sábado, 28 de fevereiro de 2009

Moleskine

As férias deste ano foram bem curtinhas. Ainda assim foi o tempo suficiente e necessário para que pudéssemos parar, sair da rotina e curtir as muitas brincadeiras em família. Envoltos nas demandas diárias do trabalho, nem nos damos conta de como esta paradinha estratégica é terapêutica e necessária. Só quando paramos - e pautamos as atividades do dia a partir de outras demandas - é que sentimos o quanto ficamos distantes de uma porção de coisas simples e muito importantes para uma vida saudável e feliz.

Além das brincadeiras diárias na beira da praia, levei vários livros que estavam aguardando para serem lidos, ansiosos na cabeceira da minha cama. E levei, também, o meu Moleskine, fabricado à mão, exclusivamente para mim, pelo meu grande amigo e camarada, Nairo Moleda.Moleskine é uma marca de cadernos de notas produzida pela empresa italiana Moleskine SRL. Embora o nome aluda ao tecido de mesmo nome, moleskin, o caderno não é produzido ou revestido com ele, e sim com uma capa dura de cartão envolvida por material impermeável.

Outras características que a distinguem são cantos arredondados, uma tira de elástico para mantê-la fechada (ou aberta em determinada página) e uma lombada costurada que permite que ela permaneça chata (a 180 graus) enquanto aberta. A folha de rosto vem impressa para que o seu proprietário possa escrever os seus dados pessoais, assim como estipular um valor de recompensa caso alguém a encontre perdida.

A Moleskine voltou à moda em nossos dias após as descrições feitas pelo escritor Bruce Chatwin dos cadernos de notas que usou. A sua versão actual, entretanto, não é uma descendente directa da Moleskine original. Chatwin usou cadernos de notas similares constantemente durante as suas viagens e escreveu brilhantemente acerca deles.

O seu suprimento de cadernos, entretanto, cessou em 1986, quando a papelaria que lhos fornecia, na Rue de l’Ancienne Comédie, em Paris, informou-o de que o último fabricante de moleskines, uma pequena empresa familiar estabelecida em Tours, descontinuara a sua produção naquele ano, após o falecimento de seu proprietário.

Embora a Moleskine srl divulgue que os seus cadernos de notas foram utilizados por reputados intelectuais que influenciaram a cultura no século XX – escritores e artistas como Vincent van Gogh (1853–1890), Henri Matisse (1869–1954), Pablo Picasso (1881-1973), André Breton (1896-1966), Louis Férdinand Céline e Ernest Hemingway (1899-1961) -, a marca Moleskine foi registrada oficialmente apenas em 1996, voltando a ser lançada em 1998. Francesco Franceschi, titular do Departamento de Marketing da Modo & Modo, foi citado como tendo afirmado, "É um exagero. É marketing, não ciência. Não é a verdade absoluta.".

Um escritor que confirmou utilizá-las é Neil Gaiman, que escreveu acerca da sua paixão pelas Moleskine em seu blog. O roteirista neerlandês Simon de Waal também usa cadernos de notas Moleskine. Em uma entrevista afirmou usar as Moleskine pequenas para tomar notas de pesquisa e guardar idéias, e as de maiores dimensões para cada script e livro que escreve. Dave Eggers usa as Moleskine para escrever enquanto viaja, e o seu livro de contos "How We Are Hungry" foi lançado originalmente com uma capa imitando uma Moleskine.

Em 2006, a Modo & Modo, a sua antiga editora italiana, iniciou uma busca para vender a empresa ou associar-se a alguém que auxiliasse na sua expansão. De acordo com um artigo de 2006 no Telegraph, a empresa reportou que, com o seu pequeno quadro de pessoal, não estava a conseguir atender a demanda. Em Agosto de 2006, o fundo de investimentos francês Société Générale adquiriu a Modo & Modo por 60 milhões de Euros.

As versões "standard" apresentam-se em dois tamanhos, o pocket, com 3.5 por 5.5 polegadas (9 x 14 cm) e o large, com 5.25 por 8.25 polegadas (13 x 21 cm).

- os pocket notebooks estão disponíveis em diversos tipos: pautado, quadriculado, liso, agenda de endereços, caderno de anotações e de pauta musical (192 páginas cada); caderno de esboços e "storyboard" (80 páginas em papel mais denso); álbum de bolso japonês (60 páginas dobradas em zig-zag); e bolsos de memória (seis bolsos ao invés de folhas de papel).

- os large notebooks estão disponíveis nos modelos pautado, quadriculado, liso e agenda de endereços (240 páginas); caderno de esboços, com 100 páginas; e bolsos de memória (seis bolsos).

- Diaries disponíveis nos tamanhos pocket e large, como os anteriores, e nas versões "diário" e "diário semanal". Cadernos de notas semanais também estão disponíveis. Estes apresentam um novo layout, com a semana em uma vista de olhos à esquerda e papel liso de anotações à direita. A versão de 18 meses vai de Julho a Dezembro. Eles têm capas maleáveis, como a linha Cahier, e estão disponíveis nos formatos pocket (9 × 14 cm) e large (13 × 21 cm). Complementarmente, vêm em papel mais fino do que os cadernos de notas tradicionais para permitir que as linhas do papel de notas sejam vistas através da página. Têm um bolso interno no final.

- Cahier (Fr. para "caderno de notas", pronunciado "kah-yay", /ka'je/) cadernos de notas mais finos, apresentados em conjuntos de três. Eles também estão disponíveis em duas cores diferentes, preto ou camurça ("kraft"). Eles têm uma capa mais fina, de cartão flexível, sem a fita marcadora e o fecho elástico presentes nos demais cadernos de notas, mas com a costura da lombada visível. Os três tamanhos são pocket (64 páginas), large (80 páginas) e extra large (7.5 por 9.75 polegadas (19 x 25 cm); 120 páginas); cada tamanho é oferecido nas variedades pautado, quadriculado ou liso.

- Repórter – estes cadernos de notas são similares aos da linha "standard", excepto que têm lombada no topo, em vez de na lateral. São comercializados nos tamanhos pocket e large, e nos tipos pautado, quadriculado e liso.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Moleskine
www.kaiermoleda.blogspot.com
kaier.moleda@gmail.com

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Férias

Agora sim!
Estamos em férias!!

Sempre saímos em férias em fevereiro. Mesmo com o recesso escolar, no mês de janeiro aproveitamos para fazer o balanço do ano que passou e, principalmente, planejar as atividades do próximo semestre. Também, as demandas do escritório me seguram sempre por aqui em janeiro. E penso que tem, também, aquele sentimento de achar que o ano fica um pouquinho menor, pois quando retornamos no final de fevereiro, faltam apenas mais dez meses de trabalho!

Mas estamos em férias! E com uma hora a mais pois hoje termina o horário de verão! Nem acredito que vamos finalmente ficar uns dias fora do circuito da cidade. Se bem que curtir o Porto Verão Alegre, nesta primeira quinzena de fevereiro, não foi tão mal assim. Claro que teve os dias e noites de muito calor, a falta do relaxamento total que só temos quando saímos da rotina diária e aquela aparente angústia de querer estar onde todos os amigos estão.

Mas teve também suas boas vantagens!

Teatro, cinema, shows, bares, piscina do clube, restaurantes, diversos passeios na cidade, entre outras tantas e inumeráveis oportunidade de lazer que a nossa bela cidade nos oferece o ano inteiro mas que, neste período de férias de verão, se tornam mais aprazíveis pelo êxodo de grande parte da população em direção ao litoral. Teve dias que a cidade parecia totalmente vazia.

Valeu!!

Ontem a noite saímos com os nossos queridos amigos Lú & Chelle - recém casados e muito felizes - para uma pizzaria (muito boa, por sinal) na Av. Nova York. A noite estava ótima, com uma suave brisa que nos animava a ficar um pouco mais nas mesinhas da varanda externa em frente ao restaurante. Então, repentinamente, me vieram à memória meus tempos de criança onde, naquela época - já distante no tempo - andávamos muito mais nas ruas do que nos dias atuais. Que eu me lembre, tudo acontecia nas ruas de Porto Alegre. Cinemas, comércio, lazer, bares, restaurantes, enfim, a rua era o palco dos acontecimentos da vidas das pessoas. Que saudade que me deu!!

Bem, já estou me desviando do assunto, portanto, vou deixar para comentar estas lembranças sobre a dinâmica de vida nas ruas da cidade noutra ocasião!!

Então, vamos parar. Sabemos bem dos benefícios terapêuticos que esta paradinha um pouco mais longa, nos trás. Sair da rotina diária, dos horários, dos compromissos que acabamos arrumando – já que estamos na cidade – e daquela série de coisinhas que vamos fazendo para preencher o tempo. E o tempo passando. Então, agora vamos nós!! Nada de muito especial. Neste verão vamos curtir as praias daqui. Vamos para Tramandaí passar uns dias com os avós, que não param de ligar de tanta saudade do Pedrinho, depois vamos passar uns dias em Torres e o carnaval na tranqüila e simpática Salinas, com os queridos amigos e dindos Magrão, Karina & Mari.

Olhando daqui de onde estou, em direção à porta de entrada do meu apartamento, vejo um amontoado – que mais parecem barricadas – de malas e sacolas. Considerando o tamanho da bagagem e a quantidade de coisas que estamos levando, parece que não voltaremos mais para casa. No final das contas, acho que é isto mesmo!! Este bom e necessário sentimento, expresso na quantidade de coisas que levamos, e que reflete o nosso desejo de sair tendo a liberdade de não voltar. Mesmo quando sabemos que sempre voltamos...


Super abraço, boas férias, ótimo carnaval e muito juízo!!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Fórum Romano

O ano foi 2001. Para ser mais exato, 12 de fevereiro de 2001. Foi a primeira vez que visitei Roma e, em especial, o Fórum Romano. Eram 14h e, enquanto esperávamos ansiosos pela chegada dos queridos amigos, Pery e Janise, vindos de Porto Alegre, corremos ao Fórum Romano para saciar uma curiosidade que, naqueles dias que antecederam a nossa chegada, estava me consumindo.


