmas causada pela Revolução Francesa e pela doutrina iluminista.

Antes, as rupturas bruscas da ordem institucional eram chamadas genericamente de revolução, como as tomadas de poder em 1648 e 1688 na Inglaterra. Após a tomada da Bastilha, no entanto, o termo revolução passou a ser reservado para as mudanças profundas provocadas por intensa participação popular, da sociedade ou das massas.

Assim, a expressão Golpe de Estado foi criada para designar a tomada de poder por vias excepcionais, à força, geralmente com apoio militar ou de forças de segurança.

Considera-se que o primeiro golpe de Estado no modelo moderno foi o Golpe do 18 Brumário dado por Napoleão Bonaparte para se consolidar sozinho no governo da França.

Um Golpe de Estado costuma acontecer quando um grupo político renega as vias institucionais para chegar ao poder e apela para métodos de coação, coerção, chantagem, pressão ou mesmo emprego direto da violência para desalojar um governo.

No modelo mais comum de golpes (principalmente em países do Terceiro Mundo), as forças rebeladas (civis ou militares) cercam ou tomam de assalto a sede do governo (que pode ser um palácio presidencial ou real, o prédio dos ministérios ou o parlamento), às vezes expulsando, prendendo ou até mesmo executando os membros do governo deposto.

Em casos extremos como o do Chile, em 11 de setembro de 1973, o palácio presidencial foi bombardeado diretamente por aviões da força aérea, na expectativa de destruí-lo e matar todos os ministros do governo Allende.

Golpes de Estado podem ainda ser dados tanto por forças de oposição (como no Brasil em 1930 e 1964 e na Argentina em 1976) quanto pelos líderes do próprio governo instituído, na esperança de aumentar os poderes que possam exercer (como no Brasil, em 1937, e no Peru em 1992).
O golpe do Estado Novo no Brasil, em 1937, foi simbolicamento estabelecido com um pronunciamento em rede de rádio por Getúlio Vargas declarando implantar um novo regime.

Outros aspectos comuns que acompanham (antecedendo ou sucedendo) um Golpe de Estado são:

- suspensão do Poder Legislativo, com fechamento do congresso ou parlamento;
- prisão ou exílio de oposicionistas e membros do governo deposto;
- intenso apoio de determinados setores da sociedade civil;
- instauração de regime de exceção, com suspensão de direitos civis, cancelamento de eleições e decretação de estado de sítio, estado de emergência ou lei marcial;
- instituição de novos meios jurídicos (decretos, atos institucionais, nova constituição) para legalizar e legitimar o novo poder constituído.

Ao longo da história de vários países da América Latina, como a Bolívia e o Haiti, o Golpe de Estado tem sido um processo de transição política mais comum até mesmo que as eleições e outros modos normais de transferência de poder.

O caso boliviano pode mesmo ser considerado o extremo, pois, desde sua independência em 1825, aconteceram 189 Golpes de Estado, em uma média de mais de um por ano.

Nem todo processo de deposição de um governo ou regime é necessariamente um golpe de Estado: há, por exemplo, os referendos de revogação de mandato (callback, em inglês) e as votações parlamentares de impedimento de um governante (impeachment), previstas constitucionalmente em vários países.

São raros os países do mundo que nunca sofreram um golpe de Estado nem uma tentativa desde sua independência. Entre eles, encontram-se a Austrália, a Nova Zelândia, a África do Sul, os Estados Unidos, a Noruega, a Suécia, Israel e o Canadá.

O golpe de Estado mais recente foi o de 2009, na Guiné-Bissau.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_Estado

Ainda sobre o golpe militar de 1964

A crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice de Jânio era João Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações sociais.

Estudantes, organização populares e trabalhadores ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras como, por exemplo, os empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média.

Todos temiam uma guinada do Brasil para o lado socialista. Vale lembrar, que neste período, o mundo vivia o auge da Guerra Fria. Este estilo populista e de esquerda, chegou a gerar até mesmo preocupação nos EUA, que junto com as classes conservadoras brasileiras, temiam um golpe comunista.Os partidos de oposição, como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD), acusavam Jango de estar planejando um golpe de esquerda e de ser o responsável pela carestia e pelo desabastecimento que o Brasil enfrentava.


No dia 13 de março de 1964, João Goulart realiza um grande comício na Central do Brasil (Rio de Janeiro ), onde defende as Reformas de Base. Neste plano, Jango prometia mudanças radicais na estrutura agrária, econômica e educacional do país.Seis dias depois, em 19 de março, os conservadores organizam uma manifestação contra as intenções de João Goulart.

Foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo.O clima de crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Paulo saem às ruas. Para evitar uma guerra civil, Jango deixa o país refugiando-se no Uruguai. Os militares tomam o poder.

Em 9 de abril, é decretado o Ato Institucional Número 1 (AI-1). Este cassa mandatos políticos de opositores ao regime militar e tira a estabilidade de funcionários públicos.

GOVERNO CASTELLO BRANCO (1964-1967)

Castello Branco, general militar, foi eleito pelo Congresso Nacional presidente da República em 15 de abril de 1964. Em seu pronunciamento, declarou defender a democracia, porém ao começar seu governo, assume uma posição autoritária.

Estabeleceu eleições indiretas para presidente, além de dissolver os partidos políticos. Vários parlamentares federais e estaduais tiveram seus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus direitos políticos e constitucionais cancelados e os sindicatos receberam intervenção do governo militar.

Em seu governo, foi instituído o bipartidarismo. Só estavam autorizados o funcionamento de dois partidos: Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Enquanto o primeiro era de oposição, de certa forma controlada, o segundo representava os militares.

O governo militar impõe, em janeiro de 1967, uma nova Constituição para o país. Aprovada neste mesmo ano, a Constituição de 1967 confirma e institucionaliza o regime militar e suas formas de atuação.

GOVERNO COSTA E SILVA (1967-1969)

Em 1967, assume a presidência o general Arthur da Costa e Silva, após ser eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Seu governo é marcado por protestos e manifestações sociais. A oposição ao regime militar cresce no país. A UNE (União Nacional dos Estudantes) organiza, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil.

Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operários paralisam fábricas em protesto ao regime militar.

A guerrilha urbana começa a se organizar. Formada por jovens idealistas de esquerda, assaltam bancos e seqüestram embaixadores para obterem fundos para o movimento de oposição armada.

No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decreta o Ato Institucional Número 5 (AI-5). Este foi o mais duro do governo militar, pois aposentou juízes, cassou mandatos, acabou com as garantias do habeas-corpus e aumentou a repressão militar e policial.

GOVERNO DA JUNTA MILITAR (31/8/1969-30/10/1969)

Doente, Costa e Silva foi substituído por uma junta militar formada pelos ministros Aurélio de Lira Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Sousa e Melo (Aeronáutica).