Era o nosso período de férias e tínhamos planejado ao longo do ano um roteiro a partir de Madrid, passando por Barcelona, Roma, Londres e finalizando, em grande estilo, em Paris. Nossa viagem foi muito bem organizada e planejada pela nossa querida amiga Ana Ce. Nada, absolutamente nada, deu errado. Por esta razão sempre que vamos viajar sempre vamos falar com a Ana. Sabe como é: tradição não se muda.

Os nossos amigos se juntariam ao nosso roteiro em Roma, para juntos, a partir dali, seguirmos viagem. Chegamos à Roma, vindos de Barcelona, com poucas horas de antecedência e como cada hora numa terra desconhecida vale ouro quando o tempo é curto, saímos correndo rua à fora para sentir o astral da cidade.

Ficamos hospedado no Grande Hotel Palatino, na Via Cavour, quase em frente à escadaria que dá acesso à Igreja de San Pietro in Víncoli, que contém além das correntes que aprisionaram São Pedro na Prisão Mamertina, a estátua majestosa de Moisés, de Michelangelo.

Sei que foi por minha total insistência que corremos dali, com a ansiedade de uma criança, em direção ao Coliseu, pela Via degli Annibaldi, tendo a agradável surpresa da conhecida e bela perspectiva vista dali em direção ao Coliseu.

Um pouco mais de 800 metros separam o centro do Coliseu do centro da Piazza Del Campidoglio. No entanto, neste pequeno pedaço de terra, quase 1.000 anos separam a primeira da última construção. Lembro do meu espanto diante do conhecimento do tamanho desta gleba. Nos meus pensamentos e na leitura que eu fazia dos mapas – antes do Google Earth – eu tinha a sensação de que o território fosse bem maior. Depois tomei conhecimento – o que atenuou o impacto inicial – de que o Fórum era na realidade uma sucessão de vários fóruns erguidos pelos imperadores ao longo do tempo.

Sei que a emoção que senti, em grande parte, foi motivada pela lembrança dos livros de história ainda da época da escola, em especial aquele livreto clássico – que muitos trazem de suas viagens – contendo as fotos atuais sobrepostas por lâminas transparentes mostrando o esplendor das construções em sua época áurea. Quase que diariamente, nos intervalos das aulas da escola fundamental – eu corria para a biblioteca para ficar olhando estas imagens fantásticas do passado e do presente desta gloriosa civilização.

Algum tempo depois, ao longo da faculdade de arquitetura e urbanismo, a simpatia e predileção por esta cidade foi crescendo gradativamente, na medida em que fui conhecendo um pouco mais de sua história e cultura e fui, também, por exigência disciplinar, estudando alguns dos seus edifícios importantes e exemplares.

Como sabemos, o Fórum foi o centro da vida política, comercial e judiciária da antiga cidade. As basílicas eram os prédios maiores, onde eram discutidas as questões jurídicas. Segundo o dramaturgo Plauto, esta área da cidade atraía muitos ‘advogados e litigantes, banqueiros e corretores, comerciantes, prostitutas e vadios’ esperando por uma gorjeta dos mais abastados.

À medida que crescia a população de Roma, o Fórum tornou-se muito pequeno e em 46 a.C., Júlio César construiu outro, estabelecendo um precedente seguido pelos imperadores, de Augusto a Trajano.

Nesta pequena gleba, a leste, o imperador Vespasiano ergueu o Coliseu (72 d.C.), centro de entretenimento para depois do trabalho, assim como outros tantos imperadores ergueram, para si mesmos, arcos triunfais.

Uma das vistas mais espetaculares, a oeste, podemos ter a partir da área de fundos do Campidoglio. Deste ponto de vista podemos observar o traçado da via principal com suas várias edificações.

Ainda é possível se ver as ruínas do Templo de Júlio César, que foi erguido por Augusto em sua homenagem no local de cremação de seu corpo após seu assassinato em 44. a.C. O mais surpreendente é ver que neste local, coberto por uma atual estrutura em madeira com duas águas, as pessoas ainda acendem velas e deixam flores e oferendas, como que referenciando o imperador.

Até o século 18, quando se iniciaram as escavações arqueológicas, o Arco de Sétimo Severo (203 d.C.) e as colunas do templo de Saturno (século 4 d.C.) estavam semi-enterradas. Reza a lenda que sob o arco central desta construção, no século 19, funcionava uma barbearia. É muito bonito de ver as constantes escavações e catalogações de todos os achados, marcados por singelas e visíveis pequenas etiquetas de papel.

Caminhei várias vezes neste local histórico e sagrado ao longo deste breve período que estivemos em Roma. Entre um passeio e outro, ou ainda, quando o nosso pequeno e seleto grupo de viagem se dissipava ou optava por outros roteiros, eu fugia do hotel e corria para o Fórum. Não era muito difícil saber onde eu poderia estar naqueles breves momentos de sumiço em Roma: bastava me procurar no Fórum.

De Roma fomos ainda para Londres e finalizamos o nosso passeio em Paris, onde comemoramos em grande estilo o aniversário das nossas mulheres (a Narinha e a Janise fazem aniversário no dia 26 de fevereiro). Desnecessário dizer que em todas as cidades que fomos, desde que saímos de Roma, fomos surpreendidos pelas belezas de cada lugar, mas não posso deixar de dizer que ao longo do restante da viagem Roma ficou no meu coração. Onde ainda está até hoje.

Voltamos à Roma em 2003 (acho que trouxe de lá o Pedrinho na bagagem), noutra breve e divertida viagem de férias e, é claro, voltei ao Fórum para ver se todos aqueles prédios e suas pedras soltas pelo sítio ainda estavam lá. Que bom, ainda estavam. E voltei, também, para ver se eu tornaria a sentir o que senti pela primeira vez. Então, descobri que se tratava de amor verdadeiro, pois ali estando experimentei a agradável sensação de não querer estar em nenhum outro lugar.

Evolucionismo

A teoria da evolução, também chamada evolucionismo, afirma que as espécies animais e vegetais, existentes na Terra, não são imutáveis. Alguns pesquisadores afirmam que as espécies sofrem, ao longo das gerações, uma modificação gradual que inclui a formação de novas raças e de novas espécies. Depois da sua divulgação, tal teoria se transformou em fonte de controvérsia, não somente no campo científico, como também na área ideológica e religiosa em todo o mundo.

Até o século XVIII, o mundo ocidental aceitava com muita naturalidade a doutrina do criacionismo. De acordo com essa doutrina, cada espécie animal ou vegetal teria sido criado independentemente por ato divino.

O pesquisador francês Jean-Baptiste Lamarck foi um dos primeiros a negar esse postulado e a propor um mecanismo pelo qual a evolução se teria verificado. A partir da observação de que fatores ambientais podem modificar certas características dos indivíduos, Lamarck imaginou que tais modificações se transmitissem à prole: os filhos das pessoas que normalmente tomam muito sol já nasceriam mais morenos do que os filhos dos que não tomam sol.

A necessidade de respirar na atmosfera teria feito aparecer pulmões nos peixes que começaram a passar pequenos períodos fora d'água, o que teria permitido a seus descendentes viver em terra mais tempo, fortalecendo os pulmões pelo exercício; as brânquias, cada vez menos utilizadas pelos peixes pulmonados, terminaram por desaparecer.

Assim, o mecanismo de formação de uma nova espécie seria, em linhas gerais, o seguinte: alguns indivíduos de uma espécie ancestral passavam a viver num ambiente diferente; o novo ambiente criava necessidades que antes não existiam, as quais o organismo satisfazia desenvolvendo novas características hereditárias; os portadores dessas características passavam a formar uma nova espécie, diferente da primeira.

A doutrina de Lamarck foi publicada em Philosophie zoologique (1809; Filosofia zoológica), e teve, como principal mérito, suscitar debates e pesquisas num campo que, até então, era domínio exclusivo da filosofia e da religião. Estudos posteriores demonstraram que, apenas o primeiro postulado do lamarckismo, estava correto; de fato, o ambiente provoca no indivíduo modificações adaptativas; mas os caracteres assim adquiridos não se transmitem à prole.

Em 1859, Charles Darwin publicou The Origin of Species (A origem das espécies), livro de grande impacto no meio científico que pôs em evidência o papel da seleção natural no mecanismo da evolução. Darwin partiu da observação segundo a qual, dentro de uma espécie, os indivíduos diferem uns dos outros. Há, portanto, na luta pela existência, uma competição entre indivíduos de capacidades diversas. Os mais bem adaptados são os que deixam maior número de descendentes.

O darwinismo estava fundamentalmente correto, mas teve de ser complementado e, em alguns aspectos, corrigido pelos evolucionistas do século XX para que se transformasse na sólida doutrina evolucionista de hoje. As idéias de Darwin e seus contemporâneos sobre a origem das diferenças individuais eram confusas ou erradas. Predominava o conceito lamarckista de que o ambiente faz surgir nos indivíduos novos caracteres adaptativos, que se tornam hereditários.

Um dos primeiros a abordar experimentalmente a questão foi o biólogo alemão August Weismann, ainda no século XIX. Tendo cortado, por várias gerações, os rabos de camundongos que usava como reprodutores, mostrou que nem por isso os descendentes passavam a nascer com rabos menores. Weismann estabeleceu também a distinção fundamental entre células germinais e células somáticas.

As mutações, as recombinações gênicas, a seleção natural, as diferenças de ambiente, os movimentos migratórios e o isolamento, tanto geográfico como reprodutivo, concorrem para alterar a freqüência dos genes nas populações de animais e são, assim, os principais fatores da evolução.