Dois grupos de esquerda, O MR-8 e a ALN seqüestram o embaixador dos EUA Charles Elbrick. Os guerrilheiros exigem a libertação de 15 presos políticos, exigência conseguida com sucesso. Porém, em 18 de setembro, o governo decreta a Lei de Segurança Nacional. Esta lei decretava o exílio e a pena de morte em casos de "guerra psicológica adversa, ou revolucionária, ou subversiva".

No final de 1969, o líder da ALN, Carlos Mariguella, foi morto pelas forças de repressão em São Paulo.

GOVERNO MEDICI (1969-1974)

Em 1969, a Junta Militar escolhe o novo presidente: o general Emílio Garrastazu Medici. Seu governo é considerado o mais duro e repressivo do período, conhecido como "anos de chumbo".

A repressão à luta armada cresce e uma severa política de censura é colocada em execução. Jornais, revistas, livros, peças de teatro, filmes, músicas e outras formas de expressão artística são censuradas. Muitos professores, políticos, músicos, artistas e escritores são investigados, presos, torturados ou exilados do país.

O DOI-Codi (Destacamento de Operações e Informações e ao Centro de Operações de Defesa Interna) atua como centro de investigação e repressão do governo militar.

Ganha força no campo a guerrilha rural, principalmente no Araguaia. A guerrilha do Araguaia é fortemente reprimida pelas forças militares.

O Milagre Econômico

Na área econômica o país crescia rapidamente. Este período que vai de 1969 a 1973 ficou conhecido com a época do Milagre Econômico. O PIB brasileiro crescia a uma taxa de quase 12% ao ano, enquanto a inflação beirava os 18%.

Com investimentos internos e empréstimos do exterior, o país avançou e estruturou uma base de infra-estrutura. Todos estes investimentos geraram milhões de empregos pelo país.

Algumas obras, consideradas faraônicas, foram executadas, como a Rodovia Transamazônica e a Ponte Rio-Niteroi.

Porém, todo esse crescimento teve um custo altíssimo e a conta deveria ser paga no futuro. Os empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os padrões econômicos do Brasil.

GOVERNO GEISEL (1974-1979)

Em 1974 assume a presidência o general Ernesto Geisel que começa um lento processo de transição rumo à democracia. Seu governo coincide com o fim do milagre econômico e com a insatisfação popular em altas taxas.

A crise do petróleo e a recessão mundial interferem na economia brasileira, no momento em que os créditos e empréstimos internacionais diminuem.Geisel anuncia a abertura política lenta, gradual e segura. A oposição política começa a ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o MDB conquista 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganha a prefeitura da maioria das grandes cidades.

Os militares de linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel, começam a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda.

Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog á assassinado nas dependências do DOI-Codi em São Paulo. Em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filho aparece morto em situação semelhante.
Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho para a volta da democracia no Brasil.

GOVERNO FIGUEIREDO (1979-1985)

A vitória do MDB nas eleições em 1978 começa a acelerar o processo de redemocratização. O general João Baptista Figueiredo decreta a Lei da Anistia, concedendo o direito de retorno ao Brasil para os políticos, artistas e demais brasileiros exilados e condenados por crimes políticos.

Os militares de linha dura continuam com a repressão clandestina. Cartas-bomba são colocadas em órgãos da imprensa e da OAB (Ordem dos advogados do Brasil).

No dia 30 de Abril de 1981, uma bomba explode durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O atentado fora provavelmente promovido por militares de linha dura, embora até hoje nada tenha sido provado.

Em 1979, o governo aprova lei que restabelece o pluripartidarismo no país. Os partidos
voltam a funcionar dentro da normalidade. A ARENA muda o nome e passa a ser PDS, enquanto o MDB passa a ser PMDB.

Outros partidos são criados, como: Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT).

A Redemocratização e a Campanha pelas Diretas Já


Nos últimos anos do governo militar, o Brasil apresenta vários problemas. A inflação é alta e a recessão também. Enquanto isso a oposição ganha terreno com o surgimento de novos partidos e com o fortalecimento dos sindicatos.

Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participam do movimento das Diretas Já. O movimento era favorável à aprovação da Emenda Dante de Oliveira que garantiria eleições diretas para presidente naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi aprovada pela Câmara dos Deputados.

No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheria o deputado Tancredo Neves, que concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Ele fazia parte da Aliança Democrática – o grupo de oposição formado pelo PMDB e pela Frente Liberal.

Era o fim do regime militar. Porém Tancredo Neves fica doente antes de assumir e acaba falecendo. Assume o vice-presidente José Sarney.

Em 1988 é aprovada uma nova constituição para o Brasil. A Constituição de 1988 apagou os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no país.

31 de março de 1964

O Golpe Militar de 1964 designa o conjunto de eventos ocorridos em 31 de março de 1964 no Brasil, e que culminaram em um golpe de estado (chamada pelo Estado que se seguiu como uma Revolução de 1964) que interrompeu por meio da força, o governo do presidente João Belchior Marques Goulart, também conhecido como Jango, que havia sido democraticamente eleito vice-presidente, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – nas mesmas eleições que conduziram Jânio da Silva Quadros à presidência pela União Democrática Nacional (UDN).

Jânio renunciou o mandato no mesmo ano de sua posse (1961) e João Goulart, que deveria assumir a presidência, segundo a Constituição vigente à época, promulgada em 1946, estava em viagem diplomática na República Popular da China. Militantes de direita acusaram Jango, como era conhecido, por ser comunista e o impediram de assumir seu legítimo lugar como mandatário no regime presidencialista.

Foi feito um acordo político e o Parlamento brasileiro cria o regime parlamentarista, sendo João Goulart chefe de Estado. Em 1963 há um plebiscito que teve como resultado a volta do regime presidencialista, e João Goulart finalmente assume a presidência da república com amplos poderes. O Golpe de 1964 submeteu o Brasil a uma ditadura militar, alinhada politicamente com os interesses dos Estados Unidos da América, que durou até 1985, quando, indiretamente, foi eleito o primeiro presidente civil desde 1964, Tancredo Neves.

Alguns, entretanto, consideram-no um movimento político de duplo escopo, surgido do temor (jamais comprovado) do expansionismo comunista (o chamado perigo vermelho) e do desejo de desenvolvimento nacional, que administrou o país através de uma ditadura e que, por um lado, teria impedido a implantação de um regime totalitário de esquerda.

Por outro, seria responsável pelo Brasil ter se tornado uma das maiores economias do mundo, graças ao apoio financeiro norte-americano, embora, aos custos da contração de uma grande dívida externa e índices inflacionários altíssimos nas décadas de 1970 e 1980, além do aumento da dependência do Brasil em relação aos Estados Unidos da América, e ainda de um grande empobrecimento da população brasileira.