Duas raças geograficamente isoladas evoluem independentemente e se diversificam cada vez mais, até que as diferenças nos órgãos reprodutores, ou nos instintos sexuais, ou no número de cromossomos, sejam grandes a ponto de tornar o cruzamento entre elas impossível ou, quando possível, produtor de prole estéril. Com isso, as duas raças transformam-se em espécies distintas, isto é, populações incapazes de trocar genes. Daí por diante, mesmo que as barreiras venham a desaparecer e as espécies passem a compartilhar o mesmo território, não haverá entre elas cruzamentos viáveis. As duas espécies formarão, para sempre, unidades biológicas estanques, de destinos evolutivos diferentes.

Se, entretanto, o isolamento geográfico entre duas raças é precário e desaparece depois de algum tempo, o cruzamento entre elas tende a obliterar a diferenciação racial e elas se fundem numa mesma espécie, monotípica, porém muito variável. É o que está acontecendo com a espécie humana, cujas raças se diferenciaram enquanto as barreiras naturais eram muito difíceis de vencer e quase chegaram ao ponto de formar espécies distintas; mas os meios de transporte, introduzidos pela civilização, aperfeiçoaram-se antes que se estabelecessem mecanismos de isolamento reprodutivo que tornassem o processo irreversível. Os cruzamentos inter-raciais tornaram-se freqüentes e a humanidade está-se amalgamando numa espécie cada vez mais homogênea, mas com grandes variações.

Populações que se intercruzam amplamente apresentam pequenas diferenças genéticas, mas as populações isoladas por longo tempo desenvolvem diferenças consideráveis. Em teoria, raças são populações de uma mesma espécie que diferem quanto à freqüência de genes, mesmo que essas diferenças sejam pequenas. A divisão da humanidade em determinado número de raças é arbitrária; o importante é reconhecer que a espécie humana, como as demais, está dividida em alguns grupos raciais maiores que, por sua vez, se subdividem em raças menos distintas, e a subdivisão continua até se chegar a populações que quase não apresentam diferenças.

As subespécies representam o último estádio evolutivo na diferenciação das raças, antes do estabelecimento dos mecanismos de isolamento reprodutivo. São, portanto, distinguíveis por apresentarem certas características em freqüência bem diferentes. Não se cruzam, por estarem separadas, mas são capazes de produzir híbridos férteis, se colocadas juntas.

Por esse critério, que é o aceito pela biologia moderna, os nativos da África e da selva amazônica, por exemplo, são raças que atingiram plenamente o nível de subespécies. O mesmo pode-se dizer dos italianos e os esquimós etc., mas não há grupos humanos que se tenham diferenciado em espécies distintas, pois espécies são grupos biológicos que não se intercruzam habitualmente na natureza, mesmo quando os indivíduos habitam o mesmo território.

Charles Darwin

Charles Darwin, naturalista inglês, nasceu em 12 de fevereiro de 1809, em Shrewsbury. Robert Darwin, seu pai, era Físico, filho de Erasmus Darwin, poeta, filósofo e naturalista. A mãe de Charles, Susannah Wedgood Darwin morreu quando ele tinha oito anos de idade.

Com dezesseis anos, Darwin deixou Sherewsbury para estudar medicina na Universidade de Edinburgh. Repelido pelas práticas cirúrgicas sem anestesia (ainda desconhecida na época), Darwin parte para a Universidade de Cambridge, com o objetivo (imposto pelo seu pai) de tornar-se clérigo da Igreja da Inglaterra.

A vida religiosa não lhe agrada e em 31 de dezembro de 1831 ele aceita o convite para tornar-se membro de uma expedição científica a bordo do navio Beagle. Assim, Darwin passa cinco anos (1831 a 1836) navegando pela costa do Pacífico e pela América do sul. Durante este período, o Beagle aportou em quase todos os continentes e ilhas maiores à medida que contornava o mundo, inclusive no Brasil.

Darwin fora chamado para exercer as funções de geólogo, botânico, zoologista e homem de ciência. Esta viagem foi uma preparação fundamental para a sua vida subseqüente de pesquisador e escritor.

Tanto é verdade que na introdução de seu livro ele assim se refere:

"as relações geológicas que existem entre a fauna extinta da América meridional, assim como certos fatos relativos à distribuição dos seres organizados que povoam este continente, impressionaram-me profundamente quando da minha viagem a bordo do Beagle, na condição de naturalista. Estes fatos (...) parecem lançar alguma luz sobre a origem das espécies (...) julguei que, acumulando pacientemente todos os dados relativos a este assunto e examinando-os sob todos os aspectos, poderia, talvez, elucidar esta questão".

Em todo o lugar, Darwin reunia grandes coleções de rochas, plantas e animais (fósseis e vivos) enviadas à sua pátria. Imediatamente, após seu regresso à Inglaterra, Darwin iniciou um caderno de notas sobre a evolução, reunindo dados sobre a variação das espécies, dando assim os primeiros passos para a Origem das Espécies.

No começo, o grande enigma era explicar o aparecimento e o desaparecimento das espécies. Assim surgiram, em sua cabeça, várias questões:

- Por que se originavam as espécies?
- Por que se modificavam com o passar dos tempos, diferenciavam-se em numerosos tipos e freqüentemente desapareciam do mundo por completo?


A chave do mistério Darwin encontrou casualmente na leitura: "Ensaio sobre a População", de Malthus. Depois disso, nasceu à famosa doutrina darwinista da seleção natural, da luta pela sobrevivência ou da sobrevivência do mais apto - pedra fundamental da Origem das Espécies.

As pesquisas feitas durante a viagem abordo do Beagle é que fundamentaram sua Teoria da Evolução, servindo de base para o famoso livro Origem das Espécies. A obra foi publicada em 1859, sob o bombardeamento das controvérsias – o que era muito natural: Darwin estava mudando a crença contemporânea sobre a criação da vida na Terra.

No livro Origem das Espécies, Darwin defende duas teorias principais: a da evolução biológica - todas as espécies de plantas e animais que vivem hoje descendem de formas mais primitivas - e a de que esta evolução ocorre por "seleção natural".

Os princípios básicos da teoria sobre a evolução de Charles Darwin, apresentados na Origem das Espécies, são quase que universalmente aceitos no mundo científico, embora existam controvérsias em torno deles. A Origem das Espécies demonstra a atuação do princípio da seleção natural ao impedir o aumento da população. Alguns indivíduos de uma espécie são mais fortes, podem correr mais depressa, são mais inteligentes, mais imunes à doença, mais agressivos sexualmente ou mais aptos a suportar os rigores do clima do que seus companheiros. Estes sobreviverão e se reproduzirão, enquanto os mais fracos perecerão.

No curso de muitos milênios, as variações levaram à criação de espécies essencialmente novas. Após a publicação de sua obra mais famosa, Darwin continua a escrever e publicar trabalhos na área da Biologia por toda a sua vida. Ele passa a viver, com sua esposa e filhos, em Downe, um vilarejo a 50 milhas de Londres. Sofre de síndrome do pânico e mal-de-Chagas, o último adquirido durante sua viagem pela América do Sul. A morte chega em 19 de abril de 1882. Charles Darwin é sepultado na Abadia de Westminster.

Fonte: http://www.pensador.info/autor/Charles_Darwin/biografia/

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

René Jules Dubos

"Pense globalmente, aja localmente".

Retorno novamente, como prometido, ao livro Ecologia – uma estratégia para a sobrevivência, com o intuito de destacar, além da importância e atualidade desta obra, outro grande filósofo e pensador citado no livro que, embora não sendo ecologista profissional, influenciou profundamente o pensamento ecológico. Estou falando do professor René Jules Dubos, Professor Emérito de Biomedicina Ambiental na Rockefeller University em Nova York.

Dubos (1901-1982), nascido na França, emigrou para os Estados Unidos quando jovem e fez nome como bacteriologista em pesquisas médicas, na década de 30. Foi, sem dúvidas, um dos mais influentes biólogos do século XX e um dos responsáveis pela conscientização do homem a respeito das questões ambientais. Microbiologista, educador, escritor (um de seus livros ganhou o Prêmio Pulitzer – So human na animal - 1968) e ambientalista.


Foi, também, um filósofo que sempre manifestou "fé criadora" e esperança nos destinos da Terra e da humanidade. Microbiologista de profissão, foi pioneiro na descoberta dos antibióticos. Juntamente com a bióloga Rachel Carson, René Dubos foi um dos pioneiros da conscientização de que os homens e os animais estão em interação constante com o meio em que vivem.

Fortemente influenciado por Lewis Mumford, por quem sempre teve grande admiração (considera-o um vidente), iniciou sua carreira concentrando-se na saúde do homem e considerando o ambiente em termos de bem estar humano. Considerava um absurdo pensar em meio ambiente sem levar em conta que o homem é a parte mais importante do problema. Seu campo de estudos sempre foi o homem e tudo que o cerca e o efeito de cada um sobre os outros.
Seu tema dominante é que, para melhorarmos nosso bem estar físico e intelectual, precisamos, em primeiro lugar, compreender bem e depois controlar o nosso impacto sobre aquilo que nos cerca. Para Dubos é mais do que evidente que o controle de nosso meio ambiente só pode ser conseguido quando houvermos primeiro compreendido a natureza e a história do homem.

Em sua profissão, é mais conhecido por duas descobertas feitas em virtude de seus primeiros trabalhos como pesquisador médico, uma delas prática e a outra teórica. Ele descobriu uma enzima que ataca o micróbio causador da pneumonia e revolucionou aquilo que é conhecido como a Teoria do Germe. Nesta teoria mostrou que os organismos causadores das doenças não são inerentemente destruidores.

Seu trabalho despertou o interesse pela penicilina - que permanecera esquecida após sua descoberta por Alexandre Fleming, em 1928 - e levou ao desenvolvimento de outros antibióticos, como a estreptomicina e as tetraciclinas. Foi, também, pioneiro no estabelecimento de métodos que levaram à padronização em escala internacional da vacina contra a tuberculose, a partir do bacilo Calmette-Guérin (BCG).

Dubos acreditava que um organismo vivo - seja ele um micróbio, uma pessoa, uma sociedade ou um planeta - só pode ser entendido no contexto das relações que forma com as coisas ao redor.