Revolução ou golpe

O historiador político italiano Norberto Bobbio define "revolução" como "a tentativa, acompanhada do uso da violência, de derrubar as autoridades políticas existentes e de as substituir, a fim de efetuar profundas mudanças nas relações políticas, no ordenamento jurídico-constitucional e na esfera sócio econômica".

Já o sociólogo estadunidense Jeff Goodwin, professor da Universidade Harvard, define "revolução" como "não só como uma mobilização de massas e uma mudança de regime, mas como uma mudança mais ou menos rápida das estruturas fundamentais sociais, econômicas e culturais".

Em 1964, houve um movimento de reação, por parte de setores conservadores da sociedade brasileira - notadamente as Forças Armadas, a sociedade civil e o alto clero da Igreja Católica, apoiados fortemente pela potência dominante da época, os Estados Unidos da América - ao temor de que o Brasil viria a se transformar em uma ditadura socialista similar à praticada em Cuba.

Isto se deu com o anúncio das chamadas reformas de base (Plano Trienal) do governo de João Goulart, as quais incluíam a reforma agrária e a reforma urbana, que trariam mudanças benéficas para os setores mais pobres da sociedade, como os trabalhadores rurais e urbanos, e perdas de privilégios e vantagens para as classes dominantes e oligárquicas.

No dia 13 de março daquele ano, data da realização de comício em frente à Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, perante trezentas mil pessoas, Jango decreta a nacionalização das refinarias privadas de petróleo e desapropriação, segundo ele para a reforma agrária, de propriedades às margens de ferrovias, rodovias e zonas de irrigação de açudes públicos.

Desencadeou-se uma crise no país, com a economia já desordenada e o panorama político confuso. A oposição militar veio à tona para impedir que tais reformas se consolidassem, impondo, portanto, uma manutenção da legalidade e da estrutura socioeconômica vigente, que atendia aos interesses das classes que dominavam o país naquela época.

Por isso, e pela falta de mobilização de setores mais amplos da sociedade, além do indiscutível apoio de uma potência militar e econômica mundial (os Estados Unidos da América) - tais quais as camadas mais baixas da população - muitos dos historiadores consideram o movimento de 1964 como um golpe de Estado.

Todavia, a definição de "golpe" vs. "revolução" não é cristalina e há divergências sobre a correção do uso de um ou outro termo, causada pelas peculiaridades do movimento que deu origem à tomada do poder pelos militares.

Golpe de Estado

O golpe de Estado conduziu à época da história do Brasil que foi denominada de Regime Militar de 1964. Esta época foi caracterizada economicamente por um grande desenvolvimento do país, conseguido às custas da entrada de dinheiro norte-americano em grandes quantidades, justificado em parte pelo controle do medo comunista e das organizações de trabalhadores pelos militares, o que era interpretado como estabilidade política pelos setores predominantes da economia mundial.

Porém, tal desenvolvimento econômico foi acompanhado de uma violenta repressão política, especialmente durante as décadas de 1960 e 1970 sob a égide da Lei de Segurança Nacional como justificativa de manter a sociedade politicamente estável no sentido de evitar a influência de idéias socialistas em um mundo dividido entre dois regimes, mas que também atuava contra qualquer um que discordasse publicamente da atuação do regime ou que pudesse provocar tal discordância.

Além da limitação de várias liberdades (como as de expressão, imprensa e organização), naquela época tornaram-se comuns os interrogatórios, prisões e tortura daqueles considerados opositores políticos do regime militar, especialmente os que fossem considerados simpatizantes de idéias socialistas, incluindo-se muitos estudantes, jornalistas e professores.

Para além das prisões, estima-se que cerca de 300 dissidentes perderam a vida; segundo a versão defendida pelos militares, a maioria dessas mortes teria ocorrido em combate com as Forças Armadas.

Entretanto, os grupos de defesa dos direitos humanos e organizações de sobreviventes da ditadura militar, estimam que este número seja muito maior. Fatos como o assassinato do jornalista Vladimir Herzog demonstram que a versão dos militares não merece crédito, uma vez que muitos inocentes foram covardemente assassinados por militares e policiais.

Este fato inicial foi denominado pelos militares que o executaram bem como o regime que se sucedeu como "Revolução de 1964". Mas a noção de que se trataria de uma revolução perdeu muito de sua aceitação pela sociedade brasileira desde meados dos anos 70, com a abertura democrática então iniciada, o que trouxe à tona os assassinatos e torturas cometidos em nome deste regime, incluindo mortes de estudantes inocentes.

Nos dias de hoje só é possível encontrar tal definição entre um número restrito de simpatizantes do regime além de referências daquela época. Na atualidade é mais comum e aceitável definir o ocorrido como "Golpe Militar de 1964".

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_Militar_de_1964

sexta-feira, 27 de março de 2009

Aldo Leopold

Depois de algum tempo, volto ao célebre livro Ecologia: uma estratégia para a sobrevivência, de Anne Chisholm, para dar seqüência as resenhas sobre alguns teóricos citados no livro, cuja importância na discussão da ecologia ecoa, ainda e principalmente, nos dias atuais.

Já comentei noutra postagem, que a minha maior curiosidade e interesse sobre este assunto e, em especial, sobre este livro, se devem ao fato de que muita coisa tem se dito hoje em dia sobre a necessidade da construção de uma ‘nova mentalidade’ sobre as questões ambientais. Nova? Nem tão nova assim. O livro foi lançado nos EUA em 1972 e a primeira edição brasileira é de 1974. O livro que eu tenho é a segunda edição de 1981. Portanto, 37 anos nos separam de sua primeira edição. E a considerar que este livro aborda o pensamento de teóricos atuais dos séculos XIX e XX devemos concluir que a sistematização de um pensamento sustentável não deve ser tratada com a superficialidade jornalística de um fato novo.

De toda a farta produção crítica de Aldo Leopold, sem dúvidas, uma de suas obras de maior relevância é ‘Sand Country Almanac (Oxford University Press). Este volume é uma coletânea de notas de um naturalista, tendo como centro uma pequena propriedade sua num distante recanto de Wisconsin. O estilo do livro é poético, cheio de minuciosas observações. Nele, estabeleceu as linhas daquilo que chamou “a ética da conservação”, um apelo a uma nova moralidade que governe o contato do homem com a natureza.