De suas investigações surgiu o conceito de que a doença não é apenas o resultado da presença de um patógeno no organismo, mas antes um ecossistema que abrange múltiplos eventos. Com essa forma de pensar, Dubos reformulou a teoria do surgimento da doença com a inclusão do meio ambiente nas considerações de suas causas.

O elemento importante na doença, afirmava ele, não é a infecção mas principalmente qualquer stress - seja exterior ou interior - que altere a resistência do organismo, provocando o desenvolvimento e determinando o desfecho da enfermidade.

No seu livro Mirage of Health, de 1959, ele dizia que a saúde não é necessariamente um estado de vigor e bem-estar, nem mesmo de vida longa. Saúde é "você poder funcionar, fazer o que quer fazer e vir a ser aquilo que deseja ser." Com essa definição, a responsabilidade de permanecer saudável foi colocada sobre o paciente e não sobre o médico ou sobre a medicina.

Da mesma forma que observara as interações entre os microrganismos e o ecossistema do solo, depois entre os micróbios e o homem, Dubos ampliou seu interesse para uma escala planetária e passou a observar e a descrever as adaptações que acontecem entre a humanidade e a Terra, através das quais uma vai moldando a outra.

De suas experiências com bactérias do solo, ele deduziu um princípio fundamental: todo organismo vivo possui múltiplas potencialidades e as que ele consegue expressar dependem das influências externas. Essa adaptabilidade, segundo ele, funciona também com as pessoas.

Nas suas palavras:

"Todos nós nascemos com potencialidade para nos tornarmos diferentes pessoas, mas o que nos tornamos realmente depende das condições sob as quais nos desenvolvemos. Essas condições, além do mais, são freqüentemente resultado de nossa própria escolha."

Sua visão particular de que os organismos influenciam o meio e por sua vez são por ele influenciados, o fez descrever-se como um "desesperado otimista", ao contemplar as depredações do homem sobre o ecossistema global. Ainda que as ações humanas possam ser às vezes bastantes destrutivas ao planeta terra, ele acreditava que elas podiam também restaurar e até criar novos ambientes capazes de melhorar a condição humana.

Embora algumas das primeiras advertências sobre desastres ecológicos tenham sido feitas por Dubos, ele passou a criticar os que pregavam o fim do mundo. Cientista lúcido, com uma mensagem sábia e confiante, não se engajou no movimento ambientalista dos anos setenta, que considerava a natureza como vítima e a humanidade como agressor.

Nas suas palavras:

“Fico terrivelmente perturbado ao ver como em uma cidade da importância de Nova York uma criança, qualquer que seja o seu meio social, encontra-se exposta, desde os seus primeiros momentos, aos barulhos externos, à sujeira, à desordem e à feiúra. Tenho a certeza de que isso condiciona o indivíduo de uma forma horrorosa. Não acredito que nada disso mate as pessoas, e é aí que estou em divergência com os mais alarmantes ecologistas, como Paul Ehrlich, e que me bato com Barry Commoner, embora sejamos muito amigos. Sempre lhes digo que, na minha opinião, o perigo não está em sermos todos liquidados pela poluição ou pela explosão demográfica. O que vai acontecer é que aceitaremos a situação e acabaremos conformados com ela. É bem possível que, afinal de contas, venhamos também a sofrer fisicamente, mas o perigo imediato está no fato de estarmos perdendo a noção do que o ambiente poderia e deveria ser.”

Dubos considera que a capacidade do homem para a adaptação é um dos atributos que mais claramente distingue o mundo vivo do mundo da matéria inanimada. Esse atributo é uma dádiva, mas também pode ser uma ameaça potencial, pois o estado de adaptatividade do mundo de hoje pode ser incompatível com o mundo de amanhã.

Ele reconhecia que a qualidade de vida podia estar se deteriorando, mas mantinha uma grande fé na criatividade do homem e no seu potencial para a renovação e a autotransformação. Por causa de sua visão ampla, foi escolhido, juntamente com a economista inglesa Barbara Ward, para redigir o relatório da Primeira Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, no ano de 1972.

No seu livro, Reason Awake, Dubos segere algumas maneiras de orientar o pensamento, como por exemplo:

- “As restrições ecológicas ao crescimento da população mundial e à produção de energia e de bens de consumo acabarão gerando novas espécies de problemas científicos.”

- “A drástica limitação do tamanho da família irá, provavelmente, criar perturbações sociais, psicológicas, fisiológicas, e, talvez, até mesmo genéticas, a respeito das quais pouco ou nada se sabe.”

- “A distribuição e a utilização da energia sob condições controladas tornarão necessário um conhecimento sofisticado de ecologias regionais e espaciais.”

- “Tecnologias inteiramente novas e, portanto, novas espécies de conhecimentos científicos, terão de ser desenvolvidas para reduzir ao mínimo a poluição e estabelecer um novo ciclo para os recursos naturais deficientes.”

- “O estado autoritário obrigará, assim, a uma reorientação do empresariado científico e tecnológico. Na verdade, poderá até mesmo levar a uma renascença científica. Isso, porém, jamais acontecerá se não houver esforço consciente e provavelmente penoso, por parte da comunidade científica.”

Dubos via o homem contemporâneo dividido entre uma aceitação passiva da tecnologia científica e uma repentina rejeição pânica. Não acredita que a resposta seja qualquer das duas alternativas. No entanto, os debates entre os cientistas especializados no assunto são para ele um sinal esperançoso, já que somente por meio de um debate aberto pode o público se colocar a par dos problemas vitais e partilhar a tentativa para controlar a ciência e a tecnologia para bem usá-la em lugar de malbaratá-la, como no passado.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Penso, logo existo

Neste final de semana que passou estivemos, mais uma vez, na praia na alegre companhia dos nossos familiares, que sempre, neste período de verão, se transferem para o litoral. Para Tramandaí para ser mais exato. Desta vez tivemos mais sorte. Todos os dias o sol esteve presente, o mar foi mais amigável, com suas águas mais clarinhas, embora, muito gélidas e o que é mais importante destacar: sem vento!! Isto mesmo. Curtimos todos os dias a beira da praia apenas com uma leve e agradável brisa.

Calculei mal os dias de permanência na praia e os livros que levei para o final de semana foram consumidos antes do nosso retorno. Corri, então, para a livraria mais próxima - que neste caso ficava do outro lado da rua - para reabastecer meus cartuchos. Mesmo gostando muito do mar, gosto mais ainda de ficar sob a proteção de um bom guarda-sol, curtindo a brisa do mar e as leituras de beira de praia. Isto quando o Pedrinho deixa, é claro!! Mas entre um banho de mar e a construção de vários e estranhos castelos de areia, sempre sobra um tempinho para minhas agradáveis leituras.

Então, achei um pequeno livreto da variada coleção L&PM Pocket com o título: Descartes - Discurso do Método, que vou apresentar para vocês na forma desta resenha. Sei que o meu amigo Gabriel, mais uma vez, vai me dizer que não chega ao fim das leituras de algumas postagens minhas por serem muito longas - e ele não está sozinho nesta sensata crítica - mas qualquer um que se propuser a fazer uma resenha sobre esta leitura vai se deparar com a angustiante tarefa de não saber o que deixar de fora. Foi o que aconteceu comigo e que, certamente, me fará retornar para este tema, em breve.

Então, recomendo a leitura deste livreto!!

Descartes
Discurso do Método
Coleção L&PM Pocket
Volume 458
Outubro de 2008
Porto Alegre
128 páginas

René Descartes, nasceu em 1596 em La Haye, conhecida, desde 1802, por "La Haye-Descartes", na Touraine, cerca de 300 quilômetros a sudoeste de Paris, em 31 de março de 1596, e veio a falecer em Estocolmo, Suécia, a 11 de fevereiro de 1650.

Pertenceu a uma família de posses, dedicada ao comércio, ao direito e à medicina. O pai, Joachim Descartes, advogado e juiz, possuía terras e o título de escudeiro, primeiro grau de nobreza, e era Conselheiro no Parlamento de Rennes, na vizinha província da Bretanha, que constitui o extremo noroeste da França.

O segundo na família de dois filhos e uma filha, Descartes com um ano de idade perdeu a mãe, Jeanne Brochard, por complicações de seu terceiro parto. A partir disto, foi criado pela avó e por uma babá à qual ele depois pagou uma pensão até morrer.

Seu pai casou novamente, mas não se distanciou. Parte do ano passava em Rennes, atendendo às sessões parlamentares, parte em sua propriedade Les Cartes em La Haye, com a família. Chamava o filho ainda criança de seu "pequeno filósofo", devido à curiosidade demonstrada pela criança, porém, mais tarde, aborreceu-se com ele porque não quis ser advogado, como seria do seu gosto.

Aos oito anos, em 1604, Descartes foi matriculado no colégio Real de La Flèche, em Anjou, aberto pelos jesuítas poucos meses antes, em janeiro daquele mesmo ano, com dotação de Henrique IV. Ele foi recomendado ao padre Charlet, um intelectual reconhecido e que logo seria o seu Reitor. Descartes, mais tarde, a ele se refere como ‘um segundo pai’. Estuda nesta escola por quase 10 anos, de 1604 a 1614, vivendo num regime de muitos privilégios.

Foi uma criança e um adolescente frágil, passando a ter boa saúde só depois dos vinte anos. Na escola, um tanto desinteressado dos estudos e muito inclinado a "meditar", tinha por desculpa sua saúde para permanecer na cama até tarde, um hábito que manteve mesmo depois de adulto, e que só no último ano de sua vida foi obrigado a mudar, modificação que lhe foi fatal.

Apesar das aulas perdidas todas as manhãs, era inteligente o bastante para acompanhar o curso e concluí-lo sem maiores dificuldades. As disciplinas eram designadas genericamente por "filosofia", contendo física, lógica, metafísica e moral e "filosofia aplicada", que compreendia medicina e jurisprudência.