“Nós abusamos da terra porque achamos que ela nos pertence. Quando conseguirmos ver a terra como uma comunidade à qual pertencemos, então começaremos a usá-la com amor e respeito. Não há outra forma para a terra sobreviver ao impacto do homem mecanizado, nem para colhermos dela esteticamente tudo que é capaz de produzir e de contribuir para a cultura cientificamente. O conceito básico da ecologia é o fato de a terra ser uma comunidade, mas ela também, deve ser amada e respeitada, e isso é uma extensão da ética.”

Aldo Leopold nasceu em Burlington, Iowa / EEUU, em 11 de janeiro de 1887. Formou-se em Engenharia Florestal, pela Universidade de Yale, terminou seu mestrado em 1909 e foi trabalhar no Serviço Florestal dos EUA. Em 1933 assumiu a disciplina de Manejo de Caça na Universidade de Wisconsin / EUA, onde permaneceu até a sua morte. Publicou mais de 350 artigos científicos e seu texto sobre Manejo de Caça (Conservação da Vida Selvagem) tornou-se um clássico, sendo utilizado como referência até hoje.

É considerado como a figura mais importante da conservação da vida selvagem dos EUA. Foi consultor da ONU nesta área. A sua obra mais conhecida foi, como já citei, o ‘Sand County Almanac’, onde lançou as bases para a Ética Ecológica. Infelizmente, Leopold chegou a ter contato com o livro, mas não assistiu ao seu lançamento, que só ocorreu em 1949. Morreu em 21 de abril de 1948, devido a problemas cardíacos, resultantes de seu esforço em auxiliar um vizinho a apagar um incêndio em uma fazenda em Wisconsin. É considerado como tendo sido o primeiro bioeticista, especialmente pelo seu texto 'The Land Ethic'.

Leopold representa um elo crucial entre as teorias de Mumford e Dubos (ambos já foram citados em postagens anteriores) e o movimento prático de conservação. Sua ética de conservação foi construída a partir de uma vida de trabalho em florestas e administração de selvas, combinados à paixão de um naturalista nato pela observação e apreciação das belezas da natureza. Exerceu uma profunda influência sobre as atitudes dos conservadores profissionais, e foi ele que desenvolveu o conceito de áreas selvagens dentro dos parques nacionais dos EUA e que tentou fazer com que se desse atenção aos princípios ligados à reserva de áreas para esportes, recreio e, principalmente, estudos científicos.

Em 1947 Aldo Leopold escreveu:

“Nenhuma importante mudança na ética foi jamais conseguida sem uma transformação íntima na nossa formação intelectual, nas nossas lealdades, afeições e convicções. A prova de que a conservação ainda não alcançou essas bases de conduta está no fato de a filosofia e a religião ainda não terem ouvido falar nisso. Na nossa tentativa para facilitar a conservação, nós conseguimos torná-la trivial.”

Alguns de seus pensamentos, expressos na forma de frases, extraídos do livro ‘A teia da vida’:

"A mais importante característica de um organismo é a sua auto-renovação interna conhecida como saúde."

"Ética é a diferenciação da conduta social da anti-social para o bem comum."

"As obrigações não tem sentido sem consciência, e o problema que nos defrontamos é a extensão da consciência social das pessoas para com a terra."

"A ética da terra simplesmente amplia as fronteiras da comunidade para incluir o solo, a água, as plantas e os animais, ou coletivamente: a terra. Isto parece simples: nós já não cantamos nosso amor e nossa obrigação para com a terra da liberdade e lar dos corajosos? Sim, mas quem e o que propriamente amamos? Certamente não o solo, o qual nós mandamos desordenadamente rio abaixo. Certamente não as águas, que assumimos que não tem função exceto para fazer funcionar turbinas, flutuar barcaças e limpar os esgotos. Certamente não as plantas, as quais exterminamos, comunidades inteiras, num piscar de olhos. Certamente não os animais, dos quais já extirpamos muitas da mais bonitas e maiores espécies. A ética da terra não pode, é claro, prevenir a alteração, o manejo e o uso destes 'recursos', mas afirma os seus direitos de continuarem existindo e, pelo menos em reservas, de permanecerem em seu estado natural.”

Breve histórico sobre Porto Alegre

Ontem Porto Alegre festejou a passagem dos seus 237 anos. O que nos leva a perguntar a razão desta postagem estar aqui somente hoje. Já explico!! É que hoje, daqui alguns minutos, meus alunos da disciplina de Introdução à Arquitetura 1, da faculdade de arquitetura do UniRitter, estarão finalizando as atividades do primeiro mês do primeiro semestre do curso, com a apresentação de um trabalho de pesquisa, análise e síntese gráfica sobre a evolução urbana da cidade de Porto Alegre.

A proposta do primeiro semestre, de acordo com o Projeto Pedagógico do Curso (PPC), consiste em potencializar as informações, experiências e vivências que o aluno traz na sua bagagem sobre a arquitetura, dentro de uma visão empírica, num primeiro momento, partindo do senso comum.

Para tal, a cidade de Porto Alegre, suas origens históricas, sua evolução urbana, seus espaços abertos e seus edifícios representativos, são o ponto de partida deste estudo. Como produto deste trabalho, os alunos apresentam uma síntese gráfica, na forma de mapas desenhados conjugando informações entre os mapas históricos da cidade de diversos períodos com o mapa atual (1988). Acompanha esta apresentação um conjunto de imagens mostrando e comparando fotos históricas com fotos atuais.

Este trabalho é uma grande curtição!! Por esta razão e em homenagem aos alunos que estão concluindo seu primeiro desafio propositivo, na faculdade de arquitetura, é que publico somente hoje esta postagem sobre um breve histórico da nossa cidade.

Então vamos lá:

Pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, o limite sul das terras portuguesas nas Américas terminava onde hoje é a cidade de Laguna. O Rio Grande do Sul pertencia à Coroa Espanhola que, através dos jesuítas, ocupava a região ainda hoje conhecida como das Missões. De 1580 a 1640, Portugal e todo seu Império submeteram-se à dominação espanhola e, conseqüentemente, caíram por terra os limites demarcados em 1494.

Os portugueses, em 1680, fundam a Colônia de Sacramento, hoje cidade de Colônia, no Uruguai. O litoral do Rio Grande do Sul passou, a partir daí, a ser intensamente percorrido em função da garantia da posse, ocupação, colonização e povoamento da Colônia de Sacramento.

Portugal não se interessava por esse continente e a Espanha marcava sua presença apenas através dos jesuítas, numa área limitada. Esse fato possibilitou a alguns portugueses ocuparem terras que eram consideradas sem dono e, quando em 1640, Portugal readquire sua soberania, no Rio Grande do Sul já proliferavam as estâncias dos súditos da Coroa Portuguesa.