Também estudou matemática através dos manuais didáticos do monge Clavius matemático jesuíta que algumas décadas antes havia criado o Calendário Gregoriano. Disse mais tarde que, embora admirasse a disciplina e a educação recebida dos jesuítas em La Fleche, o ensino propriamente era fútil e desinteressante, sem fundamentos racionalmente satisfatórios, e que somente na matemática havia encontrado algum atrativo. Era muito religioso e conservou a fé católica até morrer.

Apesar de apreciado por seus professores, ele se declara, no ‘Discurso sobre o Método’, decepcionado com o ensino que lhe foi ministrado: a filosofia escolástica não conduz a nenhuma verdade indiscutível.

Só as matemáticas demonstram o que afirmam:

"As matemáticas agradavam-me sobretudo por causa da certeza e da evidência de seus raciocínios".

Mas as matemáticas são uma exceção, uma vez que ainda não se tentou aplicar seu rigoroso método a outros domínios. Eis por que o jovem Descartes, decepcionado com a escola, parte à procura de novas fontes de conhecimento, a saber, longe dos livros e dos regentes de colégio, a experiência da vida e a reflexão pessoal:

"Assim que a idade me permitiu sair da sujeição a meus preceptores, abandonei inteiramente o estudo das letras; e resolvendo não procurar outra ciência que aquela que poderia ser encontrada em mim mesmo ou no grande livro do mundo, empreguei o resto de minha juventude em viajar, em ver cortes e exércitos, conviver com pessoas de diversos temperamentos e condições".

Decidiu deixar os estudos regulares: não queria a vida de um erudito e intelectual. Em lugar disso, queria ganhar experiência diretamente, em contacto com o mundo. Decidiu, então, viajar e observar. Antes porém, passou um curto período aparentemente sem ocupação, em Paris, e depois, para atender ao pai, ingressou no curso de Direito, de dois anos, na universidade de Poitier onde seu irmão também se formara. Concluído o curso em 1616, não seguiu a tradição da família.


Em 1618 Descartes foi para a Holanda e se alistou, na escola militar de Breda, como um oficial não pago do exército de Maurício de Nassau, príncipe de Orange que naquele momento estava dispondo suas tropas contra as forças espanholas que tentavam recuperar aquela que fora a província mais rica da Espanha.

Na Holanda, ocupa-se sobretudo com a matemática, ao lado de Isaac Beeckman. É dessa época (tem cerca de 23 anos) que data sua misteriosa divisa "Larvatus prodeo". Eu caminho mascarado. Segundo Pierre Frederix, Descartes quer apenas significar que é um jovem sábio disfarçado de soldado.

Deixando o exército do príncipe de Orange após dois anos na Holanda, Descartes viajou para a Dinamarca, Dantzig, Polônia e Alemanha. Em Frankfurt assistiu as festas da coroação do imperador Ferdinando II. Em abril de1619, foi juntar-se ao exército bávaro no seu acampamento de inverno próximo de Ulm, sob as ordens do Conde de Bucquoy.

O duque católico da Baviera (Sul da Alemanha), Maximilian, estava se pondo em campo contra o protestante Frederico V o eleitor palatino (Palatinado, Alemanha, fronteira com a França) e rei da Boêmia (atual Checoslováquia), nos primeiros estágios da Guerra dos 30 Anos que haveria de arrasar o Sacro Império Germânico. Frederico haveria de perder o trono em 1620 após a batalha decisiva em Monte branco perto de Praga. Sua filha, a princesa Elizabete, tornou-se mais tarde, em 1643, uma das amigas e correspondentes mais próximas de Descartes.

A 10 de novembro de 1619, sonhos maravilhosos advertem que está destinado a unificar todos os conhecimentos humanos por meio de uma "ciência admirável" da qual será o inventor. Mas ele aguardará até 1628 para escrever um pequeno livro em latim, as "Regras para a direção do espírito" (Regulae ad directionem ingenii). A idéia fundamental que aí se encontra é a de que a unidade do espírito humano (qualquer que seja a diversidade dos objetos da pesquisa) deve permitir a invenção de um método universal.

Vivendo de rendas e perseguindo a realização de seu sonho que acreditava profético, viajaria por vários países da Europa. Deixando a Boêmia seguiu para a Hungria onde em 1621 ele estava - pela ultima vez - vivendo a vida militar, como um oficial no exército imperial.

Vai à Alemanha, Holanda e França (1622-23). É então que renuncia definitivamente à carreira militar para dedicar-se à investigação cientifica e filosófica. Em 1623 voltou à terra natal para vender umas terras em Poitou que herdara da mãe, e também a pequena propriedade de Perron (era chamado em família "Monsieur du Perron", devido a essa propriedade). Aplicou o dinheiro da venda sob a forma de bônus e com os rendimentos resultantes pôde viver uma vida descompromissada, simples porém sempre confortável.

Do outono de 1623 a primavera de 1625, ele vagou pela Itália onde ficou em Veneza. Roma e Florença por algum tempo, retornando depois à França, onde viveu principalmente em Paris.

Em novembro de 1627, Descartes participa de um debate na residência do núncio papal. Após alguém expor uma nova filosofia, ele fez um aparte em sucinta argumentação, baseada em raciocínio afim com os métodos de prova matemáticos, e confundiu e refutou o postulante.

Sua tese causou viva impressão no cardeal De Bérulle, o fundador da congregação do Oratório e que, juntamente com sua prima Madame Acarie, havia introduzido as carmelitas na França, e era o líder da reação católica contra o Calvinismo, e que estava presente aos debates.

O cardeal exorta-o a se consagrar à reforma da filosofia. Insistiu que Descartes assumisse o dever de utilizar seus talentos ao máximo e completasse o desenho que havia ali delineado para sua audiência. Foi incisivo ao ponto de adverti-lo de que responderia perante Deus se não utilizasse os dons Dele recebidos. Todos os presentes ficaram profundamente impressionados: o nome do jovem filósofo começou a ficar conhecido.

Em seguida, Descartes prepara uma obra de física, o Tratado do Mundo, a cuja publicação ele renuncia visto que em 1633 toma conhecimento da condenação de Galileu. É certo que ele nada tem a temer da Inquisição. Entre 1629 e 1649, ele vive na Holanda, país protestante. Mas Descartes, de um lado é católico sincero (embora pouco devoto), de outro, ele antes de tudo quer fugir às querelas e preservar a própria paz.

Por quatro anos, de 1629 para a frente, Descartes gastou seu tempo primeiro buscando a consolidação de um método que, partindo da dúvida absoluta, pudesse chegar à mais absoluta certeza, e depois no estudo de diferentes ciências que unificadas pelo novo método, levariam a um esquema universal de conhecimento.

Escreveu inicialmente um tratado não publicado, sobre metodologia chamado "Regras para a Direção do Espírito" (abreviado geralmente como o Regulae). Este tratado incompleto e apenas rascunhado com repetições e inconsistências, foi composto por Descartes durante os meses de inverno de 1629 e no ano seguinte. Possivelmente nunca pretendido para publicação ele pode ter sido usado por Descartes como caderno de notas para futuras referências.

Finalmente, em 1637, ele se decide a publicar três pequenos resumos de sua obra científica: A Dióptrica, Os Meteoros e A Geometria. Esses resumos, que quase não são lidos atualmente, são acompanhados por um prefácio e esse prefácio foi que se tornou famoso: é o Discurso sobre o Método.

Ele faz ver que o seu método, inspirado nas matemáticas, é capaz de provar rigorosamente a existência de Deus e o primado da alma sobre o corpo. Desse modo, ele quer preparar os espíritos para, um dia, aceitarem todas as conseqüências do método - inclusive o movimento da Terra em torno do Sol.

Em 1641, aparecem as Meditações Metafísicas, sua obra-prima, acompanhadas de respostas às objeções. Em 1644, ele publica uma espécie de manual cartesiano. Os Princípios de Filosofia, dedicado à princesa palatina Elisabeth, de quem ele é, em certo sentido, o diretor de consciência e com quem troca importante correspondência. Em 1644, por ocasião da rápida viagem a Paris, Descartes encontra o embaixador da frança junto à corte sueca, Chanut, que o põe em contato com a rainha Cristina.

Esta última chama Descartes para junto de si. Após muitas tergiversações, o filósofo encarrega seu editor de imprimir seu Tratado das Paixões – e embarca para Amsterdã chegando a Estocolmo em outubro de 1649. É ao surgir da aurora (5 da manhã) que ele dá lições de filosofia cartesiana à sua real discípula.

Descartes, que sofre atrozmente com o frio, logo se arrepende, ele que "nasceu nos jardins da Touraine", de ter vindo "viver no país dos ursos, entre rochedos e geleiras". Mas é demasiado tarde. Contrai uma pneumonia e se recusa a ingerir as drogas dos charlatões e a sofrer sangrias sistemáticas. Morre em 9 de fevereiro de 1650. Seu ataúde, alguns anos mais tarde, será transportado para a França. Luís XIV proibirá os funerais solenes e o elogio público do defunto: desde 1662 a Igreja Católica Romana, à qual ele parece ter-se submetido sempre e com humildade, colocará todas as suas obras no Index.

O Método

Descartes quer estabelecer um método universal, inspirado no rigor matemático e em suas "longas cadeias de razão".

1 - A primeira regra é a evidência : não admitir "nenhuma coisa como verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal". Em outras palavras, evitar toda "precipitação" e toda "prevenção" (preconceitos) e só ter por verdadeiro o que for claro e distinto, isto é, o que "eu não tenho a menor oportunidade de duvidar". Por conseguinte, a evidência é o que salta aos olhos, é aquilo de que não posso duvidar, apesar de todos os meus esforços, é o que resiste a todos os assaltos da dúvida, apesar de todos os resíduos, o produto do espírito crítico.

2 - A segunda, é a regra da análise: "dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis".

3 - A terceira, é a regra da síntese: "concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos".

4 - A última é a dos "desmembramentos tão complexos a ponto de estar certo de nada ter omitido".

Lá Géométrie

O La Géométrie é a parte mais importante do "Discurso". Ele representa o primeiro passo para uma teoria dos invariantes, que em estágios posteriores desrelativisa o sistema de referência e remove arbitrariedades. A álgebra torna possível reconhecer os problemas típicos na geometria e trazer junto os problemas que na roupagem geométrica não pareceriam de nenhum modo estarem relacionados. A álgebra introduz na geometria os princípios mais naturais da divisão e a mais natural hierarquia do método. Com ela as questões de solvabilidade e possibilidade geométricas podem ser resolvidas elegantemente, rapidamente e inteiramente da álgebra paralela; e sem ela não podem ser decididas de modo algum.

Realmente, o grande avanço feito por Descartes foi criar uma fórmula algébrica para representar o fato trivial e, então, já conhecido de que um ponto em uma folha de papel retangular está infalivelmente, como é evidente, onde as duas linhas de suas duas distâncias medidas perpendicularmente às duas margens adjacentes da folha, se encontram.

Em linguagem geométrica, isto quer dizer que um ponto em um plano pode ser representado pelos valores (hoje chamados "coordenadas cartesianas") das suas duas distâncias (x, y) tomadas perpendicularmente a dois eixos que se cruzam em ângulo reto nesse plano, com a convenção de lado positivo e negativo para um e outro lado do ponto de cruzamento dos eixos.

Então uma equação f(x,y)=0 pode ser satisfeita por um infinito número de valores de x e y. O importante é que esses valores de x e y podem representar as coordenadas de vários pontos de uma curva, da qual a equação f(x,y)=0 expressa alguma propriedade geométrica, isto é, a propriedade verdadeira da curva em cada ponto dela.

Por exemplo, o gráfico da função f(x)=x2 consiste de todos os pares (x, y) tais que y=x2, ou seja, é a coleção de todos os pares (x, x2), como (1,1), (2, 4), (-1, 1), (-3, 9), etc. A curva resulta ser uma parábola. Qualquer propriedade particular desta curva pode ser deduzida da equação, sem necessidade de se fazer o desenho da curva para encontrar os pontos graficamente, e duas ou mais curvas podem ser referidas a um e mesmo sistema de coordenadas; o ponto no qual duas curvas intersectam é determinado pela raiz comum às suas duas equações. E isto é geometria analítica, sua invenção.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Inventando o Meio Ambiente

Lewis Mumford

Ainda com relação ao livro Ecologia – uma estratégia para sobrevivência, quem abre a explanação sobre o assunto apresentando seu pensamento é Lewis Mumford. Na realidade ele estudou e escreveu pouco sobre a ecologia por si mesma, mas, num sentido mais amplo, o ambiente do homem foi uma das suas maiores preocupações. Entre os ecologistas profissionais e os que se dedicam ao meio ambiente, Mumford foi sempre considerado como uma espécie de velho guru. Por esta razão e pela profunda contribuição do seu trabalho focado nos grupos humanos e na vida urbana, ficou ao seu encargo o primeiro capítulo do livro.


Sociólogo, escritor e professor norte-americano nascido em Flushing, New York, que analisou, em seus vários trabalhos, os efeitos da tecnologia e da urbanização sobre os grupos humanos ao longo da história. Estudou no City College nova-iorquino e na New School for Social Research. Colaborou em publicações culturais, e seus primeiros textos publicados, tanto em jornais quanto em livros, firmaram sua reputação como escritor interessado pelas questões urbanas.

De todos os homens de saber cujos pensamentos e trabalhos ajudaram a preparar o terreno para a revolução ambiental ele foi um dos mais notáveis. Seu nome está muito estreitamente ligado à arquitetura contemporânea, ao planejamento urbano e à história e forma das cidades. Desde o começo da década de 30 ele foi reconhecido como o crítico da tecnologia indiscriminada.

A ecologia sempre fez parte do seu modo de pensar:

“Gozo de uma imerecida reputação como promotor da ecologia, coisa que, realmente, nunca fiz. Acontece que ela sempre foi parte da minha vida e nunca um assunto à margem.Penso no complexo inteiro, em todo o meio ambiente e não em termos de alguns dos seus fragmentos. Isto é pensamento ecológico, embora não pense em ecologia quando faço isto, mas sim em qualquer outra coisa.”

De sua leitura conseguimos extrair, com muita clareza, a noção da origem do termo ecologia. No século XiX, uma crescente apreciação por tudo o que distinguia o mundo dos organismos vivos do mundo das máquinas fez com que surgisse uma nova visão de todo o processo cósmico.

Era uma visão profundamente diferente daquela oferecida pelos que alienavam de sua concepção do mundo os atributos essenciais e qualitativos da vida, suas expectativas, seus ímpetos, sua revolta, sua criatividade e sua capacidade para, em circunstâncias excepcionais, transcender às limitações físicas ou orgânicas.

O nome dado e essa ‘nova’ visão da vida só mais tarde foi consagrado como ‘ecologia’, quando, então, já começava a ser sistematicamente examinado.

Desde o século XVII, os anseios do homem para dominar a natureza e os seus semelhantes só serviram para fazer com que ele trilhasse caminhos errados. O poder sobre a natureza foi conseguido por um alto preço, uma vez que os métodos e a ideologia dependiam do fracionamento dos fenômenos naturais em parcelas controláveis e neste caminho tortuoso, o homem foi perdendo o sentido da vida como uma grande teia, que é o principal ensinamento da ecologia.

Antes de se tornar escritor e professor (1942-1985) de ciências humanas e planejamento urbano e regional em várias universidades americanas e em diversos países do mundo, Mumford tentou se tornar um autor teatral, mas malogrou devido ao fato de suas peças jamais terem sido encenadas. Anos depois, trabalhou como editor do jornal de literatura e política Dial, onde conheceu Sophie Wittenber, sua esposa.

Escreveu 29 livros, grande parte tematizando a vida urbana, da qual foi um crítico incansável, desde a estréia com The Story of Utopia (1922). Sua vida literária deslanchou depois dos seus 30 anos de idade, com obras como Technics and Civilization (1934), Culture of Cities (1938) e Men Must Act (1939), além de ter iniciado a tetralogia The Conduct of Life (1934-1951). O seu livro mais conhecido foi The City in History (1961), cuja publicação da obra lhe valeu o US National Book Award, importante premiação literária norte-americana. Também foi agraciado com a Medalha Nacional de Arte (1986), dada pelo então presidente Ronald Reagan, mas não pôde comparecer à cerimônia de entrega, ocorrida na Casa Branca.

A teoria de Mumford é que, aos poucos, o homem foi desprezando o mundo da natureza, ao sentir que seu próprio espírito já a tinha ultrapassado e que suas máquinas poderiam encarregar-se das funções essenciais. Ele nos mostra que o estudo da ecologia dos sistemas naturais é o contrabalanço para este ponto de vista arrogante. Mas ao mesmo tempo alerta que as complexidades ecológicas da existência são maiores do que o espírito humano, embora uma parte dessa riqueza seja parte integral da própria natureza do homem.

Para ele, a abordagem ecológica do desenvolvimento é fundamental. Para consegui-la temos que entender a forma como a própria vida funciona. Nenhuma parte da vida pode ser considerada separadamente. Não existe esta coisa do organismo sem o seu ambiente, da mesma forma que também não existe na Terra um ambiente sem organismo. Até mesmo os ambientes mais áridos possuem organismos. Esta interação está sempre presente, e isto é o que é a vida.

Ainda assim, apesar de todo o barulho feito por Mumford e por outros que pensavam como ele, foi somente quando o povo começou a ser diretamente afetado pela deterioração do ambiente que as coisas começaram a acontecer.

Em suas palavras:

“Quando alguém se vê apanhado em um engarrafamento numa ponte em São Francisco e percebe que está ficando com dor de cabeça e sentindo-se indisposto devido à combustão de gasolina, então já é hora de pensar. É experiência da poluição que traz um resultado. Basta provarmos a água que bebemos para saber que ela está contaminada. Existe um momento em que todo mundo sabe que é preciso combater a poluição.”

Seus estudos alertaram que a explosão demográfica irrestrita, a super exploração das invenções megatécnicas, o desordenado desperdício do consumo compulsório e a consequente deterioração do meio ambiente pela poluição generalizada, para não falar dos mais irremediáveis desperdícios dos produtos da energia atômica, tudo isto, afinal, já começava a criar uma reação necessária para uma tomada de posição e providências.

Mumford, no entanto, sempre soube que somente medidas práticas não seriam suficientes. Ele sempre preconizou a necessidade de uma renovação espiritual e humana, junto com a ação. Para ele a maior parte da mudança, aquele que realmente seria importante, teria de ser humana e não tecnológica.

“Devemos modificar os nossos hábitos de vida e nossas expectativas. Fomos educados para aceitar o desperdício como parte necessária da prosperidade econômica. Toda a propaganda é um incentivo para consumirmos mais do que precisamos ou do que devemos. Essa é a mudança que temos que fazer. Não tem nada a ver com a tecnologia. São, fundamentalmente, mudanças morais, mudanças nos hábitos de vida.”

Não deve o leitor, no entanto, presumir que ele era totalmente contrário aos avanços tecnológicos. Apenas pregava a necessidade de buscar uma espécie de tecnologia que pudesse garantir a continuação da existência indefinidamente e que fosse entrosada com a vida, e não uma apenas preocupada com o aumento da produtividade e com enormes lucros para os que estão controlando o sistema. Em seu pensamento reside fortemente a idéia de que só podemos ter um sistema equilibrado se lhe devolvermos tudo o que tiramos dele.

Ainda em suas palavras:

“Não sou contra a ciência ou a técnica, desde que elas continuem subordinadas às funções orgânicas e às necessidades do homem.”