Ao norte da Lagoa dos Patos e a leste da desembocadura do Rio Jacuí, bem na frente do estuário do Guaíba, novas estâncias eram implementadas, formando os campos de Viamão e os campos de Tramandaí. Os de Viamão atraíram maior número de pessoas devido, em primeiro lugar, ao belo panorama que se estendia a longas distâncias planas e horizontes longínquos. Em segundo lugar, pelas grandes bacias ribeirinhas que desembocavam no Rio Jacuí, que representava o caminho para a penetração ao interior e que era, na sua desembocadura, enriquecido por uma série de ilhas com abundante vegetação e, por último, pela existência entre o sítio e a Serra dos Tapes, de uma grande massa líquida que se alargava na Lagoa dos Patos: o Guaíba.

Mesmo com as vantagens oferecidas pelo Guaíba na variedade de redes navegáveis, os primeiros sesmeiros que ocuparam as terras mais próximas desse rio se aproximaram mais de Viamão. Foi o que aconteceu com os três primeiros proprietários de terras que abrangiam o que viria a ser Porto Alegre. Estas terras foram ocupadas, em 1732, por sesmarias concedidas a Sebastião Francisco Chaves, a Jerônimo de Ornellas Menezes Vasconcellos e a Dionysio Rodrigues Mendes.

Eram 3 estâncias, ocupando cada uma área equivalente a mais de 13 mil hectares. Essas estâncias se estendiam, de norte a sul, desde o Rio Gravataí até o Arroio do Salso, tendo como limite ocidental o Rio Guaíba. As sesmarias de Jerônimo de Ornellas e Sebastião Chaves eram divididas pelo Arroio Dilúvio, que já teve nomes diferentes em cada trecho: do Sabão, do Dilúvio, da Azenha, do Riacho e, finalmente, do Riachinho, ao se aproximar do rio. As terras de Sebastião Chaves e as de Dionysio Mendes possuíam como limite o Arroio Cavalhada.

A estância de Sant’ana, pertencente a Jerônimo de Ornellas, foi erigida nos altos do morro cujo nome permaneceu até nossos dias: Morro Santana, e sua extensão abrangia uma área que terminava na ponta da península conhecida mais tarde por Ponta do Arsenal, Ponta da Cadeia ou ainda Ponta do Gasômetro. Essa região, muito importante por possuir um porto onde eram embarcadas mercadorias especialmente para Rio Pardo, e por estar inserida na propriedade de Jerônimo de Ornellas, levou os nomes de Sítio de Dornelles e Porto do Dornelles.

Posteriormente recebeu os nomes de Porto de Viamão, Porto de São Francisco dos Casais, (metade em homenagem ao orago da capelinha levantada pelos açorianos e metade aos corajosos casais que aqui permaneceram na vã esperança de seguirem o seu destino que seria Rio Pardo) e, finalmente, o colorido porto que recebeu o nome de Porto Alegre.

Quando, em 1740, Jerônimo de Ornellas recebeu da Coroa Portuguesa a concessão provisória de sesmaria nos campos de Viamão, ele não tinha a intenção de criar ali um núcleo de povoamento, mas sim apreender o gado encontrado solto e reproduzi-lo para comércio na região das Minas Gerais ou no exterior, através do contrabando.

A partir de 1744, quando em 7 de dezembro recebeu por Carta Régia a confirmação de posse das terras já ocupadas, Jerônimo de Ornellas intensificou sua criação de gado e, mais tarde, sentiu-se prejudicado com a ocupação, pelos açorianos, da Ponta da Península, vendendo-as a Ignácio Francisco. Esta foi a primeira área que sofreu desapropriação para a marcação das áreas agrícolas e ruas da hoje Porto Alegre.

Em 1752, proclamações em editais foram espalhadas por São Paulo e Santa Catarina, conclamando os açorianos ali alojados a se deslocarem para o sul. Gomes Freire de Andrade, representando a Coroa Portuguesa, emite ordem para que dos 200 açorianos que se apresentaram para a viagem, oitenta ficassem no sítio de Viamão com a finalidade específica de construírem canoas para o transporte às Missões e a exploração do Rio Jacuí.

A importância do rio para os moradores de Porto Alegre manifestou-se desde início da ocupação. Representou o direito de permanência em suas margens, a solução para garantir a sobrevivência através da pesca e construção de barcos e, finalmente, oportunizou o alargamento do universo conhecido quando da chegada, não só pelo contato com outros núcleos populacionais, como também pelo acesso a outras vias fluviais que o Guaíba dava e ainda dá acesso. Fica fácil, portanto, entender porque foi ali que começou o povoamento e dali partiu a planificação urbana e demarcação de Porto Alegre.

O primeiro logradouro construído foi o cemitério, na beira do Guaíba e nas proximidades da Praça da Harmonia que, em seguida, foi transferido para o Morro da Praia, atual Praça Marechal Deodoro ou, como é mais conhecida, Praça da Matriz. Em 1798, foi levantada uma capelinha de barro, coberta por palhas, cujo orago era São Francisco das Chagas, que se localizava na Rua dos Andradas onde funcionou o Cine Guarany.

O aumento de interesse pela região oportunizou a construção de alguns estaleiros que trouxeram consigo um crescimento populacional. A paisagem foi se modificando e houve a necessidade de se proceder oficialmente a distribuição de datas (áreas agropecuárias) para a população, bem como traçar ruas e caminhos, delimitando, assim, o povoado que se expandia desordenadamente.

A importância estratégica do Guaíba e de sua “esquina”, tornaram imprescindível a mudança da administração do continente para Porto Alegre e, assim, em 26 de Março de 1772, foi criada a Freguesia de São Francisco de Porto dos Casais, com jurisdição própria e separada da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Viamão. Isso significava a criação dos primeiros serviços públicos, uma vez que seus habitantes não precisariam deslocar-se até Viamão para realizar os registros de nascimentos, casamentos e óbitos. Eles eram agora porto-alegrenses, nome popular dado ao movimentado porto e a sua gente e onde há vinte anos chegaram os primeiros açorianos vindos de Santa Catarina, atrás de um pedaço de terra que lhes garantissem viver dignamente.

Fonte: Secretaria da Cultura de Porto Alegre

sexta-feira, 20 de março de 2009

Copa do Mundo 2014

PUCRS busca parceria com Secretaria da Copa 2014

Partiu dos professores Paulo Ricardo Bregatto, Marcelo Martel, Luis Carlos Macchi e Mário Ferreira, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a idéia de inserir os trabalhos e estudos desenvolvidos no meio acadêmico para preparação da cidade visando à Copa de 2014.


Hoje, 19 de março, o diretor da Faculdade, Paulo Regal, acompanhado dos professores, esteve reunido com o prefeito em exercício e secretário da Copa, José Fortunati, e o gestor técnico da Secopa, Newton Baggio, para tratar do protocolo de intenções da instituição com a prefeitura.