Para ele, a combinação entre o conhecimento científico e a sensibilidade era uma das principais qualidades da maioria das pessoas que se dedicam à ecologia. O próprio Darwin, foi citado em sua obra várias vezes. Quando Darwin queria fazer alguma experiência com um bebê de colo, não a levava para o laboratório. Preferia que o bebê ficasse nos braços da mãe enquanto fazia a experiência, pois sabia que o meio ambiente natural para o bebê eram os braços da mãe e não uma mesa de laboratório. Essa é a espécie de mentalidade que está em jogo.

Morreu aos 94 anos (26/01/1990), durante a sesta, em sua residência de Amenia, Estado de Nova York, onde vivia com sua mulher, sua filha e dois netos.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Ecologia

Uma estratégia para a sobrevivência

Ainda não estava na faculdade quando este livro chegou as minhas mãos. O ano era 1981, ano da segunda edição no Brasil. A primeira edição brasileira é de 1974 e nos Estados Unidos foi lançado em 1972. Portanto, 37 anos nos separam do seu lançamento. Certamente não foi a primeira obra sobre o assunto, fato que o coloca mais ainda num passado distante.


Ecologia
Uma estratégia para a sobrevivência
Anne Chisholm
Zahar Editores
Rio de Janeiro – 1981
222 páginas

Faço esta breve digressão para colocar na linha do tempo este assunto tão em moda, embora pouco entendido, e que tem sido discutido com uma superficialidade assustadora. Quando começamos a ver instituições financeiras, distribuidores de combustíveis, transportadores transatlânticos, exploradores aeroespaciais, entre outros, alicerçando suas campanhas de marketing sobre o termo ‘sustentabilidade’ e ‘eco qualquer coisa’, é um perigoso sinal de alerta.

Desde muito tempo, um grupo de cientistas – os Ecologistas – subitamente passou a ser considerado o salvador em potencial e a última esperança do homem moderno, nas palavras do Dr. Norman Moore, um dos cientistas citados neste livro.

“A princípio o nosso trabalho dizia respeito à preservação de algumas espécies, animais ou vegetais, ameaçadas de extinção. Mas, agora, verificamos que é própria humanidade a quem estamos salvando.”

Este livro foi visto na época como uma das primeiras tentativas sérias no sentido de conscientizar o homem a respeito de um problema da maior importância – dito no texto original daqueles tempos: a preservação do ambiente e, consequentemente, de toda a espécie humana.

Nas palavras da própria Anne Chisholm, na introdução do livro:

“Da mesma forma que muita gente, eu ouvi a palavra Ecologia pela primira vez no outono de 1969. Isto foi pouco antes da série anual das Conferências Reith que a BBC anunciava, a serem dadas pelo ecologista Dr. Frank Fraser Darling. Na minha qualidade de jornalista, fui encarregada de fazer a cobertura e escrever sobre o conferencista. Procurei a palavra no dicionário e verifiquei que se tratava da ciência do inter-relacionamento dos organismos vivos com o seu meio ambiente.

Foi então que, de repente, descobri um novo interesse. A ecologia, segundo parecia, era a ciência que estava em condições de interpretar os fragmentos de provas que nos mostravam haver algo errado com o mundo. Havia pássaros mortos, óleo no mar, lavouras envenenadas e explosão demográfica. Naquela altura, a ecologia me aparecia como uma idéia abstrata, mas especialmente agradável. O seu significado era que havia uma interligação entre todas as coisas. O que me interessou mais do qualquer outra coisa não foi o real conteúdo da ecologia e sim o que ela trazia em sua mensagem. Ali estavam uma nova moralidade e uma estratégia para a sobrevivência da humanidade, englobadas num só corpo.”

O livro tem 18 capítulos onde neles podemos extrair quatro níveis de abordagem sobre o assunto. O primeiro se refere aos problemas subjacentes à nossa ansiedade em relação ao meio ambiente a partir da apresentação do pensamento de pessoas – que não são ecologistas – mas cujas idéias contribuíram para o desenvolvimento da Ecologia. O segundo nível de abordagem trata dos cientistas que estão efetivamente pondo em práticas tais idéias, nas suas atividades diárias. O terceiro dedica-se ao trabalho de alguns ativistas que estão empregando seu tempo e sua energia na difícil tarefa de conscientizar o público para tão grave problema. E, finalmente, o quarto nível de abordagem apresenta as idéias concretas de alguns cientistas, cujo trabalho mostra um caminho a ser seguido.

Gosto dos livros antigos que tratam dos assuntos atuais, pois eles trazem a essência verdadeira destes assuntos, sem o vício dos editoriais jornalísticos ou das urgência impostas pelas decisões de gerentes de marketing pouco informados. Trata-se, portanto, de uma obra ainda de grande relevância para quantos se interessam e se preocupam com assunto extraordinariamente variado, complexo e crucial – a Ecologia – mas de importância indiscutível e vital para a Humanidade.

Em breve, noutra postagem, vou retornar para este assunto e, especificamente, para esta obra para analisar o pensamento de Lewis Mumford, filósofo e escritor norte-americano, cuja obra esta estreitamente ligada à arquitetura, ao planejamento urbano, à história e forma das cidades e que abre as discussões sobre o tema no primeiro capítulo deste livro.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Roma

De todos os lugares que visitei em minhas viagens de estudos e férias - que para um arquiteto são sempre a mesma coisa -, sem dúvidas, a cidade que mais me fascinou (e fascina até hoje) é Roma. Tive duas vezes nesta cidade por períodos curtos que variavam entre 5 a 7 dias. Nos meus planos imaginários de viagens futuras está uma exclusivamente para lá. Suas ruas, suas edificações novas e antigas, sua história, suas pessoas, suas cores, suas diferenças, entre outras tantas coisas que, certamente, me fariam repetir tudo aquilo que diriam as pessoas que esteviram lá e gostaram da cidade como eu gostei.

Minha fixação por esta cidade vem desde antes dos estudos aprofundados que fiz sobre ela quando estudante da faculdade de arquitetura. Vem ainda dos livros de história do colégio. Lembro na minha infância de um livrinho muito especial - que eu infelizmente não sei que fim levou e que certamente o Pedro adoraria - onde páginas impressas com fotografias atuais de cenas e lugares da cidade eram sobrepostas e complementadas por uma página transparente reproduzindo a grandeza destes lugares no seu aspecto original. Lembro de passar horas folheando este livreto e imaginando a vida das pessoas daquela época.

Então, já na faculdade de arquitetura, consegui entender melhor sua história e aspectos gerais de sua arquitetura e urbanismo. Quando estive lá pela primeira vez em 2001 - minha Odisséia em Roma - senti uma emoção indescritível. Olhar e tocar aquelas edificações, andar por suas ruas alegres e coloridas, sentir o conflito harmônico da Roma Imperial a apenas 2 metros do nivel da rua da Roma atual, suas ruínas, suas edificações contemporâneas, seus diálogos indecifráveis - mesmo para quem conhece a língua, enfim, tudo aquilo que caracteriza e qualifica esta cidade fantástica e que permanece para sempre no coração de quem a ama.

Voltei em 2003 - acho que foi de lá que eu trouxe o Pedrinho na bagagem - e senti aquela angústia de querer ver tudo o que eu já tinha visto e ver mais uma porção de coisas novas, tendo quase o mesmo tempo de permanência na cidade. Nosso maior prazer nestas viagens é fazer turismo de rua. Ficamos pouquíssimo tempo dentro dos hotéis. Acordamos super cedo, tomamos nosso reforçado café da manhã e, dali mesmo, já saímos para a rua com o roteiro do dia praticamente armado - feito, em parte, antes da viagem e, em parte, durante as noites, tomando sempre um belo vinho nacional comprado no mercadinho da esquina. Retornamos para o hotel somente quando nossos pés já não cabem mais dentro dos sapatos.

Meu bom amigo Degani, tão logo soube que eu seria pai, envolto na emoção da minha alegria e conhecendo meu amor pelas viagens, me disse: Brega, te prepara para viajar somente daqui a uns 5 ou 6 anos, quando teu filhote já estiver grandinho. Revidei na hora. Nada disto, junto grana durante um ano, para no próximo sair em viagem!! Em seguida meu revide se mostrou precipitado, pois eu não tinha a menor idéia do que seria criar e se dedicar para um filho. Desde então minhas viagens tem sido mais curtinhas. O Pedrinho faz 6 aninhos em outubro deste ano e nós já começamos a achar que estamos em condições novamente de alçar vôos um pouquinho maiores. Tomara que sim. Espero não tomar nenhuma vaia quando eu colocar Roma novamente no nosso roteiro de viagem. E é claro, para querer ver novamente todas as coisas que já vi!

A origem da sociedade romana não tem uma evidência concreta. Baseia-se numa lenda, que era uma maneira antiga de explicar fatos cuja memória se perdeu em tempos muito distantes. Assim, o poeta romano Virgílio alimentou a fantasia de seu povo ao contar que Roma teria sido fundada por dois irmãos: Rômulo e Remo.

Segundo a mitologia, os romanos descendem de Enéas, um herói troiano que conseguiu escapar quando os gregos destruíram sua cidade, possivelmente no século 15 a.C. Filho de Vênus, a deusa do amor, Enéas passou por muitas aventuras até chegar à Itália, onde seu filho Ascânio fundaria Alba Longa, o núcleo da futura Roma, que seria fundada por seus descendentes Rômulo e Remo, em 753 a.C.

Rômulo e Remo eram irmãos gêmeos e, após o nascimento, foram atirados ao rio Tibre por ordem de Amúlio, usurpador do trono de Alba Longa. No entanto, conseguiram chegar às margens no sopé do monte Palatino e sobreviveram, sendo amamentados por uma loba. Criados por camponeses, ao chegar à idade adulta, depuseram o usurpador e restituíram ao trono seu avô, Númitor, de quem receberam a missão de fundar uma nova cidade na região do Lácio.

Os dois haviam sido abandonados pelo pai ao nascer e só sobreviveram por terem sido alimentados por uma loba. O fato é que os irmãos cresceram, vingaram-se do pai e receberam a missão de fundar uma cidade no local onde foram encontrados pelo animal. Essa lenda criou também a data exata do 'nascimento' de Roma: os irmãos teriam fundado a cidade em 753 a.C. O próprio nome dessa localidade derivou do nome um deles (Rômulo), que acabou matando seu irmão Remo devido a disputas políticas.