Segundo o coordenador, o objetivo seria participar das discussões a partir do que é desenvolvido nas disciplinas de projetos arquitetônicos e planejamento urbano. “Queremos colocar a universidade para pensar a preparação da cidade, seria um estímulo para os estudantes e estaríamos colaborando para construir o melhor para a cidade, seria uma ótima troca de experiências”.

Por sugestão de pró-reitores da PUCRS, Regal solicitou, ainda, a inclusão das faculdades de Educação Física, Hotelaria e Turismo e do Instituto de Pesquisa do Meio Ambiente da Universidade no projeto.

Fortunati destacou a necessidade de parcerias para viabilizar as exigências do caderno de encargos da Fifa, que deve ser entregue logo após o anúncio das cidades selecionadas, no final de maio.

O secretário destacou a importância do trabalho em conjunto, que contribui na reflexão sobre as mudanças que a cidade deverá passar. “Temos a compreensão que necessitamos buscar parcerias público e privada, só dessa forma chegaremos em 2014 com uma cidade melhor”, disse.

No encontro, ficou acertada a criação de uma comissão de trabalho da Universidade para participar do processo de preparação para o Mundial.

http://www2.portoalegre.rs.gov.br/cs/default.php?reg=104578&p_secao=3&di=2009-03-19

quinta-feira, 19 de março de 2009

Cubo mágico

Aqui estou eu revirando alguns tutoriais na Internet com o intuito de lembrar como é que se monta este brinquedo chamado Cubo Mágico. Não sei ao certo como é que este brinquedo veio parar aqui em casa. Sei apenas que o Pedro, meu menino de 5 anos, estava andando com ele para lá e para cá dentro de casa quando previsível e temerosamente ele me pediu para arrumar as cores do cubo!!

Pânico imediato!!!

Rapidamente fui azeitando as engrenagens das antigas lembranças dos velhos brinquedos para ver se ainda residia em algum lugar remoto da minha memória alguma informação útil que pudesse me tirar heroicamente desta grande enrascada.

Perda total de tempo, pois não achei nenhum registro sobre o assunto nas dobraduras do meu cérebro.

Se você tem filhos curiosos - e toda criança é curiosa - sabe bem do que eu estou falando. Aquele sentimento de auto-resignação diante da fragilidade revelada da nossa - neste caso, da minha - total incompetência para este tema tão complexo.

É provável que você e eu estivéssemos totalmente preparados para responder questionamentos sobre os grandes mistérios da humanidade, grandes invenções e seus inventores, grandes descobertas ou sobre os grandes feitos da ciência. Mas não!! A pergunta foi: Pai, como eu monto este brinquedo?

Certamente você já brincou com ele. O sedutor e colorido Cubo Mágico!! Seu idealizador e criador foi Erno Rubik, professor de design de interiores da Academia de artes e trabalhos manuais de Budapest.

Em 1974 o primeiro protótipo foi desenvolvido. Erno Rubik inspirou-se em quebra-cabeças já conhecidos, como o Tangram. No início a idéia parecia impossível criar um mecanismo para sustentar os cubos devido a grande quantidade de movimentos possíveis, mas Rubik acabou encontrando a solução enquanto observava despreocupado o curso do Rio Danubio numa tarde de domingo.

Em 1978 o cubo começava a ser produzido. Mesmo sendo inicialmente rejeitado, um ano depois, atingira uma publicidade tal que se podia ver pessoas entretidas com seus cubos nos trens, restaurantes, etc.

Sua explosão de popularidade iniciou-se em 1980, quando o cubo passou a ser um brinquedo internacional. Mesmo saindo da Hungria aos milhões por ano, a demanda não era contida, surpreendendo os industriais. Em 1981 a demanda cresceu exponencialmente. Foram criados centros de produção na China, em Hong Kong, no Brasil, entre outros.

O desejo de ver as seis faces do cubo organizadas atingia todas as idades e profissões. Foram lançados mais de 60 livros para ajudar tais pessoas. Nenhum outro quebra-cabeça teve tantos adeptos, o que o torna um brinquedo genial.

Em 1985 os direitos autorais sobre o cubo foram comprados por Seven Towns, que o reintroduziu no mercado, obtendo muito sucesso. Atualmente Erno Rubik e Seven Towns trabalham próximos. Rubik está engajado a descobrir novos quebra-cabeças e continua sendo o principal beneficiado com sua invenção.

Quando você manuseia o cubo, você gira suas camadas, porém, o objetivo é tornar suas faces homogêneas.

São 26 pequenos cubos externos, e um cubo 'invisível' em seu interior que, na verdade, é o mecanismo que permite que os cubos externos se movam. São 8 cubos de canto, com 3 cores, 12 cubos de borda, com 2 cores e 6 cubos centrais com apenas uma cor.

Os cubos centrais são fixos entre si, de forma que, se você possuir o Cubo de Rubik original, o cubo central azul será sempre oposto ao verde, o amarelo ao branco e o vermelho ao laranja. A cor do cubo central determina a cor de sua face.


Movido, então, pela sinceridade que sempre temos que ter com as crianças nesta hora e diante da nítida e estampada verdade de não saber fazer, peguei-o pela mão e sentei em frente ao computador - este oráculo dos tempos atuais - e passei a buscar a solução para este problema (problema que eu nem tinha antes deste fato).

Para minha felicidade consegui recuperar meu lugar de herói e sábio conselheiro do Pedro diante da grande façanha de ter montado o cubo mágico, embora eu tenha notado um ar de desconfiança no seu inocente olhar, afinal de contas a montagem não aconteceu somente por méritos meus!!

Não pense que os tutoriais me transformaram num recordista, aos moldes dos filminhos que podemos ver na Internet. Levei um tempão montando. Por sorte, o Pedro lentamente foi perdendo o interesse - ou o saco - de ficar sentadinho olhando minha indiguinação diante desta tarefa. Confesso que tentei algumas vezes desencaixar os cubos e montar novamente já ordenados corretamente por suas cores. Mas logo abandonei esta idéia. Não pegaria bem! E é claro: não consegui desengatar o encaixe!!

Dito isto, revire seu velho baú de coisas legais do passado, ache seu cubo mágico e comece a brincar!! Sabe-se lá se daqui algum tempo você não precisará ter estas lembranças revisitadas.

domingo, 15 de março de 2009

Lucio Costa

Lucio Costa nasceu na França, em 1902, chegou ao Rio de Janeiro recém-nascido e voltou com a família para Paris por mais seis anos. Depois estudou na Suíça e na Inglaterra e retornou ao Brasil para cursar belas-artes, conforme desejo de seu pai. Daí resultou um homem de maneiras e modo de trajar aristocrático, quase sempre de terno e gravata (ou, pelo menos, de camisa social) e um pulôver pendurado no braço, independentemente da temperatura que os termômetros marcassem nos trópicos. Mais tarde, pince-nez e longos bigodes brancos deram o toque final à estampa.

Sobre sua visão de mundo, a principal marca dessa formação foi uma radical independência. Ele nunca se preocupou em alinhar-se à esquerda ou à direita nem se furtou a tomar posições antipáticas à opinião pública. Em meados da década de 70, quando nove entre dez cariocas eram contra a demolição do Palácio Monroe, sede do Senado até a inauguração de Brasília, Lucio Costa, então membro do Conselho de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, deu um parecer contrário ao tombamento, argumentando que o prédio carecia de valor arquitetônico.

Em 1974, em carta a Niemeyer, conhecido por sua militância comunista, manifestou uma posição que, principalmente naquela época, deixaria de cabelo em pé qualquer militante de esquerda.


"As sociedades de livre empresa poderão talvez alcançar mais depressa o bem-estar social e a felicidade individual a que todos aspiramos, porque são mais dinâmicas do que as sociedades socialistas", diz.

Também em relação à arquitetura, a independência foi sua marca. Detestava o termo "modernista", embora tenha sido o grande formulador da arquitetura moderna no Brasil e influenciado toda uma geração de arquitetos que se formou sob o lema "simplicidade, perfeita adaptação ao meio e à função e conseqüente beleza". Na vida pessoal, isso se traduziu num até exagerado desapego a bens materiais. Levou até o fim uma vida modesta.

Tinha entre seus grandes prazeres comer chocolate amargo com chocolate ao leite, acompanhado por vinho branco seco. E circulava pelo Rio de Janeiro a bordo de um Fusquinha que, ao ser herdado por Julieta, sua neta mais velha, tinha um buraco no chão. Como não gostava de oculistas, comprava seus óculos em farmácia – o que prejudicou sua visão a ponto de deixá-lo quase cego no fim da vida.

O acervo de sua produção tem valor incalculável, principalmente a profusão de croquis que, no caso dos projetos de arquitetura, permitirão em muitos casos reconstituir boa parte de seu processo de criação. Mas os desenhos podem ser, também, simplesmente objetos de fruição.
Dono de um traço belíssimo, Lucio Costa fazia registros minuciosos de fachadas, bairros e cidades quando viajava. Dificilmente existirá, em Portugal, melhor registro das fachadas de cidades como Porto, Lisboa ou Évora que os feitos por ele no início da década de 50. São quatro pequenos blocos de desenho, que o arquiteto morreu julgando desaparecidos e foram recuperados na recente arrumação promovida por Helena, sua segunda filha, que decidiu fazer uma reforma e mudar-se para o apartamento do pai.

Embora todo o conjunto seja fascinante, o apelo de tudo o que se refere a Brasília é quase irresistível. São dezenas os croquis e anotações guardados por Lucio Costa desde que fez o primeiro traço da nova capital, que começou a ser desenhada nos doze dias de viagem de navio, voltando de Nova York em 1956.

A história é pouco conhecida. Lucio Costa inscreveu-se em segredo no concurso que escolheria o plano piloto da nova capital e trabalhou durante dois meses absolutamente sozinho, no escritório e em sua casa no Leblon. Quem lembra em detalhes essa empreitada solitária é o engenheiro Augusto Guimarães, que foi chefe da divisão de urbanismo da Novacap, a empresa criada para desenvolver e construir Brasília.

"Eu estava desenvolvendo com ele um outro trabalho e não percebi o menor indício de que ele estava fazendo o projeto. Li no Diário de Notícias que ele havia ganho a concorrência", conta Guimarães.

Como num corte cinematográfico, tem-se acesso ao relato do crítico de arte Flávio de Aquino, que assistiu à escolha do plano piloto na qualidade de assessor de Oscar Niemeyer, que representava a Novacap na comissão. O projeto de Lucio Costa chegou dez minutos antes do prazo final.

"Eram rabiscos toscos, feitos a lápis de cor, pequenos desenhos a nanquim e um texto batido a máquina", conta Aquino, em artigo publicado em 1974 pela revista Manchete. "Ficamos desiludidos. Mas o presidente da comissão, sir William Holford, começou a estudar as pranchas. De repente, exclamou, entusiasmado: Esta é a maior contribuição urbanística do século XX!"

Com efeito, passados tantos anos depois da inauguração de Brasília, é difícil ter a dimensão do que foi a ousadia de Juscelino Kubitschek ao decidir transferir a capital para o meio do cerrado – em meados dos anos 50, para o meio do nada. E Lucio Costa compreendeu como poucos o significado dessa decisão.

"A cidade não será, no caso, uma decorrência do planejamento regional, mas a causa dele: sua fundação é que dará ensejo ao ulterior desenvolvimento planejado da região. Trata-se de um ato deliberado de posse, de um gesto de sentido ainda desbravador, nos moldes da tradição colonial", disse na Memória Descritiva do Plano Piloto de Brasília, em 1957.

Daí sua profunda mágoa com a saraivada de críticas que Brasília recebeu. Embora tenha, ele próprio, discordado muitas vezes do rumo tomado pelo desenvolvimento da cidade e passado muitos anos se recusando a rever a capital, sempre defendeu sua criação. Admitia, por exemplo, que a cidade não era concebida para a flânerie (passeios a pé, em francês), devido às longas distâncias. Mas jamais concordou que Brasília fosse uma cidade desumana, uma das teclas prediletas de seus críticos.

A mágoa de Lucio Costa é muito conhecida e está fartamente documentada. Menos explorado é seu reencontro com a cidade, como está narrado no roteiro feito em 1986 para fotografar a Brasília "verdadeira", que ele encontrara dois anos antes, quando foi à capital em companhia de sua filha Maria Elisa.

"Ele ficou uma semana solto por lá e voltou fascinado com a constatação de que já havia toda uma geração nascida na cidade", lembra Maria Elisa. No cabeçalho, uma recomendação geral: "Brasília + gente, convívio normal das pessoas com a beleza". Segue-se uma lista de situações que, de acordo com Lucio Costa, comprovavam que, da perspectiva humana, sua criação era um êxito. E uma recomendação final: "Tudo bem fotografado, de um ponto de vista a favor, otimista, e não 'contra'".

Por Lucila Soares
http://veja.abril.com.br/180804/p_062.html

sábado, 14 de março de 2009

Croquis

Entende-se por croquis o desenho livre, descomprometido com regras e instrumentos de precisão, embora seja fundamental que ele respeite os principios de proporcionalidade, representando os objetos, espaços ou paisagens que podem estar sendo observados ou imaginados pelo seu autor.