Como se pode ver, a origem de Roma foi inventada através de uma história que misturava o instinto animal - simbolizado pela loba que amamentou os irmãos -, com o nascimento de algo novo - a cidade fundada num lugar deserto -, retornando aos instintos agressivos no final -simbolizados na rivalidade entre os irmãos e no assassinato de um deles. Assim, essa origem imaginada serviu para os vários imperadores que a governaram justificarem o caráter agressivo e conquistador dessa sociedade romana.

No local escolhido, o monte Palatino, às margens do Tibre, Rômulo traçou um sulco no chão com um arado, demarcando a sua propriedade. Insatisfeito, Remo saltou essa linha sobre a terra, desafiando o irmão, que o matou. Rômulo fundou seu povoado, onde acolheu fugitivos de diversas partes da Itália. Sobre eles reinou durante muito tempo, até desaparecer misteriosamente numa tempestade e se transformar no deus Quirino, uma das principais deidades mitológicas dos romanos.

Se não temos dados concretos sobre sua fundação, podemos começar a contar a história de Roma, a partir da monarquia (753 a 509 a.C.). Nesse período, o meio de subsistência principal daquele povo era a agricultura. A sociedade romana dividia-se em quatro grupos, segundo a posição política, econômica e social de cada pessoa: havia patrícios, plebeus, clientes e escravos.

Monarquia
De 753 a.C. (data tradicional da fundação de Roma) a 509 a.C. (derrota dos Tarqüínios).

República
De 509 a.C. (proclamação da República) a 27 a.C. (Otaviano recebe o Senado o título de Augusto).

Império
De 27 a.C. a 476 d.C. (queda do Império romano do Ocidente).

A data lendária (753 a.C.) da fundação de Roma não representa o período mais antigo de ocupação do local onde a cidade surgiu. Vestígios de povoação foram encontrados e remontam à Idade do Bronze. É provável que a cidade tenha surgido de um forte erguido pelos habitantes do Lácio (latinos e sabinos) para defender-se dos etruscos, que dominavam parte da península Itálica. Roma surgiu no topo do monete Palatino e se expandiu graudalmente pelos outros seis montes vizinhos, o Esquilino, o Célio, o Quirinal, o Viminal, o Capitolino e o Aventino. Mas a cidade não parou de crescer ao longo dos séculos.

Primitivamente, a economia romana era baseada em atividades agrárias e pastoris. A propriedade de terra era a base da riqueza, o que evidencia o caráter aristocrático dessa sociedade. Os proprietários de terra eram o grupo social dominante, sendo chamados de patrícios. Através de laços familiares formavam clãs que compreendiam também os parentes pobres que prestavam serviços e eram conhecidos como clientes. Finalmente, quem não pertencesse ao clã era chamado de plebeu. Esse grupo era formado por artesãos, comerciantes, estrangeiros e pequenos proprietários de lotes pouco férteis.

Nesses primeiros tempos, os romanos levavam uma vida simples, trabalhando no campo e alimtando-se de sua própria produção. A modéstia e a disciplina eram consideradas virtudes essenciais. A família era uma instituição sagrada e seu chefe - o pater famílias - tinha poder e direitos ilimitados sobre a mulher, os filhos, os escravos e os bens. O velhos eram respeitados e serviam de exemplo à comunidade. A religião - baseada no culto aos antepassados e a uma multidão de deuses - estava presente em todos os aspectos da vida cotidiana e também tinha um caráter cívico, ou seja, estava ligada à cidade e ao Estado romano.

A palavra 'patrício' (do latim pater, pai) indicava o chefe da grande unidade familiar ou clã. Esses chefes, os patrícios, seriam descendentes dos fundadores lendários de Roma e possuíam as principais e maiores terras. Eles formavam a aristocracia, sendo que somente esse grupo tinha direitos políticos em Roma e formava, portanto, o governo.

Já os plebeus eram descendentes de populações imigrantes, vindas principalmente de outras regiões da península Itálica, ou fruto dos contatos e conquistas romanas. Dedicavam-se ao comércio e ao artesanato. Eram livres, mas não tinham direitos políticos: não podiam participar do governo e estavam proibidos de casar com patrícios.

Num outro patamar, vinham os clientes, também forasteiros, que trabalhavam diretamente para os patrícios, numa relação de proteção e submissão econômica. Assim, mantinham com os patrícios laços de clientela, que eram considerados sagrados, além de hereditários, ou seja, passados de pai para filho.

Por fim, os escravos, que inicialmente eram aqueles que não podiam pagar suas dívidas e, portanto, tinham que se sujeitar ao trabalho forçado para sobreviver. Depois, com as guerras de conquista, a prisão dos vencidos gerou novos escravos, que acabaram se tornando a maioria da população.

As conquistas aos outros povos e regiões trouxeram o crescimento das atividades comerciais e das negociações em moeda. A riqueza se concentrou ainda mais nas mãos dos patrícios, que se apropriavam das novas terras. Isso tudo dividiu profundamente a sociedade romana entre ricos (aristocratas) e pobres (plebeus), além da grande massa de escravos que ia se formando. Também os membros do exército, enriquecidos pelas conquistas e saques, tornaram-se uma importante camada social.

A expansão romana iniciou-se na República (509 a 27 a.C.), por meio das lutas contra os povos vizinhos para obterem escravos (séculos. 5 a 3 a.C.). Depois disso, expandiu-se para a Grécia (séc. 3 a.C.), Cartago (cidade africana que controlava o comércio marítimo no Mediterrâneo) e Macedônia (com a conquista da Grécia, havia formado um grande império), sendo estas duas cidades conquistadas no séc. 2 a.C. Na seqüência, o Egito, a Britânia (que corresponde aproximadamente à atual Grã-Bretanha) e algumas regiões da Europa e da Ásia foram conquistados no séc. 1 d.C.

Desde sua origem, Roma fora governada por reis. Um deles foi expulso por tirania em 509 a.C. e o governo da República se estabeleceu, propondo uma nova divisão de poderes entre o Senado, os Magistrados e as Assembléias. Com as conquistas militares de novos territórios, os generais do Exército acumularam muitos poderes políticos e para deterem as revoltas dos povos dominados, resolveram concentrar o poder. Júlio César era um general que havia conquistado a Gália em 60 a.C. Depois disso, deu um golpe em Roma, atacando-a no ano de 49 a.C. e proclamando-se ditador perpétuo (ou seja, governaria com poderes ilimitados até a sua morte). Foi nesse mesmo ano que conseguiu dominar o Egito. No entanto, nem ele nem seu governo tiveram vida longa: foi assassinado pelos próprios romanos em 44 a.C.

Com a morte de Júlio César, três líderes políticos governariam juntos. Um deles, Otávio, derrotou os outros e foi o primeiro imperador romano em 31 a.C., recebendo do Senado os títulos de Princeps (primeiro cidadão), Augustus (divino) e Imperator (supremo). Passou para a história com o nome de Augusto, embora essa denominação acompanhasse todos os imperadores que o sucederam. Roma teve 16 imperadores entre os séculos 1 e 3 d.C. A partir daí, começou a desagregação do Império e o descontrole por parte de Roma dos povos dominados.

Entre os séculos 3 e 4 d.C., o imperador Dioclesiano dividiu o Império Romano numa parte ocidental e noutra oriental. Constantino, o imperador seguinte, tomou duas importantes medidas: reunificou seus domínios, tornando a capital do Império Romano Bizâncio (depois chamada de Constantinopla e, hoje, Istambul, na Turquia), localizada na parte oriental dos domínios romanos e legalizou a prática do cristianismo.

Finalmente, Teodósio, um dos últimos imperadores, tornou o cristianismo religião oficial de todo o Império e dividiu-o novamente em duas partes, sendo as capitais Roma e Constantinopla. A primeira foi dominada pelos povos germanos em 476 e marcou o fim do Império Romano do Ocidente. A segunda foi dominada em 1453 pelos turcos e marcou o fim do Império Romano do Oriente.

De resto, com o passar dos tempos, os deuses romanos foram se identificando com os deuses gregos, devido à grande influência que a Grécia - embora fosse dominada por Roma - exerceria sobre ela e sua cultura. Na verdade, a arte grega foi uma das fontes principais da arte romana. A arquitetura talvez tenha sido a única das artes de então em que os romanos produziram inovações efetivas, em particular devido ao seu pragmatismo. Se para os gregos as principais construções eram os templos, para os romanos importavam os reservatórios de água, os aquedutos, os edifícios públicos, como os tribunais, os circos e os mercados.

Para Roma, o Estado estava acima de tudo e quem estivesse a serviço da res publica (coisa pública) deveria respeitar os deuses, ser leal e corajoso e ambicionar a glória - virtudes que evidenciam o caráter guerreiro que logo se manifestou entre os romanos. A vida do cidadão era regulamentada por leis, que podiam dizer respeito aos negócios do Estado (direito público) e às relações entre famílias e particulares (direito privado). No entanto, essas noções bem como as instituições que as traduziram na prática não datam do primeiro momento da história romana, o período monárquico, mas sim do período republicano. Isso, porém, nos obriga a deixar de lado esse esboço das origens e da organização sócio-cultural de Roma para entrar em sua história política - o que requer um capítulo à parte.

Meu querido amigo Gabriel Gallina, numa conversa animada ontem durante um longo jantar entre amigos do peito, me fez uma crítica construtiva sobre o tamanho exagerado das postagens. Então, vou parando por aqui mesmo sabendo que em nosso próximo encontro vou levar outro puxão de orelhas. Numa outra postagem falo mais sobre os lugares legais para se ver em Roma e sobre a alegria de sentar nas escadarias da Scalinata di Spagna para curtir o calor do final de tarde que aquele belo pôr-do-sol sempre nos proporciona.