O croquis (palavra francesa eventualmente aportuguesada como croqui ou traduzida como esboço ou rascunho) costuma se caracterizar como um desenho rápido, feito com o objetivo de discutir ou expressar graficamente uma idéia, bastante caracterizado pelo gesto de seu autor.



Um croquis, portanto, não exige grande precisão, refinamento gráfico ou mesmo cuidados com sua preservação, diferente de desenhos finalizados. Costuma ser realizado em intervalos de tempo relativamente curtos, de acordo com o grau de complexidade daquilo que se está querendo representar ou imaginar. O que costuma ser mais importante no croquis é o registro gráfico de uma idéia instantânea, através de uma técnica de desenho rápida e descompromissada.

Tanto quanto a grafia de uma pessoa, o traço utilizado na construção de um croquis expressa características únicas, pessoais e intransferíveis do seu autor, oportunizando o reconhecimento imediato de aspectos gráficos, estruturais e geométricos capazes de serem facilmente identificados. Um estudo mais aprofundado sobre as características gráficas do traçado irá nos permitir reconhecer e identificar traços da personalidade do seu autor (mostre-me o seu desenho e eu te direi que és).

Usa-se a palavra croquis em francês pois normalmente seu correspondente em português (esboço) pode possuir, dependendo do contexto, um significado diferente, especialmente quando se trata do desenho arquitetônico, para o qual o croquis possui um papel de destaque, sendo considerado uma etapa de projeto.

Neste contexto, o croquis costuma ser considerado um desenho bastante pessoal usado principalmente para discutir idéias: ele não é um fim em si mesmo. Já o esboço costuma ser considerado uma etapa inicial para um desenho mais elaborado (neste contexto, portanto, o esboço passa a ser um "fim em si mesmo").

De qualquer forma, as duas palavras também são usadas cotidianamente como sinônimos por arquitetos, de forma que não há uma definição formal entre um e outro.

Um croquis, dado o seu aspecto de instantaneidade e diálogo formal, não costuma seguir regras formais de desenho ou técnicas muito elaboradas. Os principais materiais para elaboração de croquis são justamente aqueles que não exigem um refinamento maior de desenho: lápis, barras de grafite, canetas esferográficas e de ponta de nylon, lápis de cor e hidrocores, entre outros.

Arquitetos também costumam utilizar-se bastante de bicos de pena ou nanquins. Quanto ao suporte, um croquis pode ser realizado em praticamente qualquer material, como as mais diversas variedades de papel.

Quanto à técnica de desenho, normalmente não envolve gestos elaborados ou refinados, como o claro-escuro e sfumato. Costuma caracterizar-se como um desenho de linha pura, com eventuais retículas, pontilhados e texturas rápidas, mais representativas que realistas.

No caso específico da arquitetura o croquis assume um papel de expressiva importância, pois não sendo um fim em si mesmo, torna-se um eficiente instrumento de linguagem permitindo aos arquitetos investigarem graficamente as complexidades e particularidades propositivas do problema que ele pretende equacionar com o seu projeto ou, ainda, o reconhecimento claro e preciso dos elementos de significado e estrutura da paisagem que ele pretende reconhecer e intervir.

Também, a tecnologia Cad está a serviço do croquis. Os programas que chegam até nós nos dias de hoje, com suas interfaces gráficas cada vez mais amigáveis, permitem aos arquitetos a capacidade investigatifva rápida e eficiente a partir de modelagens expeditas digitais (croquis digital).

O croquis é uma ferramenta de linguagem (conjunto de símbolos e signos utilizados pela espécie humana com o objetivo de expressar uma idéia) e, portanto, serve para que possamos conhecer o mundo que nos cerca e, consequentemente, intervir nos seus mais diversos espaços.

Quando representamos graficamente os espaços e objetos existentes à nossa volta estamos, com isto, reconhecendo o significado e a estrutura destes espaços e objetos. O mesmo acontece quando, ao contrário do desenho de observação, estamos diante de uma idéia em fase de invenção. Naquele momento nebuloso onde várias hipóteses se mostram possíveis e não temos ainda muita certeza sobre os caminhos a seguir.

É neste estágio do processo de projeto que o croquis se torna um importante instrumento de reflexão, pois ele nos permitirá estabelecer um diálogo íntimo do arquiteto para consigo mesmo e para com os elementos do programa que ele pretende equacionar. Torna-se então uma via de mão dupla, onde tudo aquilo que é imaginado é instantaneamente testado graficamente no papel para que, então, à luz destes registros gráficos o arquiteto possa refletir sobre a hipótese desenhada e avançar no desenvolvimento da idéia ou até mesmo fazer as necessárias correções de rota.

O croquis, seja ele convencional ou digital, é o meio de expressão e representação que acompanha a velocidade do pensamento, naquele momento frenético e apaixonante do projeto, onde um único problema pode nos apontar os mais diversos caminhos. Será ele, portanto, que nos ajudará a testar graficamente as várias soluções possíveis para um mesmo problema e será, também, ele que nos ajudará a tomar a decisão por um destes caminhos.

Uma vez que uma hipótese de projeto se mostra viável, por oferecer respostas ao maior número possível de questões levantadas pelo problema, o croquis vai lentamente saindo de cena, dando espaço para outros tipos de desenho cujo potencial de expressão e investigação seja reconhecidamente mais adequado ao grau de desenvolvimento daquela etapa do projeto.

Algumas dúvidas conceituais são impostas pela própria lingua portuguesa que não faz a necessária distinção entre o desenho como expressão gráfica e o desenho como projeto, fato que confunde até mesmo os mais experientes bibliotecários nas escolas de arquitetura. Não raro encontraremos livros que tratam de metodologia de projeto nas estantes dos livros de técnica de desenho.


Desenho é, pois, também, designio. É intenção. É, portanto, projeto e não apenas técnica de expressão e representação. Ao contrário de outras línguas, o portugues define desenho como técnica gráfica e não como projeto. No espanhol temos os termos “dibujo” para significar as várias técnicas de expressão gráfica e temos o termo “disegño” para significar uma intenção propositiva.

Como sabemos, não obstante aos conflitos conceituais linguisticos, o desenho como linguagem nos remete ao reconhecimento de que para cada necessidade de expressão encontraremos um meio de representar esta idéia e estabelecer, portanto, a comunicação e o diálogo necessários com o nosso interlocutor, seja ele o nosso cliente, os professores do atelier de projeto, visitantes de uma exposição de trabalhos de arquitetura, os operários no canteiro de obras ou os promotores de um concurso público de idéias.


Desenhar, acima de tudo, é saber ver e, portanto, o croquis é o instrumento mais adequado para nos ajudar a ver e a reconhecer o mundo que nos cerca.